Almejar escrita por sam561


Capítulo 4
Capítulo IV - Proximidade


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/812741/chapter/4

De sua sacada, Do Contra observava a cidade começando a acender as luzes enquanto a brisa fresca de fim de tarde bagunçava seus cabelos negros e sentia o amargor de seu café forte. Milena o filmava.

 

“E como um garoto tão do contra foi parar na música?” retomou um questionamento feito no bar.

 

O rapaz se virou, escorando as costas na mureta da sacada.

 

“Acho que a música que me encontrou. Meus pais queriam que eu tocasse algum instrumento para jogar minha energia em algo produtivo, então me colocaram em aulas de tudo que era instrumento: corda, sopro, percussão, teclado e até em canto me colocaram.” respondeu.

 

“E qual você gostou mais?” perguntou e ele sorriu sapeca.

 

“O que eles gostavam menos: percussão. Talvez eu tenha sido uma decepção nesse aspecto.” respondeu.

 

“Bom, você também toca outros instrumentos, então diria que eles também ganharam nessa?” a moça perguntou.

 

DC riu.

 

“Ok, você me pegou.” respondeu e ela riu.

 

A moça baixou a câmera.

 

“Vamos parar por aqui, ainda tem as coisas do seu show de hoje.” falou e ele assentiu.

 

“Opa, nem te ofereci, aceita um café?” ofereceu.

 

“Vou aceitar.” aceitou com o celular em mãos.

 

O rapaz entregou o café e, ao dar um gole, Milena fez uma careta, que fez o rapaz gargalhar.

 

“Ah, esqueci de avisar! Bebo café sem açúcar.” respondeu e ela sentiu um arrepio.

 

“Tá compensando mascar o grão direto. Como você dorme depois de beber um café forte desses?” perguntou e ele riu enquanto pegava o açucareiro.

 

“Não tem esse efeito em mim. Ou tem, sei lá. Eu durmo tarde todos os dias.” respondeu entregando a ela.

 

A moça adoçou o café e sorriu.

 

“Docinho do jeito que eu gosto.” comentou.

 

“Eu não gosto de doces.” ele revelou.

 

“Nem um chocolatinho?” a moça perguntou.

 

“Só se for muito amargo. Costumo ganhar chocolate em camarim, mas dou tudo pro meu irmão.” falou.

 

“Como são seus shows? Pelo que pesquisei, você já esteve em várias bandas, mas pulava fora quando dava certo.” a moça perguntou, terminando o café.

 

“Defina dar certo.” respondeu e ela deu de ombros.

 

“Fama.” resumiu e ele riu.

 

“Quando essas bandas ficavam famosas, a identidade começava a se perder, então não faria sentido eu continuar.” explicou.

 

“Você saiu da sua última banda por isso?” ela perguntou.

 

DC pareceu pensar por alguns segundos.

 

“Até que não.” respondeu.

 

“Então você parou de tocar com eles por quê?” perguntou e ele sorriu.

 

“Você vai ter um mês pra descobrir isso.” falou e ela riu.

 

“Não pode me dizer?” perguntou e ele negou com a cabeça, ainda sorrindo.

 

“Queremos espontaneidade, não?” devolveu uma pergunta.

 

“Estou atrás das câmeras, então não faz diferença. Não é como se eu fosse aparecer no seu documentário.” a cacheada respondeu.

 

“E por que não? Você ‘tá fazendo todo o trabalho.” DC falou e ela negou com a cabeça.

 

“O foco é você.” respondeu.

 

O rapaz abriu um sorriso.

 

“E por que temos que seguir essa ideia? Não podemos reinventar a estrutura desse documentário?” perguntou e ela levantou a sobrancelha.

 

“Eu acho que não…” respondeu.

 

“E por que não? Ele não tem que ser minha cara? Eu fujo de padrões.” argumentou e ela deu um riso enquanto se lembrava do aviso de Grózny.

 

“Disso não tenho dúvidas, mas não sei se me sentiria confortável em estar em frente às câmeras. E nem seria relevante.” respondeu.

 

O rapaz pegou seu celular, que ela nem se surpreendeu ao ver que não era de última geração, e apontou para ela.

 

“Vamos fazer um teste!” falou e ela deu um riso.

 

DC começou a filmá-la.

 

“Vamos lá, Milena. Me fala de você.” falou.

 

“Vejamos… eu faço Medicina veterinária, gosto de sair, tirar fotos e… com toda certeza ficar atrás das câmeras. Para de me gravar!” riu enquanto cobria o rosto.

 

“Por quê? ‘Tá ficando bom!” ele disse.

 

“Porque prefiro os bastidores.” falou e ele parou de filmá-la.

 

“Até entendo seu lado. Não sabia o que você estudava. Achei que seria alguma coisa relacionada à fotografia.” comentou.

 

Milena riu sem muito humor.

 

“Não, é uma coisa bem distinta.” respondeu.

 

“E como você concilia os dois?” ele perguntou.

 

“Eu também não sei como. Você já quis fazer faculdade?” a moça perguntou.

 

DC deu um riso e brincou com a colher do açucareiro.

 

“Na verdade… eu quase formei em Arquitetura e Urbanismo.” respondeu e ela encarou surpresa.

 

“Quase? Você trancou o curso?” perguntou e ele assentiu.

 

“Na época do TCC, eu vi que aquilo não era pra mim. A área em si é legal, mas… sentia que minha liberdade criativa era muito aprisionada.” explicou-se.

 

“Ah… seus pais devem discordar de você.” comentou e ele não respondeu.

 

“E como você foi parar na fotografia?” ele mudou o foco.

 

Milena percebeu a mudança, mas decidiu relevar.

 

“Muito por acaso. Uma amiga minha ama arte e me levou num desses eventos, aí ‘tava tendo um minicurso e eu acabei fazendo e gostando muito. Nisso, eu comecei a tirar fotos por hobby e a coisa foi crescendo.” respondeu.

 

“E como você foi parar na Dream?” ele perguntou.

 

“Sendo ajudante de uma amiga que trabalhava lá. Os clientes gostaram, a chefia também e lá estou eu.” revelou.

 

“Então o Grózny gostava de você.” ele observou e ela negou.

 

“Ele não era o supervisor na época. ‘Tô lá há dois anos, mas como fico pouco e só estou em trabalhos que ninguém quer, parece que é bem menos.” explicou-se.

