Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 30
Capítulo 30 - Eu Vejo Você




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/812604/chapter/30

O dirigível sobrevoava a nação da Terra, com Zara no leme, concentrada em guiar a imensa máquina pelos céus. Perto da janela, Luna observava as cidades exalando fumaça da destruição, com um olhar triste, refletindo a devastação abaixo.

Aeris se encontrava sentado numa cadeira afastada da mesa do mapa, onde Elian cobria o rosto com a mão ao ouvir sobre a traição do príncipe Braz. A notícia era difícil de digerir, e o peso da revelação era palpável na cabine.

Lyra, a princesa do Fogo, estava do outro lado da mesa, observando o príncipe de Atlantis. Ela acabara de contar o que descobriram, seus olhos dourados fixos em Elian, tentando medir sua reação. O silêncio era denso, carregado com a gravidade da situação.

O olhar de Elian se levantou lentamente, encontrando os olhos de Lyra. Ele respirou fundo, tentando processar a traição dentro da família real do fogo.

 - Isso muda tudo. - ele finalmente murmurou, a voz trêmula, ainda escondendo o rosto com a mão.

Lyra assentiu, compartilhando do sentimento de pesar e incerteza.

 - Precisamos avisar a rainha. - ela disse, a determinação começando a substituir a dor em sua voz.

Zara, do leme, lançou um olhar rápido para o grupo, ciente do momento pesado, mas mantendo sua concentração no voo. Ela sabia que todos estavam enfrentando suas próprias batalhas internas, e a única maneira de superar isso era permanecer unidos.

Lyra dá meia volta abruptamente, subindo as escadas com passos decididos, passando por Zara e saindo da cabine.

Elian, preocupado, a chama:

 - Onde você vai?

Sem se virar, ela responde apenas:

 - Vou dar uns socos enquanto espero. Preciso esfriar a cabeça.

O mestre do ar logo segue Lyra, saindo da cabine também. Luna, por sua vez, se aproxima da mesa, sentando-se em sua borda.

Ela observa Elian, que ainda processa a notícia.

 - E agora, Elian? - pergunta Luna suavemente, tentando trazer um pouco de foco à situação.

Elian suspira profundamente, retirando a mão do rosto e olhando para o mapa espalhado na mesa.

 - Precisamos repensar nossa estratégia. Se o Príncipe Braz é realmente um traidor, então a situação é muito mais grave do que pensávamos.

Zara, ao leme, observa a conversa sem interferir, concentrando-se em manter o dirigível estável. Luna percebe a tensão no ar e tenta aliviar um pouco do peso com um comentário:

 - Bem, pelo menos temos um dirigível agora. Isso pode nos dar alguma vantagem.

Elian olha para Luna, tentando encontrar algum otimismo na situação.

 - Sim, um dirigível... e um plano que precisa ser ajustado. Precisamos garantir que Lyra esteja pronta para o que vem a seguir.

Luna acena com a cabeça, concordando.

 - Ela vai ficar bem, Elian. Aeris está com ela. Precisamos nos preparar para o que está por vir e confiar uns nos outros.

 - Por que está calma? - pergunta Elian, observando o rosto sereno dela, apenas demonstrando tristeza por ver a situação da nação do fogo atualmente.

 - Eu estou depositando minha fé nos dois.

Luna tenta esboçar um sorriso esperançoso ao dizer:

 - Eu estou depositando minha fé nos dois.

Ela confiava em Aeris e Lyra, sabendo que juntos poderiam superar qualquer obstáculo, desde que mantivessem a calma no coração e na mente. No entanto, ela sabia que ambos estavam perturbados. Algo assombrava Aeris, e Lyra acabara de sentir seu mundo desmoronar.

O silêncio cai novamente sobre a cabine, cada um deles absorvendo a gravidade da traição revelada e as implicações que isso traria para a sua missão e para o futuro das nações.

Aeris caminha pelo corredor, ouvindo o impacto dos socos no saco de areia, que ficam cada vez mais fortes à medida que se aproxima da sala de treinamento. Parando em frente à entrada, ele observa Lyra. Ela está dando inúmeros socos, vestida apenas com um top cobrindo seu peito e uma calça dobrada até a panturrilha. Estando descalça, Lyra soca o saco de areia com as mãos nuas, sem nenhuma proteção, machucando sua pele ao ponto de começar a sangrar, deixando manchas de sangue no saco.

A cada golpe, ele sente a angústia e a raiva dela. Os olhos de Lyra, fixos no saco de areia, estão cheios de dor e desespero. Aeris sabe que ela está tentando extravasar suas emoções, mas a maneira como está se machucando o preocupa profundamente.

 - Lyra. - ele chama suavemente, dando um passo para dentro da sala.

