Meu bem, você não sabe? Que você é minha hora dourada, a cor do meu céu? Você incendiou o meu mundo, e eu sei, eu sei que tudo vai ficar bem. 

[Golden Hour – Kacey Musgraves] 

— Está entregue, meu jovem. 

O hotel dos perdedores. Não queria passar uma única noite aqui, pois significa ser eliminado do programa, no entanto, é o que mereço hoje. Não foi dessa vez que eu saí com três milhões de dólares. 

Ergo o capuz ao cumprimentar Marcus e sair do ônibus. Está de noite, não faço ideia do quão tarde é, mas como o sol se pôs há muito tempo, talvez seja perto da meia-noite. Não deve ter ninguém acordado por aqui. Na minha temporada, me disseram que te recebem caso você tenha sido um bom participante, mas não passei pela experiência, pois Gabby me tirou do ponto para mostrar as provas dos crimes ambientais de Jensen. 

E quando cheguei no hotel, Jake foi a primeira pessoa que vi, justo quem não queria ter contato na época. Hoje, por outro lado, daria tudo para vê-lo de novo. 

— Tom! 

Aiden está na recepção me esperando? Isso é… muito gentil da parte dele. E não só o meu amigo de time, como James, Lake e Tess. Provavelmente Aiden pediu a eles, é algo que ele faria, e sou grato por ter alguém aqui por mim. 

— Não acredito que você perdeu a prova de imunidade! — ele exclama ao me abraçar. — Caramba, você tinha a maior pontuação! 

— É… sabe como são as provas. Tudo pode mudar. 

— Vem, você deve estar cansado. Quer comer alguma coisa antes de subir para o seu quarto? 

— Precisa de ajuda com a mala, parceiro? 

James, o namorado de Aiden, oferece ajuda, mas dispenso e agradeço. Ainda não tive a chance de conhecê-lo, já que foi o primeiro eliminado, e o carinha de cabelo colorido aqui sempre falou tanto dele que tive vontade de tê-lo por perto também. 

— É bom te conhecer, James. 

— Igualmente, agradeço por ter sido um bom amigo para o Aiden. 

— Não foi nada. 

James e Aiden começaram a namorar na segunda temporada do programa, e assistir ao relacionamento deles foi um conforto na época. Jake e eu não conversávamos há um ano, porque eu não atendia suas ligações. Vê-los desenvolver o romance sem medo, sem ter que lidar com armações dos outros participantes era tudo que eu queria ter tido com Jake em nossa temporada… infelizmente não tivemos essa sorte. 

Ao menos os meus amigos tiveram um final feliz. 

Eles me levam até o refeitório do hotel, onde Connor está conversando com os funcionários, e então ele vem me receber. Connor é um cara legal, não durou muito nas duas temporadas, mas definitivamente tem uma boa energia. Bem, ele comprou o hotel simplesmente porque quis, sempre acreditou em Riya e ficou ao lado dela em ambas as temporadas. Espero que ele e Miriam tenham tido uma boa relação no time Amarelo. 

— Tom? 

Tess me chama, e assim vejo ela e Lake me encarando, sem saber o que estavam dizendo. 

— Desculpa, eu me distraí. Disse alguma coisa? 

— Que você parece feliz de estar aqui, de alguma forma. 

— Bom… na minha temporada não fui direto para o hotel, então não imaginei que havia um comitê de boas-vindas. 

— Normalmente somos apenas nós por nós — Lake toma a palavra, ajeitando os fios ruivos. — Quando vim para cá, tive a sorte de ter James aqui. Se bem que preferia que tivéssemos ido mais longe no jogo. 

— Ellie podia ter saído no seu lugar. 

Elas riem, apesar de Tess estar um pouco mais séria. Se ela tivesse votado conosco, Ellie e Lake teriam empatado, mas não guardo mágoa disso. Nosso time tinha defeitos, mas realmente gosto desse pessoal. Tess, Gabby e Aiden foram meus maiores incentivadores para conversar com Jake e resolver as coisas. E mesmo feliz por tê-los aqui, ele não estar me deixa angustiado. 

Naquela prova em dupla, prometi a ele que conversaríamos quando o programa acabasse, e muita coisa aconteceu desde então. Jake foi eliminado na última dinâmica, ele tinha o totem de imunidade, mas como eu também estava na mira, ele o usou para me salvar, causando sua eliminação. 

Foi a coisa mais gentil que alguém fez por mim. 

