A sala dos Louvain aos poucos ficava agitada à medida que os adolescentes procuravam seus lugares no círculo formado sobre o tapete. Nathaniel e Kentin haviam retirado a mesa de centro do lugar, fazendo com que ficassem com um amplo espaço para jogar Verdade ou Desafio. 

Sem muita cerimônia, Rosalya pegou uma garrafa de plástico vazia e a colocou no meio do círculo, parecia animada demais para se conter. Juliet sentou-se de costas para o sofá, podendo recostar-se no estofado. Hana estava logo ao seu lado direito, seguida de Castiel, Lysandre e Nathaniel, respectivamente. Maru logo se acomodou ao lado do representante, fazendo com que Rosalya e Kentin finalmente fechassem o círculo. 

— Quem começa? — Perguntou Rosalya empolgada. Seus olhos rolaram pelo círculo até parar em alguém. — Hana, pode começar?

— Ah, posso sim! — Respondeu a morena, inclinando-se para frente para alcançar a garrafa no meio. 

Na visão periférica de Juliet, uma cabeça vermelha fez um movimento que chamou a sua atenção. Castiel tinha inclinado levemente a cabeça para trás e olhava de soslaio para a bunda de Hana enquanto ela girava a garrafa. Estava incrédula que ele estava mesmo fazendo aquilo na cara dura, e por isso continuou a encará-lo até que ele percebesse que tinha alguém vendo a sua pouca vergonha. Quando ele finalmente percebeu, se fez de sonso e levantou os olhos pro teto, voltando a olhar pra garrafa que agora girava no centro do círculo. 

— Olha! Hana pergunta para… Nathaniel! — Disse Rosalya, assumindo o papel de narradora. 

— Nath, verdade ou desafio? — Hana estava sentada sobre as pernas, enquanto as mãos descansavam no colo. 

Nathaniel parecia pensativo, talvez estivesse pesando quais consequências seriam menos ofensivas naquela escolha.

— Verdade — Disse finalmente. 

— Hmm — Hana fez um biquinho enquanto pensava — Qual foi a coisa mais embaraçosa que você já fez?

Castiel e Rosalya começaram a dar risinhos, tentando prever o que o loiro responderia àquela pergunta. 

— Olha, uma vez eu acidentalmente andei pela escola com a camisa ao contrário e só percebi no final do dia quando a diretora finalmente me contou — O representante deu um sorriso de canto, lembrando-se do dia. — Fiquei realmente constrangido. 

Os risinhos de Castiel e Rosalya foram substituídos por uma expressão de decepção ao ouvir aquela resposta. 

— Eu quero girar agora! — Foi Kentin quem se pronunciou, avançando na garrafa para fazê-la girar novamente. O garoto girou com tanta força que o objeto demorou um pouco mais para parar, mas finalmente havia decidido a próxima rodada. 

— Kentin para Lysandre! — Anunciou Rosa. 

Antes de se voltar para seu alvo, Kentin olhou para Juliet ao seu lado, com um sorriso travesso nos lábios, fazendo-a temer pelo que viria a seguir. 

— Lysandre… Verdade ou desafio? — Perguntou. 

— Verdade — Lysandre respondeu tão rápido que parecia temer escolher a opção de desafio. 

Kentin fez um gesto de vitória com as mãos em punhos. 

— É verdade… — Começou, tentando fazer mistério — Que você tá afim de uma pessoa que tá aqui na sala?

A expressão de todos que estavam na sala mudou de repente. Os olhos de Rosalya brilharam por finalmente pensar que a brincadeira estava ficando interessante, Maru e Hana tentaram disfarçar ao olhar para Juliet, que estava com os olhos arregalados, igual aos de Lysandre. Castiel riu e deu dois tapinhas irônicos no ombro do amigo, encorajando-o a falar. 

— Bem, eu… — Lysandre parecia sem saber o que responder, talvez arrependido por não ter escolhido desafio. Seus olhos estavam agora fixados na garrafa parada no centro do círculo, julgando-a secretamente por tê-lo escolhido. Quando continuou, um leve rubor surgiu em suas bochechas — Sim, é verdade. 