 

“E por que ele não gosta de você?” perguntou.

 

“Eu entrei junto com a sobrinha dele, uma grande preguiçosa. E como sempre fui mais elogiada que ela, ele se irrita e tenta me sabotar, mas não tem funcionado.” revelou.

 

“E você não cansa dos trabalhos ruins?” perguntou e ela riu.

 

“Às vezes, mas muitos me permitem experiências bem únicas. Hoje, por exemplo, fiz um ensaio em um bar antigo.” respondeu.

 

O rapaz sorriu com o olhar baixo.

 

“E eu? Acha que vou ser um dos trabalhos ruins?” perguntou.

 

“Até então, tem sido apenas diferente.” Milena respondeu e DC sorriu, sentindo-se cada vez mais próximo dela.

 

                *

Um pouco mais tarde, Mônica não escondeu a surpresa ao ver que Carmem já estava na pizzaria. Ela estava sozinha, mas o outro copo pela metade na mesa deixava clara a presença de mais alguém..

 

“Oi, Carmem!” cumprimentou e ela sorriu.

 

“Oi! Me responde uma coisa… por onde começamos quando vamos planejar bodas?” perguntou com o celular em mãos.

 

Mônica se surpreendeu.

 

“Uau… está bem à frente! Nem casou e já ‘tá pensando nas bodas. Como o casal já está casado, já dá pra ter uma ideia do que gostam, então leva isso em consideração e, a partir de um orçamento, vai atrás de um espaço, decoração, buffet, convidados, lembrancinhas… ou de uma wedding planner.” falou sorrindo ao fim.

 

Carmem riu.

 

“Não são minhas bodas. Meu amigo está montando as bodas dos pais e anda meio perdido.” falou e ela assentiu.

 

“É isso então. E boa sorte pra ele.” falou.

 

No mesmo instante, um rapaz se aproximou com o celular próximo à orelha.

 

“Nik, orçamento, espaço, decoração, buffet, convidados e mimos.” a loira falou.

 

“Um monte de palavras soltas do nada. Cada dia melhor, Carmem.” falou risonho, fazendo-a rir.

 

Mônica, que estava sentada de costas para o rapaz, se virou assim que reconheceu a voz e escancarou a boca.

 

“Meu… papai… do céu! É o Nik! Eu não acredito que ‘tô te vendo pessoalmente! Aaaaaah! Eu amo seus vídeos! Sempre que eu quero esquecer do mundo, eu te assisto e me sinto muito melhor!” cobriu a boca antes de se levantar sorridente e começar a falar com ele.

 

Nikolas sorriu.

 

“Mesmo? Fico feliz com isso.” falou abrindo os braços para um abraço e ela sorriu abertamente enquanto o abraçava.

 

Carmem manteve seu olhar no celular, era comum aquilo acontecer quando os dois saíam.

 

“Não sabia que você era da comunidade geek, Mônica.” comentou.

 

“Ah… eu gosto. Posso tirar uma foto com você? Ai… até agora não acredito que estou falando com você de verdade! ‘Tô até tremendo!” perguntou com a voz trêmula e sorriso nervoso.

 

“Claro. Carmem, você pode tirar pra gente?” ele perguntou e a loira o olhou de sobrancelha erguida.

 

“Eu? Ah… posso.” respondeu incerta e Mônica entregou o celular.

 

A loira tirou três fotos e devolveu o aparelho.

 

“Maravilha!” Mônica disse sorridente enquanto se sentava olhando para o celular, esquecendo-se completamente que estava lá a trabalho.

 

Nik se sentou ao seu lado, onde estava seu copo.

 

“O que eram as palavras soltas, Carmem?” ele perguntou.

 

“Como organizar as bodas. Perguntei pra Mônica.” respondeu.

 

“Ah, então você que é a wedding planner, Mônica. Legal.” ele disse galanteador, o que passou despercebido para a morena, mas não para a loira, que deu um riso.

 

Após limpar a garganta para se recompor, Mônica retornou à sua postura de wedding planner.

 

“Imagino que você seja um dos padrinhos de casamento.” supôs e ele assentiu.

 

“Sim, mas só se eu ganhar um presente bom quando for pedido formalmente.” respondeu e a loira riu.

 

“Vai ganhar uma caixa com vários nadas, Nik.” brincou.

 

“Considerando aquilo que falamos quando você me chamou pra trabalhar com você, Carmem, convidar uma figura influente pra ser padrinho é uma boa ideia.” Mônica comentou com discrição.

 

Carmem deu de ombros.

 

“Não chamei Nik por causa da Amanda, foi porque ele é meu melhor amigo.” respondeu simples.

 

A outra a encarou boquiaberta.

 

“Não precisa fazer essa cara, ele sabe sobre a competição. Ele me ajudou a montar aquele pedido.” a loira revelou.

 

Mônica se surpreendeu mais.

 

“O Cebola também é seu amigo, Nikolas?” perguntou.

 

“Faz um tempo que não falo com ele. Como fui pro semi-ead, quase não coloco os pés na faculdade.” respondeu e a morena assentiu.

 

“Nik, vem cá. Acho que seus pais iriam gostar desse lugar pra ser as bodas.” Carmem o chamou com o celular em mãos e ele foi para a cadeira ao seu lado.

 

“Eu tinha pensado numa chácara.” ele disse.

 

“Seus pais fazem o estilo romântico, meio do mato não é romântico. E pesquisei sobre pergolados, tem um que acho que vale o investimento.” ela disse.

 

Mônica estreitou os olhos para os dois, mas nem teve muito tempo para pensar em algo, já que uma quarta pessoa se juntou a eles.

 

“Desculpe o atraso!” era Cebola.

 

“Senta ali, Cebola. ‘Tô mostrando um negócio pro Nik.” Carmem disse, deslizando o dedo na tela.

 

Cebola se sentou de frente para Carmem e colocou o copo de Nik perto do dono.

 

“Oi, Mônica!” cumprimentou e ela sorriu.

 

“Oi, Cebola!” respondeu.

 

“E aí, Cebola? Parabéns pelo noivado.” o dono dos dreads apertou a mão do outro.

 

“Valeu, cara. ‘Tá sumido! Até me surpreendi quando Carmem falou que você seria um padrinho.” comentou.

