Almejar escrita por sam561


Capítulo 1
Capítulo I - Interesses


Notas iniciais do capítulo

Meus amigos, eu não faço ideia de onde eu tirei esse plot, mas como veio... Bem-vindos à minha nova fanfic! Com direito a crackshipps que nunca trabalhei! Espero que se divirtam!


Boa leitura e tem recadinho nas notas finais! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/812741/chapter/1

Em meio aos arranha céus e barulho da cidade, abruptamente, o escuro cômodo tornou-se iluminado pelos quentes raios de sol de meio dia, que pareciam queimar a pele do rapaz que dormia até então.

 

"Que isso?!" sua voz soou rouca antes de abrir os olhos castanhos e demorar alguns segundos para reconhecer a silhueta de seu irmão.

 

"Levanta, Preguiçoso! Temos uma reunião daqui uma hora e meia, mais ou menos." a voz soou dele severa. 

 

"Hã? Reunião? Que reunião?" perguntou.

 

"Você sabe que, desde aquele dia, tua carreira anda meio mal das pernas, então achei um jeito de tentar limpar sua imagem!" respondeu mexendo no guarda-roupas.

O outro se sentou e ajeitou os cabelos negros que caíam em seus olhos após se espreguiçar.

"O que você achou?" perguntou.

"Você vai abrir suas portas para um pequeno documentário." respondeu e o outro riu.

"Tá me zoando, Nimbus?" perguntou enquanto era acertado por uma camiseta preta e depois uma calça jeans.

"Nunca falei tão sério com você, irmãozinho." respondeu.

"O que te faz achar que eu vou expor minha vida assim? Isso é um..." reclamava até Nimbus interrompê-lo.

"Um investimento na sua carreira, Do Contra! Que está por um fio! Você precisa dar a volta por cima!" o irmão falou. 

 

"Dar a volta por cima expondo a minha vida? Não sei se quero isso." negou-se enquanto se levantava. 

 

Nimbus caminhou até ele.

 

"Não tem que querer, Maurício! Você vai fazer! Você pode ser o subversivo que for, mas isso não muda a sua conta bancária cada vez menor." exigiu severo.

 

"Não sou materialista." Maurício se defendeu.

 

"Mas está endividado e sem a grana dos nossos pais! É sua última esperança, então não destrua tudo! Não é algo que vai afetar apenas você, e sim todos que trabalham com você e estão contando com uma boa notícia!" o mais velho explicou sério.

 

O mais novo suspirou, podia ser muitas coisas, mas injusto não era. 

 

"Tudo bem. O que eu preciso fazer?" perguntou. 

 

"Vamos ver na reunião, mas vou tentar não te expor 100%, talvez uns 85,90." Nimbus falou e o mais jovem bufou.

 

"Que droga!" exclamou. 

 

Maurício era um conhecido e talentoso músico que havia acabado de passar por um escândalo, coisa que repercutiu negativamente  em sua fama. Tamanha era a sua personalidade subversiva que era conhecido como Do Contra, mas, ultimamente, vinha repensando se este rótulo ainda fazia sentido em sua vida, assim como outras coisas.

 

                  X

Os cabelos negros de Do Contra, agora ajeitados em um topete, se moviam com o vento que entrava pela janela do uper. Olhou para o reflexo de seu celular e ajeitou um dos muitos adereços em suas orelhas e subiu seus óculos de grau.

 

Olhou pela janela sentindo-se entediado. Estava no bairro Limoeiro, um dos mais tradicionais e ricos da cidade, onde também viviam seus pais, os quais dificilmente visitava.

 

"Não me diga que estamos indo visitar nossos pais..." perguntou ao irmão, que riu.

 

"Não, estamos indo pra Dream." respondeu e o outro franziu o cenho.

 

"Dream? E o que seria isso?" perguntou.

 

"Esse prédio aqui." apontou para o edifício em que o carro havia estacionado.

 

Após se despedirem do motorista e descerem do carro, Do Contra reparou no edifício comercial cuja fachada minimalista mascarava o que viu quando entrou, o mais puro e desnecessário luxo. Encarou seu próprio reflexo no chão encerado e se irritou com a música ambiente. Havia odiado o lugar.

"Aqui é exatamente o quê?" perguntou.

 

"Um edifício que tem como principal objetivo a eternização de momentos especiais, como nos mais belos sonhos. Seja por fotos, festas, eventos especiais e por que não todos eles? Olá, Maurício! É uma honra ter uma estrela em nossa empresa!" uma voz masculina, forçosamente amigável, soou.

