Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 5
Capítulo 5 - Risadas Calorosas




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                Feixe de luz atravessa uma pequena fresta da janela, brilhando sobre os olhos de uma mulher de cabelo ruivo com poucos fios brancos. Abrindo apenas o olho direito, por ainda estar tomada pela preguiça, sua mão direita passa pelo lençol a procura de sua parceira. Ao perceber que Isabel já havia levantado, com um bocejo lento a mulher senta na cama após empurrar o lençol com os pé para a cabeceira da cama.

                Ambas mãos esfregavam o rosto, para tentar afastar a preguiça e a vontade incredível de voltar para cama, por mais alguns minutos. O som da porta do banheiro se abrindo, junto com pequenos vapores saindo, dão entrada para a mulher de pele cor ébano enrolada na toalha e com os cabelos enrolados em outra toalha. O cheiro de rosas do produto usado na ducha inunda o quarto, dando uma leve despertada na ruiva.

 - Aeris não voltou. Ou pelo menos, foi embora já. – balbucia num tom triste, mas sonolento.

 - Aeris? – pergunta Isabel, que estava distraída escolhendo as roupas que iria usar. – Ele chegou durante a madrugada em casa. Ele deve estar estirado no sofá da sala dormindo, já que não queria nos acordar.

                Natasha arregala os olhos ao ouvir que seu filho ainda estava na cidade, mais precisamente em sua casa dormindo. Ainda de pijama branco, sai correndo pelos corredores do segundo andar e desce o lance de escada que leva para a divisão entre a sala e a cozinha. Um pouco ofegante por ter corrido ainda com um certo sono, um sorriso de orelha a orelha se abre ao ver seu filho deitado dormindo no sofá.

                Ainda vestindo a roupa do dia anterior, parecendo um andarilho. Ele usava seu casaco como cobertor e uma das almofaças para entre as pernas. Um sentimento de nostalgia atinge o coração da ruiva, ao lembrar de uma cena parecida dele quando criança.

 - Aeris? – chama por ele ao sentar na ponta do sofá em que ele dormia.

                Sua mão repousa sobre os fios loiros dele, fazendo um leve cafune enquanto observava ele abrindo os olhos, como certa dificuldade, pois pisca inúmeras vezes antes de conseguir fitar os olhos verdes de sua mãe.

                Ao ver o rosto dela um súbito abraço vindo da parte dele surpreende a Ancião, que apenas ri gentilmente enquanto lança seus braços em volta do rapaz. Percebendo que mal consegue abraçar ele como antigamente, pois havia crescido um monte, mas ainda tinha um cheiro de grama molhada em seu cabelo.

 - Oi mãe. – balbucia enquanto aberta ainda mais seu abraço.

 - Oi meu filho. – ela segura as lagrimas, mas consegue responder com uma voz suave e amorosa. – Olha como você cresceu. – solta a frase animada ao se separar do abraço, mas mantendo ambas as mãos no ombro dele.

                Ambos trocam olhares, como se quisessem dizer algo, mas apenas analisavam o rosto um o outro em cada mínimo detalhe. Um vendo o quão diferente o outro estava, e o outro apenas sorrindo com os olhos de poder ver a pessoa a sua frente. Mãe e filho, ambos não conseguiam encontrar as palavras certas, podia ser uma pergunta ou um elogio, eles apenas conseguiam trocar olhares com um sorriso enorme no rosto de cada um.

                O som de passos da escada faz com que ambos olhem para Isabel, que apenas ri da situação de seu filho e esposa, pois pareciam duas crianças que não sabiam se expressar.

 - Venham, vamos tomar café da manhã. – a dona da pele morena abre um sorriso e aponta para a cozinha.

                A conversa rolou solta enquanto preparava o café da manhã enquanto estavam em volta da bancada da cozinha. Natasha ajudava seu filho a preparar a mesa perto da janela que possuía uma vista para o jardim, enquanto Isabel preparava o café e outras coisas.  Aeris contava histórias diferentes de sua aventuras para não entediar sua mãe Isabel, mas ela sempre pedia para contar uma outra historia que tinha ouvido dele no dia anterior, para poder ver a reação de sua esposa.