 

“Sabe como é… Semi-ead me livra de ir todos os dias pra faculdade.” respondeu.

 

Mônica juntou as mãos.

 

“Vamos falar de trabalho? Vai ser difícil manter meu profissionalismo sabendo que meu ídolo está literalmente na mesma mesa que eu, mas eu vou tentar.” falou e Nik riu.

 

“Finja que não estou aqui. Mesmo estando muito feliz em estar.” falou segurando o celular de Carmem, que revirou os olhos.

 

“Vamos fazer nosso pedido antes? Eu ‘tô faminto.” Cebola disse e os demais assentiram.

 

Após o pedido ser feito, e entradas levadas à mesa, Mônica se ajeitou na cadeira e pegou seu tablet.

 

“Bom… muita coisa não ficou delimitada na nossa reunião de hoje cedo, então temos que fazer isso agora. Carmem disse que queria um espaço grande pra fazer uma coisa cheia de brilho e luxo, mas que também tenha minimalismo, então pensei nesse aqui. É um salão grande e versátil, já organizei casamentos bem diferentes um do outro lá e deu super certo.” virou o aparelho para o casal.

 

“Achei bem legal! Parece caber bastante gente e dá pra ter uma decoração foda.” Cebola comentou.

 

“Também acho legal. O que você acha, Nik? Casaria nesse lugar?” Carmem perguntou ao amigo, que ainda via coisas das bodas no celular.

 

Mônica virou a tela para o rapaz.

 

“É legal.” opinou.

 

“Você se casaria lá?” Carmem repetiu séria.

 

“Particularmente, eu escolheria um lugar aberto, mas os noivos são vocês.” ele respondeu.

 

“Lugar aberto? Você é gamer, nem sai de casa!” Cebola disse risonho.

 

“Claro que saio! Mas voltando ao assunto, esse salão vai ficar legal.” concordou com os demais.

 

“Você acha que em lugar aberto vai ficar melhor?” Carmem perguntou novamente a Nik.

 

Mônica franziu o cenho.

 

“Ér… o Cebola tinha gostado do salão, Carmem.” lembrou-a.

 

“É bom ter mais de uma opinião.” a loira deu de ombros.

 

Nikolas olhou para a feição surpresa de Mônica e despreocupada de Cebola, que pingava uma gota de limão na rodela de salame que comeria.

 

“Acho que a da wedding planner vai ser mais proveitosa que a minha.” respondeu.

 

Carmem bufou e Mônica sorriu sem graça.

 

“Mônica, qual você recomenda?” Cebola perguntou após engolir sua comida.

 

“Bom, se quiserem um espaço aberto, algumas coisas teriam que ser repensadas. Sem contar que as condições climáticas podem pesar mais. Além disso, um prazo curto pede praticidade nas escolhas. Mas é claro que é possível, só que vai ser mais trabalhoso.” Mônica respondeu.

 

A loira olhou para o padrinho, que assentiu, e depois com o noivo, que pegou mais um salame.

 

“Tá, pode ser o salão.” escolheu e Mônica marcou.

 

“Certo! Aproveitando que você está aqui, Nik, o que tem na sua loja que podemos usar de decoração?” Mônica perguntou.

 

“Depende. O que os noivos têm em mente?” ele perguntou.

 

Cebola olhou para Carmem.

 

“Sei lá… HQ e alguma figure action?” perguntou.

 

“Ah, não, Cebola! Bonequinho vai ficar parecendo festa de criança!” a noiva reclamou.

 

“Bonequinho?” Nik repetiu e ela gargalhou.

 

“Sabia que ia chamar tua atenção! As figure actions não vão ornar.” falou.

 

“Acho que depende de como é colocado. Já a HQ… podemos fazer alguma decoração em que vocês apareçam no quadrinho, como se contasse a história de vocês. Conhecem alguém que faria isso?” Mônica perguntou.

 

“Conheço alguns ilustradores, mas esse prazo curto vai encarecer.” Nik alertou e os noivos não viram problemas.

 

“Perfeito! Agora vamos para o tópico convidados. Os convites precisam ser feitos e entregues o mais rápido possível, então vocês precisam fazer uma lista de convidados, destacando os padrinhos e madrinhas.” a morena disse.

 

“Acho que dá pra usar a coisa dos quadrinhos no convite.” Cebola sugeriu.

 

“Boa ideia! Lembrando que os padrinhos geralmente ganham um convite diferente, com direito a mimos.” Mônica falou.

 

“Por favor!” Nikolas disse rindo.

 

“O buffet, questão de mesas e as lembrancinhas têm muito a ver com os convidados, então vamos esperar a lista. Vocês pretendem usar o buffet da Dream?” falou.

 

“Claro.” Carmem disse e ela anotou.

 

“Por enquanto, acho que é isso. Ah, tem mais uma coisa! Os familiares de vocês… algum deles vai participar de alguma etapa além do que já participarão?” perguntou.

 

Carmem crispou os lábios.

 

“Acredita que acabei nem falando com meus pais sobre isso? Acho que nem cheguei a dizer que noivei.” comentou.

 

“Também não falei ainda.” Cebola disse.

 

Mônica abriu a boca incrédula.

 

“Pela sua cara, isso não é uma coisa boa de se ouvir.” Nik observou.

 

“Não, é que… geralmente, os pais participam de muita coisa em relação ao casamento.” respondeu.

 

“Os meus chegam amanhã de… sei lá, Milão? Enfim, podemos almoçar amanhã, Cebola. Chama seus pais e conversamos todos. Até já vemos isso de convidados.” Carmem disse.

 

Cebola engoliu em seco.

 

“Seus pais e os meus? Ju-juntos?” perguntou e ela assentiu.

 

“Sim, acho que é a situação perfeita para eles se conhecerem.” falou.

 

Trêmulo, Cebola deu um gole em sua bebida.

 

“Tudo bem, Cebola?” Nik perguntou e ele forçou um sorriso.

 

“S-sim! Eu… é que foi informação demais. Vou falar com eles, Carmem.” garantiu nervoso e a loira assentiu.

 

A mesa ficou silenciosa.

 

“Bom… acho que chega de falar disso hoje.” Mônica forçou um sorriso.