"Oi. Você é...?" perguntou, estendendo a mão para o homem loiro e pálido.

 

"Grózny. Ivan Grózny. Sou o gerente do setor fotográfico. Vamos até minha sala!" respondeu.

 

O caminho foi silencioso por parte de Do Contra, que não estava interessado na conversa entre o irmão e o fotógrafo bajulador. Na sala pequena, porém ventilada e luxuosa, Ivan começou a falar.

 

"Muito bem, pelo que Nimbus me disse, você é um rapaz um tanto... excêntrico." começou.

 

"Depende do que está considerando como excêntrico. Eu sou um músico com ideias originais." DC respondeu.

 

"Claro, claro! O documentário sobre você tem como objetivo resgatar sua carreira mostrando que é gente como a gente, mesmo sendo uma estrela em ascensão. Mas... essa sua excentricidade pode ser um empecilho. Uma vez que foi graças a ela que... bom... você caiu nesse buraco." falou e Do Contra riu, mas não disse nada.

 

"Então, senhor Grózny, o que pode ser feito?" Nimbus perguntou.

 

Ivan riu.

 

"Pelo valor que estão dispostos a investir e pela natureza do trabalho, e do próprio Maurício, sugiro que seja algo menor. Tenho aqui uma fotógrafa que pode fazer esse trabalho de te acompanhar por um tempo, escrever um pouco sobre aquilo que você tem de... comum, e tirar fotos e gravar vídeos que lhe favoreçam." falou.

 

Nimbus franziu o cenho.

 

"Fotógrafa? Mas quem faz documentários não são jornalistas?" perguntou.

 

"Nimbus, nós até podemos fazer um orçamento com um jornalista incluso, mas... poderia passar do valor que conversamos. Sabe como é... a Dream está disposta a atender todos os pedidos, inclusive os de menor orçamento." o outro respondeu.

 

Do Contra não evitou o riso.

 

"Por mim está ótimo! Sua fotógrafa será muito bem recebida, mas não garanto que será um trabalho fácil. O que está propondo é muito difícil de alcançar se tratando de um cara confuso como eu." respondeu.

 

"Ela dá conta. Podemos fechar o acordo de um mês, para poder ter o serviço mais completo possível a um bom preço. Amanhã vocês conhecerão a fotógrafa, ela está trabalhando no momento." respondeu rindo novamente.

 

Após isso, o contrato foi assinado e os dois deixaram o prédio.

 

"Que cara ridículo! Aposto que essa fotógrafa vai ter que fazer tudo sozinha." Do Contra disse.

 

"Ai, DC! Não começa! Você realmente não 'tá podendo gastar muito. Então seja legal com a fotógrafa e colabore! Seja você mesmo em 50% do tempo." Nimbus pediu e o outro bufou.

 

                               * 

Enquanto isso, caminhando pelo setor matrimonial do prédio, o mais lucrativo da empresa, uma moça de olhos claros e compridos ondulados cabelos loiros bebia seu chá gelado enquanto lia atentamente a uma publicação em seu instagrão. 

 

"Como assim essa garota vai casar antes de mim?!" questionou alto, chamando a atenção de alguns funcionários que passavam por ali. 

Uma dessas funcionárias era uma moça de curtos cabelos negros e dentes levemente avantajados. A mesma que a loira olhou. 

 

"Ei, Mônica, vem cá!" chamou abanando a mão e Mônica foi até ela. 

 

"Pode falar, Carmem." falou bloqueando seu tablet de trabalho.

 

"Você vai ser minha wedding planner." a loira avisou. 

 

A outra piscou um olho de cada vez.

 

"Desculpe... Acho que entendi errado. Você disse que quer que eu seja sua wedding planner?" repetiu e a outra assentiu.

 

"Isso! 'Tá vendo essazinha aqui?" perguntou virando o celular para ela ver. 

 

"O que tem?" Mônica perguntou. 

 

"É uma das minhas haters. E ela não pode, em hipótese alguma, casar antes de mim. Então quero que você planeje meu casamento o mais rápido possível! Em um mês está ótimo." respondeu. 

 

A morena arregalou os olhos. 

 

"Um mês? Carmem... Com um mês você não consegue nem marcar hora pra experimentar um vestido decentemente, isso sem falar das várias coisas necessárias e burocráticas!" exclamou. 

