Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 21
Capítulo 21 - Amor entre as Mares




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A sala do Príncipe Dorran é uma visão de majestade e força, refletindo a solidez da nação da terra. As paredes são de pedra escura, entalhadas com símbolos antigos que contam a história de seu povo. Grandes colunas de mármore sustentam o teto alto, onde um lustre de cristais imita a forma de uma árvore robusta, suas luzes como folhas brilhantes. No centro, um trono de obsidiana se impõe, cercado por tapeçarias que retratam as conquistas de Dorran.

Aeris, Lyra e Elian são recebidos com uma reverência silenciosa. O calor de Lyra contrasta com o frescor mineral da sala, enquanto Elian parece contemplar cada detalhe, sua curiosidade tão clara quanto a água de seu reino.

Os corredores que levam à sala são igualmente imponentes, com tochas acesas em suportes de ferro forjado, lançando sombras dançantes sobre o chão de pedra. Armaduras de antigos guerreiros adornam nichos ao longo do caminho, e o som dos passos do grupo ressoa, um lembrete constante do poder e da história que permeiam este lugar. O soldado que os escolta mantém uma postura rígida, sua armadura ecoando o orgulho de servir ao príncipe da nação da terra.

O príncipe Dorran, percebendo o olhar inquisitivo de Aeris, responde com uma voz que carrega o peso de uma responsabilidade não solicitada:

 - Sim, é o trono que herdei no início da disputa com meu irmão. A coroa de nosso pai, ele a possui agora. Mas um rei não é feito apenas de símbolos e tronos; é forjado através de ações e escolhas. E enquanto eu permanecer sem coroa, meu reinado será definido pelo bem-estar de meu povo e pela força de nossa terra.

A resposta do príncipe ecoa na sala, e por um momento, há um silêncio respeitoso. Aeris, com seus olhos azuis refletindo a profundidade de sua própria jornada, acena com compreensão. O trio, junto com o soldado, sente o peso da história e do legado que envolve a nação da terra, um legado que agora repousa nos ombros de Dorran.

Com um movimento discreto, o Príncipe Dorran sinaliza para o soldado, que entende imediatamente e se retira silenciosamente, deixando a sala em uma quietude sóbria. O som suave do baile, que antes preenchia o ambiente, desaparece com o fechar da porta, e a sala é tomada por uma intimidade reservada apenas para conversas de grande importância.

O príncipe então faz um gesto elegante em direção às cadeiras confortáveis que cercam sua mesa de trabalho, incrustada com pedras preciosas que refletem a luz do lustre acima.

 - Por favor, sentem-se. - ele diz, com uma voz que mistura autoridade e hospitalidade. Aeris, Lyra e Elian se movem para ocupar os assentos indicados, cada um com seus próprios pensamentos sobre os eventos que estão se desenrolando e o papel que desempenharão no destino da nação da terra.

Os olhos verdes do Príncipe Dorran encontram os de Aeris, refletindo uma curiosidade que transcende as formalidades da realeza.

 - O que o filho da Anciã deseja? - ele pergunta, sua voz tão firme quanto a terra que governa. - Ou melhor perguntar, o que a Aliança das Nações deseja? - seu olhar então se desvia, passando por Lyra, a princesa flamejante de Soleria, cuja presença parece aquecer o próprio ar, até pousar em Elian, o príncipe das profundezas de Atlantis, cuja aura de mistério é tão palpável quanto as águas de seu reino.

 - Um fim nessa guerra civil, queremos um encontro com você e seu irmão. – Aeris responde sem hesitação.

O Príncipe Dorran, com a serenidade de quem compreende o peso de cada decisão, escuta o pedido de Aeris. A guerra civil em Solumia não é apenas um conflito; é uma ferida aberta na terra que ele jurou proteger.

 -Parar a guerra civil. - ele murmura, mais para si mesmo do que para os outros. - Isso significaria enfrentar meu irmão, encarar as diferenças que nos dividiram e buscar uma resolução que possa curar nossa nação.

Ele se levanta, sua estatura imponente como as montanhas de sua terra.

— Uma reunião será convocada. - ele declara. - Não apenas para decidir quem será o próximo rei, mas para encontrar um caminho para a paz. Se é a união que a Aliança das Nações busca, então que seja através da resolução deste conflito que mostraremos nosso compromisso com esse ideal.

O olhar de Dorran se fixa no trio, e há uma determinação inabalável em seus olhos.