                O cheiro de café, acompanhado de risos das mulheres mais importante de sua vida, tais sons aqueciam o coração de Aeris, que num ponto ficou quieto observando suas mães rindo e conversando. Ele estava ali, apenas sentindo o momento, uma felicidade que havia esquecido depois de viajar um tempo sozinho, totalmente solitário em sua jornada.

 - Mas me conte Aeris, qual dos guardiões lhe deram a espada e a tatuagem? – Natasha pergunta, curiosa sobre a tatuagem de sua tribo, que não ouvirá falar a muito tempo.

 - Não foi um dos guardiões que me avaliaram, mas sim um dos espíritos. Eles me colocaram a prova, onde ganhei o direito de ser chamado de...

 - Guardião. – a ruiva abre um sorriso radiante.

 - O que isso quer dizer? – pergunta Isabel ao colocar algumas frutas cortadas entre eles.

 - Ele se tornou membro da tribo da Floresta Esmeralda.

 - Você é uma Guardiã também? – pergunta novamente Isabel.

 - Não. – ela sorri ao ver as sobrancelhas arqueada de sua esposa. – Minha tatuagem no antebraço é dada para nativos e por ele ser meu filho, ele também herdou. Mas possui uma outra tatuagem se for mesmo um Guardião.

                Isabel fita imediatamente seu filho, que estava no ato de dar uma mordida na torrada, mas acaba voltando a mesma para o prato ao ver o olhar curioso e furioso de sua mamis. Ele levanta da cadeira já desabotoando a camisa e se despindo logo em seguida. Ficando de costas para ambas, onde elas visualizam a tatuagem que cobria toda a costas. No centro, uma águia majestosa se destaca, suas asas abertas em pleno voo, simbolizando liberdade e a soberania dos céus. As penas da águia são desenhadas com linhas finas e onduladas, que se transformam em padrões tribais, evocando as correntes de ar e as rajadas de vento que carregam a ave para as alturas. Ao redor da águia, espirais e linhas abstratas se entrelaçam, formando um redemoinho que parece girar em torno dela, reforçando a conexão com o ar e o movimento ascendente.

 - Uma águia? – balbucia Natasha para si mesmo, com a voz cheia de orgulho, pois seu filho havia sido reconhecido como um Campeão da tribo, por suas habilidades em dobrar o ar e por seu caráter. – Como um mestre do ar. – complementa orgulhosa.

 - Uma tatuagem no braço, e outra que cobre as costas! – sua voz tremia. Isabel não gostava muito de tatuagem, e tinha se conformado com a que se assemelhava com da esposa, mas outra que cobria quase toda pele das costas? Ela tinha um limite. – Vista novamente a camisa antes que eu surte.

                Natasha gargalha ao ver a reação da dona da pele morena, pois achava extremamente fofa a forma que ficava desconfortável. Por outro lado, Aeris ri de nervoso enquanto veste rapidamente a camisa.

 - Mas me fala Aeris. Vai participar do conselho? – a ruiva pergunta com um sorriso, mas com um olhar.

                O dobrador de ar ri desajeitadamente enquanto volta a se sentar na cadeira, com o olhar baixo ele suspira. Indagado em seguida ao fitar os olhos verdes de sua mãe:

 - Não. Não quero fazer parte disso ainda. – responde com um sorriso radiante, sem medo qualquer medo em sua voz.

 - Por que? – pergunta rapidamente Isabel, surpresa com a resposta.

 - Preciso de uma roupa nova, e pretendo andar um pouco pelas ruas de Fortalium. – ainda sorridente complementa levantando o tecido da camisa desgastada. – E pretendo ainda dar um abraço na Bruxa da Água. – termina com um riso brincalhão.

                Natasha segura uma pergunta na ponta da língua, mas deixa ela sumir em meio aos lábios quando observa o sorriso de Aeris. O garoto que um dirá acompanhava ela para todos os cantos, se tornou um homem que ainda tenta descobrir seu caminho seguindo o coração, tal que está levando-o longe da guerra.