 

Para a salvação deles, no mesmo instante, a pizza chegou. Enquanto comiam, Mônica liberou seu lado fã de Nik e começou a conversar com ele, imaginando que o casal iria interagir entre si, porém, não foi o que ocorreu.

 

Cebola digitava constantemente algo em seu celular e Carmem, com feição de poucos amigos, observava a interação de Mônica e Nik.

 

Após acabar de comer, Nikolas se levantou.

 

“Queridos noivos, Mônica, está tudo muito bom, mas tenho que ir nessa. Prometi que gravaria gameplay hoje. Conto com sua presença na minha live, Mônica.” piscou um olho e ela sorriu.

 

“Pode contar comigo. Ér… vamos dividir, gente?” falou, também se preparando para ir embora.

 

Carmem negou com a cabeça.

 

“Relaxa, paguei no arrasta. Vamos pegar a mesma beira, Nik, é caminho. Cebola, você pega um uper?” respondeu.

 

“Pego. O caminho da faculdade no sábado não deve ser muito concorrido.” ele falou.

 

“Ah… eu moro lá perto, se quiser uma carona…” Mônica ofereceu.

 

“Não precisa oferecer duas vezes.” aceitou e a morena riu.

 

Nik se aproximou de Mônica e a abraçou.

 

“Foi um prazer te conhecer, Mônica. Espero te ver de novo.” afirmou, fazendo-a sorrir abertamente.

 

“O prazer foi todo meu! Descobrir que meu streamer favorito é gente boa me deixa ainda mais fã. E você é o padrinho, vai me ver de novo.” falou e ele sorriu de volta.

 

A loira forçou um sorriso.

 

“Bora! Seus fãs já devem estar te xingando. Tchau, querido. Tchau, Mônica.” Carmem beijou o rosto do namorado e saiu com o amigo.

 

No carro de Mônica, a morena ponderou se entrava ou não no assunto que queria.

 

“Me surpreendi com o padrinho ser o Nik.” comentou e o rapaz riu.

 

“O cara é legal. O bom de um padrinho famoso é que o presente é bom.” falou e ela riu.

 

“Não tenha tanta certeza disso. Já vi gente colocando parente rico, que nem é próximo, só pra ganhar presente bom e saindo decepcionado.” revelou.

 

“Então deu ruim.” brincou e ela riu.

 

Mônica abriu e fechou a boca.

 

“Ér… sem querer ser intrometida, mas seus pais e os de Carmem são tão ocupados assim? Saber disso pode nos ajudar com a escolha da data.” perguntou.

 

O rapaz riu.

 

“São ocupados, mas não tanto assim. É que meus pais são bem diferentes que os da Carmem.” falou e ela franziu o cenho.

 

“Como assim?” perguntou.

 

“Financeiramente falando.” explicou e a moça bufou.

 

“Me desculpe, Cebola, mas isso não é bem uma razão para nunca terem se visto. Seus pais se sentem envergonhados pela riqueza da família da Carmem?” perguntou e o rapaz mordeu a bochecha e olhou para Mônica, pensando se valia a pena ou não falar a verdade.

 

“Meus pais não sabem que ela é muito rica, acham que ela é só mais uma menina metida da faculdade.” revelou.

 

“As famílias vão se juntar, talvez seja hora de saberem a verdade.” ela sugeriu e ele engoliu em seco.

 

“A…a verdade?” repetiu.

 

Mônica o olhou pelo canto do olho.

 

“É um problema?” perguntou e ele olhou pela janela.

 

“Você acha que é?” devolveu uma pergunta.

 

A morena riu.

 

“Por experiência própria, digo que famílias podem ser complicadas quando o assunto é casamento.” respondeu.

 

Cebola suspirou, mas decidiu não dizer mais nada.

 

“Pode parar aqui, moro ali.” respondeu apontando para uma casa verde.

 

“Entregue. Cebola, não estou questionando o relacionamento de vocês, só não quero que se arrependam. Você é um cara legal.” esclareceu.

 

O rapaz sorriu.

 

“Não se preocupe. Obrigado pela carona, Mônica! Tenha uma boa noite!” desejou, descendo do veículo.

 

Mônica não teve que dirigir muito, logo estava em seu prédio. Ao entrar em casa, tirou os sapatos, sentindo os pés relaxarem, e se sentou no sofá.

 

“Tem alguma coisa muito estranha nesse relacionamento…” comentou alto.

 

“Que relacionamento?” a voz de Milena soando da cozinha quase a assustou.

 

“O da Carmem. Que ela não liga pra esse casamento, não é uma surpresa, mas, além de o noivo estar estranho, ela parece ser a fim do padrinho. Enfim, acredita que o padrinho é o Nik? Aquele gatinho daquele canal que gosto!” perguntou e a outra assentiu.

 

“Acredito, ela já postou vários stories com ele.” respondeu.

 

“Não sigo ela. Só sei que hoje não quero mais ouvir a palavra casamento! Mas o foda é que tenho que ver outras coisas…” falou e a outra negou.

 

“Não, você vai descansar! Quer vir comigo no show do meu cliente? Pode ser divertido.”  convidou.

 

“O estranho? O que ele toca?” perguntou e a outra riu.

 

“Excêntrico. E ele toca rock.” respondeu e a outra deu de ombros.

 

“Vou ficar em casa e descansar.” negou.

 

“Tem que me prometer que não vai trabalhar!” apontou um dedo e a amiga riu.

 

“Tá bom, mãe.” brincou.

 

“Boa menina!” a outra respondeu.

 

Mônica riu e olhou em volta.

 

“E a Agnes? Por onde ela anda?” perguntou.

 

Milena sorriu.

 

“Acabou de sair com o Cascão.” revelou e a outra abriu a boca.

 

“O Cascão? Que mora aqui do lado? Padrinho de casamento da Magá? Que vai com você nas festas duvidosas?” perguntou e a outra assentiu.

 

“O próprio! Também me surpreendi, mas pelo visto ela é cliente dele.” falou e a outra franziu o cenho.

 

“Cliente?” perguntou e o celular da amiga apitou.

 

“Pede pra Magali te explicar. Meu uper chegou. Tchau, Mô!” despediu-se e saiu.

 

Mônica negou com a cabeça e decidiu ir descansar, tentando pensar em tudo que não fosse o casamento de Carmem, em especial o confuso noivo.

