Almejar escrita por sam561


Capítulo 3
Capítulo III - Análise


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A manhã de sábado havia se iniciado gelada. Agnes ficava na suíte do apartamento, assim não teria necessidade de dividir o banheiro, algo que não suportava nem mesmo pensar.

 

Ao entrar no cubículo que cheirava a água sanitária, sua visão míope embaçou seu reflexo no espelho até se aproximar o máximo possível, quando reparou algumas olheiras em seus olhos esverdeados: não havia dormido nada naquela noite, ainda mais após sua mãe avisar que iria visitá-la no dia seguinte.

 

“Será que essa coisa de namoro falso vai funcionar? Cássio é meio… nojento, sempre muito suado! Não vou conseguir demonstrar naturalidade.” comentou.

 

Abriu o armário e encarou a caixa do termômetro próxima à escova e dentes, que estava guardada em uma embalagem própria, e lambeu os lábios. Vinha lutando contra o costume de aferir sua temperatura todos os dias e em diferentes momentos do dia, uma vez que uma mínima mudança de temperatura era motivo para se preocupar.

 

Coçou a mão e fechou o armário, começando sua escovação.

 

“Esse plano vai ser um fiasco e vou perder 300 reais! Devia ter feito uma proposta menor… fui a primeira cliente, ele claramente nem sabia que preço cobrar!” pensava enquanto deslizava a escova de dentes na boca.

 

Ao terminar sua higiene bucal e tomar seu banho, foi até a cozinha preparar seu café da manhã, onde viu Mônica e Milena comendo sushis com suco de laranja de caixinha.

 

“Vocês… vocês realmente estão comendo comida japonesa às 8 horas da manhã?” perguntou surpresa.

 

“Sim. Trouxe de uma reunião ontem e estão ótimos! Aceita um?” a morena de cabelos lisos ofereceu com um garfo em mãos, não tinha hashis.

 

“Um café da manhã ruim pode comprometer seu rendimento ao longo do dia, e consequentemente sua saúde. Fora que não como nada cru, a não ser que sejam frutas e saladas.” respondeu.

 

As outras duas se entreolharam.

 

“Não é como se a gente comesse isso todos os dias. E o sushi de lá é confiável.” Mônica comentou.

 

“Prefiro não arriscar. Prefiro minhas frutas com iogurte natural.” falou enquanto ia preparar seu café da manhã.

 

“Algum dia terei esse café da manhã saudável e balanceado igual a você, Agnes. Mas com certeza não será hoje. Até mais, meninas, o dever me chama!” Milena disse se levantando e colocando sua mochila nas costas.

 

“Já vai pra Dream? Posso te dar uma carona.” Mônica disse.

 

“Vou aceitar!” aceitou.

 

As duas se despediram de Agnes e deixaram o local após o restante do sushi ser guardado.

 

“Impressionante como tem gente que não se importa com a saúde…” comentou.

 

Ao deixar o apartamento, deu de cara com um visivelmente bêbado Cascão.

 

“Oi, Agnes! Suave?” cumprimentou com um aceno enquanto sorria muito.

 

“Você está pior que o habitual! Vai sair bêbado desse jeito?” ela perguntou.

 

“Eu acabei de chegar. Me contrataram ontem pra participar de uma despedida de solteiro, o cara não tinha amigo festeiro. Não é por nada não, mas se eu casasse… iria querer uma despedida igual aquela.” comentou risonho.

 

Agnes revirou os olhos.

 

“Essas festas são um nojo.” comentou.

 

“Ah… você faz o estilo moralista…” ele constatou.

 

“Não, faço o estilo saúde em primeiro lugar. O povo costuma beber coisas na mesma garrafa nesse tipo de festa.” falou e ele gargalhou.

 

“Sendo bem franco, Agnes, nesse tipo de festa, dividir garrafa é o menor dos problemas.” falou e ela acabou rindo.

 

“Coragem da parte de vocês.” falou.

 

“Aproveitando que ainda estou estou acordado… quer conversar sobre nosso lance mais tarde?” perguntou.

 

A loira o olhou dos pés à cabeça.

 

“Você vai estar em condições de conversar hoje? De modo que se lembre do que for falado?” perguntou e ele riu.

 

“Já fui em festas mais loucas que essa e fui pra aula horas depois. Mais tarde vou estar uns 70%.” garantiu.

 

“Quando vai estar 100%?” a moça perguntou.

 

“Isso eu acho que nunca estou. Pode me mandar mensagem quando puder conversar, até mais!” falou entrando em casa meio tonto.

 

A loira negou com a cabeça, seguindo seu caminho até seu emprego em seguida.

 

                *

Um pouco mais tarde, Nikolas estava na loja com os olhos fixos na tela de notebook à sua frente enquanto falava ao celular, mas não tinha relação alguma com coisas de sua área.

 

“Tá, mas um pergolado é realmente necessário? Quanto custa? Oi? Ah… vou dar uma olhada e te dou um retorno. Tchau.” desligou.

 

“Casamentos são caros mesmo!” comentou girando a cadeira.

 

De repente, a porta se abriu, entrando uma Carmem com a mão direita levantada.

 

“Ótima notícia, nosso textinho deu certo! Você viu a quantidade de likes?” perguntou indo até ele, escorando-se no balcão.

 

“Vi. Pra um pedido surpresa, até que a gravação saiu boa e com um áudio ótimo.” comentou e ela riu.

 

“Minha wedding planner estava lá. Tenho reunião com ela daqui a pouquinho. O que vai fazer hoje à noite?” perguntou.

