Verdades Encobertas escrita por Nahy


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esta é minha primeira história original, opiniões são bem-vindas.
Espero que gostem!



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— Animada pra hoje? – perguntou Liz com um sorriso aparecendo ao meu lado e tentei responder o mais animadamente possível. 

— Sim – acho que minha atuação não é tão boa assim ou Liz me conhece demais para o meu próprio bem. Ela logo fez uma careta logo em seguida e se sentou na cadeira vazia ao meu lado. 

— Por que você não disse a ele que não queria fazer nada hoje?  

Suspirei e olhei para foto em cima da minha mesa. Era uma foto de um mês atrás, quando Allan e eu comemoramos nosso primeiro mês juntos, ele me abraçava por trás enquanto beijava meu rosto e meu sorriso parecia tão sincero que eu mesma não me reconhecia. 

— Porque ele queria fazer algo especial e eu não queria estragar os planos dele – respondi olhando-a e ela revirou os olhos. 

— Claro, o Sr. Perfeito sempre faz tudo pra você – respondeu azeda e acabei sorrindo. 

— Eu senti um pouco de inveja ou foi impressão minha? – provoquei e ela fez uma careta em resposta. 

— Não me faça vomitar – fez barulho de engasgo e ri. – Nada contra o seu Sr. Perfeito, mas ele é perfeitinho demais para o meu gosto. - Balancei a cabeça e voltei a corrigir as provas dos alunos antes de Liz me atrapalhar, mas claro que Liz é Liz e ela nunca desiste tão fácil assim. – Sério, ele nunca reclamou de nada pra você? Tipo “odeio comer salada” ou “mulher, nunca mais encoste no meu carro”, você sabe, essas coisas de homem. 

— Primeiro, ele não odeia salada. Segundo, não venha reclamar porque Michael brigou com você por causa do carro. 

Ela torceu o nariz e bufou. 

— Odeio aquele carro, às vezes acho que ele ama mais aquela porcaria do que eu – cruzou os braços como uma criança birrenta. – Mas não venha mudar de assunto. Por que você não disse a ele que não queria comemorar o seu aniversário? 

Meu sorriso morreu e suspirei. 

Liz não entendia, ela tentava me entender e eu a considero minha melhor amiga por isso, mas... Existem coisas que não podemos dizer, mesmo que eu a ame como uma irmã, eu não queria que ela visse essa parte minha. 

Allan era... Tudo. 

Antes eu me sentia em um beco frio e escuro, andando em meio à escuridão sem saber o que tinha a minha frente, completamente sozinha... Era assim que minha vida se sentia, mas com Allan não me sentia mais só. Eu ainda ando por esse beco escuro, mas agora tenho alguém ao meu lado segurando minha mão. 

Quando estou com ele é como se... Eu tivesse recuperado uma parte minha que morreu anos atrás, uma parte que Jullie levou com ela quando se foi. 

— É apenas um dia normal – disse e forcei um sorriso. – Não vai me matar se eu sair hoje. 

Liz não disse nada, apenas me olhou com pena e apertou meu ombro em um gesto amigo. 

Eu agradecia por ela ser surpreendentemente compreensiva às vezes. Ela sabia o que o dia de hoje significava para mim. 

Não era apenas meu aniversário, podia ser o dia mais especial para mim, mas também é o dia que eu mais odeio. 

O resto da manhã passou normalmente, os alunos me prepararam cartões e mensagens de parabéns enquanto eu fingia que estava tudo bem e forçava sorrisos de felicidade. Tudo que mais queria era que esse dia passasse logo. 

Como eu sabia que meu pai iria me obrigar a ir para casa, nem me dei o trabalho de tentar fugir. Além de mais, eu precisava ver como a mãe estava, fazia tanto tempo desde que a vi pela última vez e sabia que ela sentia minha falta. 

Já passava das 14:00 quando parei o carro em frente à casa que vivi a minha infância inteira. Mamãe gostava de viver longe da cidade, por isso papai construiu nossa casa o mais próximo possível da natura, o vizinho mais próximo morava há mais de 200 metros. 

Assim que desci do carro avistei mamãe sentada em frente a grande parede de vidro que dava acesso ao jardim, ao lado dela estava Rosa, a enfermeira que sempre a acompanhava e cuidava. 