Os quatro me fazem companhia por mais algum tempo, até eu subir até o meu quarto. Foi ótimo estar com eles, mas a cada segundo nesse hotel, penso ainda mais em Jake e na conversa que prometi a ele. Aiden disse que eu não deveria perder tempo, já que a estratégia de inventar um namorado para evitar o nosso reencontro só faria mal a nós dois, e ele tinha razão. Foi idiotice minha varrer tudo para debaixo do tapete. 

Apesar de tudo que aconteceu em nossa temporada, não o culpo, já que eu também podia ter sido honesto com Jake desde o início. E voltar ao programa só me fez perceber que é com ele que quero estar, quero ser para Jake o que James foi para Aiden: um porto seguro. E desejo muito que ele seja o meu. 

Passo tanto tempo ensaiando o que dizer a ele que a manhã começa sem que eu tenha pegado no sono. Droga, eu devia ter descansado! Agora é tarde para isso, melhor me vestir, comer algo e correr na floresta. Por estar tão cedo, provavelmente o refeitório estará vazio, e ao chegar lá, vejo que pensei certo. 

Sou só eu, o pessoal do hotel, meus pensamentos e… 

— Tom? 

Ouvir a voz dele atrás de mim é o bastante para que eu trave ali mesmo. Demoro um pouco até me virar, e nesse meio tempo Jake se levanta, as mãos apoiadas na mesa e um olhar cheio de expectativa. Ele deixou os cabelos azul-escuros soltos, está um pouco maior do que em nossa temporada. A luz da manhã paira em seu rosto, a pele clara fica levemente dourada com o lumiar, e os olhos pretos assumem uma auréola iluminada. 

Angelical, eu diria. Ele está… deslumbrante. 

— Jake… 

Só consigo reagir quando ele vem até mim e toca em meu pulso, lembrando-me que devo parecer um idiota na frente dele. A primeira impressão que eu causo deve ser puro desastre. 

— Você está bonito, Tom. E sinto muito que tenha saído. 

— É, tudo bem. 

Ele ainda me acha bonito mesmo com minhas cicatrizes, as olheiras profundas e minha cara abobalhada por revê-lo. Jake é definitivamente o cara mais fofo que já conheci. 

— Você quer comer alguma coisa? 

— Pode ser, Jake. 

Ele vai comigo pegar o café da manhã. Ainda que não sinta tanta fome, ter a companhia dele é tudo que mais quero agora. Passamos algum tempo em silêncio, comendo lado a lado para que eu possa me concentrar em alguma coisa enquanto coloco ordem na minha cabeça. 

O que eu poderia dizer a ele? Me desculpar por não atender suas ligações? Por mentir sobre ter um namorado? Dizer que a ideia de que ele possa ter se envolvido com Hunter me deixou enciumado? Que não sei como agir e tenho medo de tudo dar errado de novo? Que não sei como conciliar meu trabalho com nosso possível namoro? 

Mas que inferno! Eu não sei nem por onde come… 

— Eu vi os vídeos que você gravou para os patrocinadores e seus momentos no confessionário, Tom. 

Engasgo com o donut. 

— Você… viu, é? 

— Imaginei que estava me evitando. Miriam disse que eu devia apenas te deixar para lá. 

— Não posso culpá-la… eu poderia ter atendido as ligações. 

— Você a evitou também por minha causa, Tom? 

Não queria admitir, mas balanço a cabeça em positivo. Jake fica chateado, desvia os olhos para a janela e fica em silêncio por um tempo. Isso me corta o coração. 

— Jake? 

— O quê? 

— Você pode me perdoar por isso? 

— É como você disse enquanto estávamos presos naquele buraco: nós dois podíamos ter sido melhores um com o outro. — Ele suspira. — Culpei Ellie por todo esse tempo, mas se eu realmente quisesse, poderia ter ido até você e ouvido o seu lado da história. Quando fui eliminado, vi muitos comentários sobre eu possivelmente ter Síndrome de Borderline… vou conferir se não tem mesmo algo errado comigo. 

— O que é isso? Você está doente, Jake?! 

— Não, eu estou bem. É um transtorno de personalidade que causa mudanças bruscas de humor e impulsividade. Talvez não seja, mas quero ir a fundo. Em nossa temporada e agora eu botei muito a perder pela minha instabilidade: com James, Hunter, Ally, Aiden… e contigo também, Tom. Se tem algo comigo, eu quero resolver. Quero ser uma pessoa melhor para mim e para os outros, incluindo você. 

Jake… todas as vezes que penso na forma como ele agiu e o dano que causou, também me lembro das experiências que ele passou no programa. Sua avó doente que morreu durante a temporada, o ex-namorado abusivo, a péssima relação com os pais. Eu o abraço, detesto vê-lo sofrer, mas saber que ele teve tanto progresso em si mesmo… me orgulha, de alguma forma. 