 

“Gravar uma gameplay, faz tempo que não posto nada. Precisa de ajuda, Agnes?” respondeu, fazendo uma pergunta para a outra ao vê-la carregando um balde.

 

“Não, é pra passar um paninho nessas prateleiras empoeiradas.” respondeu ajeitando as luvas de borracha em suas mãos.

 

“Enfim… não ‘tá a fim de sair hoje? A gente pode falar das bodas dos seus pais enquanto comemos uma pizza naquela pizzaria que você gosta.” Carmem convidou o amigo.

 

“Podemos falar sobre as bodas, mas sabe quem iria adorar sair pra comer com você? Seu noivo! O mesmo que você precisa ser vista junto, já que são um casal apaixonado.” lembrou e ela deu de ombros.

 

“Um casal apaixonado não precisa fazer tudo junto.” ressaltou.

 

“Pode até ser, mas será que pega bem pro seu noivado midiático você saindo com outro cara? Pode até não rolar nada, mas sabe como são as fofocas.” ele lembrou.

 

Sem deixar transparecer, Agnes prestou atenção.

 

“É só o Cebola ir também.” ela sugeriu.

 

“E eu segurar vela? De jeito nenhum! A não ser que tenha alguma companhia pra mim.” falou e a amiga gargalhou.

 

“Que isso? Querendo voltar pra pista?” perguntou e ele deu de ombros.

 

“Por que não? Keika superou faz tempo, preciso fazer o mesmo.” perguntou e ela assentiu.

 

“Bom… talvez minha wedding planner seja solteira. Posso chamar ela e você tenta a sorte.” sugeriu.

 

“Ah, ela é sua amiga?” perguntou e a loira riu.

 

“Não. É que dá pra aproveitar o momento que estaremos juntos. Um mês passa depressa, pequeno Nik.” respondeu.

 

“Realmente. Então vou ter que negar. Tenho que ver coisas das bodas. Me ofereceram um pergolado caríssimo pra decoração e nem sei o que é isso!” ele disse.

 

“É uma estrutura que dá pra decorar. Vamos fazer assim: saímos nós quatro e você pede algumas sugestões pra Mônica.” Carmem propôs.

 

“Pera aí. Eu não posso contratar uma wedding planner. Meus pais querem uma coisa simples e eu nem sei quanto uma dessas cobra!” o rapaz ressaltou.

 

“Não, você não vai contratar ela. Só pedir uma opinião profissional. Nós dois vamos cuidar das bodas dos seus pais, mas nenhum de nós sabe o que fazer. É um direcionamento.” ela disse e ele assentiu.

 

“Tá bom, eu topo.” aceitou e ela sorriu.

 

“Vai ser legal! Eu tenho que ir agora, eu meio que já devia estar lá e ainda nem comprei meu café da manhã. Te mando mensagem mais tarde. Tchau, Agnes.” falou saindo em seguida.

 

Nikolas deu um riso e Agnes o olhou.

 

“Não pude evitar de ouvir sua conversa, Nik. A Carmem não vai casar de verdade?” perguntou.

 

“Não sei ao certo. O relacionamento dela é meio complicado.” respondeu e ela assentiu.

 

“E… você acha que relacionamentos falsos funcionam pra… pra coisas rápidas?” perguntou.

 

O rapaz a olhou.

 

“Acho que depende do quão bem a pessoa mente. ‘Tá pensando em ter um relacionamento falso, Agnes?” riu ao perguntar e ela forçou um riso.

 

“Não! Mas… por que o riso? Acha que seria tão anormal assim?” perguntou.

 

“Ah, sei lá… acho que uma relação falsa precisa ser convincente, e pra isso teria que ter toques físicos. E como você não gosta disso… acho que seria uma coisa difícil de funcionar.” respondeu.

 

A moça assentiu pensativa, Cascão também havia a alertado sobre isso.

 

“Bom, vou dar uma olhada no estoque. Precisando, é só gritar.” ele falou.

 

“Ah, espera! Ér… o cupom de desconto de funcionário que você me deu é intransferível?” perguntou.

 

“Depende, pra quem você queria transferir?” devolveu uma pergunta.

 

“Um… amigo meu que ama a cultura geek, bem mais que eu.” falou e ele riu.

 

“Vamos ver como as coisas vão caminhar por aqui. Dependendo, eu vejo o que posso fazer.” piscou um olho e saiu.

 

A moça respirou fundo. Talvez seu plano pudesse fracassar caso não tivesse conexão com Cascão, mas não sabia como iriam se conectar.

 

Olhou para onde o chefe foi e pegou seu celular.

 

“Oi, Cássio! Tá livre ao meio-dia?” mandou um áudio.

 

                               *

Enquanto isso, na Dream, Cebola caminhava pelos corredores com o celular em mãos e o pensamento longe.

 

“Ela me pediu em casamento, Cascão. Não achei que iria tão longe.” mandou um áudio.

 

“Olha, Cebola, eu ‘tô bêbado demais pra opinar, mas você ‘tá num ponto alto demais, acho que se não pular fora agora, vai piorar pra você.” a voz de Cascão soou arrastada.

 

“Eu sei disso, mas… não tem muito o que eu possa fazer. Vê se dorme e toma um banho gelado, ‘tô sentindo a manguaça daqui!” enviou antes de empurrar a porta onde seria a reunião.

 

Cebola se surpreendeu ao ver que Carmem sequer havia chegado, estava apenas Mônica abrindo a cortina.

