Cinderella - Depois do felizes para sempre escrita por Alina Black


Capítulo 1
Liza- Era uma vez...


Notas iniciais do capítulo

A tempos desejava fazer uma continuação pois havia deixado pontas soltas na primeira história.



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Era uma vez, numa ilha chamada Fynn, que fica a umas três horinhas de barco de Bruges. É onde eu moro, e olha, é um lugar bem especial. A ilha tem só 1850 habitantes, então todo mundo conhece todo mundo, sabe?

Aqui em Fynn, a natureza reina absoluta. Tem verde para todo lado, árvores enormes que parecem abraçar a gente quando passamos por elas. E o cheiro do mar... ah, o cheiro do mar é uma delícia! Sempre que eu saio de casa, posso sentir aquele aroma salgado que me faz lembrar como é bom viver aqui.

A vida em Fynn é simples, mas é isso que eu mais gosto. Os pescadores saem cedinho com seus barcos de madeira coloridos, e quando voltam, trazem peixes fresquinhos que a gente compra direto no cais. Eles contam histórias de aventuras no mar que eu adoro ouvir, mesmo que algumas pareçam um pouco exageradas. Quem sabe se o Sr. Johan realmente viu um tubarão daquele tamanho?

Temos uma pracinha bem no centro da ilha, onde a galera se encontra para bater papo, comer sorvete e jogar conversa fora. As crianças correm de um lado para o outro, e eu sempre acabo encontrando meus amigos por lá. Aos sábados, rola uma feirinha com frutas e verduras frescas que os agricultores locais trazem. Tudo tão natural e gostoso!

E não posso esquecer das nossas festas! Todo ano, a Festa do Peixe é a melhor. Tem música, dança, e comida para ninguém botar defeito. A ilha inteira se transforma numa grande celebração, e todo mundo participa. A gente dança até tarde da noite, e as estrelas parecem brilhar mais forte nesses dias.

Bom, já falei tanto da ilha que quase esqueci de me apresentar! Meu nome é Liza e eu tenho 15 anos. Moro com a minha tia Maeve e minha prima Mel. Minha tia Maeve é como uma mãe para mim desde que meus pais morreram num naufrágio quando eu ainda era bebê. Ela me criou com tanto amor que, mesmo sem lembrar dos meus pais, sinto que tenho uma família completa.

— Liza! Tia Maeve gritou batendo na porta do meu quarto, ou melhor, do quarto dos fundos que é onde eu vivo, segundo ela eu tenho que agradecer todos os dias por ter um quarto já que ela não tinha obrigação alguma de cuidar de mim.

Okay, vou corrigir a parte do “amor”, talvez tia Maeve me ame, mas ela nunca demonstrou isso.

— Liza! O bater na porta se tornou mais grave, suspirei terminando de me vestir a abri a porta.

— Estou aqui!

— Porque demorou tanto? Tia Maeve perguntou – Está atrasada para as vendas de hoje.

— Já estou de saída – Respondi passando ao lado dela, tia Maeve segurou meu braço e eu a olhei um pouco assustada – Não se atreva a retornar com todas aquelas compotas como na noite anterior.

Concordei com a cabeça e sai de forma apressada.

Durante o dia, eu ajudo vendendo compotas de doce de cereja. É uma receita que eu mesma criei e, modéstia à parte, todo mundo na ilha adora! Comecei a fazer essas compotas quando tinha uns 10 anos, só por diversão, está bem, não foi por diversão, mas aí fui aperfeiçoando a receita e agora elas são bem populares. Adoro ver a cara das pessoas quando provam e fazem aquele "hmmm" de satisfação.

E todas as noites, depois de um dia cheio, eu gosto de sentar na praça no centro da ilha. De lá, eu consigo ver as luzes distantes de Bruges. Tem algo nessas luzes que sempre chama meu coração. Talvez seja a ideia de uma cidade grande, cheia de possibilidades e mistérios. Quem sabe um dia eu descubra por que sinto essa conexão tão forte com Bruges?

Por enquanto, eu fico aqui em Fynn, aproveitando cada momento nesse pedacinho de paraíso, cercada pelas pessoas que amo e pelas belezas naturais que me fazem sentir sortuda por viver aqui. Mas nunca deixo de sonhar com o que as luzes de Bruges guardam para mim.

Depois de um dia inteiro vendendo minhas compotas de doce de cereja na praça, eu volto para casa exausta. Assim que entro, vejo minha tia Maeve me esperando na cozinha. Ela olha diretamente para minha bolsa, onde guardo o dinheiro das vendas.

— Quanto conseguiu hoje, Liza?- Ella pergunta, estendendo a mão. Suspiro e entrego o dinheiro, sabendo que não vai sobrar nada para mim. Ela conta as notas rapidamente e balança a cabeça.