Ela não responde, continuando a golpear o saco com força implacável. Aeris sente seu coração apertar ao vê-la desse jeito. Ele sabe que precisa intervir, mas quer fazê-lo de forma que não a faça se sentir ainda mais vulnerável.

 - Lyra, por favor, pare. - ele pede, sua voz cheia de preocupação.

Ela finalmente para, os punhos ensanguentados tremendo ao lado do corpo. Seus olhos dourados se encontram com os dele, cheios de dor.

 - Você acha que pode me fazer parar? - ela desafia, a voz cheia de raiva e frustração.

Aeris levanta uma sobrancelha, surpreso pelo desafio.

 - Se é isso que você quer. - ele diz, sabendo que talvez uma luta possa ajudá-la a liberar a tensão.

Lyra se afasta do saco de areia e assume uma posição de combate.

 - Sem dobra. Só nós dois. - ela declara, os olhos ardendo com determinação.

Aeris assente, tirando a camisa e se posicionando diante dela.

 - Sem dobra. - ele concorda.

Eles começam a se movimentar em círculos, estudando os movimentos um do outro. Lyra avança primeiro, lançando uma série de golpes rápidos que Aeris bloqueia com destreza. Ele contra-ataca, seus movimentos ágeis e precisos, mas sempre cuidando para não a machucar gravemente.

A luta é intensa, ambos dando o melhor de si, mas Aeris percebe que Lyra está canalizando toda a sua raiva e dor em cada movimento. Ele vê a ferocidade e a vulnerabilidade em seus olhos, e isso apenas reforça sua determinação em ajudá-la.

A luta chega ao fim com Lyra desabando, exausta e com os punhos ainda mais machucados. Aeris a pega antes que ela caia no chão, segurando-a firmemente. Ela está respirando pesadamente, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

 - Posso fazer o curativo? - Aeris pergunta suavemente, olhando nos olhos dela.

Lyra apenas assente, sem forças para responder verbalmente. Aeris a guia até uma das bancadas da sala de treinamento e começa a cuidar dos ferimentos dela. O silêncio entre eles é pesado, mas também reconfortante. Aeris trabalha com cuidado e delicadeza, enfaixando as mãos machucadas de Lyra. Seus movimentos são precisos, cada toque carregado de carinho e preocupação.

Lyra observa cada gesto dele, sentindo a calma que ele traz. Seus olhos marejados seguem os movimentos habilidosos e gentis de Aeris. O silêncio entre eles é interrompido apenas pelo som suave das faixas sendo enroladas.

 - Não sei se consigo enfrentar ele. - Lyra murmura baixinho, a voz quase um sussurro.

Aeris para por um momento, levantando os olhos para encontrar os dela. Ele segura suavemente a mão enfaixada de Lyra entre as suas.

 - Você não está sozinha, Lyra. Vamos enfrentar isso juntos. - ele diz, sua voz firme e cheia de determinação.

Lyra sente um pequeno alívio nas palavras dele, encontrando força na presença de Aeris. Ela respira fundo, tentando absorver a segurança que ele transmite. Aeris termina de enfaixar suas mãos, e eles ficam ali por um momento, em silêncio, compartilhando a intensidade do momento e o vínculo que os une.

 - Obrigada. - Lyra murmura, a voz um pouco mais firme.

Lyra observava cada detalhe de Aeris enquanto ele se concentrava no curativo. O rosto dele, marcado pelo cansaço e preocupação, ainda exibia uma determinação tranquila. As mãos dele, firmes e habilidosas, trabalhavam com precisão, limpando e enfaixando os machucados dela. Cada movimento era cuidadoso, quase reverente, como se ele estivesse lidando com algo precioso.

Ela podia ver a tensão nos ombros dele, a maneira como ele franzia ligeiramente a testa ao se concentrar. Os olhos azuis de Aeris, geralmente cheios de vida e intensidade, agora eram suaves e focados na tarefa. Lyra sentia o toque delicado das mãos dele, um contraste com a brutalidade da batalha que havia ocorrido.

Enquanto Aeris continuava a enfaixar suas mãos, Lyra soltou uma curta risada, inesperada até para ela mesma. Aeris levantou os olhos, surpreso, mas não parou de cuidar dos ferimentos.

 - O que foi? - ele perguntou suavemente, um pequeno sorriso curvando seus lábios.

Lyra balançou a cabeça, os olhos dourados brilhando com um misto de lembrança e carinho.

 - Lembrei de uma vez que você fez algo parecido. - ela explicou. - Naquela noite, onde tivemos nossa revanche.

 - “Nossa revanche”? - ele brinca, e continua num tom leve. - Se não me engano, você tinha planejado lutar comigo desde o início.

 - Ainda pretendo ter outra...

Lyra fez um bico e desviou o olhar, fugindo do olhar de Aeris. Ele riu suavemente da expressão teimosa da princesa, um som leve e reconfortante que ecoou pela sala de treinamento.