 

"Mas você vai conseguir, afinal, é uma das melhores planners daqui. Ah, aproveita e liga pro Cebola dizendo que hoje temos um jantar, tenho que pedir ele em casamento. Enviei o contato pra você." falou com um celular em mãos. 

 

Mônica ainda estava boquiaberta. 

 

"Carmem! Um casamento não é uma coisa banal assim! É uma coisa muito mais..." falava até a outra interromper. 

 

"Mônica, não é porque todo mundo acredita nessa baboseira de ser o dia mais importante da vida que eu levo isso a sério. Tenta reservar uma mesa boa num lugar bonito." Carmem falou enquanto saía. 

 

Carmem era a filha dos donos da empresa. Sempre estava por lá e, diferente do que pensavam, de fato cumpria com suas obrigações, mas não seguindo a quantidade correta de horas de trabalho e presença, tendo os prazos e exigências bem menos severos que os demais. 

 

Formada em Administração por pressão dos pais, era uma influencer de moda e estilo de vida com muitos seguidores. Namorava há dois anos e ostentava fotos de um relacionamento perfeito nas redes sociais, mesmo sendo uma realidade diferente.

 

                                                             X

A morena respirou fundo enquanto ia até a sua sala. Estava longe de ser uma secretária de Carmem, mas como era da filha do dono que se tratava, abriu uma exceção, como muitos ali faziam.

 

"Um casamento em um mês?! Essa menina é doida! Tenho pena do noivo..." comentou enquanto pegava seu celular. 

 

Mônica fazia parte do setor matrimonial do prédio, era uma ótima wedding planner. Havia trancado o curso de Direito para seguir sua paixão: trabalhar com eventos, principalmente amorosos. Apaixonada por casamentos, viu ali a chance de deixar o famoso grande dia mais belo enquanto sonhava com o seu, que parecia cada vez mais distante de se concretizar. 

 

 "Oi, Cebolácio! Aqui é Mônica, a wedding... espera aí... não posso falar que sou wedding planner, ele ainda vai ser pedido em casamento. Mas então vou ter que dizer que sou o quê? Secretária da metida? Eu devo ter jogado pedra na cruz!" reclamou enquanto cancelava o áudio. 

 

Não acompanhava as redes sociais de Carmem e dificilmente saía de sua sala, então nunca havia visto o namorado da loira. Então não sabia o que esperar.

 

"Oi, Cebolácio. Aqui é a Mônica, assistente da Carmem, e ela me pediu pra avisar que quer jantar com você hoje. Tem alguma preferência de lugar?" mandou o áudio. 

 

Olhou para seu notebook, cheio de planilhas com o que devia fazer em um outro casamento, e suspirou ao pensar em como se desdobraria para encaixar o de Carmem, o qual, querendo ou não, poderia impactar em sua carreira e futuro na empresa.

 

"Eu devia ter feito aquele concurso que minha tia mandou o edital... não estaria passando por isso!" exclamou negando com a cabeça.

 

Girou sua cadeira de rodinhas e encarou a janela, o dia estava bonito em meio aos vários prédios da cidade.

 

"Será que quando eu noivar eu vou agir que nem a Carmem? Isso se eu noivar! Nem pretendente eu tenho!" perguntou-se. 

 

No mesmo instante, seu celular vibrou. Era a resposta do namorado de Carmem. 

 

"Gosto de comida japonesa." leu a resposta.

 

"Seco que nem ela. Cruzes! Nem me adicionou!" respondeu enquanto apenas mandava uma joia para o contato sem foto.

 

"Agora vai eu achar um restaurante japonês com o selo Carmem approves. Segue seu sonho e seja wedding planner, eles disseram. Vai dar bom, eles disseram!" negou com a cabeça.

                                                            *

Enquanto isso, no refeitório da faculdade do Limoeiro, um rapaz de cabelos curtinhos e argola na orelha respirou fundo enquanto almoçava com o amigo.

 

"Cara... esse meu cartão só pode ter sido clonado! Ou eu achei que era um herdeiro porque olha... Eu não faço ideia de como vou pagar isso!" exclamou. 

"Tu não tinha tirado uma grana naquele bico lá?" um rapaz de cabelos negros frizzados em cinco fios e undercut lateral perguntou após engolir o alimento. 