Talvez Kentin tenha pensado que aquela pergunta ajudaria Juliet de alguma forma, mas a verdade é que uma grande dúvida havia se formado na cabeça dela depois de ouvir a resposta de Lysandre. Afinal, Rosalya também estava naquela sala. É verdade que a garota agora namorava o irmão mais velho dele, Leigh, mas e se Lysandre ainda gostasse secretamente dela? E se ele ainda não tivesse superado? Pensar naquela possibilidade estava machucando tanto o coração de Juliet, que nem mesmo se permitiu cogitar que ela mesma poderia ser aquela pessoa de quem ele gostava.

Rosalya por outro lado estava eufórica, reclamava porque o amigo nunca tinha lhe contado sobre aquilo. Enquanto Kentin estava radiante com a resposta que recebera, até que percebeu os olhares preocupados de Maru e Hana para Juliet, foi então que ele olhou para o lado e percebeu que ela estava cabisbaixa. Mas quando tentou falar com a amiga, foi interrompido.

— To gostando desse rumo! Vamos continuar — Rosa empurrou a garrafa pelo círculo, que parou nas pernas de Castiel. — Vai, agora é sua vez.

Castiel segurou a garrafa e a girou. O objeto foi parando lentamente até apontar o lado da tampa para Maru, que desviou os olhos do objeto para o ruivo do outro lado do círculo. 

— Verdade ou desafio? — Uma das sobrancelhas do ruivo arqueou antes de fazer a pergunta. 

Ambos haviam perdido o contato desde que Maru se mudara para o interior do estado. Sua mãe, Stacie, havia sido diagnosticada com câncer, e estava passando por um tratamento severo que precisava de total descanso. Por esse motivo, o seu marido Henry, providenciou uma casa no campo, do qual as duas ficariam durante todo o período do tratamento, sendo auxiliadas por uma enfermeira particular, que as ajudavam durante o dia na administração dos remédios e em todo o processo que precisava ser seguido à risca. 

Por sua vez, Maru mantinha contato com a prima, Juliet, e com Hana, sua amiga. As três costumavam se falar sempre por mensagem ou chamada de vídeo. Porém, acabou perdendo contato com alguns dos estudantes de Sweet Amoris com essa mudança, e Castiel era um deles. 

Apesar deles se conhecerem desde bebês, os acontecimentos a partir da festa de quinze anos de Maru fez com que ela e Castiel acabassem se distanciando, mas era evidente que ainda se importam um com o outro. 

— Verdade — Disse a ruiva também arqueando uma sobrancelha, desafiando-o.

— É verdade que você já fez novos amigos e esqueceu da gente? — Castiel cruzou os braços sobre o peito, sério.

— Não — Respondeu ela de imediato. Antes de continuar, endireitou a postura. — O pessoal é até legal na nova escola, mas não tenho muito tempo pra conhecer eles além do horário de aula, quero passar o máximo de tempo com a minha mãe nesse momento.

Castiel meneou a cabeça, comprimindo os lábios. 

— Sente falta de Sweet Amoris? — Nathaniel de repente perguntou ao lado dela, com uma voz baixa, como se estivesse com medo de perguntar algo errado.

— Claro que sinto. Mas sei que é apenas um tempo passageiro, que logo minha mãe vai melhorar e poderemos voltar pra cidade — Sua voz parecia cheia de esperança. 

— E vamos todos fazer uma grande festa em comemoração — Disse Hana, gesticulando com os braços pra cima, com a intenção de demonstrar a grandiosidade que seria o evento. 

— E também vamos poder voltar a andar em bando na hora do intervalo, sabe que não é o mesmo sem você — Disse Juliet com um sorriso sincero. — Mas estaremos aqui, te esperando o tempo que for.

As três amigas trocaram olhares de carinho, compreensão e cumplicidade. Até mesmo Maru lançou um olhar brando para Castiel, talvez estivesse cansada demais para nutrir qualquer sentimento negativo naquele momento. 

— Certo… Vamos continuar? — Perguntou Rosalya, querendo que o jogo se desenrolasse. — Dessa vez eu quero girar a garrafa!

Todos se recomporam em seus lugares enquanto Rosalya se esticava para alcançar a garrafa. Que girou, girou e acabou parando em direção a Nathaniel. 

— Nath! Que sorte — Disse Rosa com um sorriso travesso nos lábios. — Verdade ou desafio?

— Vamos de desafio dessa vez.

