Seus olhos provavelmente a enganavam,  era impossível que  o amor de sua vida cujos olhos e  palavras nunca deixaram seus pensamentos, durante todos esses anos estivesse ali em sua frente, usando um smoking  como em seu sonho. Céus isso estava muito estranho, ela precisava de uma confirmação de que aquilo era real,esta veio quando Daniel respondeu:

— Olá Cole! Eu sou Daniel, essa é minha namorada Taylor. 

      O cabelo do garoto das selvas estava um pouco mais curto, porém os fios pretos brilhantes não haviam mudado, seu queixo agora era coberto por uma barba rala que o deixava mais adulto e mais bonito do que nunca. Quando aquelas pérolas verdes olhavam fixamente para ela, por um instante Taylor queria levantar ali mesmo abraço e dizer o  quanto havia sentido sua falta,porém precisava se controlar, por mais difícil que fosse.

— Ah sim, imagino que tenham vindo aproveitar um jantar romântico acertei? — O ex ranger vermelho não escondeu a  frustração em seu tom de voz,o que deixava tudo ainda mais difícil.

— Sim, isso mesmo! É a noite mais importante das nossas vidas. — Daniel segurou a mão de Taylor de uma maneira possessiva, como se ele pudesse ler seus pensamentos e soubesse que com um estalar de dedos, aquele garçom poderia levar sua futura noiva com ele.

— Muito bem! Aqui está o cardápio. Quando estiverem prontos para pedir é só me chamarem.- Afirmou antes de sair.

— Ótimo, obrigado.

Pelo menos dessa vez Daniel havia sido gentil.

    Enquanto fingia analisar os pratos do menu, a águia amarela assimilava o que havia acabado de acontecer. Cole Evans, sua perdição, o único capaz de trazer seu lado sensível à tona, estava ali,  a poucos metros de distância, na mesma noite em que ela ficaria noiva de outro. Porque o destino prega essas peças tão cruéis? 

   Justo quando os  boatos sobre seu passado voltaram com força total e a segurança do  Animarium estava em risco, sua chance de felicidade estava a disposição . Por um instante, Taylor pensou em sair daquela mesa. Largar tudo e ir atrás de Cole, porém não seria possível, não daquele jeito.  Entretanto, a curiosidade consumiu seu peito da mesma maneira que certas perguntas consumiram sua mente. Será que Cole havia voltado agora? Haveria visto seu nome  na lista de reservas? Teria pensado nela durante todo esse tempo da mesma forma que ela pensava nele? Acharia possível recomeçar? 

— Esse  Cordeiro assado parece ser uma delícia, o que acha meu amor?

Taylor se encontrava tão imersa em seus pensamentos que seus ouvidos no primeiro instante ignoraram a pergunta de Daniel.

— Taylor, está tudo bem? — indagou colocando a mão de maneira delicada no cardápio que a loira fingia ler.

Deixando suas reflexões de lado ela respondeu: 

—- Está sim, eu só preciso ir ao banheiro. Mas não sei onde é  vou procurar. Já volto. 

— Certo.

    Com suas mãos suadas e os joelhos bambos, Taylor andou pelo local, em meio a aquelas  vozes arrogantes e luzes,  só um rosto interessava. Por isso mesmo quando viu a porta da cozinha abriu um sorriso muito maior do que quando entrou por aquele salão.

     Seu vestido amarelo e o sapato de salto que por uma maldição escolheu para aquela noite a impediram de correr na velocidade que desejava.  Tudo que queria era olhar para aquele rosto que por tanto tempo havia sido só uma doce lembrança, na verdade, a  lembrança mais doce que a piloto guardava.  Queria desesperadamente tocá-lo para ter certeza de que tudo era real, sentir aquele cheiro do qual havia sentido tanta falta e ouvir aquela voz que possuía o poder de acalmá-la como nenhuma outra.

    Devido a correria de inauguração, ninguém notou sua presença, bom pelo menos ninguém havia notado até ela sem querer  esbarrar em um prato de molho de tomate e derramá-lo no chão e em seu próprio vestido.

— Ah não me desculpe, senhorita! — Uma moça gentil pegou um papel e começou a esfregar o tecido grosso do vestido que Taylor usava.

—  A culpa foi minha, eu é quem preciso me desculpar.

— Imagina a senhorita é uma cliente, aliás o que faz aqui nessa cozinha tão bagunçada?

Antes que a ex ranger amarela pudesse pensar em uma desculpa convincente.

Aquela bela voz que ela passou anos sonhando em escutar novamente afirmou — Ela está aqui para falar comigo!

— Ah sim, então vou deixar que conversem.

Como um imã é atraído pelo metal, Taylor foi atraída até o garoto das selvas.

— Cole eu mal acreditei quando te vi! —Seus lábios formaram o primeiro sorriso genuíno naquela noite.

— Pois é, eu achei que estava sonhando quando seu nome na lista de convidados. 

— O que faz trabalhando de garçom em um restaurante, a essa altura eu tinha certeza que havia se tornado o veterinário mais respeitado do país.