 

"No mesmo dia acabou, Cebola. Justamente por isso eu meio que estourei o cartão. O gás da rep' acabou; teve rolê que eu merecia ir; teve aquele evento geek que a gente foi que eu tive que comprar a Figura de Ação do Capitão Pitoco de edição limitada; teve delivery que eu também merecia... Como só isso chegou nesse valor todo?" interrogou. 

 

Cebola riu.

 

"Foda isso, Cascão! O que pensa em fazer?" perguntou. 

 

"Sei lá. Não posso sujar meu nome de novo, foi mó trampo pra limpar! Mas enfim... Era mensagem da patroa? A voz 'tava diferente." Cascão mudou o foco. 

"Não, era a assistente dela. Carmem quer um jantar hoje, mas eu queria mesmo era jogar um LOL. Semana toda me ferrando com prova, merecia um descanso." reclamou. 

 

O amigo suspirou.

 

"Mano, eu acho errado você ficar com a mina sem gostar dela. Ela é legal." comentou. 

 

"Eu gosto dela. Só que não como deveria." Cebola respondeu. 

 

"E acha isso certo?" o outro perguntou. 

 

"Ela possibilita um estilo de vida que eu gosto de ter, então... Eu continuo." respondeu e o amigo negou com a cabeça. 

 

"Falando assim, parece até que ela 'tá te pagando pra ser o namorado." comentou e o outro riu. 

 

"É meio que isso. Vou nessa, cara. Eu até te emprestaria a grana pra resolver seus B.O, mas eu também 'tô liso e não acho que conseguiria com ela." falou saindo em seguida. 

 

Cebola, cujo nome era Cebolácio, era um estudante de Engenharia de Software. Dono de notas e um desempenho invejáveis, conquistara mais o coração dos sogros que da namorada.

 

Cascão ficou pensativo sobre a última frase que ele mesmo disse, tanto que teve uma ideia. 

 

"É uma coisa escrota, mas... Estou desesperado." falou enquanto pegava seu celular e baixava um aplicativo. 

 

Cascão, cujo nome era Cássio, era um estudante de Educação Física e ótimo jogador de futebol, que sofria para conseguir ingressar em um time. Solteiro há pouco tempo, havia se ancorado em seu cartão de crédito até demais para esquecer da ex, e agora o resultado estava em seu aplicativo de banco: uma fatura alta e um saldo baixo.

 

"Espero que dê certo!" desejou enquanto criava seu perfil.

 

                                      *

Mais tarde, de volta à Dream, em especial no setor de fotografia, uma moça negra de volumosos cachos fotografava um ensaio intitulado “vida na selva”, em que o casal de clientes estava nu.

 

Por mais que o nu artístico não fosse algo tão incomum, todos os fotógrafos experientes do prédio haviam fugido do casal em questão, uma vez que eram antigos clientes cujo nível de exigência era tão alto que demissões ocorreram por conta deles.

"Agora... acho que uma foto comendo o fruto proibido pode ficar legal." a fotógrafa disse olhando para a última foto tirada.

 

"Adorei a ideia! Só vai faltar a cobra." a cliente comentou tirando uma risada do parceiro.

 

"Tenho minhas dúvidas se faltou mesmo. O cara 'tá duraço!" um dos ajudantes sussurrou para a fotógrafa, que reprimiu um riso.

 

"Acho que devemos ter alguma cobra de pelúcia de um ensaio de aniversário que teve esses dias e podemos pedir uma maçã pros nossos colegas do buffet. Vamos dar uma pausa para beber uma água rapidinho enquanto pegamos as coisas." comentou e o casal concordou enquanto pegavam seus roupões.

 

"Vou ver se encontro." o ajudante disse saindo em seguida.

 

"Vamos descer lá naquela cantina, meu bem. 'Tô morrendo de fome! E, querida, para uma iniciante, está se saindo muito bem. Eu já ia reclamar com seus superiores por ter nos colocado com uma novata, mas sabe que estou gostando da liberdade que você nos deixa ter?!" a cliente disse.

 

A outra sorriu amarelo.

 

"Na verdade, eu não sou uma novata. Eu só não estou aqui nos horários mais procurados... ou temas mais populares." esclareceu.

 

"Mesmo? Nunca nem te vi por aqui, e olha que sou cliente há anos. Enfim... espero gostar das fotos, do contrário... tenho influência suficiente para que fique ainda menos por aqui." falou com um sorriso antes de sair.

 

A fotógrafa olhou surpresa.