 

                    *

Propositalmente, Cascão não explicou para Agnes como era o bar em que a levaria. O local, um bar azul intitulado Bidu, ficava perto da faculdade e era palco para variadas festas, as quais a moça, com toda certeza, consideraria insalubres.

 

Ao chegar no bar, Agnes abriu a boca surpresa. O funk alto se unia a uma mistura tão intensa de aromas que ela não soube definir o que sentiu.

 

“Cássio… que lugar é esse?!” perguntou horrorizada.

 

“Vai por mim, Agnes, se não ficarmos próximos aqui, não ficamos mais.” respondeu entrando e ela o seguiu.

 

Por mais incrível que parecesse, o lugar não era muito apertado, tanto que não precisaria mergulhar em uma multidão para entrar, mesmo que ainda fosse encostar em algumas pessoas conforme entrava. As pessoas que dançavam estavam em um lugar específico e havia mesas espalhadas e um balcão bem cheio.

 

Sem que percebesse, Agnes agarrou-se ao braço de Cascão, que balançava o corpo conforme a música que tocava enquanto andavam.

 

“Primeiro passo: ficar suave. Vamos sentar e tomar alguma coisa pra entrar no clima.” ele falou a guiando até o balcão.

 

“Você me paga, hein? Isso parece um baile funk!” a moça comparou e ele riu.

 

“Eu já fui em baile funk. Não é assim.” respondeu.

 

“Você só vai nesse tipo de lugar?” ela perguntou.

 

“Não, meus rolês são diversificados. O que você gosta de beber?” perguntou assim que o bartender apareceu.

 

A moça olhou em volta, algumas pessoas pareciam alteradas.

 

“Não sei se confio nas bebidas daqui...” falou.

 

“Pode confiar, venho aqui sempre. Você bebe álcool?” ele perguntou.

 

“Por isso nunca ‘tá 100%. E não, eu não bebo álcool.” ela respondeu e o rapaz pediu uma cerveja e um suco de laranja.

 

Assim que as bebidas foram entregues, ele se levantou da banqueta.

 

“Vamos pra uma mesa.” disse e ela o agarrou novamente, ali estava mais cheio.

 

“Fala, Cascão!” alguém gritou o rapaz, logo o abraçando, fazendo a moça automaticamente se afastar.

 

“Opa! E ai, mano?!” cumprimentou animado.

 

“Não sabia que viria hoje. Cola lá com a gente na pista, pra mostrar pra esse povo!” convidou e Cascão riu.

 

“Estou com uma amiga hoje. Mas vai lá fazer teu nome, safadão!” disse caminhando com a moça.

 

O caminho não era longo, mas, além de muitos ali cumprimentarem o rapaz, fazendo-o parar de andar, a quantidade de pessoas fazia Agnes ter a sensação que não chegaria nunca.

 

“Você é bem popular.” comentou assim que se sentaram.

 

“Colegas de rolê. Ainda não te vi fazendo o passo 1.” observou.

 

“Meio difícil relaxar num lugar com tanta gente suada… bebendo do mesmo copo… germes…” comentou e ele deu um gole em sua bebida.

 

“Até que hoje ‘tá mais suave. Mas então vamos trocar uma ideia. Você já conhecia as meninas que moram com você?” puxou conversa.

 

“Não, conheci quando me mudei.” respondeu.

 

“E como foi pra você? Que, tipo assim, acho que pra alguém que tem suas preocupações, dividir apê deve ser um pesadelo.” perguntou e ela riu.

 

“Não é um mar de rosas, mas só de não dividir quarto ou banheiro, é um ótimo início. Não sou lá muito próxima delas, confesso, mas elas são legais.” respondeu.

 

“E nem tentou se aproximar mais? Com a Mônica, não cheguei a falar muito porque essa mina é trabalho, casa, casa, trabalho, mas Magali falou bem dela. A Milena é firmeza.” ele disse.

 

Agnes suspirou. Não era tímida, mas tinha dificuldades em se aproximar das pessoas.

 

“Eu quero, mas… somos pessoas muito diferentes.” respondeu.

 

“Você se dá bem com o Nik, o seu chefe?” ele perguntou e ela assentiu.

 

“Bastante.” respondeu.

 

“E se você tentasse se aproximar delas como foi com Nik?” sugeriu e ela riu.

 

“Minha relação com ele é profissional, é diferente. Eu realmente tento me aproximar delas, mas é difícil abrir meu espaço pessoal.” explicou e ele assentiu.

 

“Bom… eu sou meio que seu oposto, então não sei o que dizer.” falou sincero e ela riu.

 

“Como consegue ser desprendido assim?” perguntou e ele riu.

 

“Ah, eu gosto de aproveitar a vida com agito. Mas tem dias que fico de boa também.” respondeu.

 

“Tenho minhas dúvidas. Sempre que te vejo, está suado.” ressaltou.

 

“Hoje eu não ‘tô.” ele rebateu.

 

“Touché!” disse e ele riu.

 

“E seus pais? Eles aceitam que você ‘tá tentando diminuir seus B.Os?” perguntou e ela deu um gole em seu suco.

 

“Eles acham que estou em outro nível já, por isso decidi tomar uma atitude drástica e mentir. Não é que eu não queira ser sincera, é que… é difícil ouvir mais um julgamento.” explicou.

 

“Sei como é. E você tem amigos?” perguntou.

 

“Tenho duas amigas de infância. Mas uma ‘tá na França e a outra viajando. Então… não tenho muito o que fazer.” respondeu.

 

“E do seu curso ou da faculdade?” perguntou e ela riu.

 

“Não…” respondeu.

 

Cascão olhou com certo pesar.

 

“Não precisa me olhar com pena, sigo a filosofia de antes só do que mal acompanhada!”  ela exclamou.

 

“Não é pena, é que eu não conseguiria me imaginar na sua situação. Mas agora tem um amigo pra encher teu saco, nem que seja por três dias.” disse estendendo a mão para que ela batesse.

 

Agnes levantou a sobrancelha.

 

“Não era só uma relação profissional?” ressalvou.

 

“Depois do fim do trampo, ainda vou ser seu vizinho. Pelo menos um oi pode rolar. Vai me deixar no vácuo mesmo?” explicou e ela olhou a mão dele antes de bater ali.

