La Nuit La Plus Solitaire escrita por Biela


Capítulo 1
La Nuit La Plus Solitaire


Notas iniciais do capítulo

La Nuit La Plus Solitaire: A noite mais solitária

Não sei quem leria isso, mas caso alguém se interesse uma review não custaria nada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/812635/chapter/1

 

Gastón nunca havia se sentido mais só do que agora.

Quando se nasce siamês, você nunca corre o risco de estar só (no sentido mais literal da palavra). E, quando se nasce numa família onde ambos pais são irmãos siameses, assim como ele e seu irmão (duas horas) mais novo, o conceito de solidão era uma palavra estranha.

Embora não fosse uma criança que gostasse de afeto e carinho como seu irmão, o francês não podia negar que a história da sua família era uma história de amor comovente. Sua mãe, Emanuelle, e sua tia, Vivian, se encontraram com os irmãos siameses, Jean e Haroldo, numa tarde de domingo em Paris e assim nasceu um lindo romance.

A loira Vivian acabou desenvolvendo o romance com o francês de boina Jean, enquanto Emanuelle e Haroldo desenvolveram mais tardiamente interesse um pelo outro (considerando a nacionalidade dupla entre eles que ele e Guto haviam herdado, era esperado ver que ambos pares eram compostos pelas nacionalidades franco-brasileira).

Assim, depois de um tempo os quatro resolveram deixar a França e recomeçar na cidade onde os meninos cresceram (e ao contrário do que o idiota do Pepe pensava o parto deles não havia sido num avião de viagem ao Brasil).

Embora a vida como família de siameses não fosse a coisa mais normal de se ver, eles eram de uma família amorosa e estável (e verdade seja dita: definitivamente não era a coisa mais estranha que havia naquela cidade). Todavia nem sempre era fácil, principalmente quando ele e Guto tendiam a ter personalidades completamente opostas, incluindo o estilo de roupa, mas sendo sua mãe e tia estilistas elas estavam dispostas a costurar as roupas que eles quisessem para se encaixar aos seus gostos.

Gastón amava seu irmão Guto e amava ser seu gêmeo siamês, independente das diferenças de personalidade ou da postura mais ingênua e infantil do ruivo. Justamente por essa atitude mais jovial, Gastón tendia a ser super protetor com Guto e foi o que ajudou a ver Pepe como uma má influência para ele (além de outros aspectos que faziam o siamês de bigode a odiar aquela praga de cabelos espetados).

No geral Guto e Gastón eram melhores amigos, além de irmãos, que com um pouco de concordância faziam tudo juntos apesar dos seus opostos, seja jogando videogame, brincando de stop, participando de aventuras com Pepe e Marilu, ouvindo aulas de francês (embora Guto sempre dormisse por não estar tão interessado na sua herança francesa como Gastón).

Nunca, nem mesmo nas poucas ou mais mesquinhas brigas com ele, Gastón pensou em um dia se separar de alguma forma de Guto. Mas tudo mudou desde aquela fatídica noite na peça de teatro da escola. Ele ainda se lembrava perfeitamente de como tudo aconteceu..

—___

Para o espanto de um total de zero pessoas, Pepe havia chegado atrasado na peça e, como sempre, havia estragado tudo e piorado mais um pouco (ele e Guto estavam tão empolgados para atuar para sua família...)

Mas o verdadeiro desastre foi além de transformar sua família em "morsapos" ou o que quer que fosse aquela poção da Vó. Após o estranho cientista com um forte sotaque alemão prometer capturar e curar os pais de todas as crianças da cidade, seu amigo Roberto havia anunciado uma festa para comemorar que ninguém havia morrido na peça (um motivo não muito incrível para uma festa improvisada, mas ele e Guto não tinham nada melhor pra fazer enquanto seus pais continuavam transformados).

De alguma forma seu irmão o havia convencido a convidar Pepe, dentre todas as pessoas, para a festa, talvez por causa de sua fofura infantil que era irresistível para muitos:

—Ai, ai, do pouco cabelo que eu tinha já não sobrou nenhum.. Nada disso teria acontecido se tivessem me deixado sapatear!.-Para enfatizar ele fez um número de sapateado com o único pé que tinha controle.

Gastón, já irritado com o recente interesse de Guto em sapateado, reclamou:

—Você e essa história de sapatear. Preferia morrer queimado!.-Embora olhando pra trás ele se arrependia de ter dito isso ao Guto.

—___

O que deveria ser apenas uma ida ao banheiro após saber que Pepe estava de castigo acabou se revelando numa cena onde um estranho de verde com engenhocas mecânicas planejava raptar Pepe, com Vó se mostrando altamente protetora com seu neto enquanto os dois se perguntavam se Pepe tinha pais.

Durante o bombardeio de poções no quarto o sequestrador havia ativado uma caixa de música que havia aberto um portal verde e branco. No frenesi da bruxa ela acabou puxando a cabeça da esquerda para pular no portal, o qual rapidamente se fechou após passarem e impedindo Gastón de cruzar, e, ao invés disso percebeu um brilho verde esbranquiçado que lhe deu um novo braço e perna para substituir a parte perdida, e principalmente, para seu espanto e horror.