 

"Não esquenta com ela, Milena. Ela é assim com todo mundo. Não é por acaso que ninguém quer fotografar ela." uma das ajudantes comentou.

 

"Queria ter esse poder de negar trabalho." comentou e a outra riu.

 

De repente, Ivan apareceu.

 

"Milena, minha querida! Confesso que achei que iria desistir, mas vi que é uma moça corajosa. Então tomei a liberdade de te escalar para um trabalho grandioso, que pode alavancar e muito a sua carreira aqui dentro." ele falou. 

 

"Mesmo? E o que é?" perguntou e o outro não conseguiu conter uma risada. 

 

"Amanhã eu te falo. A propósito, já mandei para seu e-mail algumas fotos para editar. Pessoal, não se esqueçam de desinfetar tudo que o casal esteja se encostando." ele disse e logo começou a dar mais ordens. 

 

A moça franziu o cenho para aquilo, mas decidiu voltar seu foco para as fotos já tiradas.

 

Milena era estudante de Medicina Veterinária que fotografava nas horas vagas a fim de completar sua renda, mesmo que já fotografasse há bastante tempo.

 

O fato de ser uma fotógrafa que não estava no prédio com tanta frequência como os demais fazia com que seu supervisor, que não gostava dos elogios que ela sempre recebia, sempre a colocasse nos trabalhos que ninguém queria, o que dificultava as coisas.

 

                                                                * 

Perto da faculdade, em uma pequena loja de artigos geek chamada GGeek, um rapaz de pele negra e dreads nos cabelos conversava com um homem de camiseta de anime e vários mangás em mãos e com uma mulher também com roupa com estampa de anime, mas que levava jogos de videogame.

"Você precisa tryhardar mais, mano. É disso que seu canal precisa!" o rapaz opinou.

 

"Vou fazer isso no próximo jogo que gravar." o dono dos dreads prometeu.

 

"E a Keika, hein? Ela sumiu do seu squad. Achava fofo ver sua namorada jogando com você!" a moça perguntou.

 

O moreno forçou um sorriso.

 

"Ah... A Keika e eu demos uma afastada. É que a gente terminou, sabe?" respondeu e o casal se surpreendeu.

 

"Jura? Nossa... Vocês eram um casal tão bonito... Eu me inspirava até! Por que vocês terminaram?" o cliente perguntou.

 

"Vimos que as coisas não estavam dando certo e terminamos numa boa." respondeu.

 

"Ah... Que pena. Mas torço para que vocês voltem! Vocês eram muito perfeitinhos juntos!" a outra comentou e ele forçou um sorriso.

 

"É... Bom, voltando às compras de vocês, desejam mais alguma coisa? Temos novas Figure Actions de Cosmo Guerreiro." falou.

 

"Vamos deixar pra outro dia, já falimos hoje." disseram e o outro forçou um riso.

 

Após terminar de pagar, o casal saiu e a loja ficou silenciosa, tudo que a mente do rapaz não precisava.

 

"Nikolas! Me ajuda aqui, por favor!" uma voz feminina o despertou.

 

"Por que você ‘tá carregando uma caixona dessas sozinha? Onde que tava?" perguntou se aproximando da funcionária.

 

"Entregaram hoje e pedi que os meninos colocassem ali atrás pra eu limpar. Essas caixas vieram a poeira pura, Nik!" falou recuperando o ar.

 

"Ah, essas são as edições de colecionador que comprei esses dias. Você limpou tudo sozinha? Podia ter me chamado!" ele falou ao ler os dados de entrega presos na caixa.

 

"Sabe que não gosto de sujeira e você ‘tava ocupado com as vendas online. Bom, vou limpar os expositores, aquele casal porco não sabe ver só com os olhos." reclamou indo até lá.

 

Nikolas riu e começou a ajeitar alguns mangás, que estavam todos misturados. Quando seu celular tocou, apoiou o aparelho entre o ombro e o rosto.

 

"Oi, pai!" atendeu, ela tinha toque personalizado.

 

"Nikolas, meu filho, qual dos convites das bodas você escolheu? Sua mãe quer entregar pessoalmente." o pai falou.

Nik suspirou.

 

"Nem consegui escolher ainda, 'tô atolado de coisa aqui. Não é mais fácil contratar um wedding planner? Eu não quero estragar as bodas de vocês." respondeu.

 

"Nikolas, é importante pra sua mãe que seja algo da família pra família! E você prometeu que cuidaria de tudo!" o outro lembrou.

