Cubro a cabeça ao ouvir o despertador tocar, tentando aproveitar o tempo que ainda tenho. Me pergunto, por que em um mundo tão evoluído tecnologicamente, ainda tenho que acordar cedo. Hoje vou acompanhar um grupo de recém-formadas no hospital. Normalmente fico empolgada com essas expedições, mas hoje não é um desses dias.

Nasci em um mundo que as mulheres predominam, onde somos a lei, onde somos nos que ditamos a regras. Somos instruídas em internatos, onde aprendemos como as mulheres alcançaram o poder, de como elas se livraram as vidas de escravidão e submissão de seres cruéis do sexo oposto, cujo único objetivo era destruir os mais fracos, o vírus que quase destruiu o planeta, mais conhecidos como homens. 

Ninguém sabe bem como o jogo virou e as mulheres chegaram ao poder, todas nos sabemos apenas o que o governo permite, tudo que diz respeito a isso, é limitado. Não podemos pesquisar a fundo, porque pode ser considerado traição, por isso a maioria prefere manter as coisas como estão.

Tenho 25 anos, sou formada em genética, tenho tudo que preciso para ter uma vida confortável, mas nunca me senti confortável. Me formei para procurar a cura para o câncer, já que foi isso que tirou a vida da minha mãe, mas quanto mais se estuda sobre genetica, mais perguntas surgem na sua mente, mais coisas queremos saber, como, por que o vírus XY atingiu somente os homens e por que os registros sobre a doença são mantidos em sigilo.

Em todos os anos de estudo, no internato e na faculdade, aprendemos que ao longo os anos, muitas doenças surgiram, umas afetavam mais mulheres, outras mais homens, ou crianças, mas para todos ela fora criada curas, mas por que com o gene XY, não foi assim? Será que depois de todos esses anos, ninguém se prontificou para procurar uma cura, saber onde surgiu, quem foi o paciente zero, como se espalhou?

nesses últimos meses, perguntas que precisavam de repostas. Não que eu queira trazer os homens de volta, já que pelos relatos históricos, tudo de ruim no mundo foram causados por eles, mas e se de repente o vírus evolui e não só os homens sejam mais as vítimas, mas nas mulheres também?

Ouço batidas na porta. – Pode entrar!

“Bom dia Clarice!” – Sol entrou na sala, ela era minha melhor amiga, minha segunda mãe, meu porto seguro.

“Hoje vou te liberar da sua tarefa de supervisionar as novatas” – Respirei aliviada, dando graças a Deus baixinho, Sol sorriu ao ver minha expressão, ela sabia que aquelas residentes estavam me enlouquecendo.

Depois que fiz minha apresentação na faculdade com louvor, recebi duas propostas no hospital. A primeira para trabalhar com pacientes com câncer e a segunda com gestantes, meu sonho sempre foi os pacientes com câncer. Eram os únicos cargos disponíveis na época e Sol me convenceu que seria bom para ganhar experiencia. Não tive duvidas que escolheria a oncologia, por causa da minha mãe, mas Sol me convenceu a fazer um teste na ala das gestantes, confesso que não fui de bom grado, mas com os passar dos meses, cada vez que acompanhava o desenvolvimento de um bebe, meu coração se apaixonava. Saber que era responsável por trazer uma vida ao mundo, me completava e também por que tinha a esperança de ver o nascimento de um bebe do sexo oposto.

Já que milagrosamente depois do governo ser tomado por mulheres, os nascimentos de bebês, eram apenas de meninas, nunca vi um bebê do sexo oposto, nunca vi um homem ao vivo e em cores na minha vida. Até quando estudávamos anatomia na faculdade, só tínhamos acesso, aos cadáveres femininos. Só os vi por figuras, desenhos, fotos e se eles eram como nas figuras, realmente pareciam animais. Não julgo o fato de terem sidos banidos da sociedade, só pelo que aprendi na escola, sei que eles eram o que tinha de pior no mundo, da aparecia até as ações.  Fisicamente eram horríveis, pareciam seres de outro planeta, sujos, peludos, nojentos, faltando dentes, descabelados. Mas como alguém que ama o corpo humano, confesso que queria ver um de perto, estudá-los, entendê-los. Antes da minha mãe ser levada pelo câncer, ela me disse para nunca acreditar completamente no que o governo dizia, que elas estavam escondendo a verdade. Minha mãe cresceu no mundo em que os dois sexos conviviam livremente, ela nunca entrou em detalhes, mas sempre deixou claro que o governo escondia algo. Por isso no fundo sinto curiosidade em saber mais sobre eles.