 - Falando na Luna, onde aquela pequena bruxa se meteu? Ela está dormindo ainda? – volta seu olhar para a escada, esperando que sua irmã dessa parecendo um zumbi.

 - Ela não mora mais conosco. Abriu uma clinica perto da cidade velha, onde também fica seu apartamento. – responde Natasha.

 - Sério? Ela dominou a dobra da cura? – seu coração se alegra ao ouvir tais noticias sobre a irmã. – Acho que vou fazer uma visita e comprar umas roupas novas. – balbucia seus planos, tais que abrem um sorriso no rosto de Isabel.

 - Posso fazer uma pergunta? – manda Natasha num tom serio na voz.

 - Claro. – responde Aeris.

 - O que acha da guerra? Acha que podemos evita-la? – sua pergunta surge ao lembrar que Aeris passou pelas regiões de Solumia.

 - Resposta sincera, ou de esperança? – seu tom muda ao fazer a pergunta, deixando a voz mais sombria.

 - Sincera.

 - Ela é inevitável. Não por falta de esforço, mas por causa da guerra civil longa em Solumia. Pessoa revoltadas e cansadas irão acabar sendo convencidas por outras com más intenções. Mas digo que tem esperança, desde que você consiga convencer a todos.

 - Se tentarmos parar a guerra, muitos podem morrer em vão.

 - Melhor poucos, do que uma nação inteira. – o olhar de sua mãe desce para sua mão, que logo é entrelaçada pela de Isabel. – Não estive em muitas batalhas como você, mas por conhece-la que tenho a certeza da força que sua voz possui. Eu te amo mãe, vou sempre estar te apoiando.

                Natasha solta um riso fraco. Tal que não esperava estar sendo consolada por seu filho, pois para ela não passa de um garotinho sorridente e sapeca.

 - Me sinto uma tola. Pois estou sendo consolada por meu filho. – solta outro riso nervoso.

 - Bem, acontece na sua idade. – com um sorriso travesso, ele logo sente uma pequena ira surgir nos olhos de sua mãe Natasha, enquanto a outra caia em gargalhada.

 - Seu Moleque! – esbraveja ao tentar pegar ele pelo braço, mas o mesmo desvia como uma pena no ar mantendo seu sorriso travesso.

                A manhã termina com as brincadeiras e conselhos inesperados. Ambo temem o futuro e fazem o que pode para evitar o pior.

                Aeris caminha pelas ruas da cidade com certa calma, para poder se ambientar de onde está. Com um pequeno mapa desenhado por sua mãe em mãos, ele olha para os cantos tentando encontrar o prédio onde fica o apartamento de Luna e sua clínica.

                A cidade esta movimentada, com pessoas animadas fazendo compra no centro, mas nas ruas que andara já se aproximando da “Cidade Velha”, vila antiga da cidade. As ruas se parecem muito com o que Aeris se lembra, pois se aventurava muito por esses bairros ao lado de Jack, por ser um local mais perigoso, a chamada periferia, lar de algumas gangues. 

                Um prédio chama sua atenção, pois continha a placa de uma meia lua com em neon. Abaixo da lua deveria ter algo escrito, mas parece ter sido roubado, ou apenas destruído. Construção antiga coberta de vegetação, tendo uma arvore enorme a sua frente, uma arvore antiga. Não tinha mais do que dois andares, e talvez um porão caso não tenha sido tomado pela vegetação.

 - Não pode ser aqui. – diz para si mesmo, com um medo de ser verdade.

                Olhando para o mapa, Aeris ri de nervoso ao perceber que era o prédio em que sua irmã trabalhava e morava.    

                A varanda que dava para a porta possuía partes feitas por madeira e outras de metal, uma engenharia estranha para a entrada do recinto. A cada subida um estralo acontecia, como se tudo fosse desabar com facilidade. Ao lado da porta continha jornais e algumas cartas de conta que haviam chegado nesta manhã. Com leves batidas na porta, um grito surge ao fundo, tal que fica intenso ao ficar mais perto, tal grito que dizia: “Já vou!”. Junto de alguns xingamentos leves.