 

"Sim, mas não imaginei que minha vida tomaria o rumo que tomou." respondeu.

 

"Vai ser bom pra você! Vai poder esfriar a cabeça! Quebra essa pro seu velho! Sem contar que sabe quanto custa um wedding planner e essas coisas de casamento? Se você usa a palavra casamento, tudo fica o triplo do preço! Uma roubalheira! É uma coisa simples, mas cheia de amor." exclamou.

 

O rapaz suspirou.

 

"Tá. Eu vou olhar de novo os convites e ver o que faço com as outras coisas!" cedeu.

 

"Sabia que podia contar com você, filhão! Falou!" o pai desligou.

 

Nikolas respirou fundo e seu olhar se perdeu. O rapaz estava tão perdido em seus pensamentos que quase se assustou com uma mão tocando em seu ombro. 

 

"Oi, Nik!" cumprimentou e ele sorriu ao se virar.

 

"Carmem! O que a traz aqui?" perguntou. 

 

"Um nerd entende outro nerd, então preciso da sua ajuda. Eu decidi pedir o Cebola em casamento, então tenho que pelo menos tentar agradar nesse pedido. A propósito, o casamento vai ser daqui um mês, então vai deixando sua agenda livre." respondeu e ele franziu o cenho.

 

 "O quê? Você quer casar com o cara que você só namora pra irritar seus pais? Não acha que isso vai dar merda? Em só um mês ainda por cima!" perguntou e ela deu de ombros. 

 

"Não foi pra irritar, foi pra eles pararem de me irritar sobre meus namoros com "gente sem futuro". Queriam um nerd na família e conseguiram, o importante é me deixarem em paz." lembrou.

 

"Beleza, mas precisa casar?" perguntou e a amiga deu de ombros.

 

"Eu não quero perder pra irritante da Amanda!" revelou e ele riu. 

 

"Ah, é uma competição. Entendi. Olha... eu acho que a Agnes vai saber te atender bem melhor que eu, só não sei onde ela 'tá." falou olhando em volta.

 

"Eu não quero ser atendida pela Agnes, quero ser atendida pelo meu melhor amigo!” a loira exclamou. 

 

"Justamente por isso! Não sei se quero ver você estragando sua vida desse jeito." falou pegando a caixa e indo para o estoque, com Carmem em seu encalço. 

 

"Qual foi, Nikolas?! Você sabe que, pra mim, é importante estar no hype!" falou e ele suspirou. 

 

"Sei, mas um casamento é coisa séria." afirmou.

 

Carmem revirou os olhos.

 

"Nem é tudo isso! Pra mim, é só mais uma festa e uma convenção social." falou e ele riu.

 

"Pode até ser, mas você precisa gostar de verdade da pessoa que vai dividir a vida, não estamos mais no século do casamento forçado. Tenho minhas dúvidas sobre você gostar mesmo do Cebola." lembrou e ela riu.

 

"É até fofo ver que você acredita no amor. Mas eu cresci em uma empresa que mexe com casamentos, Nik. E, vai por mim, o amor nem sempre é o principal motivo. Riqueza, gravidez indesejada, mentiras, fama... Todos aparecem antes, só falam que é amor pra ficar bonito na legenda do insta’ e nos votos, muitas vezes copiados da internet." explicou.

 

Nikolas riu.

 

"Mas ainda sim precisa de planejamento. E isso não se faz em um mês." comentou.

 

"Minha wedding planner se vira." ela falou.

 

O moreno suspirou, era impossível argumentar contra Carmem.

 

"Já vi que é impossível te fazer mudar de ideia, mas ainda acho extremo. Quando você vai pedir?" perguntou.

 

"Hoje. Já até comprei as alianças." a loira falou tirando a caixinha aveludada do bolso e abriu para mostrá-lo, era uma aliança bonita. 

 

"E já fez o discurso do pedido, Influencer? Seus fãs vão querer saber. Ainda mais por você ter feito o pedido." perguntou. 

 

A amiga sorriu largamente. 

 

"Também estou aqui por isso. Preciso da sua ajuda para fazer um pedido convincente e nerd." falou e ele gargalhou.

 

"Não sou um cara apaixonado, Carmem. Ainda mais pelo Cebola. Não sei se posso te ajudar." respondeu. 

 

"Você é meu padrinho, meu fiel escudeiro. Vai ter que me ajudar." ela falou. 