 - Você é impossível, sabia? - Aeris comentou, ainda sorrindo.

Lyra manteve o olhar afastado, mas não conseguiu esconder o pequeno sorriso que surgia em seus lábios.

 - Eu só... não quero que você me veja assim. - ela murmurou, a voz quase inaudível.

Aeris se aproximou, levantando uma mão para suavemente virar o rosto dela de volta para ele.

 - Eu vejo você. - ele disse, sério agora. - Toda você, com sua força, sua coragem, e até sua teimosia. E eu amo cada parte disso.

Lyra tentou manter a expressão emburrada, mas acabou soltando uma risada curta, rolando os olhos.

 - Você sempre sabe o que dizer, não é?

 - Não sempre. - Aeris admitiu. - Mas quando se trata de você, eu faço o meu melhor.

Eles ficaram em silencio, enquanto Lyra observava Aeris agora enfaixando sua outra mão, tirando o anel que selava o compromisso deles, que se encontrava com sangue, para assim começar a enfaixar a mão. Então uma pergunta surge nos lábios da morena:

 - Na noite em que nos conhecemos, o que pensou sobre mim? Antes de eu desafiá-lo?

Aeris parou por um momento, olhando para o anel manchado de sangue em suas mãos antes de começar a enfaixar a outra mão de Lyra. Ele pareceu perdido em lembranças por um instante, antes de finalmente responder.

 - Naquela noite... Eu vi uma garota corajosa, determinada e incrivelmente forte. Vi alguém que não se deixava intimidar facilmente, alguém que desafiava o mundo ao seu redor com uma determinação feroz. - ele pausou por um momento, seus dedos trabalhando habilmente enquanto ele continuava a enfaixar a mão dela. - Mas, mais do que isso, eu vi alguém que me intrigou desde o primeiro momento em que a vi. Havia algo em você, Lyra, algo que eu não conseguia entender completamente na época, mas que me deixou fascinado.

Aeris terminou de enfaixar a mão dela e olhou para cima, encontrando os olhos dela com os seus.

 - Eu não sabia exatamente o que esperar naquela noite, mas o que encontrei foi alguém que mudaria minha vida para sempre. E eu sou eternamente grato por isso.

Aeris terminou de enfaixar a mão de Lyra e olhou para ela, seu olhar refletindo uma mistura de curiosidade e ternura. Ele não resistiu à oportunidade de perguntar sobre sua própria impressão naquela noite tão significativa.

 - Mas e você, Lyra? O que achou de mim naquela noite? - ele perguntou, inclinando-se um pouco para trás para olhá-la melhor. - Eu sempre me perguntei o que passou pela sua cabeça quando me desafiou. O que você viu em mim naquela ocasião?

Então ela responde com certa vergonha:

— Primeiramente achei que era um idiota, então desafiei você para mostrar para minha avó que os elogios que ela estava tecendo eram falsos. - então ela pausa, abrindo um sorriso nostálgico. - E durante nossa luta, você usava o ar para dançar em minha volta. Sempre com um sorriso radiante nesta tua cara. - ela complementa apertando a bochecha dele dando um beliscão, e continua em seguida ao suavizar sua mão sob o rosto dele. - Mas então percebi, quando me venceu. Você queria me fazer me divertir naquela noite, eu estava nervosa e irritada, mas era meu aniversário. Era para ser uma comemoração.

As palavras de Lyra ecoaram suavemente pelo ambiente, envolvendo-os em uma atmosfera de memórias e emoções. Aeris sorriu ao ouvir a descrição de como ela o percebeu naquela noite tão especial, suas lembranças ganhando vida diante de seus olhos.

Ele se viu novamente naquela noite, sentindo a energia pulsante da luta, mas também a leveza de seu sorriso enquanto se movia ao redor de Lyra. Era como se o tempo recuasse, trazendo de volta as sensações e os sentimentos daquele momento único em suas vidas.

Lyra, com sua voz suave e sua expressão sincera, trouxe à tona um lado de Aeris que ele próprio muitas vezes esquecia. Ela o lembrava da importância de encontrar alegria mesmo nos momentos mais desafiadores, e ele se sentia grato por tê-la em sua vida.

Enquanto ela falava, Aeris sentia seu coração se encher de calor e gratidão. Cada palavra dela era como um raio de luz, iluminando os cantos mais escuros de sua mente e trazendo à tona lembranças preciosas que ele guardaria para sempre em seu coração.

Quando ela terminou de falar, Aeris olhou nos olhos dela, perdendo-se na profundidade de seu olhar dourado. Um sorriso carinhoso brincou em seus lábios enquanto ele acariciava gentilmente a mão dela em seu rosto, sentindo-se abençoado por compartilhar esse momento com alguém tão especial quanto Lyra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chamas e Brisas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.