                A porta se abre abruptamente soltado uma forte brisa em direção ao jovem loiro, que abre um sorriso desajeitado ao ver os olhos castanhos de sua irmã. Seu cabelo se encontrava amarrado para baixo, onde na maior parte é loira no coque, sendo naturalmente da cor de mel. Alguns fios rebeldes caiem sobre a testa e outros ficam para cima.

                Luna não abre um sorriso de imediato, pois logo agarra o rosto dele, esticando a bochecha par ver se era realmente seu irmão, ou algo de sua imaginação. Aeris não consegue segurar o riso ao ver os olhos focado dela, pois não conseguia acreditar em seus próprios olhos.

 - Sou eu maninha. – diz segurando ambas as mãos da jovem ainda em seu rosto.

                Ela não responde nada, apenas desvencilha as mãos, para puxar Aeris para um abraço caloroso. Mas logo é afastado do abraço para um questionamento de Luna:

 - Quando que voltou? Por que parece um mendigo? Viu nossas mães?

 - Pera, pera, pera!

                Aeris faz gestos com as mãos para que sua irmã se acalme, pois lhe lançara muitas perguntas e se não interrompesse haveriam muitas outras.

 - Ontem. Estou resolvendo isso. E sim, estava com elas de manhã. – tenta responder com um sorriso de canto.

 - Resolvendo? Achei que fosse um dos sem tento que anda por aqui. – argumenta enquanto analisa as roupas desgastadas de seu irmão.

 - Tomei banho na casa das mães, mas pretendo comprar algumas roupas ainda.

 - Entra. Acho que devo ter um saco de roupa antiga doada por um paciente. – diz ao voltar para dentro do prédio e puxando um jaleco branco num cabideiro perto da porta, vestindo-o enquanto caminha pelo corredor que dava na recepção.

                A clinica parecia um pouco bagunçada, com papeis na recepção caídos no chão e algumas cadeiras jogadas no chão. O banheiro perto da recepção estava sem porta e com um pequeno vazamento em um das válvulas.

 - Passou um furacão aqui dentro? – pergunta Aeris enquanto caminha com cautela, pois havia fragmento de vidro no chão.

 - Não se preocupe. – ela responde sem olhar para trás, enquanto entra na porta atrás da recepção. – Espere ai.

 - Tudo bem.

                Algo estranho estava ocorrendo, e ela não queria falar para seu irmão. Perguntas e mais perguntas surgiam em sua cabeça, as quais somem ao ouvir um saco sendo jogado no balcão da recepção, quase partindo a madeira fraca.

 - Pode ter algo que te sirva. – ela percebe o olhar preocupado de Aeris, logo solta um longo suspiro, pois sabia que não conseguiria escapar dessa sem falar nada. – Aeris, por favor não tem nada para se preocupar. Esse assunto é meu. – antes que seu irmão argumentasse algo, ela levanta a mão direita como um sinal para ficar calado. – Não preciso que me ajude, nem que nossas mães ajudem. Sou uma adulta e vou lidar com isso. – termina com um olhar determinado.

                Aeris abre a boca para dizer algo que possa ajudar sua irmã, mas nada sai. Não é que ele não possa ajudar, ela que não deseja ajuda nesse assunto. Mas há outros meios de ajuda-la, então o loiro deixa para lá por agora.

 - Muito bem maninha, não farei nada. – sorri, com certo esforço. Algo que Luna percebe.

 - Então venha, vamos escolher algumas roupas para você.

                Luna abre rapidamente o saco, animada em poder escolher a vestimenta de seu irmão mais velho. Já Aeris pensava em pedir ajuda de Jack nesse assunto, por ele conhecer esses lados da cidade melhor que ninguém. Então o loiro decide por hora apenas passar um tempo com sua irmã mais nova, que não via a um tempo.


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