 

"Eu sou seu padrinho? Cadê o convite formal que vem com presente?" perguntou e a moça riu.

 

"Eu ainda vou fazer, relaxa. Mas você tinha alguma dúvida disso? Você meio que faz parte do meu relacionamento, eu te conheci numa festa que o Cebola deu." respondeu.

 

"Tá, mas não são as madrinhas que são as fiéis escudeiras da noiva?" perguntou.

 

"Também, mas este caso é outro. Vaaai! Eu preciso da sua ajuda! O pedido é hoje e eu não sei o que dizer. Eu faço o que você quiser!" a loira pediu.

Nik suspirou.

 

"Estou trabalhando." falou e a amiga revirou os olhos.

 

"Ah, tenha dó, Nikolas! A loja é sua! E aqui está às moscas hoje. Até hoje não entendo como um gamer e futuro engenheiro de software preferiu ter loja física em vez de online." falou. 

 

O rapaz pensou por um instante, até ter uma ideia.

 

"É as duas coisas! E eu posso te ajudar, mas tenho um pedido e uma exigência!" falou e ela assentiu.

 

"Quais?" perguntou.

 

"Se a decoração for ter coisa geek, minha loja vai ganhar preferência. O aluguel daqui não se paga sozinho." falou e ela riu.

 

"Eu não sei como vai ser a decoração, mas é uma boa ideia colocar alguma coisa geek. Obviamente que seria daqui." respondeu.

 

"Ótimo! E preciso da sua ajuda com as bodas dos meus pais. Eles querem que eu prepare tudo, mas eu não sou um cara suficientemente apaixonado pra isso." respondeu.

 

"Eu não 'tô cuidando nem do meu casamento e quer que eu te ajude com as bodas dos seus pais?" a moça perguntou e ele riu.

 

"É pegar ou largar." respondeu e ela deu de ombros.

 

"Tá, eu te ajudo. Mas temos que começar a mexer com o pedido agora!" exclamou.

 

"Beleza, vou dispensar a Agnes primeiro e você vai me ajudar a fechar a loja!" exclamou e ela riu. 

 

"Pode contar comigo." falou e ele assentiu.

 

Carmem e Nikolas eram amigos há um tempo. Curiosamente, havia sido durante uma festa que Cebola dera e convidara o colega de trabalho de uma das disciplinas feitas que eles se conheceram e, desde então, não se desgrudavam. Nik, além de um estudante de Engenharia de Software, era um famoso gamer, que há pouco havia expandido sua loja online para um espaço físico, porém, como ainda era o início, as coisas ainda estavam lentas.

 

Além disso, há pouco havia passado por uma forte desilusão amorosa, que o deixou tão mal a ponto de ser recomendado que encontrasse uma nova ocupação, que foi abrir a loja física.

 

                                                          *

Agnes, uma garota de cabelos loiros e óculos de grau, era uma estudante de Biologia e única funcionária da GGeek além do dono. Com fortes tendências hipocondríacas, gostava de tudo limpíssimo, então era fácil para si manter tudo muito bem conservado.

 

Dava-se bem com Nikolas, que nunca a julgara pelo seu jeito, e sim a acolhera. Porém, irritava-se com a maioria dos clientes, que teimavam em tocar em tudo que era protegido por vidros, deixando suas gordurosas  impressões digitais.

 

“Agnes, vou fechar mais cedo hoje. O movimento está baixo e tenho que resolver umas coisas. Pode ir pra casa.” liberou e ela sorriu.

 

“Obrigada, Nik! Vou aproveitar pra faxinar minha casa! Agora que moro com mais duas pessoas… sempre suja.” falou e ele riu.

 

“Consigo imaginar. Até amanhã!” despediu-se e ela sorriu ao ir pegar suas coisas e deixar o local.

 

Não demorou para chegar em casa, morava em um apartamento perto do emprego e dividia com mais duas garotas, sugestão essa de seu terapeuta, para tentar conviver com mais pessoas e seus germes.

Enquanto pegava suas chaves, trombou com um de seus vizinhos, que parecia ter corrido uma maratona ao julgar pelo suor.

 

“Opa! Mal aí!” desculpou-se e ela o olhou enojada.

 

“Ai, credo… você sempre ‘tá suado, moleque!” comentou fazendo uma careta.

 

“Eu pratico esportes, vizinha! Isso é comum. Se fizesse isso mais vezes, talvez seria muito mais feliz.” ele comentou.

