O Chofer do Apocalipse: Corrida Mortal escrita por Max Lake


Capítulo 2
O mundo (não) é o bastante


Notas iniciais do capítulo

Chegando ao capítulo dois agora que o quatro já está adiantado.
Quero agradecer a Hana por ter comentado no capítulo anterior e ter se interessado pelo Chofer do Apocalipse a ponto de ler a drabble. Muito obrigado! =D



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Gula, inveja, ganância, ira, luxúria, preguiça e orgulho. Os famosos sete pecados capitais que a humanidade tanto evitou durante sua existência, mas que também abraçou, mesmo na mais inofensiva ação imaginável.

Bone não sabia qual havia sido o papel dos Sete na queda da humanidade, nem pensava muito sobre isso. Mas já havia feito o trabalho para eles e a experiência havia sido frustrante.

A casa dos Sete Pecados Capitais era amarela, localizada no meio do nada, com vista para lugar nenhum. A última vez que Bone havia passado por ali, a casa era azul e ele não entendia o motivo para a mudança de cor. Ou mesmo o motivo de ter uma cor.

Parado de frente para a porta, Bone hesitou em por a mão ossuda sobre a maçaneta. Poderia dar meia-volta e ir embora, o trabalho para os Pecados não era tão prioritário assim. Por outro lado, não gostaria de uma mancha na sua perfeita carreira como chofer do apocalipse.

— Oi.

Uma voz infantil soou atrás de Bone, que se virou meio assustado meio tentando fingir que não tomou um susto. Era uma garota pequena de cabelo preto, vestidinho amarelo e segurando uma melancia. Ela deu uma mordida na fruta, cuspiu as sementes e perguntou:

— Você é o Bone?

— Sou.

— Sou a Gula — disse a criança, confirmando as suspeitas do chofer. — Vai entrar?

— É, acho que vou.

Gula mordeu a melancia, limpou os dedos com a boca e sinalizou para que ele entrasse. Bone obedeceu.

O interior da casa pertencia a um tempo já esquecido, quando havia normalidade, rotina e humanos no planeta — de acordo com as referências cinematográficas que Bone já havia assistido. O que mais chamava a atenção do chofer era o sofá grande na sala, ocupado por um gato caído em sono profundo.

No corredor entre a cozinha e a sala, um rapaz passou de cabeça baixa carregando um jogo portátil. Ele não parecia muito feliz com o resultado da brincadeira e demonstrou toda sua ira ao arremessar o objeto contra a parede.

— Ira, não faça isso! Sabe o que eu daria para ter um joguinho igual a este? — Repreendeu um rapaz careca.

— Cala a boca, Inveja! — gritou Ira, depois olhou para Bone. — O que tá olhando, hein?

O garoto irritadiço não esperou pela resposta do esqueleto. Enquanto isso, Gula apareceu com uma maçã e anunciou a plenos pulmões, mirando a escadaria no final do corredor:

— O Bone chegou!

— Traga ele aqui em cima! — respondeu outra voz, também feminina.

Gula conduziu Bone enquanto mastigava uma maçã. Por dentro, a casa era grande o suficiente para comportar sete seres pecaminosos, composta por 7 quartos — quatro deles se encontravam no andar superior.

Apenas um desses quartos estava fechado, e foi lá onde Gula entrou. Bone seguiu atrás dela.

— Estamos aqui, Lu.

— Pode sair, Gula. Obrigada.

Sem cerimônia, Gula deu as costas e foi embora com sua maçã. A dona da voz era uma mulher de cabelo longo escuro que se penteava em frente a um espelho, seu corpo era coberto por uma toalha. O reflexo revelava um rosto muito bonito, porém familiar. Parecia uma atriz de cinema que fez sucesso quando ainda existia civilização, lá pelos anos 2000.

— Olá, madame… Luxúria, certo?

— Sem formalidades, Bone. — A mulher se levantou e foi ao trocador, abandonando a toalha no meio do caminho. Não demorou muito para ela retornar com um vestido verde de renda que exaltava seu decote e suas curvas. — Pode me chamar de Eva.

A fala de Eva era mansa e lenta, apaixonante para qualquer homem.

— Eva?

— Sim, Eva.

— Certo, madame Eva. Vim porque me chamaram para um trabalho.

— Ah, sim. Temos umas coisas que só você pode entregar. — Eva enfiou a mão dentro do decote e tirou um papel. — É uma lista pequena.

Bone pegou o papel e o leu em voz alta:

— Devolver a máscara da Peste. Resgatar o Orgulho na Cidade dos Fantasmas. Participar da… — Ele deu uma olhada para Eva, que sorria maliciosamente. — Participar da Corrida Mortal pela equipe dos Sete Pecados Capitais.

Bone dobrou o papel, não sabia se o devolveria a Eva ou se guardava em seu bolso. Escolheu a segunda opção.

— Você pode ser apenas um esqueleto, mas sei reconhecer quando alguém está hesitando.

— Posso devolver a máscara da Madame Peste e resgatar o Orgulho, mas participar da Corrida Mortal é… mais complicado.

— Ficamos em segundo lugar na última edição. Para nossa equipe modesta, com um gato como trocador de pneus, foi ótimo. Mas nosso piloto era o Ganância e essa colocação não foi o bastante para ele. Na verdade, o mundo não é o bastante para ele. Aí ele se tornou o novo piloto da equipe da Morte, a sua antiga equipe.

— Eu sei que é minha antiga equipe.

— A equipe que tem o melhor carro, a melhor equipe de engenheiros, patrocina o campeonato e mesmo assim perdeu o melhor piloto. Por que você saiu mesmo, Bone?

— Minha dívida com a Madame Morte acabou, eu quis me dedicar à carreira de chofer. Posso dizer que o mundo é o bastante para mim.

Eva se levantou e rodeou Bone, passando o dedo por seu ombro ossudo. O chofer do apocalipse acompanhou a moça até ela o abraçar e sussurrar, de forma sedutora, em seu ouvido:

— Garanto que será muito bem recompensado pelo cumprimento de todas as tarefas.

— Hum… — murmurou Bone, não de um jeito pensativo. Foi quase um resmungo baixo.

— Não sente falta da adrenalina? A pista, os obstáculos… A excitação pela vitória?

— Meu trabalho já tem adrenalina suficiente. Obrigado.

Eva abriu a porta e fez um gesto de dispensa para Bone. O chofer seguiu para fora do quarto.

— Quero você como nosso piloto. Pense um pouco na proposta — finalizou Eva.

— Claro. Vou pensar sim — respondeu ele sem muita convicção.

Com um aceno tímido de mão, Bone desceu as escadas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! =)

Para os Sete Pecados Capitais eu considerei deixar como uma personificação única de um gato, porque é um ser que consegue juntar todos os pecados de uma só vez.
Mas acabei optando por me inspirar um pouco na ideia de família vista em Fullmetal Alchemist (Brotherhood, porque foi o anime que tive contato).

Acho que a Gula ficou bem claro que me inspirei na Magali, né?

E para a Luxúria foi a Eva Green. Eu só percebi na hora de publicar, mas o nome e a cor da roupa dão essa dica, além do trecho que diz que ela lembra uma atriz dos anos 2000.

Ah, e o gato no sofá é a Preguiça mesmo. Poderia ser um bicho-preguiça? Poderia, mas um dos títulos selecionados do desafio menciona gato e eu gosto de gatos.



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