 

“Aeee!” comemorou e ela riu.

 

Naquele momento, Agnes percebeu que Cascão era um rapaz legal. Talvez fosse apenas para que não levantassem suspeitas no dia seguinte, mas preferiu acreditar que estavam começando a se dar bem.

 

De repente, o rapaz terminou sua bebida em um gole.

 

“Hora do passo dois: aumentar nossa proximidade. Vem dançar comigo.” chamou enquanto se levantava.

 

A moça arregalou os olhos.

 

“No meio daquele monte de gente?” apontou.

 

“No meio não, mas mais no canto. Vai ser legal.” falou a puxando para lá.

 

Agnes não tinha o costume de dançar, nem mesmo sozinha em seu quarto. Então ver Cascão dançando funk sem pudor algum no meio de várias pessoas era surpreendente.

 

“Eu não vou dançar assim nem em sonho!” exclamou e ele riu.

 

“Não precisa ser assim, pode ser do seu jeito.” falou enquanto dava um giro.

 

“Do meu jeito?” perguntou e ele se aproximou.

 

Agnes não era baixa, era da mesma altura que o rapaz. Quando ele ficou de frente para si e estendeu as mãos, ela hesitou. Porém, para a sua própria surpresa, os castanhos olhos meigos de Cascão despertaram algo dentro de si, que a fez aceitar.

 

“Me acompanha.” disse começando a mover o corpo devagar, bem diferente que o som ao redor.

 

Cascão sabia dançar, mas escolheu ser mais calmo com Agnes, que se soltava aos poucos. Conforme ia aumentando a velocidade dos passos, percebeu que ela começou a se divertir e até mesmo arriscar dançar sozinha.

 

Como se fosse uma magia do bar, ou de Cascão, Agnes esqueceu que estava em um local que considerava insalubre, com várias pessoas ainda mais, e aproveitou. A batida da música era tão contagiante que só conseguiu parar de dançar quando se cansou.

 

“Qual é o próximo passo, Cascão?” ela perguntou animada após terminar seu suco.

 

O rapaz pensou um pouco.

 

“Cumplicidade. Vou falar com uns manos meus pra gente jogar um jogo que você gostar.” falou.

 

“Vou gostar?” perguntou e ele estendeu a mão.

 

“Confia!” disse e ela olhou antes de segurá-la.

 

Os dois desceram até um porão do bar, onde havia uma mesa de bilhar e uma nova mistura de aromas. Agnes olhou em volta, parecia ainda mais insalubre.

 

“Gente, essa é minha amiga Agnes. Ela nunca jogou um beer pong. Bora?” falou e eles gritaram.

 

“Bora!” falaram animados.

 

Agnes sorriu maliciosa, conhecia o jogo, mas Cascão não precisava saber disso naquele momento.

 

                                                                    *

Enquanto isso, Carmem estava no apartamento de Nik. Os dois estavam no quarto usando o computador, onde viam mais coisas das bodas enquanto ainda era cedo para a abertura da live.

 

“Eu não ia comentar sobre isso, mas acho que você precisa levar seu casamento um pouco mais a sério.” ele comentou.

 

“Já falamos sobre isso, eu contratei uma wedding planner pra não ter que me preocupar com nada. O que acha desse aqui?” respondeu sem tirar os olhos da tela e mostrou para ele um pergolado cheio de flores.

 

“Bonito, mas não com essas flores. E não é sobre o planejamento, é sobre… vocês.” falou.

 

A moça o olhou.

 

“Como assim?” perguntou.

 

“Carmem, você nem mesmo conversou de verdade com o Cebola desde o pedido! Eu sei que vocês não são muito sentimentais, mas você vai casar com ele! Tem coisas que precisam ser ditas. E pensando na sua imagem, você não está parecendo uma noiva apaixonada.” ele respondeu sincero.

 

A loira deu um riso, gostava da sinceridade do amigo. Nisso, ele e Denise eram iguais.

 

“Jerê que me perdoe, mas eu quero que você seja o padrinho junto com a Denise.” falou e ele bufou.

 

“Você não ‘tá levando a sério!” reclamou e ela suspirou.

 

“Se eu não estivesse levando a sério, eu não iria sugerir um encontro de famílias amanhã; não teria ido atrás de uma ótima wedding planner; e nem estaria investindo tempo e dinheiro nisso. Nikolas, você sabe que meus pais querem que eu me case com alguém tão ambicioso quanto eles ou pelo menos diferente dos rasos que eu saía, e quem mais ambicioso que o cara que claramente está comigo pelo meu dinheiro?” respondeu.

 

Nikolas bufou. Carmem sabia exatamente onde estava se metendo, mas parecia não se importar com isso.

 

“E você fala isso como se fosse uma coisa boa? Carmem, além de casamento ser uma coisa séria, você está indo viver com um cara que só liga pro seu dinheiro! Você só tem a perder!” exclamou.

 

“Nem tanto, meus pais prometeram que me dariam tudo que eu quisesse se me casasse com um homem decente. O Cebola não é um cara insuportável, ele até que é legal. Ele me respeita, aceita meu distanciamento, muitas vezes é divertido, se dá bem com meus pais… não diria que é negativo. Ele aceitaria um casamento de fachada numa boa. Se for ver, com direito a chifres! Então os dois sairiam ganhando.” ela disse se levantando.

 

O rapaz abriu a boca surpreso.

 

“Seu conceito de ganhar é muito diferente do meu.” comentou.

 

“Você acredita no amor, eu não. Pra mim, casamento não é tudo isso.” a moça ressaltou.

 

O rapaz suspirou e seu celular vibrou.

 

“Eu sei, mas… eu me preocupo com você. É um plano que pode dar errado, inclusive legalmente falando.” falou procurando algo nas gavetas de sua mesa.

 

Carmem o abraçou por trás da cadeira enquanto ria.

 

“Você é um amorzinho. Mas não precisa se preocupar comigo, eu sei o que estou fazendo e onde estou me metendo.” garantiu e o amigo apenas suspirou.

 

“Aproveita que ‘tá em pé e vê se guardei meu carregador no guarda-roupas, fazendo favor. O que a Denise falou sobre seu casório?” perguntou ainda revirando as gavetas.