— Quero estar por perto se precisar de ajuda, Jake. 

— Nada te impede, Tom. O que você quer fazer daqui em diante, em relação a nós dois? 

— Eu… Jake, eu ainda não… 

Meu coração bate tão rápido que poderia passar mal. Tantas palavras se passam na minha cabeça, tanta coisa que eu preciso e quero dizer… e em resposta, Jake apenas segura minha mão e beija minha bochecha, acalmando o barulho em minha mente. 

Como ele pode mexer tanto comigo? 

— Podemos começar do começo, onde for mais fácil para você. Tudo bem? — Balanço a cabeça, mostrando que sim. — Certo. Miriam e eu abrimos uma doceria, precisa conhecer. 

— Onde é?! 

— Vou te mandar o endereço. Gosta de donuts, certo? — digo que sim outra vez. — Farei uns especiais para você. Tem algum sabor preferido? 

— Chocolate com avelã! 

— Considere feito então. 

Quando Jake abre um sorriso, faz tudo parecer mais simples, mais bonito também. Começo a me sentir confortável ao lado dele, como éramos em nossa temporada antes das armações de Grett, Ellie e Fiore. Aquela época era o paraíso, pois encontrei Jake no momento certo, ainda que não soubesse disso lá atrás. 

Suspiro, buscando coragem para colocar tudo no lugar. 

— Não esqueci você ao longo desses anos, Jake. Só estava com medo de tentar de novo e então tudo se despedaçar como antes. Depois de um ano distante, achei que seria melhor para nós dois se não tentássemos de novo… e fiquei com vergonha de te procurar. 

— Por quê? 

— Bem… eu disse que íamos conversar e sumi. No fundo, eu não amadureci tanto quanto deveria. 

— Você podia ter me dito no começo do programa, quando chegamos ao acampamento, Tom. 

— Eu sei… é difícil para mim falar sobre o que penso. 

— É, seu jeito esquivo sempre me deixou inseguro, mas não é como se eu não tivesse te trazido tantos receios. 

— Jake… posso te confessar algo? 

— Claro que pode. 

Seu olhar tem um misto de empatia e preocupação, e respiro fundo. Já fomos longe demais para morrer na praia. 

— Você não foi apenas a primeira pessoa a quem mostrei minhas cicatrizes… você também foi meu primeiro namorado. 

— O quê?! Por que você nunca me disse isso?! 

— Eu não sei… considerando que tenho quase 30 anos, isso me deixa inseguro. Não queria que me visse como um idiota. 

— Tom, isso jamais aconteceria. Se eu soubesse disso antes, teria tido mais cuidado contigo. Ou ao menos tentado… sinto muito por ter te magoado. — Ele toca em meu rosto. — E sobre suas cicatrizes, você não deixa de ser lindo por causa delas. Me apaixonei por você mesmo sem ter visto o seu rosto, e continuo apaixonado com ou sem cicatrizes. 

Agora é minha vez de desviar o olhar. As palavras gentis de Jake formam um nó em minha garganta, e não quero chorar na frente dele. Mas Jake me abraça, tornando mais difícil a missão de conter minhas lágrimas. 

— Estou começando a cuidar melhor de mim. Posso cuidar de você também, Tom? 

— Droga, Jake! — Ele ri quando começo a chorar. 

— Eu te amo, Tom. Vamos fazer isso dar certo. 

De tantas coisas que eu poderia ter respondido, um simples “também te amo” é o máximo que sai assim que me acalmo. E Jake acha suficiente. Não sou do tipo que fala o que sente, mas quero melhorar, e saber que ele quer e pode ser o meu porto seguro muda tudo. Ainda não contei que perdi a prova de tanto pensar nele, em nós, isso me distraiu o suficiente para que eu fosse passado para trás. Algum dia contarei como Jake me tirou a vitória duas vezes, mas que estar com o garoto que eu amo é o meu verdadeiro prêmio. 

Permanecer ali, abraçado com Jake, no silêncio da manhã é tudo que preciso. Sentir os primeiros raios de sol jogando luz em toda dor e mágoa que havia entre nós, aquecendo aquilo que achei que nunca mais teria conserto. Ainda que demorasse dois anos para nos resolvermos, estou feliz que Jake e eu podemos seguir juntos daqui para frente. 

É essa hora dourada que quero guardar no meu coração para o resto da vida: Jake nos meus braços e o sol da manhã em meu rosto. Como tudo deve ser.