Segunda-feira, por volta das cinco e quarenta e cinco da manhã o celular de Mariah começa a despertar. O sono ainda mantém seus olhos pesados por alguns instantes, a vontade de permanecer na cama insiste em deixar seu corpo mole. O aroma do café que está sendo preparado por seu pai, invade vagarosamente seu quarto, indicando que o dia realmente estava iniciando na casa da família Alcântara.

Mariah se senta, estica um dos seus braços para que pudesse pegar o celular que estava acomodado sobre um criado mudo ao lado da cama, desligando então, a função despertador do aparelho. Os raios de sol, começam a iluminar o quarto da moça, realçando as cores das borboletas estampadas em sua cortina cor de marfim. Após um longo espreguiçar, Mariah calça seus chinelos, seguindo até o seu armário para que pudesse escolher as roupas que usaria em mais um dia de trabalho. Mariah decide usar calças bengaline azul caneta, blusa social de cor areia, sapatos bico fino cor bege, para combinar com o tom da blusa. Sua bolsa de ombro, em couro marrom, não causaria problema algum na montagem do seu look.

Mariah é uma mulher de pele parda, estatura mediana, olhos castanhos escuros, uma beleza natural que ela realça com seus cabelos cacheados volumosos, que ainda estavam cobertos por uma delicada touca de cetim. Acordar antes das seis da manhã é uma rotina diária e prazerosa vivida por Mariah, que dedica boa parte do seu tempo na arrumação dos seus cabelos que são sua marcar registrada e ela faz questão de mantê-los sempre muito bem cuidados. Não apenas seus cachos são sinônimo de vaidade, sua beleza se torna ainda mais valorizada, justamente com sua maquiagem em tons leves, apropriada perfeitamente para o seu local de trabalho.

Saindo do quarto, seguindo pelo corredor principal, Mariah encontra seu pai que estava arrumando a mesa para que os dois pudessem aproveitar o café da manhã. Mariah, segue rapidamente para o banheiro, levando consigo sua bolsa de cremes e maquiagens. Banho frio, cabelos lavados, toalha macia para não agredir os cachos, creme para o corpo, creme para os cabelos, secador para ajudar na finalização. O pai de Mariah bate na porta avisando que o café irá esfriar. Mariah concluí com sucesso sua rotina matinal diária.

A moça vestida com seu roupão rosa bebê se junta ao seu pai para que pudessem aproveitar o momento do café. Conversa boa e agradável, Mariah ajuda seu pai a retirar os itens que estavam sobre a mesa, lava as xícaras e talheres, retornando para o seu quarto, onde liga o rádio portátil sintonizado na mesma estação desde que sua falecida mãe ainda estava viva.

O sol ilumina quase que por completo o quarto da moça que aproveita para abrir as janelas, deixando apenas as cortinas de tecido fino fechadas. Por residir em um condomínio, a janela do seu quarto fica na mesma direção da janela de um condomínio vizinho. Mariah aumenta um pouco o volume do rádio, uma das músicas favoritas de sua falecida mãe estava tocando “A New Day Has Come” da cantora Celine Dion. A versão lentinha da música, tranquiliza o momento o qual Mariah estava se arrumando.

Enquanto cantarolava a letra da música, Mariah observa a janela do apartamento da frente se abrindo. A versão lenta da música, vai dando lugar para a versão rádio remix. Um garoto de cueca boxer preta, sem camisa, um tanto solento, debruçando no parapeito para olhar o pátio do condomínio onde mora. Mariah engole seco, enquanto olha o menino pela janela, sentindo-se um pouco engraçada por olhar o jovem com aparência de adolescente.

Mariah sorri com a situação, enquanto responde sozinha uma determinada parte da tradução da música:

“Where it was dark, now there’s light - Onde havia escuridão agora há luz.
Where there was pain, now there’s joy - Onde havia a dor agora há alegria.
Where there was weakness, I found my strength - Onde havia fraqueza, eu encontrei minha força.
All in the eyes of a boy – Tudo nos olhos de um garoto.”

— Deus me livre! – Ainda bem que não estou esperando nada, muito menos um menino. – Resmunga Mariah, enquanto realiza os últimos retoques do seu penteado, maquiagem e perfume.

Olhando mais uma vez, enquanto se esconde por trás da cortina. Mariah observa o garoto já vestido com bermuda Jeans, camisa preta de uma banda qualquer, cabelos penteados, mochila nas costas, não demorando muito, ele abre a porta deixando seu quarto. Respirando profundamente, Mariah movimenta seu corpo para dançar um pouco antes de desligar o rádio que tocava “Miss Independent” do cantor Ne–Yo.

— Vamos trabalhar, senhorita independente. Afinal de contas, os boletos não esperam. – Suspira a moça com voz baixinha.

Mariah arruma sua bolsa social, guarda o celular, carteira, deixando seu quarto em seguida. Seu pai está na sala assistindo o telejornal para se atualizar das condições do trânsito, previsão do tempo e notícias locais. Sem prender muito sua filha, devido o horário, ele a leva até o elevador, desejando que a filha tivesse um bom dia de trabalho.

Portas se abrem, elevador vazio para o horário o qual o movimento de pessoas seguindo para o trabalho, escola e atividades físicas, fizesse com que a espera por um elevador razoável na quantidade de pessoas utilizando o serviço, seja maior que o normal. Mariah então se despede de seu pai, seguindo do oitavo andar para o térreo.

Na portaria do prédio Mariah solicita um carro de aplicativo com destino ao cento da cidade. Minutos após o motorista envia uma mensagem informando que estava a aguardando em um ponto específico da rua. A moça deixa o condomínio, cumprimentando os porteiros e funcionários, seguindo em direção ao veiculo. Durante uma breve conversa com o condutor, Mariah avista o rapaz da janela, parado em uma praça, acompanhado de um pequeno grupo de pessoas que brincavam dando tapas nos ombros uns dos outros, enquanto riam de algo que parecia ser muito engraçado. O pensamento inicial de Mariah, não foi dos mais otimistas.

— Bonitinho e infantil. Comentou Mariah, reparando as atitudes do grupo.

— A senhora falou alguma coisa? – Perguntou o motorista, olhando para Mariah através do retrovisor interno.

— Não! – Eu pensei alto, me desculpe.

Mariah, tentando disfarçar o momento um tanto embaraçoso, retira o celular da bolsa, abrindo o aplicativo de uma rede social qualquer. Em seus pensamentos, a imagem do menino da janela, voltava com força total nos seus mínimos detalhes. Rapidamente Mariah balança a cabeça, como quem desejasse espantar o pensamento insistente. Por outro lado, a moça gravou com riqueza os detalhes do corpo do jovem, ainda que apresentasse uma certa infantilidade na visão dela. Mariah, mordisca levemente os lábios enquanto pensa “Deus me Livre!”, sendo rapidamente respondida, por uma música que toca no rádio do carro, da dupla sertaneja Israel & Rodolfo:

— Mas quem me dera nos dois, quatro paredes, numa cama dando uns pega.

Mariah solta uma gargalhada, deixando o motorista sem entender a atitude da moça, que leva uma das mãos no rosto, se desculpando mais uma vez pela reação inesperada, colocando a culpa em algo engraçado que havia visto na rede social.