A garota não conseguiu conter um gritinho de empolgação, parecia que estava a ponto de explodir por Nathaniel ter escolhido aquela opção. 

— Então… Eu te desafio a dar um beijo em Maru. 

Todos viraram a cabeça em direção a Rosalya, ninguém estava esperando por aquele pedido. Pareciam ainda estar anestesiados pelo momento sentimental que houvera na rodada anterior, talvez por esse motivo Maru pareceu ser a última a processar aquela informação. Foi quando ela instintivamente virou o rosto para Nathaniel, em busca da reação dele. 

— Eu não acho que isso seja um…

— Eu topo — Disse Maru interrompendo-o. 

— Você topa? — O representante parecia incrédulo. Suas bochechas aos poucos estavam ficando tão vermelhas quanto o cabelo de Castiel.

Maru afirmou com a cabeça. 

— São as regras do jogo, não podemos burlar. 

— Não pode voltar atrás, Nathaniel! — Bradou Juliet, que de repente parecia muito interessada naquela rodada, parecia que aquilo havia lhe animado finalmente.

— Concordo! Se escolheu tem que ir até o fim — Completou Rosalya.

Nathaniel suspirou. 

— Se isso não for um problema pra você, Maru… 

— Fica tranquilo, Nath — Maru disse. Juliet sabia que apesar de parecer despreocupada, a prima deveria estar ansiosa e um tanto tímida de fazer aquilo na frente de todos. Porque apesar de aparentar ser durona, Maru era uma garota com muitas inseguranças e sensibilidade. 

— Então… Eu aceito 

Do outro lado da roda, Castiel deu uma revirada de olhos. Desde o ocorrido com Debrah, o ruivo e o representante não se davam bem. Ainda que não fossem amigos antes disso, passaram a ter brigas e desentendimentos constantes. 

— Então faça as honras, Nath — Encorajou Hana com um sorrisinho.

Nathaniel inclinou-se para Maru, que estava ao seu lado. Parecia muito nervoso, não sabia o que fazer com suas mãos, então apenas as deixou sobre as pernas e fechou os olhos, esperando que a amiga também viesse ao seu encontro. Maru, por outro lado, segurou o rosto do representante, fazendo-o abrir os olhos para encará-la de muito perto. 

Maru sussurrou algo que os outros não conseguiram ouvir, e logo em seguida encostou seus lábios nos de Nathaniel. 

Beijaram-se por alguns instantes. Aos poucos, o representante ergueu uma das mãos e a repousou na cintura da ruiva, parecendo agora mais entregue. No final das contas, ele parecia mesmo querer beijá-la aquele tempo inteiro.

Kentin pigarreou.

— Deixa eles! — Gritou Juliet baixinho, dando um tapinha na perna do amigo.

Mas aquilo foi o suficiente para quebrar o clima do momento. Nathaniel e Maru se afastaram, desviando os olhos um do outro, envergonhados pelo que acabara de fazer na frente de todos os amigos da escola. Entretanto, o representante tinha um pequeno sorriso nos lábios. E Juliet poderia apostar toda a sua mesada que ele havia gostado horrores daquele beijo.

— Vai Maru, gira você agora! — Pediu Hana animada. 

Após assistir aquele beijo, Juliet começou a fantasiar como sempre costumava fazer. Observava Lysandre vez ou outra, ainda com a resposta dele girando em sua cabeça, mas era impossível não reparar em cada detalhe seu. O rapaz estava sentado com uma perna no chão, enquanto a outra estava flexionada e seu braço descansava sobre ela. Parecia bastante à vontade, embora quieto, expressava diversão com sorrisos. Ah, o seu sorriso… Lysandre tinha o hábito de sempre abaixar levemente a cabeça quando sorria, e Juliet achava aquilo a coisa mais linda do mundo.

Queria que alguém a desafiasse a beijá-lo naquela noite. Mas no fundo sabia que não queria forçá-lo a fazer isso, que se tivesse que acontecer, seria porque ele queria e gostava dela, não por causa de um jogo. Se isso um dia realmente chegasse a acontecer. 

— Juliet? — Escutou a voz da prima chamando-a. Estava tão imersa na sua própria mente que não ouvira que estavam lhe chamando. — Verdade ou desafio?