 

“Ér… oi, Mônica. Cheguei muito cedo?” perguntou e ela o olhou.

 

“Não. Achei que viria com a Carmem.” comentou enquanto ia até a mesa para pegar papéis e guardá-los.

 

“Não vi ela hoje, mas deve estar a caminho. Vou mandar mensagem.” falou e a morena assentiu.

 

“Claro. Pode se sentar! Aceita uma água, café, um chá, um suco?” perguntou e ele negou.

 

“Não, ‘tô bem.” negou deslizando o dedo em seu celular.

 

O silêncio se instaurou no ambiente, sendo ouvido apenas o som do ar condicionado e do umidificador de ar.

 

“E aí? Animado pro casamento, Cebola?” puxou conversa.

 

O rapaz forçou um sorriso.

 

“Não muito. Ainda é uma coisa… surpreendente!” respondeu.

 

A moça o olhou bem.

 

“Você pretendia se casar?” perguntou.

 

Cebola tirou os olhos do celular para encará-la.

 

“Vou ser sincero com você, Mônica. Casamento é uma das últimas coisas que eu pensava em fazer. Pelo menos agora.” revelou.

 

“Então por que aceitou o pedido?” perguntou.

 

“Eu tinha outra escolha?” rebateu e ela riu enquanto se sentava em sua cadeira.

 

“Sabe por que muitos casais me contratam, Cebola?” perguntou.

 

“Por quê?” perguntou sem entender a mudança de foco.

 

“Casamentos são estressantes. Eu gosto de dizer que o evento se divide em pré, durante e pós matrimônio. Numa parte do pré e no durante, o casal pode contar comigo; agora no pós… é com eles, já que é o casamento propriamente dito.” respondeu.

 

Cebola franziu o cenho.

 

“Acho que não entendi…” falou.

 

“Digamos que o pré e o durante se voltam para o evento casamento, já o pós é a vida de casados. É tudo muito interligado, não tem como pular etapas. Então você não pode esperar uma vida de casado boa se seu pré casório for ruim.” explicou.

 

“Mas o pré casório é o seu trabalho, não?” perguntou e ela riu.

 

“Não inteiramente. Eu cuido da parte do evento, mas antes disso tem o relacionamento do casal. Minha participação só é possível se o casal estiver bem, e o sucesso do meu trabalho só vai acontecer se o casal estiver disposto a seguir as etapas.” respondeu.

 

“O que quer dizer com isso, Mônica?” Cebola perguntou sem rodeios.

 

Mônica o encarou.

 

“Se uma das partes não quer se casar, temos um problema.” respondeu direta.

 

Cebola umedeceu os lábios e olhou para a porta.

 

“Eu… eu quero me casar, mas não pensava nisso agora. Eu formo este ano e… não imaginei que seria com uma aliança no dedo. Ainda mais dentro de um mês!” respondeu sincero.

 

“Entendo que seja um baque, mas você é o namorado dela, conhece ela o bastante pra fazer ela mudar de ideia. Não digo sobre se casar, e sim sobre alargar o prazo.” a moça começou.

 

“Tem noivados que duram anos, justamente para que os noivos se casem quando estiverem preparados para viver uma vida de casados.” explicou.

 

Cebola riu.

 

“Tenho minhas dúvidas se realmente tenho toda essa influência! Eu nem sei ao certo o motivo de ela querer casar tão rápido. Mas… talvez não seja ruim. Me dou bem com os pais dela e… eu gosto dela.” falou e ela arregalou os olhos levemente para o verbo usado.

 

Gosta?” perguntou e ele umedeceu os lábios.

 

No mesmo instante, Carmem entrou usando óculos escuros e bebendo cappuccino.

 

“Cheguei! Vamos começar? A propósito, Mônica, hoje à noite temos um jantar numa pizzaria pra falar sobre outros detalhes, o tempo está voando!” falou rápido enquanto bebericava sua bebida.

 

Mônica se ajeitou, assim como Cebola.

 

“Tudo bem, Carmem. Vamos começar?” perguntou com um sorriso e Carmem se sentou ao lado do noivo.

 

“Bom, casal… primeiramente, parabéns pelo noivado. Temos um prazo bem curto em mãos, mas ainda acho importante fazer algo que faço com todos meus casais: conhecê-los melhor. Vamos começar pelo básico: qual a história de vocês?” ela disse.

 

Cebola olhou para Carmem, que deu de ombros.

 

“Nos conhecemos na faculdade.” respondeu e a outra a olhou, esperando a continuação que não veio.

 

“E…” incentivou.

 

“É isso.” a loira finalizou.

 

“Preciso de mais detalhes. Assim consigo montar um casamento que seja a cara de vocês.” Mônica explicou.

 

Carmem pensou, mas não lembrou de nada muito especial.

 

“Acho que foi naquele dia que você e Denise foram pra mesa que eu ‘tava porque ela queria dar em cima do Jeremias.” Cebola lembrou.

 

“Acho que foi isso mesmo!” a loira concordou.

 

Mônica disfarçou uma careta enquanto digitava as informações.

 

“Certo… e como foi?” perguntou.

 

Cebola riu.

 

“Foi tudo muito rápido! Eu sabia quem ela era, mas ela obviamente não sabia quem eu era. Em um belo dia, Carmem me chamou pra sair, eu topei e aqui estamos nós. Dois anos juntos.” respondeu e a noiva sorriu.

 

A morena anotou.

 

“Certo… e vocês têm algo em comum?” perguntou.