 

“Assim como você, ela acha que estou sendo burra. E pretende me xingar ainda mais pessoalmente.” respondeu abrindo o armário.

 

O rapaz riu.

 

“Eu não usei essa palavra.” ressaltou e ela riu pegando o cabo, deixando cair uma caixinha aveludada.

 

“O que é isso?” ela perguntou segurando a caixinha e ele se virou, arregalando os olhos em seguida.

 

“Não é nada, pode deixar…” tentou pegar, mas ela se esquivou, abrindo a caixinha e vendo ali um anel com uma pedra brilhante.

 

Carmem se virou para ele com um sorriso surpreso.

 

“Anel de noivado? Você ia pedir a Keika em casamento?” perguntou e ele suspirou.

 

“Ia, mas a vida tinha outros planos. ‘Tá quase na hora de abrir a live.” desconversou friamente.

 

A loira assentiu, entregando o carregador e guardando a caixinha.

 

“Acha que a Mônica vai assistir? A propósito, você nem 'tava disfarçando, safado!” mudou o foco e ele deu um riso.

 

“É óbvio, eu sou atacante, Carmem! Acha que ela gostou de mim?” perguntou.

 

“Ela já gostava. Ah, e você foi ridículo em me fazer de fotógrafa!” reclamou e ele riu mais.

 

“Seu braço não ia cair. Acho que vou chamar ela pra sair.” comentou.

 

“Ah… sei lá se é uma boa ideia. Nem sabemos se ela é solteira.” ela falou e ele sorriu.

 

“Você pode descobrir isso pra mim.” pediu manhoso e a amiga riu.

 

“Vou ver o que posso fazer. Eu vou nessa, tenho um almoço em família para me preocupar.” respondeu.

 

“Pensa bem no que falamos.” lembrou e ela assentiu antes de deixar o cômodo.

 

                    *

No show de DC, Milena estava sozinha no camarim tirando fotos do local quando ouviu pessoas se aproximando.

 

“Bom rever você, DC!” uma voz feminina soou.

 

“Tava sumido, vagabundo!” um rapaz disse.

 

“Achei que tinha viajado, mano.” outro completou.

 

Ouviu o riso de DC.

 

“Não, só dei uma afastada. Quero que vocês conheçam alguém.” falou.

 

A moça parou de fotografar quando viu o cliente junto de uma moça gorda dona de cabelos loiros compridos; um rapaz negro com tranças nagô curtas e um loiro de cabelos medianos. Quis rir quando viu o último.

 

“Olha só o que temos aqui…” o loiro disse sorridente.

 

“Nem pense em dar em cima da minha fotógrafa, tarado.” DC alertou e ela riu.

 

“Sou um santo, DC! E ai, Milena!” cumprimentou-a com um beijo no rosto e ela sorriu.

 

“Oi, Toni!” respondeu.

 

DC levantou a sobrancelha.

 

“Vocês se conhecem?” perguntou.

 

“Sou um modelo freelancer, Do Contra, é óbvio que comprei o pacote super econômico de fotos da Dream pra fazer meu portfólio. Você está nas mãos de uma ótima fotógrafa.” respondeu.

 

“Sou Isadora! É um prazer conhecer a corajosa que vai ajudar o DC a sair da lama que ele se atolou.” a moça a abraçou.

 

“Sou Jeremias. É um prazer te conhecer.” o outro a cumprimentou.

 

“Sou Milena. O prazer é todo meu. Bom, vocês são amigos do DC, imagino.” falou.

 

Os três encararam o rapaz, que sorriu abertamente.

 

“Você não falou pra ela?” Jeremias perguntou.

 

“Como já disse pra ela, tem coisas que são mais emocionantes ela mesma descobrir. Vou me trocar.” falou entrando no banheiro do camarim.

 

Milena olhou para eles.

 

“O que ele não me disse?” perguntou.

 

“Se ele não te falou…” Toni disse rindo.

 

“Me deem algumas dicas pelo menos!” pediu e eles riram, sendo possível ouvir o riso de DC.

 

“Você já ouviu falar do gato de Schrödinger?” Isadora perguntou.

 

“Sim, o gato que ‘tá vivo e morto ao mesmo tempo.” respondeu.

 

“Nosso grupo é meio que isso.” o loiro continuou.

 

Milena franziu o cenho.

 

“Acho que estou perdida...” falou.

 

“Eles são minha banda, Milena.” DC saiu já arrumado.

 

“Mas o que o paradoxo do gato tem a ver com isso? Espera aí… mas você não tinha saído da banda?” perguntou.

 

“Também.” ele respondeu sorridente.

 

“Também?” perguntou.

 

“Digamos que a banda está e não está viva.” Jeremias respondeu.

 

Milena respirou fundo.

 

“Eu vou endoidar aqui dentro, preciso de ar!” ela disse deixando o local.

 

Os demais riram.

 

“Sacanagem deixar a menina sem informações, DC.” Jeremias criticou.

 

“Vai ser muito mais espontâneo ela descobrir sozinha. Espontaneidade combina com a gente, vocês tinham que ter visto hoje.” ele disse.

 

“Não tenho dúvidas, mas pega leve. Ela está trabalhando com você, a gente te aturava  por vontade própria.” Toni recomendou.

 

“Relaxa. As coisas estão indo bem. Vou rever meus instrumentos.” falou deixando o local.

 

Os três o observaram um tanto preocupados quando Nimbus apareceu, pegando chocolates.

 

“Nimbus, acho que você devia interferir na relação cliente-fotógrafa dos dois.” Isadora sugeriu.

 

“Por quê?” perguntou comendo um chocolate.

 

“O DC vai confundir as coisas.” Jeremias previu.

 

“Acho que não.” o outro disse.

 

“Cara, se com menos de uma semana ele já ‘tá assim, em um mês ele vai achar que são melhores amigos. E não é isso que eles são.” Toni disse.

 

“Relaxa! Ele só ‘tá eufórico assim porque hoje eles tiveram um dia legal. Semana que vem, a rotina dela vai fazer tudo se automatizar. Vocês viram, ela ‘tá sendo profissional.” ele disse.

 

“Isso a gente percebeu. Mas e ele? Você sabe que o DC é intenso e emocionado. Não queremos que ele se machuque.” Isadora falou.