Seus olhos, ainda confusos, varreram o chão em busca de respostas, até encontrar a garrafa apontando para si, e entender que era a vez dela participar do jogo.

— Desafio — Disse engolindo em seco. Os pensamentos de antes agora explodindo em sua mente, fazendo seu coração acelerar, com medo e curiosidade sobre o que sua prima iria fazer com aquela oportunidade. 

Viu uma esperança surgir quando a prima esfregou as palmas das mãos como um vilão de desenho animado, mordendo os lábios ao encará-la. 

— Juliet, eu te desafio a beijar… — E então Rosalya sussurrou algo no ouvido da ruiva, que virou a cabeça no mesmo instante para encará-la com uma expressão de dúvida — O Kentin?

— Eu? — Kentin assustou-se.

— Eu beijar o Kentin? — Perguntou Juliet, confusa com aquilo. 

— Ouvi muito bem que ela disse pra você beijar o Kentin — Disse Castiel, rindo. 

No meio daquela confusão, Juliet viu quando o olhar da prima rolou em direção a Lysandre, que agora já não parecia tão relaxado como antes. Suas pernas estavam em posição de lótus, com a coluna ereta. Sua expressão estava séria e ele olhava para o chão com as sobrancelhas franzidas. 

— Espera… — Maru disse, parecendo pensativa. Analisava Lysandre com cuidado, e de repente um sorriso surgiu em seu rosto, ainda mais travesso que o anterior. — É isso mesmo. Juliet, eu te desafio a beijar Kentin. 

— Maru? O que deu em v-você? — Gaguejou Kentin, o rubor havia tomado conta de todo o seu rosto. 

— Não pode voltar atrás — A ruiva cruzou os braços e repetiu as mesmas palavras que a prima havia dito quando foi a sua vez de beijar Nathaniel. 

— Pois não voltarei — Juliet virou-se para Kentin, decidida. — Vamos.

— Vamos? Vamos pra onde Juliet!?! Meu Deus — Seu nervosismo era tanto que passou a mão na testa pra tirar o suor que estava se formando. 

— Ei, vai ser rapidinho — Sussurrou Juliet pro amigo. 

— É que… — Kentin parecia em dúvida se contava algo ou não. Mas então ele se inclinou para perto dela e sussurrou em seu ouvido: — Eu nunca beijei ninguém antes.

Aquilo não surpreendia Juliet, pelo tempo que conhecera Kentin, sabia que ele nunca havia namorado alguém. A única garota pelo qual se apaixonara, ainda não havia notado a sua presença. Por outro lado, sentia compreensão. 

— Então vamos ser o primeiro beijo um do outro, Tintin — Revelou Juliet, chamando-o pelo seu apelido particular. 

Kentin sempre achou graça daquele apelido, pois o tin de seu nome se pronunciava tã em francês. Já na pronúncia brasileira, lhe parecia o som de um espirro duplo “Tchintchin”. Mas naquele momento, ouvi-la chamá-lo por aquele apelido pareceu lhe acalmar. Juliet queria que ele também soubesse que seria um momento importante pra ela, e que mesmo que não tivessem seu primeiro beijo com a pessoa pelo qual estavam apaixonados, seria igualmente especial compartilhar aquele momento com ele.

— Vamos fazer isso — Disse ele, com tanta convicção que Juliet já não sabia se ele estava falando com ela ou para si mesmo. Kentin a surpreendeu quando segurou seu rosto e a puxou em sua direção. 

Não tivera tempo de olhar se Lysandre os assistia, pois quando menos esperou, Kentin estava lhe beijando. Apesar do amigo ter pressionado a boca na dela com mais força que o necessário, os lábios dele eram macios e quando ele os abriu por um instante, ela pôde sentir seu hálito de baunilha. Não podia mentir, era uma sensação agradável. Juliet segurou a mão dele com a dela, por um momento pensando como teria sido se no lugar de Lysandre, ela tivesse se apaixonado pelo amigo, e naquele momento, quase chorou. Teria sido muito mais fácil. Pensou. 

Não sabia dizer quanto tempo havia passado quando eles finalmente se afastaram. Tanto Juliet quanto Kentin estavam com as bochechas rosadas, não porque gostavam um do outro romanticamente, mas porque já era constrangedor beijar um amigo na frente de todos, quanto mais dar o seu primeiro beijo naquela situação.