Sorri e entrei sorrateiramente pela porta da frente para que mamãe não percebesse minha presença, Rosa me viu logo que entrei e sorriu para mim enquanto sinalizava com a mão que iria para cozinha com a intenção de nos deixar a sós.  

Eu me aproximei vagarosamente e pulei ao seu lado. 

— Olá Sra. Sanches - Ela abriu um enorme sorriso a me ver e a abracei com força. – Sentiu minha falta? 

Seus braços me envolveram apertado e ela falou:  

— Jullie. 

Meu corpo paralisou ao ouvir a palavra pronunciada pelos seus lábios. Fechei os olhos por um segundo e me afastei para olhar em seus olhos enquanto abria um sorriso. 

— Eu sou a Melany, mãe – tirei os fios de cabelo que caíram em frente ao seu rosto e coloquei atrás da sua orelha. – A Mel, seu bebê, lembra?  

Seus olhos me encaravam vazios e sem vida, como se ela não compreendesse minhas palavras ou talvez simplesmente não tivesse qualquer importância para ela. 

— Onde está a Jullie?  

— Ela... – mordi o lábio com força. – Ela saiu um pouquinho, mas já está chegando. – ela continuou me encarando com os olhos vazios e resolvi mudar de assunto antes que ela insistisse mais. – Se lembra que dia é hoje? – ela desviou os olhos de mim e voltou a olhar para frente, encarando o velho carvalho que ficava no jardim, como sempre fazia... Há mais de 11 anos.  

Minha garganta apertou e eu engoli em seco. – Hoje é meu aniversário, 25 aninhos, você acredita? Meus alunos me fizeram vários cartões de presente, eu deveria ter trazido alguns para você ver, Liz me deu mais um daquelas roupas esquisitas dela e.... – continuava a falar, mesmo que ela me ignorasse, eu preferia falar a ter lembranças me assombrando daquele jardim... De mim, da mamãe e da Jullie . 

— Melany?  

Olhei para trás e sorri ao ver papai me olhando surpreso. Fui até ele e o envolvi com os braços, apertando meus braços ao seu redor e matando a saudades que sentia, mesmo que eu odiasse voltar aqui, esse sempre vai ser o meu local preferido. 

— Pensei que você viria mais tarde... – ele comentou e me afastei. 

— Pois é, eu até vinha, mas apareceu um compromisso para mim e vou ter que sair mais cedo – fiz minha melhor cara de inocente. Ele ainda não sabia que eu estou namorando. 

— Ahh que pena, Rosa preparou sua comida favorita para o jantar. 

— Eu prometo que volto amanhã logo cedo. 

— Tudo bem – ele suspirou, mas logo abriu um sorriso, abriu a pasta preta que carregava em uma mão e tirou uma pequena caixa azul de dentro e me entregou. - Eu não tive tempo de embrulhar... 

— Isso não importa – sorri e o abracei rapidamente. - Obrigada. 

Abri a pequena caixa e me deparei com um delicado colar em formato de coração. Peguei-o com uma mão e percebi que havia uma pequena trava no meio, abri-o e havia uma foto da nossa família dentro. Uma foto muito antiga, eu deveria ter uns 10 anos e todos estavam nela, inclusive a Julie. 

Engoli em seco e guardei o colar dentro da caixa. 

—É lindo pai, obrigada. 

Papai não era muito bom lidando com emoções, por isso ele apenas pigarreou e olhou para o lado sem jeito e logo tratou de mudar de assunto. 

—Bom, vou tomar um banho para cantarmos parabéns para você. Seu irmão também está vindo.  

Balancei a cabeça concordando e ele se inclinou para depositar um beijo rápido na testa de mamãe antes de subir a escada em direção ao quarto.  

Acabei sorrindo e abracei meu presente. Apesar do passado ainda ser uma lembrança dolorosa para mim, ter minha família ao meu lado era a única coisa que me permitia tentar seguir em frente. 

Tentar... 

Há quantos anos eu venho tentando?  

Olhei para mamãe, que ainda continuava do mesmo jeito – olhando para o velho carvalho quase sem vida – e um nó se formou em minha garganta.  