 

“Não se preocupem, se eu perceber que ‘tá saindo do controle, eu dou um jeito. Falo pra ela ser menos atenciosa ou pra ele colocar os pés no chão, sei lá.” assegurou.

 

Enquanto isso, DC sorria para Milena, que o filmava.

 

“E qual a sensação de estar no palco?” perguntou alto, sem microfones nem nada, com a intenção de captar o barulho externo.

 

“Como um batimento cardíaco.” respondeu também alto e ela deu um riso.

 

“Não sei se isso é uma sensação…” comentou.

 

“Eu sinto meu coração batendo diferente quando estou aqui. Como se estivesse apaixonado ou ansioso, ou os dois.” respondeu.

 

“Então desperta sensações.” falou e ele assentiu.

 

“Fortes!” ele completou.

 

“Vou gravar vocês da plateia.” falou e ele segurou em sua mão, impedindo-a que saísse.

 

“Ou… aqui do palco.” falou sorridente e ela olhou surpresa.

 

“Ér… tem certeza disso? As pessoas ainda não sabem que vai rolar um mini doc seu e não sei se os outros vão se sentir confortáveis.” lembrou.

 

“Relaxa, eles são tudo sem vergonha. E confesso que Bad Medicine me inspirou e não é todo dia que tem uma fotógrafa comigo.” falou e ela sorriu.

 

“Por mim, tudo bem.” aceitou e ele sorriu mais.

 

Milena se surpreendeu com o show. O fato de ser um rock mesclado a outros estilos justamente pela multiplicidade de instrumentos musicais fez com que tudo ficasse mais curioso. Quando juntos, Isadora tocava instrumentos de sopro e utilizava o som de suas roupas de dança do ventre para criar um novo som; Jeremias tocava instrumentos com cordas com maestria; Toni cantava e tocava teclado; e DC ficava na bateria. Todavia, quando sozinho, DC mostrou a razão de sua fama não ter se dissipado com o escândalo, ele tocava e cantava com tanto sentimento envolvido que chegava a ser encantador.

 

Quando terminou a apresentação, aplaudida de pé, a moça fez questão de acompanhá-lo até o camarim para gravar uma pergunta.

 

“Como é a sensação de descer do palco após um show?” perguntou, aproveitando a emoção do  momento.

 

DC, ainda ofegante e suado, sorriu.

 

“É indescritível! Seria clichê eu dizer que é rock ‘n’ roll!” fez um gesto e ela riu.

 

“Ótimo. Por hoje é isso, DC. Não vamos render mais nada. Então eu vou nessa.” falou.

 

“Ah, fica! Você é minha convidada.” falou e ela negou.

 

“Não vai dar, hoje foi um dia cheio e estou exausta.” disse guardando suas coisas.

 

O rapaz encostou o corpo na mesa.

 

“Diria que hoje rendeu.” disse e ela assentiu.

 

“Muito! Tenho muita coisa pra começar a editar. Bom… meu uper está à caminho, te vejo na terça, DC!” falou e logo saiu.

 

DC ficou alguns segundos apenas revivendo todos os acontecimentos do dia, havia sido um dos melhores em muito tempo.

 

                *

Um pouco mais tarde, Agnes ria enquanto entrava no prédio ao lado de Cascão com um cachorro azul de pelúcia embaixo do braço; em uma das mãos, uma garrafa de pinga lacrada com um caranguejo dentro; e, na outra, uma touca rosa. Havia ganhado tudo dos colegas de Cascão, que apostaram no beer pong.

 

“Eu não acredito até agora que você joga tão bem beer pong! Tu ganhou dos caras que eu nunca vi perdendo! Eu perdi pra eles todas as vezes que joguei!” Cascão exclamou.

 

“Eu jogava com minhas amigas. A Penha colocou um desses num aniversário dela e eu joguei. É mais técnica que sorte.” a moça revelou.

 

“Eu nunca consegui. Mas e aí? Se divertiu? Se sente mais próxima de mim?” perguntou e ela riu.

 

“Por incrível que pareça, sim!” respondeu e ele sorriu.

 

“Eu falei que esses rolês ou aproximam ou afastam. Bom, espero que amanhã nenhum de nós esteja destruído pra falar com seus coroas.” disse e ela negou com a cabeça.

 

“Eu não bebi álcool, só você. Boa sorte com a ressaca e esteja 70%!” pediu.

 

“Pode deixar!” ele garantiu.

 

Os dois pararam de andar, haviam chegado na porta dela.

 

“Ér… quer pra você? Eu não vou beber isso.” ela levantou a pinga.

 

Cascão riu.

 

“Até eu tenho meus limites. Usa de enfeite. Ah, os caras te chamaram pra ir lá qualquer dia.” falou e ela riu.

 

“Ah… sei lá. É um lugar muito cheio.” respondeu colocando as coisas no chão para destrancar a porta.

 

“Você se sentiu muito desconfortável? Não foi minha intenção, mas não conheço lugares menos cheios.” perguntou preocupado.

 

A moça deu um sorriso tímido, pegando suas coisas novamente.

 

“Só no começo. Ér… você é legal, Cascão.” confessou e ele sorriu.

 

“Você também é, Agnes. A gente se vê amanhã. E parabéns por hoje, você arrasou!” elogiou e foi a vez de ela sorrir.

 

“Boa noite, Cascão.” disse antes de entrar.

 

Ao entrar, deu de cara com Milena e Mônica na sala assistindo a um filme.

 

“Oi, Agnes. Quer assistir com a gente?” Mônica convidou.

 

“Eu ‘tô muito cansada e meus pais vêm me visitar amanhã. Mas obrigada pelo convite.” agradeceu.

 

“Pelo cachorro azul, já até sei onde você 'tava. Gostou do Bidu, Agnes?” Milena perguntou risonha.

 

A loira acabou rindo.

 

“É bem diferente do que achei que seria. Boa noite, meninas.” disse indo para seu quarto.

 

As duas se entreolharam com um sorriso, mas preferiram não falar nada.

 

Agnes foi direto para o chuveiro, além de querer se sentir mais limpa após horas em um lugar como o bar, queria relaxar. Cascão, por sua vez, ignorou as várias mensagens de Cebola para poder dormir, estava exausto.

 

A noite não tardou a ceder espaço para um domingo quente, para o ânimo de alguns e desespero de outros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Almejar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.