 

Os dois se entreolharam sem uma resposta.

 

“Pode colocar ambição.” Carmem respondeu.

 

“Tá bom. De onde veio a motivação do casamento?” perguntou olhando diretamente para Carmem, duvidava que Cebola sabia sobre a competição da noiva com outra influencer.

 

“Pode colocar que a vida é rápida demais para esperar.” respondeu.

 

Mônica anotou em silêncio.

 

“O que vocês esperam do futuro como casal?” perguntou.

 

O casal se entreolhou.

 

“Acho que… coisas boas.” Cebola respondeu e ela assentiu.

 

A morena suspirou, mas decidiu não opinar.

 

“Tá. Agora vamos pra minha parte favorita: o evento casamento. Quais são as preferências do casal? Carmem, casamentos costumam ser um sonho pra noiva, ainda mais quando ela que pede! O que tem em mente? E você, Cebola? O que deseja?” perguntou sorridente.

 

“O que ela quiser, ‘tá bom.” Cebola respondeu.

 

Carmem deu um riso.

 

“Pode ter certeza que em nenhum dos meus sonhos aparecia um casório. Mas sobre as preferências, quero uma coisa minimalista, mas luxuosa. E precisa ter coisa que brilha e umas coisas de nerd, gamer, essas coisas da parte do Cebola, né.” escolheu.

 

Cebola sorriu.

 

“Atencioso da sua parte, Carmem.” falou sincero.

 

“Eu sei disso, querido. Mas essa parte precisa ser de uma loja em especial chamada GGeek.” respondeu.

 

“Por quê? O casal tem alguma história lá?” Mônica interessou-se.

 

“Não, é que a loja é do meu amigo.” ela respondeu simples.

 

“Ah, é a loja do Nik, né?” o rapaz perguntou e enfim Carmem sorriu de verdade, algo que não passou despercebido para Mônica.

 

“É! A propósito, Mônica, ele vai com a gente na pizzaria, ele vai ser um dos padrinhos.” respondeu.

 

A morena se surpreendeu.

 

“Vocês já escolheram os padrinhos?” perguntou.

 

“Não… eu descobri há menos de 24 horas que ia casar. Ainda estou processando.” Cebola disse.

 

“Eu que escolhi ele.” a loira respondeu.

 

“Certo… por curiosidade, que critérios você usou para escolher? Amizade do casal?” Mônica perguntou.

 

“Sei lá, acho que sim. Conheci Nik numa festa que Cebola deu e convidou ele.” respondeu.

 

“Mas é uma boa ideia, Carmem? Não falo com ele há meses.” Cebola comentou.

 

“Bom apontamento. Ser distante de algum padrinho pode ser…” a morena explicava até Carmem interrompê-la.

 

“Eu nunca me distanciei dele. Só você, Cebola.” revelou.

 

Cebola deu de ombros.

 

“Ele quase nunca aparece na faculdade, não tinha muito o que ser feito.” falou.

 

Mônica estreitou os olhos, mas decidiu ignorar.

 

“Beleza… vocês querem se casar onde?” mudou o foco.

 

“Na igreja? Como todo mundo faz?” Cebola falou óbvio.

 

“Não, prefiro num lugar diferente.” Carmem negou.

 

“Que lugar?” a morena perguntou.

 

“Nos surpreenda.” Carmem respondeu e Mônica forçou um sorriso.

 

“São muitas pessoas?” perguntou.

 

“Tenho uma família grande, mas não sei se virão todos. Está muito em cima.” ele disse.

 

“Pega um espaço grande, Mônica.” Carmem disse.

 

“Bom… falando em família, tem alguma restrição ou coisa que eu preciso saber?” a outra perguntou.

 

“Meus pais não são tão fãs assim de luxo, então… prefiro algo não muito espalhafatoso.” Cebola revelou.

 

“Se vai ter brilho e luxo, vai ser assim! Não vai ser nenhum sacrifício pra eles.” Carmem reclamou.

 

“Mas não ia ser minimalista?” ele perguntou.

 

“Dá pra juntar as duas coisas, né, Mônica?” ela respondeu.

 

Mônica os olhou.

 

“Dá! Tenho que ver como vou fazer isso, mas dá.” afirmou.

 

“Ótimo. Precisa falar sobre o que mais? Tenho coisas pra fazer hoje.” Carmem disse pegando seu celular.

 

“Ér… muitas coisas! Temos que falar de orçamento, mais detalhes sobre buffet, local, madrinhas, padrinhos, cerimonialista…” falava até a loira se levantar.

 

“Não se preocupe com dinheiro, Mônica. Escolha um lugar que você costuma recomendar pros seus noivos. O cardápio e as pessoas envolvidas, veremos com mais tempo.” disse antes de deixar o local.

 

Mônica ficou sem fala e olhou para Cebola, que deu um riso.

 

“Relaxa, Mônica. À noite a gente pega no pé dela.” ele assegurou.

 

“Difícil relaxar, dessas poucas coisas que ela disse, já complicou minha vida uns 300%. Mas e você? Quase não opinou em nada.” falou.

 

O rapaz deu de ombros.

 

“É o que dizem: o casamento é mais da noiva que do noivo.” falou.

 

“Mas você também tem seu papel. Tem alguma coisa que gostaria de acrescentar?” perguntou.

 

Cebola pensou por um instante.

 

“Sabe o que seria legal? Uma daquelas cabines de fotos instantâneas.” falou e ela sorriu.

 

“Temos algo em comum. Consigo uma pra você. Só isso?” perguntou.