Mas apesar de tudo, não houvera nada além de um encostar de lábios. Seria o tradicional "selinho", como costumavam dizer. E mais uma vez, Juliet pôde ter certeza de que era o beijo de Lysandre que ela realmente queria.

Endireitaram-se nos seus lugares, enquanto Kentin passava o polegar no canto da boca de forma tímida. 

— Uau — Disse Maru com um tom provocativo.

— Tarefa cumprida — Kentin finalmente falou, sua voz parecia um pouco rouca.

— E bem cumprida! — Sussurrou Rosalya rindo.

Juliet rolou os olhos pelo círculo, mas o lugar onde deveria estar Lysandre estava vazio. Logo descobriu o motivo: ele havia pedido para ir ao banheiro. E assim todos resolveram fazer uma pausa para comer e beber algo. 

Em um salto, Maru ficou de pé e puxou Juliet e Hana pro canto da sala. 

— Você não sabe o que aconteceu! — Exclamou ela em um grito baixo. Prosseguiu quando as duas garotas balançaram a cabeça, como uma pergunta. Virando para a prima, continuou: — Lysandre ficou claramente afetado com o seu beijo. 

— Eu vi! — Disse Hana finalmente entendendo. — Nossa, ele não parecia muito legal quando levantou.

— Tenho certeza que ele ficou com ciúme — Disse Maru com convicção. 

— Acho que vocês podem estar vendo coisa onde não tem — Defendeu-se Juliet. — Não se esqueçam que ele respondeu que gostava de alguém que estava aqui na sala.

— E você tava onde? No terraço? — Maru bufou.

— Não, Maru. Ela tava aqui na sala com a gente, eu lembro bem — Disse Hana inocentemente, ela sempre tinha dificuldade de entender ironias ou frases de duplo sentido.

— Exatamente — Maru passou o braço pelos ombros da morena. 

Juliet suspirou. 

— Eu preciso tomar um copo de água — Disse Juliet massageando as têmporas.

— Ei! Volta aqui, não foge da conversa — Gritou Maru, mas parou quando Hana segurou seu braço. 

— Olha — Disse a ela, apontando com o queixo para a cozinha. 

A cozinha da casa de Maru Louvain parecia a cozinha de uma revista de Design de Interiores. Era totalmente planejada, haviam luzes embutidas por baixo do armário, que faziam a bancada ficar bem iluminada. Uma ilha no meio do cômodo estava decorada com um jarro de flores um tanto murchas, provavelmente devido à falta de cuidado de Henry, já que Stacie era a pessoa responsável por trocá-las. 

E do outro lado da ilha de mármore, Lysandre bebia um copo de água. 

Juliet parou por um instante quando percebeu a presença dele. Mas continuou andando em direção ao garoto, a fim de também beber água. 

— Oi — Saudou ela ao se aproximar. 

— Oi — Disse ele em um tom seco. 

Percebeu que ele estava diferente. Estranho. 

Pegou o copo e o encheu no bebedouro, ficou intercalando o olhar entre a bancada e Lysandre, este que olhava fixamente para frente em completo silêncio. Parecia que algo o incomodava, e Juliet começou a se perguntar se as garotas estavam certas ou se ele apenas não estava mais confortável em estar ali. Mas não descobriria nada se também ficasse em silêncio, precisava fazer alguma coisa. 

— Lysandre? — Chamou ela, se aproximando e colocando o copo na bancada. — Você tá bem?

— Estou ótimo — Respondeu ele simplesmente e voltou a ficar em silêncio. 

Ele não queria falar com ela naquele momento e era claramente perceptível. Juliet não continuaria a insistir em algo que só a faria se sentir idiota se tentasse. Então pegou o copo de volta, encheu toda a sua boca com a água que ainda tinha, engolindo-a de uma vez e em seguida voltando para sala onde todos já se reuniam novamente.

— Lys, já que você perdeu a última rodada — Começou Maru lutando muito para disfarçar um riso inconveniente. — É sua vez de nos dar entretenimento. 

Sem muita cerimônia, Lysandre se inclinou e pegou a garrafa. Girando-a logo em seguida. Para a surpresa de todos, a garrafa parou apontando para Kentin.

— Verdade ou desafio — Sua voz parecia uma faca afiada cortando o ar entre os dois. 