 

“Ah… e quem fica feliz em ter o corpo todo colando, cruzes! Com licença!” falou e ele revirou os olhos enquanto entrava no apartamento ao lado, que era uma república masculina.

 

Ao abrir a porta, retirou os sapatos e entrou, passando o álcool em gel que ficava na entrada e deixando os sapatos em uma pequena sapateira que ficava ali, só então abriu uma mensagem de sua mãe e sentiu o desespero tomar conta de si.

 

"Agnes, ótima notícia! Vamos te visitar e finalmente conhecer seu misterioso namorado." dizia o áudio enviado pela mãe.

 

Ficara tão incrédula que por muito pouco o aparelho não caiu de sua mão.

 

"E agora? E agora? E AGORA?!" interrogou com as mãos nos cabelos.

 

Desbloqueou seu celular e trocou a conversa.

 

"Penha! Eu sei que aí na França o horário é outro, mas eu preciso da sua ajuda! Meus pais vêm me visitar pra conhecer meu namorado. Só que eu não tenho um namorado! O que eu faço?" mandou um áudio.

"Sei lá, Agnes. Entra no Tinder." sua amiga respondeu com a voz risonha, estava com alguém.

 

"Como eu entro em Tinder, Penha? Não me envolvo com alguém desse jeito! Vai saber o tipo de germes que esses malucos do Tinder têm!" exclamou.

 

"Então vai ter que falar a verdade pros seus pais." a outra respondeu.

 

"Não tem como! Estou há meses mentindo que tenho namorado. Não tem mais como voltar atrás!" Agnes exclamou.

 

"Então vai ter que dar seu jeito. Tenho que ir agorra, miga. Boa sorte." ficou offline.

 

Agnes deitou no sofá e apertou os olhos embaixo dos óculos, quase os deixando cair.

"Não tenho opção! Vou ter que tentar entrar naquela nojeira de Tinder! Eu me odeio!" exclamou enquanto pegava seu celular.

 

Assim que baixou o aplicativo, sentiu o corpo formigar.

"Ah... Eu não acredito que vou fazer isso!" comentou enquanto procurava alguma foto sua.

 

Após fazer seu perfil e começar a procurar algum rapaz em potencial, encontrou alguém cujo perfil chamou sua atenção, mesmo sem prestar atenção na foto do rapaz de terno.

 

"Está pensando em ir pra aquele rolê e está sozinho? Precisa de companhia pra apenas uma noite solitária? Precisa de alguém pra assistir seu TCC, seu recital de ballet, sua peça de teatro etc., etc. e não tem quem convidar? Seus problemas acabaram! De maneira segura, posso ser seu amigo de aluguel! Não busco sexo e nem mesmo vínculos amorosos, apenas amizade de aluguel. Chama!" leu de cenho franzido.

"Tosco, hein? Mas bem que essa coisa de amigo de aluguel pode funcionar... Só espero que não seja um doido!" falou enquanto deslizava o dedo até lá.

 

Agnes vinha melhorando sua hipocondria, tanto que conseguia conviver com pessoas sem muito alarde em relação aos seus germes, mas seus pais cobravam tanto por uma "normalidade" que a fizeram mentir que sua obsessão por limpeza estava tão melhor que estava até namorando.

 

A mentira ia bem até aquele áudio. E a última coisa que queria era ter que lidar novamente com os julgamentos. Então estava disposta a tudo, inclusive se submeter a um de seus grandes medos: conhecer um estranho, com todos seus germes e uma possível higiene duvidosa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lembrando que não acompanho a terceira série e que reaproveito mudanças que a própria revista usa, como instagrão e uper

Como já é de praxe, vou (re) apresentar personagens que alguns podem não conhecer e trazer algumas informações:

Nikolas: é um personagem geek e gamer que apareceu na edição 100 de TMJ, não sei se o nome dele é de fato Nikolas, mas vamos imaginar que é

Milena: é personagem relativamente recente que faz parte de Turma da Mônica, Turma da Mônica Geração 12 e a terceira série de Turma da Mônica Jovem

Agnes é uma das meninas do bairro das pitangueiras, trio da Penha, que aparece na Turma da Mônica e em Sombras do Passado e Torre inversa de Turma da Mônica jovem, na primeira série.

Ivan é o vampiro que apareceu primeiro na edição "sangue fresco"

Até o próximo

o/ ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Almejar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.