— Bom, eu sou veterinário sim, só não cheguei a tanto. Na verdade acabei de abrir minha clínica na cidade. 

— Ah sim,  então porque está usando um smoking ao invés de um jaleco essa noite?-- Não que ela estivesse reclamando, afinal Cole de gravata era uma visão do paraíso.

— Eu só estou de garçom por essa noite. Um dos garotos que o dono havia contratado só vai poder começar amanhã, então ele me pediu esse favor.

— Ah, você é amigo do dono desse lugar?

— Sim, ele estudou gastronomia na mesma faculdade onde eu estudei veterinária,fomos colegas de quarto.

—Uau! Que mundo pequeno!-   Exclamou Tentando ignorar o fato de que Daniel não havia sido tão educado  com o proprietário alguns minutos atrás 

— Pois é. Mas você, pelo visto, veio com seu namorado…  O lindo sorriso que preenchia o belo rosto Cole deu lugar a uma expressão de tristeza.

     Taylor queria gritar que o seu namoro seis  meses ou,  possível de noivado, nunca seria nada comparado ao que os dois haviam vivido  durante a missão. Queria abraçá-lo e sussurrar em  seu ouvido que ele sempre seria seu único e verdadeiro amor ,não importava se outro estivesse prestes a colocar um anel em seu dedo. 

    Contudo, as palavras se prenderam em sua garganta, era impossível dizer o que sentia,ainda mais com todos os perigos que isso acalentava. Por isso , seus lábios voltaram a formar um sorriso falso quando disse:

— É. O Daniel, ele é muito legal, também é piloto na força aérea, foi assim que nos conhecemos. — Se limitou a explicar.

Cole a analisou de cima a baixo como se procurasse uma brecha para fazê-la dizer a verdade. Porque ele tinha que conhecê-la tão bem?

— Entendi, se  o escolheu ele deve ser mesmo incrível.  

— Na verdade, hoje ele me trouxe aqui para… .Ah droga esqueci que meu vestido está arruinado.

—  Mas você fica linda de qualquer jeito! Aliás eu sempre achei que amarelo combina com vermelho. 

Taylor sentiu as bochechas queimarem com o elogio e o trocadilho que só os dois entendiam . Era engraçado, Daniel já a havia agraciado com palavras parecidas milhões de vezes e, ela nunca havia ruborizado …  Esse era o poder do verdadeiro amor.

Taylor abriu um sorriso e estava pronta para retribuir,porém quando sua mão se encontrava a milímetros de explorar a  barba do garoto das selvas, a  porta da cozinha se abriu.

— Taylor, meu amor, o que você está fazendo aqui? — Indagou Daniel cruzando os braços enquanto lançava um olhar fuzilante na direção do leão vermelho. 

       Pela primeira vez, Cole viu a ex -colega e sua eterna paixão gaguejar, seus  lábios se enrijeceram em um misto de raiva e tristeza, afinal Taylor era a segurança em  pessoa. Não fazia parte  de seu comportamento habitual gaguejar. E o garoto das selvas a conhecia bem. No tempo que moraram no Animarium aprendeu a descobrir e a admirar cada detalhe sobre a piloto, desde a maneira como ela colocava o cabelo para atrás da orelha quando queria se concentrar em uma leitura até o jeito que tentava disfarçar seu cansaço depois de uma árdua batalha. 

— Eu estava procurando o banheiro e…

  O  leão vermelho não aguentou ver a amada naquela situação tão constrangedora, ainda mais porque ela só estava ali por sua causa. Então sem pensar duas vezes interferiu:

— Uma cliente desastrada derramou molho no vestido dela no caminho para o toalete. Eu vi a cena e quis ajudar a moça, por isso a chamei para a cozinha, onde tenho uma toalha  própria  para resolver esse tipo de incidente.  

    Taylor suspirou aliviada e olhou para o garoto das selvas com admiração.  A ex -ranger amarela nunca o havia visto agir tão rápido sob pressão. Porém sua atitude tinha salvado a noite, visto que se Daniel soubesse a verdade, nada acabaria bem. Por mais que seu namorado fosse culto e educado, Taylor já o tinha visto perder a minha algumas vezes, principalmente com pilotos de patente menor. A primeira vez que o viu gritar com uma pobre cadete, não deu muita importância, visto que ela mesma já havia passado por aquilo quando começou sua carreira militar. 

    Entretanto, quando Daniel obrigou   um piloto de sua equipe a rastejar na lama  simplesmente porque haviam se atrasado dois minutos, a loira se atentou para as atitudes bipolares do parceiro. Esse era um lado de Daniel que ela não sabia se queria conhecer…

— É verdade, esse garçom foi muito gentil em me oferecer ajuda, aí eu estou tão envergonhada de voltar para o salão. — mentiu Taylor com uma certa facilidade que a desagradava, afinal honestidade é o pilar de um bom relacionamento.

Daniel a gorou por alguns segundos até se aproximar.

— Ah meu amor, o colar de diamantes que eu te dei, arruinado — Lamentou Daniel olhando direto para o objeto.