 

“É. Acho que ainda não caiu minha ficha.” confessou.

 

“Ah, pense que em breve você vai ter uma despedida de solteiro, morar num lugar legal com a pessoa que ama e essas coisas.” falou e ele forçou um sorriso.

 

“É… até mais, Mônica.” despediu-se e ela o acompanhou até a porta.

 

Ao retornar, Mônica se jogou na cadeira.

 

“Tenho muuuuito trabalho pela frente. E esse noivo… não sei, não…” falou.

 

            *

Enquanto isso, no setor fotográfico, Milena falava com seu supervisor enquanto Do Contra não chegava.

 

“Desculpe… o senhor negou o pedido de exclusividade que o Nimbus fez?” perguntou após ele revelar sua decisão.

 

“Isso mesmo. Milena, você já trabalha menos horas, se eu te tirar de todos os outros projetos, você será a única afetada.” falou.

 

“Não necessariamente, eu vou estar trabalhando com um dos nossos clientes, em algo que é diferente do que eu faço ainda por cima.” lembrou.

 

“Isso vai ser bom pro seu currículo. Vamos fazer assim, você fica apenas com os trabalhos externos rápidos e com Maurício. Tenho certeza que será fácil trabalhar com ele.” falou.

 

“Quando eu o vi, ele estava meditando só de cueca ao som de heavy metal. Fora que tem uma expectativa muito grande nesse trabalho.” ela lembrou.

 

“Eu disse que ele era excêntrico. Relaxe, é apenas um mês.” falou saindo em seguida.

 

Milena suspirou e logo apareceu Do Contra.

 

“Olá, Milena.” cumprimentou e ela sorriu.

 

“Oi, DC! Andei fazendo meu dever de casa e, como posso dizer… uma estrela do rock em ascensão que abandonou o palco sem mais nem menos tem mais hashtags do que eu imaginei.” falou e ele riu.

 

“Não uso redes sociais, então…” falou e a moça olhou surpresa.

 

“Não usa?” perguntou.

 

“Eu tenho, mas é meu irmão que cuida. Não tenho paciência pra isso.” explicou.

 

“Pelo que andaram supondo, foi até melhor você não ter lido. Mas quero ouvir de você. O que aconteceu?” perguntou.

 

O rapaz ia começar a falar quando a porta se abriu. Era Grózny.

 

“Milena, um trabalho pra você! Nossa cliente pediu um ensaio no bar do Tião, é um lugar especial para o casal.” ele falou parado na porta, segurando um tablet de trabalho.

 

“Senhor Grózny, Maurício está aqui. Estamos começando as coisas do…” falava até ele já puxar a porta novamente.

 

“Leve ele com você, pode ser bom gravar uns takes cinematográficos em movimento. É um ensaio do nosso pacote super econômico. O casal não é muito fotogênico, então pediram apenas 5 fotos. Não gaste sua energia com eles, pelo visto nem sabem o que é uma foto boa ou não. Já encaminhei o endereço.” alertou e logo saiu.

 

Milena respirou fundo e Do Contra riu.

 

“Ele realmente nem se deu o trabalho de ser falso!” comentou incrédulo.

 

“Não se surpreenda. Depois que você fecha um contrato barato, ele fica assim. Bom… acho que vamos ter que adiar de novo…” comentou se levantando e ele sorriu.

 

“Eu estou livre agora. Posso seguir a sugestão dele e te acompanhar, se não for um problema.” falou e ela deu de ombros.

 

“Por mim tudo bem, mas não vou poder te dar atenção lá. No caminho, podemos fazer isso da gravação. Vamos nessa.” falou pegando uma enorme mochila.

 

O rapaz franziu o cenho.

 

“Espera, é só você?” perguntou surpreso.

 

“Ensaios do pacote super econômico não são elaborados. É uma coisa bem simples, então é sempre um fotógrafo só. Felizmente eles pagam o uper.” explicou e ele sorriu interessado.

 

“Acho que isso vai ser divertido.” supôs e ela sorriu saindo com ele.

 

O endereço não era muito perto, então daria tempo suficiente para que gravassem.

 

“Aqui, coloca esse microfone.” falou entregando um microfone de lapela a ele.

 

“Você realmente nunca fez esses vídeos?” perguntou enquanto colocava o equipamento e observava ela o conectando a um outro aparelho.

 

“Não, mas tenho uma amiga jornalista. Ela me deu umas dicas.” respondeu piscando um olho.

 

A moça apontou a câmera para ele.

 

“Agora olha pra janela como se contemplasse a vista.” instruiu e ele riu.

 

“Não tem o que contemplar aqui. Só tem prédio extravagante.” comentou.

 

“Desculpe me meter, mas… o que vocês estão fazendo?” o motorista perguntou curioso.

 

“Um mini documentário. No vídeo, esse é o momento que a pessoa fica com o olhar perdido enquanto toca uma música específica de fundo. Vou fazer assim, DC, vou te gravar de perfil e você fica olhando como se eu nem estivesse aqui, pode até ser bom encostar a cabeça no vidro.” a moça respondeu.

 

“Como se estivesse em um clipe?” perguntou e ela sorriu.

 

“Você me deu uma ideia! Coloca um fone de ouvido, mas sem música, assim você vai me ouvir e vai ficar parecendo aquele momento que a gente olha pela janela e se imagina num clipe.” sugeriu.

 

O motorista gargalhou e o rapaz obedeceu, mesmo achando estranho ter uma câmera tão perto de si.

