Verdades

"Ninguém pode obter nada sem sacrificar alguma coisa. Para obter algo, é necessário uma coisa de valor equivalente. Esse é o princípio da troca equivalente que existe na alquimia. Nós pensávamos que esta era a verdade absoluta quando éramos mais novos.”

- Hã? Vejo que tem seu “conteúdo” de volta, agora. – Concluiu, mostrando-se ali. – Você realmente acredita que ele voltará pra te pegar?

- Sim. – Respondi, convicto. – Ele virá.

- O que será que ele sacrificar dessa vez? – Perguntou rindo, mais para si mesmo que para mim. O ser completamente branco, que agora devolvia o braço direito de meu irmão, se sentia a vontade na imensidão igualmente branca, se não fosse pelos dois portões existentes ali. O meu e o de meu irmão. A minha Verdade e a Verdade de meu irmão.

Ele com certeza virá. Prometemos um ao outro que nunca nos sacrificaríamos novamente, e sei que quebrando essa promessa ele ficara incrivelmente nervoso, e vai querer me buscar só para me dar uma bronca, mas era inevitável. Não poderia deixar que sua alma fosse sugada pelo “Pai”, muito menos sabendo que eu poderia ter feito algo para impedir, não me perdoaria.

- Para você, que se auto-denomina “Deus”, “mundo”, “universo”, “um”, “tudo”, e até mesmo “eu”, o que seria a Verdade, afinal? – Perguntei, após alguns minutos. Ele apenas olhou pra mim.

- Uma pergunta. Ou uma resposta.

- Uma pergunta que origina a resposta?

- Talvez. O que é verdade pra você? – Uma pergunta peculiar, na qual eu já deveria ter pensado. Fique algum tempo calado, pensando, até que ele enfim voltasse a falar. – A Verdade é aquilo que ninguém conseguiu responder. É algo que vocês, humanos, ganaciosos como são, não enxergam o que está exatamente a sua frente.

- Mas a verdade muda para cada um, certo?

- Não existe uma única verdade, e sim várias. Mas mesmo que a pergunta seja diferente, a resposta sempre terá o mesmo sentido.

- E qual seria o sentido? – Perguntei. Até agora, tenho a definição da Verdade, e não o que ela realmente é. Preciso de mais respostas para entende-la por completo.

- O fato de querer respostas já te leva para um caminho distinto da sua Verdade. O fato de achar que pode entende-la totalmente lhe leva a outro caminho.

- Que caminho?

- O contrário da Verdade. – Falar em rodeios, andar sem sair do lugar. Era isso que ele estava fazendo, o que apenas me faz perceber que talvez nunca consiga descobrir o que é verdade. Ele não quer e não vai me dizer, como já esperava. – Pergunte ao seu irmão, ele foi o primeiro.

- Como...?

- A porta dos fundos... é logo... ali. – Informou a “Verdade”, enquanto desaparecia.

Lá estava ele, ferido, coberto pelo próprio sangue, com seu braço direito extremamente magro, se comparado ao esquerdo, e sorrindo. Andou lentamente ao meu encontro, sorrindo ainda mais.

- Você é louco, sabia disso? – Riu ele, se aproximando mais e estendendo a mão para mim. – Sua carona chegou, Al.

- Sim.

- Vamos pra casa. – Disse. – Todos nos aguardam.

Ele veio.