Chegamos a Bruges sob o manto de uma noite estrelada, o céu pontilhado de luzes que refletiam na água calma do porto. Depois de três horas no mar, o pequeno barco finalmente encostou na doca, e eu, Katy e o senhor Thorne desembarcamos, sentindo a terra firme sob nossos pés.

A senhora Gomes, tia de Katy, estava lá para nos receber, com um sorriso caloroso e um abraço apertado para sua sobrinha. A brisa noturna trazia consigo um ar de frescor e a promessa de novas aventuras. Enquanto caminhávamos até o carro da senhora Gomes, eu não conseguia tirar os olhos da cidade ao nosso redor. Bruges parecia saída de um conto de fadas, com suas ruas estreitas e de paralelepípedos, as casas antigas com fachadas ornamentadas e as luzes douradas que iluminavam as águas dos canais.

Havia algo nessa cidade que despertava em mim uma profunda sensação de nostalgia, como se estivesse voltando para casa depois de muito tempo. Cada esquina, cada ponte, parecia familiar de um jeito inexplicável. Sentia-me envolvida por um calor acolhedor, uma conexão com o lugar que eu não conseguia compreender totalmente.

No caminho, meus olhos captaram um outdoor iluminado. Pela janela do carro, vi a imagem de um homem com um sorriso confiante, sua figura imponente destacada contra o fundo escuro. Abaixo da foto, lia-se o nome Jacob Black, um importante empresário do chocolate e líder de uma famosa holding. Algo naquela imagem mexeu comigo. Havia uma sensação de reconhecimento, como se eu já tivesse encontrado aquele homem em algum lugar antes, embora não conseguisse lembrar onde ou quando.

A sensação persistiu enquanto continuávamos nosso trajeto pelas encantadoras ruas de Bruges. Eu não conseguia tirar Jacob Black da cabeça, intrigada pela familiaridade de seu rosto e pela inexplicável conexão que sentia com a cidade. Talvez Bruges guardasse mais segredos do que eu imaginava, segredos que aguardavam para serem desvendados ao longo de nossa estadia.

Enquanto o carro seguia em direção à casa da senhora Gomes, olhei para Katy e o senhor Thorne, ambos imersos em suas próprias reflexões. Sorri, sentindo-me grata pela companhia deles nessa jornada e ansiosa para descobrir o que Bruges tinha reservado para nós. A noite estava apenas começando, e eu esperava que aqueles fossem apenas nossos primeiros momentos naquela cidade.

Chegamos à casa da senhora Gomes, uma bela residência antiga com janelas altas e cortinas rendadas, rodeada por um jardim bem cuidado. A senhora Gomes nos recebeu com um sorriso caloroso, conduzindo-nos para dentro. A casa exalava um aroma acolhedor de flores frescas e especiarias.

No quarto de hóspedes, eu e Katy nos acomodamos rapidamente. Era um cômodo espaçoso e confortável, com duas camas de solteiro e uma janela que dava vista para o jardim iluminado pela lua. Ainda era cedo, e embora estivéssemos cansadas da viagem, a empolgação de estar em um lugar novo nos mantinha alertas.

— Katy, não acha que deveríamos descansar um pouco? Perguntei, enquanto abria a mochila – Além disso eu não estou com clima para festas.

Katy olhou para mim com um brilho travesso nos olhos. - Descansar? Estamos em Bruges, Liza! Eu entendo que esteja com saudade do Oliver mas, ele não vai gostar se souber disso, além disso, eu conheço um lugar muito bom que podemos visitar agora. Vamos sair e explorar a cidade!

Me senti tentada com o convite, afinal de contas eu havia sonhado com Bruges durante toda a minha vida - Mas o senhor Thorne não vai permitir, já viu que horas são? - Respondi, olhando para a porta do quarto, imaginando se o pai de Katy nos ouviria.

Ela riu, balançando a cabeça. -Ele não precisa saber. Vamos nos esgueirar para fora e voltar antes que ele perceba. Prometo que será divertido!

A ideia de uma pequena aventura noturna era tentadora. Depois de uma breve hesitação, cedi. - Está bem, vamos – Olhei para a mochila e lembrei que não tinha roupas adequadas para uma noite em Bruges, ao perceber Katy sorriu, animada. Rapidamente, ela foi até sua mala e pegou uma blusa de seda e uma saia que combinavam perfeitamente. – Eu acho que vai ficar lindo em você – Ela disse me oferecendo as peças de roupas junto com um par de botas cano alto – Sorri e agradeci, Katy era um anjo da guarda.

Após nos arrumarmos nos olhamos no espelho, prontas para nossa escapada.

Com cuidado, descemos as escadas, certificando-nos de que o senhor Thorne estava ocupado no escritório. A senhora Gomes estava na cozinha, preparando chá. Silenciosamente, saímos pela porta dos fundos, nossos corações batendo acelerados com a adrenalina.

Andamos pelas ruas tranquilas e charmosas de Bruges, seguindo o caminho que Katy conhecia tão bem. Após alguns minutos, chegamos ao De Coulissen Brugge, um local famoso entre os jovens da cidade. Embora fosse tecnicamente proibido para adolescentes, o lugar estava cheio deles, todos rindo e conversando animadamente.

O ambiente vibrava com música alta e luzes coloridas, criando uma atmosfera de festa. Katy e eu nos misturamos à multidão, sentindo-nos parte da energia vibrante do local. Era emocionante estar ali, rodeada por novas pessoas e novas experiências.

Por um momento, deixei de lado todas as preocupações e me entreguei à aventura. Estávamos em Bruges, vivendo uma noite que prometia ser inesquecível. Enquanto dançávamos e ríamos, percebi que essa viagem era mais do que apenas uma visita a um novo lugar; era um lugar que mudaria minha vida para sempre.