 

“Mais contemplativo, DC.” pediu e ele decidiu de fato focar na rua.

 

Ainda era cedo, então as ruas não estavam tão movimentadas. Tentou focalizar a rua e percebeu que os prédios começavam a perder o luxo, dando espaço para construções mais simples, o que de fato o fez contemplar.

 

“Ótimo! Agora pode tirar o fone e eu vou fazer uma pergunta e você vai começar a responder olhando pela janela e terminar olhando pra câmera.” ela o despertou.

 

O rapaz passou as mãos nos cabelos e tirou os fones.

 

“Qual vai ser a pergunta?” perguntou.

 

“Vou querer algo natural, então você vai descobrir na hora.” respondeu rindo e ele riu junto.

 

“Beleza.” aceitou.

 

Milena também tinha um microfone consigo, então sua voz também seria captada.

 

“Qual o papel da música na sua vida?” perguntou.

 

O rapaz, genuinamente, levantou a cabeça um pouco: aquela era uma boa pergunta.

 

“A música…” divagou ainda olhando para a janela, até se virar para a moça.

 

“É difícil definir exatamente o que ela é pra mim, mas eu diria que é tudo. É o que me faz sentir vivo.” respondeu com as lentes dos óculos  brilhando.

 

Milena sorriu parando de gravar.

 

“Uau! Isso ficou genuíno.” comentou e ele riu.

 

“É porque é verdade.” falou.

 

“Então é disso que vamos precisar. O lugar é ali.” ela disse apontando com o queixo para um barzinho de esquina, cujo nome o tempo havia apagado da fachada.

 

Ao descerem, DC não pôde deixar de sorrir para o local sem os luxos exagerados que tanto via. Embora ainda fosse de manhã, o bar já estava aberto e com fregueses ocupando as mesas de plástico enquanto bebiam cerveja, fumavam, comiam salgados e falavam alto, ainda assim sem acordar os cachorros dormindo.

 

“Vamos lá!” ela disse e ele a acompanhou.

 

Os fregueses os olhavam curiosos. Lá dentro, o local possuía um balcão antigo com uma estufa de salgados velha, salgadinhos pendurados no canto e um baleiro giratório; além disso, atrás do balcão, havia produtos de mercearia, que custavam mais do que em mercados. DC sorriu nostálgico com isso.

 

“Oi! Sabem se a senhora Maria da Glória está por aqui?” a voz de Milena falando com a mulher atrás do balcão o despertou.

 

“Sou eu mesma. Você é…?” a mais velha perguntou de cenho franzido.

 

“A fotógrafa da Dream. Meu nome é Milena e este é meu ajudante Maurício.” apresentou-se.

 

A mais velha abriu um sorriso.

 

“Ah, querida! Chegou mais cedo do que eu pensava. Nem me arrumei ainda e meu velho então…” comentou.

 

“Não se preocupe, dona Maria. Pode ir se arrumar sem pressa.” ela disse e a senhora sorriu.

 

“Sentem! Aceitam uma coxinha? Um bolovo? Alguma bebida?” falou entrando após eles negarem.

 

Os dois se sentaram em banquetas que ficavam de frente para o balcão e DC teve uma ideia.

 

“Podemos continuar com algumas perguntas aqui? Eu gostei do cenário, lembra minha infância.” perguntou e ela assentiu.

 

“Claro. Vou perguntar sobre…” falava até ele a interromper.

 

“Acho que a pergunta espontânea funcionou.” disse e ela assentiu.

 

A moça desdobrou o tripé e o ajeitou de modo que conseguiria filmá-lo sem a câmera se mover e ainda conseguir enquadrar o fundo.

 

“Aqui, segura o gravador também, pro caso do som externo for maior.” entregou.

 

O rapaz umedeceu os lábios e olhou para ela, a ideia era ignorar que era filmado.

 

“Como você era na infância?” ela perguntou.

 

DC sorriu e olhou um pouco em volta.

 

“Fui uma criança meio complicada. Já me chamavam de Do Contra naquela época, justamente por eu contrariar os outros. Tinha vezes que eu falava não para dizer sim e coisas do tipo; mudava regras de brincadeiras; até minhas artes eram ao contrário. Eu gostava, só não sei se quem convivia comigo gostava também.” respondeu e ela riu.

 

“Então sua subversão não é recente.” comentou e ele deu um riso.

 

“Não. É parte da minha personalidade, mas assumo que já me meteu em vários problemas.” respondeu.

 

“E na adolescência? Geralmente, é quando começamos a encontrar nossa identidade.” perguntou.

 

DC fez um bico.

 

“Acho que até nisso eu contrariei. Acho que minha identidade deu as caras na infância e eu simplesmente deixei florescer mais na adolescência. Só que, na vida adulta, tem momentos que ela se perde. Tem vezes que não me sinto tão autêntico como meu eu criança era.” respondeu.

 

“Acha que isso se deve a quê?” ela perguntou.

 

“Talvez o próprio peso da idade. Um dia, eu estava no bar dos meus avós só me preocupando em contrariar os outros; no outro, eu era um cara que tem muita coisa pra se preocupar. Bom, pelo visto, nem mesmo um cara que gosta de contrariar consegue fugir de certos auto questionamentos.” respondeu.

 

Milena sorriu enquanto parava de gravar.

 

“Vamos dar um corte aqui e depois retomamos essa parte do auto questionamento em um outro cenário, para fazer aquela graça contemplativa e conseguir uns takes legais.” sugeriu e ele assentiu sorridente.