Os ombros de Cole, antes eretos, se derreteram em tristeza, um colar de diamantes, bem mais volumoso e chique do que a pulseira que ele tinha feito com todo seu amor anos atrás. 

Era óbvio que Taylor merecia muito mais do que ela podia dar, por isso mesmo que o destruísse por dentro, precisava deixá- la livre. 

— Eu sinto muito . …

— Imagina, a culpa não é sua,  meu amor, e sim  da desmiolada que derramou molho de tomate em você. Quem é ela?  me mostre e eu lá dizer umas poucas e boas. 

—-  Não precisa. O garçom gentil já vai limpar essa sujeira e podemos esquecer o que aconteceu. Está bem?

Cole se aproximou com o pano na esperança de sentir a doce pele de Taylor em seus dedos, porém ainda o fuzilando com os olhos, Daniel pegou a toalha de uma maneira nada gentil e disse:

— Eu mesmo limpo a minha namorada! —  O tom de ameaça em sua voz era iminente,  entretanto  para quem já havia enfrentado o mestre  ogro em sua forma original, um militar não era grande coisa.  

     Antes de seguir seus instintos, Cole respirou fundo e se lembrou de que aquele homem, por mais  grosseiro que fosse, cuidaria de Taylor melhor do que ele jamais poderia.

Enquanto sentia o toque frio  de Daniel em seu pescoço, a loira encarava Cole. Seus olhos gritavam para que ele a levasse dali,   berravam que ele era o único capaz  de fazê-la feliz. Contudo antes que ele pudesse ter a chance de agir. Daniel jogou a toalha suja de molho para ele antes de exclamar.

—Pronto! Novinha em folha meu amor! Podemos?

Encarando Cole pela última vez. Ela fez que sim com a cabeça. 

     Dessa  forma, o ex- ranger vermelho viu sua amada ser arrancada de sua vida mais uma vez. 

Ah se ele pudesse tomá-la nos braços, sentir o gosto de sua doce boca por pelo menos alguns instantes, seria feliz. Mas, ela havia voltado para o salão. Pelo resto da noite ele teria que servi-la com um sorriso falso no rosto enquanto a observava de longe, sem poder mostrar todo seu amor. Admirá-la sem se aproximar era algo que ele não podia mais fazer. Por mais que tentasse, quando estava perto dela, seus olhos se entregavam à paixão.  Era um mistério impossível de ser mantido em segredo.  Ele correu o mais rápido que podia para alcançá-la, porém quando finalmente conseguiu, alguém havia ocupado seu lugar. Alguém melhor, por isso não podia ser egoísta. Por mais que seu coração gritasse. Ele a amava o suficiente para deixá-la ir. 

     Puxada por Daniel, Taylor voltou para a mesa com seu colar de diamantes impecável , mas com o coração quebrado. A loira sabia o quanto essa noite seria difícil, porém a presença de Cole a fez lembrar de como era se sentir  viva.  Ele está ali, não era mais uma mera lembrança. Esse pensamento mudava tudo. Talvez somente talvez ela tivesse uma chance de ir atrás de sua felicidade. Contudo, mas  o Animarum estaria mais seguro enquanto  seu passado heróico permanece desconhecido, todavia e caso Daniel ouvisse um não,  ela temia  o  seu quase noivo seria capaz de fazer. Afinal, ele não havia aprendido a lidar com frustrações. 

— Foi apenas um contratempo, agora estamos aqui novamente, juntos.  

A  piloto forçou um sorriso enquanto os dedos frios de Daniel insistiam em segurar os seus.

— Aquele garçom Cole, até que foi gentil, mas não gostei do jeito que ele olhou para você. Parecia íntimo, como se vocês já se conhecessem. — o militar ergueu as sobrancelhas pegando Taylor desprevenida.

Aquilo era o que ela mais temia, como explicaria sua conexão com Cole sem mencionar a missão?  Pela segurança do mundo ela mentiu novamente para o namorado respondendo:

—- Ah não, impressão sua, eu nunca o vi antes, ele só foi gentil.

Mais uma vez Daniel a fitou com aquele olhar que a dava arrepios de um jeito ruim.

— Bom, se  está dizendo, não tenho motivos para não acreditar.

Taylor conteve o suspirou de alívio que ameaçou sair de sua boca .

—  Até porque, para o passo que quero te propor, vamos ter que confiar um no outro.

As mãos de Taylor tremeram e seu coração doeu vendo onde Daniel queria chegar. Óbvio que ela já esperava por aquilo, Porém quando disse :  sim, não haveria mais volta, não haveria mais Cole.

— Do que está falando? - A loira se fez de desentendida.

Daniel colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha pequena e vermelha. Que ironia.

—- Taylor você é a mulher mais inteligente que eu já conheci, é sagaz e uma excelente piloto. Penso que formamos uma grande dupla. —Daniel começou enquanto abria a caixa e revelando um anel azul cujo o brilho era capaz de chegar  a todos no restaurante.

Depois de ter atraído vários olhares curiosos, ele se ajoelhou e fez a fatídica pergunta:

— Taylor Earhardt. Quer ser minha esposa?