— Verdade… — Kentin respondeu, parecendo um pouco intimidado. 

— É verdade que você gosta de Juliet? — Lysandre não hesitou nem um segundo em fazer a pergunta, tinha seus olhos fixos no do outro. 

— É claro que não! — Reclamou Juliet falando alto.

— Ei, não se mete! Lysandre perguntou pra Kentin, deixa ele responder — Castiel retrucou. 

— Cala a boca, Castiel. Não fala assim com ela! — Dessa vez foi Maru quem se pronunciou. 

— Calma, gente… — Hana franzia o cenho, claramente incomodada com toda aquela gritaria e no mesmo instante Juliet se sentiu culpada por isso, pois sabia que barulho era algo muito ruim para sua amiga. 

— E então, Kentin? — Rosalya reforçou, encorajando-o a falar. 

Todos olharam pro garoto, na expectativa da resposta. 

— Não — Disse ele finalmente.  — Eu só gosto da Ju como amiga, eu gosto de outra pessoa.

Lysandre bufou.

— Pronto, pergunta respondida — Concluiu Rosalya, pegando a garrafa em seguida e balançando nas mãos para chamar a atenção de todos — Minha vez de novo.

E girou o objeto. 

— Hana! Há! — A garota de cabelos platinados apontou com a mão em forma de arma para a morena do outro lado. — Verdade ou desafio?

— Desafio…? — Perguntou ela, um pouco desconfiada. 

— Perfeito! — Rosa varreu os olhos pelo círculo, até pará-los em Castiel. Juliet já sabia o que estava por vir quando ela continuou: — Te desafio a dar um beijo em Castiel.

A pele normalmente clara de Hana ficou avermelhada no mesmo instante. Castiel que estava apoiado nos braços pra trás, ficou ereto e puxou a gola da sua jaqueta de couro. 

— Regras são regras — Lembrou ele, dando um sorriso de canto. 

Mas Hana parecia inquieta, seu olhar estava sempre voltando para Maru. Seus dedos entrelaçaram-se várias vezes no colo, e os olhos pareciam ansiosos. Não era segredo para Juliet que Hana gostava de Castiel e se sentia muito culpada por isso, pois achava que Maru ainda gostava dele. Mesmo que Juliet tivesse dito diversas vezes que não achava que Maru ainda gostasse do ruivo, Hana aparentemente só acreditaria quando fosse dito pela própria boca da amiga, que ainda não sabia sobre os seus sentimentos. 

Com carinho, Juliet segurou a mão de Hana que estava ao seu lado, dando um pequeno aperto em apoio. A morena encarou a amiga nos olhos e assentiu. 

Quando Castiel viu Hana se virando para ele, sorriu. E apesar de ver que a amiga estava apreensiva, Juliet estava feliz que pelo menos ela teria o primeiro beijo com a pessoa que realmente gostava. 

Foi então que eles se beijaram. Castiel a beijou como quem estava esperando por algo há muito tempo, sua mão a segurou pela nuca, fazendo com que seus lábios se encaixassem perfeitamente, sua linguagem corporal não transmitia qualquer inibição, na verdade parecia saber exatamente o que estava fazendo. No fim das contas, foi o beijo mais longo dos três que haviam acontecido.

Terminando o beijo com uma mordida no lábio dela, Castiel se afastou radiante. Enquanto Hana estava totalmente corada, com as mãos em punhos sobre o colo, mas um sorrisinho nos lábios que indicava que ela também havia gostado.

— Não sabia que você era tão propenso a seguir regras, Castiel — Cutucou Nathaniel.

— Não sabia que você gostava de tomar conta da vida dos outros, representante — Rebateu ele. Mas ainda parecia extasiado demais, seu tom de voz saiu apenas como um deboche, e não como uma afronta que normalmente pareceria. 

Rosalya, que estava com a garrafa ainda nas mãos, a jogou em direção a Castiel, que a pegou com perfeição. O garoto, agora de muito bom humor, girou a garrafa e a esperou parar.

— Então, Juliet, verdade ou desafio? — Perguntou ele quando a garrafa apontou pra ela.

— Desafio — Respondeu. 

Castiel deu uma risada sem emitir som antes de falar:

— Te desafio a passar dez minutos sozinha com Lysandre em outro cômodo da casa.