A atmosfera do De Coulissen Brugge era vibrante e cheia de energia, a música alta e as luzes coloridas nos envolviam completamente. Katy e eu nos aproximamos do bar e pedimos uma bebida que parecia ser a favorita do local: um coquetel azul brilhante, servido em copos altos e decorados com pequenos guarda-chuvas de papel.

— É doce- Disse Katy, experimentando a bebida primeiro e fazendo uma careta divertida. - Mas não devemos exagerar, Liza. Vamos devagar, ok?

Concordei com um sorriso, tomando um gole. O sabor era uma mistura de frutas tropicais e açúcar, refrescante e irresistível. Nós rimos e conversamos, absorvendo a energia ao nosso redor. Eventualmente, encontramos uma mesa vaga e nos sentamos, observando as pessoas ao nosso redor.

Não demorou muito para que dois garotos se aproximassem. Um deles, com cabelo escuro e olhos curiosos, sorriu para nós. - Oi, posso me sentar? Perguntou ele, e nós assentimos.

— Meu nome é Logan Melek- Disse ele, enquanto o outro garoto, mais alto e de cabelos acobreados, com uma expressão meio surpresa, se apresentou em seguida.

— E eu sou Antony Black.

Quando Antony olhou para mim, ele pareceu ficar pálido. Seus olhos se arregalaram e ele deu um passo para trás, quase derrubando a cadeira atrás dele. - Eu... eu acho que bebi demais- Ele gaguejou. - Estou vendo coisas. Juro que estou vendo minha mãe!

Katy e eu trocamos um olhar surpreso e então começamos a rir juntas, o absurdo da situação nos atingindo em cheio. - Sua mãe? Perguntei, ainda rindo. - Você deve estar mesmo vendo coisas!

Antony parecia mais confuso e assustado do que antes. - Isso não faz sentido- Murmurou ele, antes de sair apressado, quase tropeçando nos próprios pés. Logan o seguiu rapidamente, lançando um olhar intrigado para nós antes de desaparecer na multidão.

Ficamos sentadas ali, ainda rindo, sem entender nada do que acabara de acontecer. - O que foi isso?" Perguntei, tentando recuperar o fôlego.

Katy deu de ombros, um sorriso divertido nos lábios. - Não faço ideia, mas foi hilário. Acho que a noite está ficando cada vez mais interessante.

Concordei, sentindo a excitação e a curiosidade aumentarem dentro de mim. Havia algo intrigante em Antony Black e sua reação estranha. Talvez Bruges guardasse mais segredos do que eu imaginava. Enquanto isso, a noite continuava, cheia de promessas e possibilidades.

Retornamos para a casa da senhora Gomes com os corações ainda acelerados pela aventura da noite. Caminhamos silenciosamente pelas ruas tranquilas de Bruges, nossas risadas agora abafadas pela necessidade de discrição. Quando chegamos à porta dos fundos da casa, seguramos a respiração enquanto girávamos a maçaneta e entrávamos sem fazer barulho.

Os corredores estavam escuros e silenciosos. Movemo-nos com cuidado, nossos passos leves sobre o piso de madeira. Conseguimos chegar ao quarto de hóspedes sem sermos descobertas. Fechamos a porta atrás de nós e deixamos escapar um suspiro de alívio, trocando um sorriso cúmplice.

Katy começou a trocar de roupa, colocando um pijama confortável. Eu fiz o mesmo, rindo baixinho enquanto lembrávamos dos momentos mais engraçados da noite. - A cara do garoto quando me viu... parecia que tinha visto um fantasma! - Disse, tentando conter o riso.

— Isso foi hilário - Katy concordou, rindo também.  – E o outro tentando entender o que estava acontecendo. Foi uma noite e tanto.

Conversamos por mais alguns minutos, nossas vozes sussurradas enchendo o quarto com uma atmosfera de cumplicidade e amizade. Eventualmente, Katy começou a bocejar, seus olhos pesados de sono. - Vou dormir um pouco - Ela murmurou, já se aninhando sob as cobertas.

— Boa noite, Katy - Sussurrei, vendo-a adormecer rapidamente, um sorriso ainda visível em seus lábios.

Eu, no entanto, não conseguia dormir. Sentia-me tomada por uma felicidade tão intensa que parecia impossível fechá-la em sonhos. Levantei-me silenciosamente e caminhei até a janela, puxando a cortina levemente para espiar a cidade lá fora.

Bruges brilhava sob a luz suave da lua, suas ruas antigas parecendo ainda mais mágicas à noite. As águas dos canais refletiam as estrelas, criando um espetáculo deslumbrante. Fiquei ali por um momento, absorvendo a beleza da cena, sentindo-me conectada a este lugar de uma maneira que não conseguia explicar.

Estava feliz. Uma felicidade pura e simples que enchia meu peito e me fazia sorrir. Mas junto com essa felicidade, havia um medo sutil. Um medo de que tudo isso não passasse de um sonho, e que ao acordar, a magia de Bruges desaparecesse.

Apoiei a cabeça contra a janela fria, fechando os olhos por um instante. Respirei fundo, tentando capturar cada detalhe, cada sentimento, para que, mesmo que fosse um sonho, eu pudesse lembrar de tudo.

Finalmente, voltei para a cama, me deitando ao lado de Katy. O sono eventualmente veio, levando-me para um mundo de sonhos onde Bruges e suas maravilhas ainda existiam. Mas antes de adormecer completamente, fiz uma promessa silenciosa a mim mesma: independentemente do que o futuro trouxesse, eu nunca esqueceria essa noite em Bruges.