— Isso aqui mal paga a moradia e a comida que você consome- Diz ela, sem nem olhar para mim. - Você precisa se esforçar mais.

Mordo o lábio para não dizer nada. Não adianta discutir, nunca adianta. Vou para o meu quarto e me tranco lá dentro, deixando o peso do dia cair sobre mim. Deito na cama e olho para o teto, sentindo as lágrimas começarem a escorrer.

Olhei para o lado e vi meu livro favorito na mesinha de cabeceira e lembro que ler sempre me faz sentir melhor. Pego o livro e começo a folhear as páginas, me perdendo nas histórias e nos personagens. Ler é minha fuga, minha forma de sonhar com um mundo além dessa ilha.

Gostaria tanto de estudar, aprender sobre o mundo, mas aqui em Fynn não tem escola. E tia Maeve nunca me deixou sair da ilha. Sempre que eu menciono Bruges ou a possibilidade de estudar fora, ela corta o assunto rapidinho. Diz que meu lugar é aqui, ajudando ela.

Afundo no meu livro, deixando as palavras me levar para longe, para lugares onde tudo é possível e onde meus sonhos podem se realizar. Às vezes, me pergunto como seria minha vida se meus pais estivessem vivos. Será que eles me deixariam estudar? Será que eu estaria em Bruges agora, olhando pra Fynn de longe?

Eu estava completamente imersa na história do meu livro, quando de repente, ouvi o som da porta do meu quarto se abrindo. Meu coração deu um salto e eu sentei rapidamente na cama, com o livro ainda nas mãos.

Quando olhei para a porta, vi o marido da minha tia, o tio Roger, cambaleando para dentro do quarto. Ele estava claramente bêbado, o cheiro de álcool invadindo o espaço pequeno. Meu estômago se revirou de medo e nervosismo.

— Oi, Liza- Ele murmurou, a voz arrastada e os olhos vidrados. "O que você tá fazendo aí?

Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo nos meus ouvidos. - Só... só estou lendo- Respondi, tentando manter a voz firme, mas ela saiu mais como um sussurro trêmulo.

Ele se aproximou mais, os passos desajeitados e incertos. Eu me encolhi na cama, abraçando meu livro como se fosse um escudo. - Você sabe-  ele continuou, se sentando pesadamente na beirada da minha cama, - Eu sempre achei que você é uma garota muito esperta. Muito bonita também.

Eu queria gritar, correr, fazer qualquer coisa para sair daquela situação, mas estava paralisada de medo. - Por favor, tio Roger, você pode sair? Minha voz saiu mais alta dessa vez, tentando soar mais confiante do que me sentia.

Ele riu, um som desagradável que fez minha pele arrepiar. - Relaxa, só queria conversar um pouco.

Nesse momento, ouvi passos pesados no corredor e a porta se abriu de novo. Tia Maeve apareceu, os olhos apertados de raiva ao ver Roger no meu quarto. - O que você está fazendo aqui, Roger? Ela praticamente gritou. - Sai agora!

Roger levantou, ainda cambaleante, e resmungou algo inaudível enquanto saía do quarto, passando por Maeve sem sequer olhar para ela. Ela olhou para mim, a raiva ainda brilhando em seus olhos.

— Eu dou a você um lar e é assim que me agradece?

— Não sei do que está falando tia – Tentei me defender.

— Isso foi culpa sua! - Ela gritou. - Você provocou o Roger de alguma forma, não foi? Por que você não ficou no seu lugar?

Eu fiquei paralisada, sem saber o que dizer. As palavras me escapavam, e tudo que eu conseguia fazer era balançar a cabeça, negando silenciosamente.

— Não adianta negar- Continuou Maeve, o tom de voz ficando cada vez mais alto. - Você devia saber como ele fica quando bebe! Com certeza deixou a porta aberta propositalmente.

As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu me sentia tão injustiçada, tão impotente. Deitei na cama e virei de costas para ela, abraçando meu travesseiro e deixando o choro sair livremente.

— Chorar não vai resolver nada- Disse Maeve, antes de sair do quarto e bater à porta com força.

Eu soluçava, afundando meu rosto no travesseiro, tentando abafar o som. A sensação de desespero e solidão me envolvia completamente. Tudo que eu queria era escapar, sair dessa vida de acusações e medos constantes. Queria um lugar onde pudesse ser eu mesma, sem o medo de ser culpada por coisas que não fiz.

Com o tempo, o choro foi diminuindo, e o cansaço tomou conta. Fechei os olhos, ainda sentindo as lágrimas quentes no rosto, e desejei com todas as forças que um dia, de alguma forma, eu encontrasse uma saída dessa ilha e uma chance de viver a vida que sempre sonhei.


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