Me ajoelhei a sua frente e segurei as suas mãos.  

—Por mais quanto tempo a senhora vai ficar assim? - perguntei sem esperar uma resposta e deitei a cabeça em seu colo. - Eu sinto sua falta... 

Onze anos... 

Onze anos desde a última vez que falei com minha mãe. 

Onze anos desde que ela se foi. 

—Eu sinto sua falta mamãe - minha voz estava embagada pelo choro não derramado e fechei os olhos. - Quando a senhora vai me perdoar? 

Mesmo que eu tentasse seguir em frente, minha mãe não me permitia fazer isso, porque ela sempre será a maior lembrança do erro que eu cometi. 

Cerca de três horas depois sai de casa às pressas.  

Mandei uma mensagem para Allan, avisando do meu atraso e pedindo desculpas, enquanto dirigia o carro para o restaurante que ele tinha feito às reservas, possivelmente infringi alguns limites de velocidade, mas eu iria me preocupar com isso depois. 

Assim que cheguei ao restaurante nem precisei procurar muito, era incrível como se conseguia se destacar em meio a vários homens, vestindo seu inseparável terno azul escuro marinho e gravata vermelha.  

— Desculpe a demora – disse assim que me sentei na cadeira vazia ao seu lado. 

— Tudo bem – ele me recebeu com um pequeno sorriso que não pude deixar de retribuir. – O que você gostaria de comer? – perguntou olhando para o cardápio em suas mãos. 

— Qualquer coisa está bem – respondi, até porque eu não estava com fome, pois tinha jantado na casa dos meus pais. 

Allan assentiu e chamou o garçom para realizar nossos pedidos. Ficamos em silencio enquanto aguardávamos a nossa comida chegar e aproveitei para olhar em volta, o restaurante estava cheio e vários casais se encontravam presentes. 

Não queria comparar, mas era impossível não notar como os outros casais eram tão... Diferentes de nós dois. Enquanto trocavam olhares apaixonados, toques carinhosos e beijos... Eu não podia não comparar, como eu e Allan parecíamos tão frios um com o outro. 

Como se estivéssemos juntos por conveniência. 

Nunca fui uma pessoa de demostrar afeto ou mostrar abertamente o que eu sentia, isso é algo que fazia parte de mim e nunca tive intensão de mudar, mas Allan... Eu não sei se ele era naturalmente frio assim. Parando para pensar nunca falamos dos nossos passados, então não sabia como ele era ou o que ele gostava de fazer, eu realmente não sei absolutamente nada dele. 

Eu não sei de nada... E ele não sabe nada sobre mim. 

— Melany? – Allan me chamou e percebi que estava olhando para baixo. Olhei para ele e percebi seu cenho franzido, ele colocou uma mão sobre a minha em cima da mesa. – Tudo bem?  

Olhei para nossas mãos unidas e um pequeno sorriso se formou em meus lábios. Entrelacei nossos dedos e olhei para ele. 

— Sim. 

Talvez não o conhecesse tão bem e ainda não estivesse tão acostumada a esse estranho relacionamento, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu o amo. 

E, mesmo que estivesse assustada com esse novo sentimento, não vou voltar atrás. 

Eu amo-o. 

Amo-o. 

Amo-o. 

Olhando em seus olhos verdes e hipnotizantes eu tentava expressar as palavras que não conseguia proferir. 

— Eu estou bem – garanti e apertei gentilmente sua mão sobre a minha. – Só estou um pouco cansada. 

— Você quer ir embora?  

Sabia que ele tinha preparado esse momento para comemorar meu aniversário, mas não queria estar aqui e só queria que estivéssemos em um lugar privado, apenas nós dois. 

— Sim. 

Seus lábios se curvaram e ele se inclinou na minha direção, sussurrando em meu ouvido. 

— Que tal nós irmos para o meu apartamento? – perguntou em tom sedutor e um arrepio percorreu meu corpo.  

— Sim... – murmurei e ouvi seu riso, ele depositou um beijo no meu pescoço e se afastou. 

— Vou pedir a conta – disse e se levantou. 

Enquanto o olhava se distanciar da nossa mesa não conseguia parar de pensar: eu te amo, mas... Eu não sei quem é você. 


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