 

“Bom… a sacada do meu apartamento é um lugar que fico contemplativo.” revelou.

 

“Então depois vamos para lá. Tem mais alguma coisa sobre sua infância? Pra aproveitar o cenário bar?” ela perguntou.

 

“Como assim?” o rapaz perguntou e ela reiniciou a gravação.

 

“Você acha que a transição da infância para a adolescência foi difícil sendo um cara tido como excêntrico?” perguntou.

 

DC deu um riso.

 

“A transição, não. Mas na de adolescência para vida adulta… acho que senti mais dificuldades. Parece que vai ficando mais difícil conforme vai ficando mais velho.” falou e seu olhar se perdeu por um instante, algo que Milena não hesitou em registrar.

 

Os dois decidiram parar a gravação, já que Maria avisou já estar indo.

 

Maria estava mais animada que o marido, que tinha uma feição emburrada.

 

“Tira essa tromba, Francisco!” ela reclamou ajeitando a gola da camisa dele.

 

“Minha cara está como deve estar. Gastando dinheiro com foto sendo que é só pegar um celular e tirar. Ficaria até melhor!” reclamou.

 

DC olhou para Milena, que piscou um olho.

 

“Fiquei curiosa com a escolha do cenário. O bar é de vocês?” ela perguntou.

 

“Sim. Na verdade, foi herança do pai dele, o Tião.” a mulher respondeu.

 

“E quantos anos tem o bar?” ela perguntou.

 

O senhor deu um sorrisinho.

 

“Quarenta anos! Isso tudo em volta era mato quando meu pai construiu. Com muita luta e fé!” falou alternando o tom de voz em algumas palavras.

 

“Consigo imaginar o orgulho que devem sentir. É difícil achar bares assim onde eu moro. E pra você, DC?” ela perguntou ao rapaz, que até então apenas observava.

 

“Ah… é difícil também. Os que eu costumo ir são bem diferentes. Esse lembra muito um que meus avós tinham há muito tempo.” respondeu.

 

O mais velho riu.

 

“Os bares de hoje nem podem ser chamados de bar! É um lugar feio, caro e que não tem nada. Isso aqui é cheio todo dia! O Cláudio ali não me deixa mentir! Chega aqui, Cláudio! Aqui fica ou não fica cheio todo dia?” falou e Cláudio, risonho e comendo um bolovo, riu.

 

“Ô! Nos piores dias, três mesas cheias! Venho aqui desde moleque e não pretendo parar!” falou levantando seu copo americano com cerveja.

 

“Você é um pinguço, Cláudio! Não pararia nem se quisesse!” Maria riu.

 

DC riu também, de fato não ia em um daqueles há anos.

 

“Então vamos colocar essa história do bar nas fotos! Que tal uma em que vocês estão na frente do balcão? Consigo pegar o fundo com as coisas todas atrás.” Milena falou e Francisco pareceu se animar.

 

“Sabe como pode ficar melhor? Com o chapéu do meu pai!” ele disse indo pegar o acessório.

 

Do Contra observou todo o ensaio com um sorriso nos lábios. Além de o casal ir se soltando e demonstrar o amor que tinham pelo local e um pelo outro, havia percebido o comprometimento de Milena com seu trabalho.

 

“Posso pedir uma coisa? Gostaria de gravar pequenas partes do seu bar pra um pequeno documentário que estou fazendo. Este tipo de bar remete à infância do meu cliente. O bar do Tião vai aparecer nos créditos e trago uma autorização de imagem quando puder.” pediu.

 

“Claro, querida! Fique à vontade. Vou até montar um pratinho com cerveja e bolovo pra aparecer no vídeo.” falou.

 

“Aproveita e desce mais uma!” Cláudio riu.

 

“Coloca o chapéu do meu pai naquele prego! Vai valorizar ainda mais seu vídeo!” o homem disse.

 

“É uma dica que vou aproveitar!” respondeu e ele sorriu orgulhoso.

 

DC sorriu para a moça, que retirou a câmera do pescoço para pegar a que usava para o documentário.

 

“Uau! Achei que faria o que o Grózny recomendou. Sabe… não gastar energia aqui.” comentou e a moça riu enquanto guardava a outra.

 

“Eu gosto de fazer um bom trabalho independente do pacote escolhido, por isso o Grózny não gosta de mim. Vamos lá, qual parte do bar toca mais seu coração?” perguntou e ele sorriu.

 

Após passar um tempo lá, os equipamentos foram recolhidos e os dois se despediram dos donos antes de pegarem outro uper, que faria duas paradas.

 

“Para onde vamos agora?” ele perguntou eufórico.

 

“Horário de almoço agora. Vamos primeiro pra sua casa, pra te deixar, e eu volto pra Dream, pra deixar os equipamentos. Podemos nos ver mais tarde, acho até melhor, assim podemos pegar a luz do fim do dia pra fazer o take no seu apartamento. Ou você tem algum compromisso?” perguntou e ele mordeu o lábio inferior.

 

“Tenho um show hoje… você tem alguma coisa pra fazer à noite? Acho que um bastidor de show pode ser bom.” falou e ela sorriu.

 

“Deu sorte, hoje estou com a noite livre.” falou e ele sorriu largamente.

 

Quando desceu, DC entrou em seu prédio sorridente e animado, porém, ao entrar em seu apartamento vazio e silencioso, seu sorriso foi morrendo.

 

“Saudades dos meus avós…” balbuciou.