Ele puxava o novo braço para testar se não era apenas um sonho maluco onde havia ganho partes extras de um corpo não siamês e onde havia literalmente se separado de Guto. O choque foi tão grande que ele se limitou a ficar sentado no chão do quarto absorvendo a mudança repentina da ordem do universo.

—___

O grito assustado de sua amiga Marilu foi o que ele ouviu fora do seu transe depois de algum tempo não definido. Pepe, por outro lado:

—Opa! Fala aí, Gastón. Que que cê tá fazendo aqui..? Espera! Tem alguma coisa errada! Cadê o pepe gato?!

—Pepe?! O-O que que cê tá fazendo aqui? E-Eu vi você ser raptado.

—Ahh, isso explica a ausência do pepe gato..-Afirmou aliviado enquanto seu cachorro Ramírez (que havia testemunhado aquela confusão toda) o lambia. Marilu, corretamente mais espantada, perguntou:

—Ahn.. Ninguém vai comentar que o Guto sumiu?

—AHH!! O GUTO SUMIU?!.-Agora sim Pepe reagiu adequadamente.

Satisfeito com sua principal preocupação apontada, Gastón explicou tristemente:

—Sim, ele e sua avó pularam num portal atrás de um maluco que sequestrou você!

—Nós precisamos fazer alguma!-Alertou Marilu, preocupada:

—Sim! Aquele vilão parecia ser terrible.. Precisamos salvar o Guto!.-Exclamou furioso e determinado.

—___

Após rapidamente convencer Pepe a se juntar a busca revelando que o sequestrador conhecia seus pais, havia apenas um contratempo: o horário. Marilu apontou que os três não podiam simplesmente vagar por aí tão tarde, especialmente sem algumas horas de sono antes de partirem.

Gastón foi contra a ideia até que seu lado lógico e estóico de sempre prevaleceu, concordando em que todos começassem a busca ao amanhecer (mas por algum motivo ela parecia bem disposta a fugir imediatamente).

Caminhar até sua casa com um novo corpo totalmente seu não foi tão difícil quanto ele imaginou. Caminhar no silêncio da rua era o verdadeiro problema. Sem risos infantis, sem conversas e até mesmo sem algum número de sapateado.

Gastón não podia aguentar mais um passo naquele silêncio e solidão agonizantes, mas pelo menos ele estaria em casa, sendo recebido por sua família (que ficarariam compreensivelmente assustados que nem Marilu) e dormindo antes de salvar seu irmãozinho.

Infelizmente suas esperanças sumiram quando viu um bilhete deixado na porta de sua casa:

"Devido a necessidade de ajudar a encontrar os pais de um garoto, a caça e recuperação dos pais de todas as crianças da cidade foi adiada. Concluiremos o trabalho em alguns dias."

—Mas o que que.. Ah, claro. Pepe..

Ele fez uma cara de descontentamento com a percepção e amassou o papel numa bolinha, jogando no chão com ódio: "Misérable!". Usando a chave reserva de sua casa o francês entrou para revelar um lar sombrio e silencioso, sem as típicas figuras que formavam a família estranhamente amorosa.

Ele se encolhia no breu até chegar na porta do seu quarto, tão dividido e personalizado quanto ele e Guto. Não sentia vontade de estudar egípcio arcaico, muito menos estudar botânica sabendo que Guto podia estar sofrendo em algum lugar e ele não estava lá para protegê-lo.

"Recomponha-se! Isso não vai ajudar em nada. Só resta descansar para começar a busca.". Ele se deu um tapa para se auto controlar.

Deitando-se automaticamente no seu lado da cama roxo, Gastón puxou a coberta para si, mas não sentia um pingo de sono. Sem a presença do outro siamês só lhe restava a solidão e o escuro. Ele nunca havia se sentido mais só do que agora e a constante preocupação com o bem estar de Guto não ajudava. Quem sabe que tipo de perigo ele estava passando nesse exato momento? Quem sabe se ele não estava ferido ou se sentindo igualmente só? Dado que Guto tendia a ser mais emotivo.

Apesar dessas perguntas, Gastón não tinha escolha a não ser descansar:

—Bonne nuit, Guto.

Sussurrou como se Guto pudesse ouvir de alguma forma. Depois do que parecia uma eternidade ele finalmente conseguiu dormir o suficiente para repor as energias até o sol nascer. Antes de sair de casa para se encontrar com Pepe e Marilu ele encarou a foto dele e de sua família completa, como deveria ser agora.

Ele viu a foto de sua turma tirada em um ano anterior onde ele e seu gêmeo usavam jaquetas de couro feitas por sua mãe e tia especialmente pra eles (um bônus pessoal mostrava Pepe num saco de batatas, o que o fez rir).

Seu rosto fez uma expressão tipicamente séria antes de sair:

—Ne t'inquiète pas, Guto. Ton frère te sauvera.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

-Bonne nuit, Guto: Boa noite, Guto
—Ne t'inquiète pas, Guto. Ton frère te sauvera: Não se preocupe, Guto. Seu irmão vai te salvar.

Eu sei que no geral é triste (bem diferente da pegada do programa), mas amei escrever essa one-shot e caracterizar os personagens adequadamente como no desenho e aprofundar certos detalhes.

Obs: um detalhe pequeno que eu amei no filme foram os pais siameses dos gêmeos que apareceram. Eles tinham um design tão adorável e pareciam ser uma família feliz.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "La Nuit La Plus Solitaire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.