 

                *

Cascão, sonolento, tocou a campainha do apartamento ao lado do seu e sorriu assim que a porta se abriu.

 

“Oi, Agnes. Queria me ver?” perguntou e ela assentiu.

 

“Sim, temos muito o que conversar. Entra. Tira os sapatos!” falou e ele assentiu enquanto ficava descalço.

 

A moça respirou fundo enquanto andava de um lado para o outro.

 

“Temos um problema enorme em mãos. Um casal precisa de mais… contato físico, e é aí que vive o problema.” falou e ele assentiu.

 

“Foi o que eu disse. Não desse jeito, mas disse.” comentou.

 

“Sim, então… o que você acha que podemos fazer pra melhorar isso?” perguntou.

 

O rapaz pensou por um instante.

 

“Com quem é mais próximo, você tem problemas com toques?” perguntou e ela negou.

 

“Não, mas não significa que eu goste de gente relando em mim o tempo todo.” respondeu.

 

“Então acho que se ficarmos mais próximos, pode funcionar. Isso leva um tempo, mas como somos vizinhos… pode funcionar.” respondeu.

 

“Acha que seria muito demorado?” ela perguntou.

 

“Ah, sei lá. Que dia seus pais vão dar as caras?” o rapaz perguntou.

 

“Amanhã. Eles adiantaram a vinda.” respondeu e Cascão arregalou os olhos.

 

“AMANHÃ? E você ‘tá calma assim?!” perguntou.

 

“Calma? Eu nem dormi essa noite!” falou e ele suspirou.

 

“Tá bom, tá bom… isso pede medidas drásticas. Acho que o jeito mais rápido de ficar próximo de alguém é indo junto em rolê duvidoso, ‘tá livre hoje à noite?” perguntou.

 

Agnes arregalou os olhos.

 

“Ou, ou, ou! Que papo é esse de rolê duvidoso?” perguntou.

 

“Desculpe, Agnes, mas se amanhã a gente já vai precisar parecer íntimo, não vai dar tempo de ir com calma. Aonde você prefere ir? Tem bailão, festa e bar que eu consigo ir numa boa.” perguntou.

 

Agnes mordeu a bochecha, mas precisou aceitar a proposta.

 

“Vou escolher o bar, parece ser o menos pior.” respondeu e ele riu.

 

“Não se preocupe.” falou.

 

Após sair da casa, recebeu um pedido de chamada de vídeo.

 

“Oi, casada!” cumprimentou e a pessoa riu.

 

“Cascão! Saudades de você!” ela disse.

 

“Também ‘tô com saudades de você, Magali. Como estão as coisas aí na gringa?” perguntou.

 

“Ótimas! Comidas ótimas, lugares lindos, um marido perfeito… mas nunca imaginei que iria sentir saudades de ser sua vizinha.” falou e ele riu.

 

“Sei que sou inesquecível. E aí? A que devo a ligação?” perguntou.

 

“Eu li sua mensagem sobre ter entrado no tinder pra alugar sua amizade, é sério isso?” perguntou e ele riu.

 

“Tem funcionado mais do que você imagina. ‘Tô com cliente hoje pra daqui a pouco e pra noite. Mas essa segunda é meio complicada.” revelou.

 

“Por quê?” ela perguntou.

 

“Sou um namorado fake, mas ela não gosta de contato físico. O foda é que descobri agora que é amanhã que os pais dela colam aqui e a gente tem zero intimidade.” respondeu.

 

“Você ter zero intimidade com alguém me surpreende. Você é sem vergonha.” a moça disse e ele riu.

 

“Nem sou, sou um garoto tímido.” brincou e ela negou com a cabeça.

 

“Mas o que você vai fazer então?” perguntou.

 

“Vou levar ela no Bidu.” falou e Magali riu alto.

 

“No Bidu?! Cascão, vai traumatizar a menina!” alertou.

 

“Magá, se alguém não ficar íntimo num lugar daqueles, não vai ficar nunca. Se fosse outra situação, eu levaria ela num lugar mais tranquilo, mas é emergencial.” respondeu.

 

“Boa sorte pra ela. Como ‘tão as meninas? Milena e Mônica. Elas comentaram sobre ser tenso dividir apê com a tal Agnes.” perguntou.

 

“A Mônica eu nunca vejo, acho que se troquei duas palavras com ela foi muito. A Milena a gente dá rolê junto, inclusive foi no Bidu que nos aproximamos mais. E eu conheci a Agnes, é ela a minha namorada falsa.” falou e a outra escancarou a boca.

 

“Oi? Mônica me disse que ela é cheia de manias de limpeza e tem até hipocondria. Você é porco, Cascão, ela vai ter um treco!” exclamou.

 

“Que porco o quê! Eu sou limpinho! E ela tem tendências hipocondríacas, é diferente. Magá, vou ter que desligar agora, meu cliente da tarde me chamou pra ajudar ele a pintar a parede do apê que ele tem que entregar.” falou e ela riu.

 

“Os seus serviços englobam o que exatamente? Ele podia ter contratado um pintor!” perguntou.

 

“Ele é desses malucos que gosta de pôr a mão na massa e os pintores não queriam porque iria descontar do pagamento. Enfim… vou nessa.” falou.

 

Ao desligar, suspirou.

 

“Acho que vou filtrar mais. Daqui a pouco ‘tão me contratando pra ser marido de aluguel…” negou com a cabeça.

 

As horas demoraram a passar até a coloração do céu ganhar um tom alaranjado, indicando o início da noite, quando muitas coisas podiam acontecer.


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