 - Preparem-se. - ele diz. - Pois a jornada à frente será tão árdua quanto as rochas de Solumia, mas é um caminho que devemos trilhar juntos.

Com isso, o Príncipe Dorran começa a traçar os planos para a reunião crucial que decidirá o futuro de sua nação e, possivelmente, o equilíbrio entre todas as nações. O trio, ciente da importância do momento, se une em apoio, prontos para ajudar a forjar um novo destino para Solumia e para o mundo.

Zara, a figura solitária na penumbra de Eldoria, avança com determinação pelas ruas que se esquivam da celebração central. Seu cabelo preto, cortado até os ombros, dança ao sabor do vento noturno, uma sombra viva contra o brilho intermitente das lanternas. A pele dela, um ébano reluzente, capta a luz fugaz, um farol de resiliência em meio à obscuridade.

Ela se detém diante de uma taberna modesta, cuja fachada promete refúgio e segredos. Zara inspira profundamente, o ar frio preenchendo seus pulmões, enquanto um suspiro escapa, carregando consigo a tensão do momento. Com gestos metódicos, ela alisa a camisa branca e firma o cristal pendurado em sua corrente de prata, um talismã de intenções não reveladas.

A bolsa que carrega às costas chacoalha sutilmente, um prenúncio das ferramentas e mistérios que oculta. Com um último olhar firme, Zara empurra a porta da taberna, decidida a enfrentar o que quer que esteja à sua espera no interior, onde as sombras falam e os destinos podem ser reescritos.

O interior da taberna é um microcosmo de Eldoria, um refúgio para os espíritos cansados e as almas aventureiras. As paredes são revestidas com madeira escura, envelhecida pelo tempo e pela fumaça das velas que ardem em castiçais de ferro. O ar é uma mistura de aromas: cerveja amarga, carne assada e o doce perfume do tabaco. O chão de pedra é irregular, desgastado pelos passos de incontáveis frequentadores.

Ao entrar, Zara é saudada pelo murmúrio de conversas e pelo ocasional estalar de risadas. Há mesas espalhadas pelo espaço, algumas ocupadas por grupos animados, outras por figuras solitárias que se inclinam sobre seus copos como se procurassem respostas no fundo. Uma lareira robusta ocupa uma extremidade da sala, suas chamas dançando ao ritmo das histórias que ali são compartilhadas.

O balcão é longo e acolhedor, com o taberneiro movendo-se atrás dele com uma eficiência que só anos de prática podem conferir. Garrafas de todos os formatos e tamanhos formam uma paisagem de vidro e promessas líquidas. Zara, com sua bolsa cheia de segredos, encontra um lugar entre os presentes, pronta para mergulhar na tapeçaria viva que é a taberna de Eldoria.

A figura ao fundo, um homem de presença marcante, revela um sorriso que traz consigo uma aura de inquietação. Seus olhos, embora ocultem um terror que Zara conhece bem, são os mesmos que ela veio buscar. As lembranças ruins afloram, mas a determinação de Zara é mais forte. Ela sabe que o encontro com esse homem é um passo necessário, talvez até inevitável, na trama complexa que é o destino de Eldoria.

Zara avança, cada passo uma escolha consciente contra o medo que tenta se enraizar em seu coração. O homem a observa, o sorriso ainda pendurado em seus lábios, como se ele soubesse algo que ela ainda está para descobrir. A taberna, com suas histórias e segredos, serve de palco para esse reencontro, onde o passado e o futuro estão prestes a colidir.

Zara se senta à mesa com uma postura que desafia a atmosfera sombria da taberna. O riso rouco do homem, tingido pelo hábito de fumar, ressoa pelo espaço, carregando consigo um ar de desdém. Sem hesitar, ela lança a pergunta que a trouxe até ali:

 - Onde elas estão?

O homem, divertindo-se com a impaciência dela, solta outro riso, um som que parece arranhar as paredes da taberna. Zara não se deixa intimidar; sua voz é firme, suas palavras cortantes como o cristal em sua corrente.

 - Espero que não esteja esquecendo do pagamento. - ele retruca com um sorriso enorme em seu rosto.

 - Apenas quando ouvir onde elas estão. – alerta Zara, com seus dedos em uma adaga.

 - Aquelas piratas estão bem. – diz com um riso em seguida, gesticulando com mão.

 - Elas não são piratas! – esbraveja Zara.

 - Calme garotinha. – o homem ri ao final, mas continua. – Elas serão soltas quando receber meu pagamento, já que elas mesmo se puseram nessa situação.

O som das moedas de ouro e prata atingindo a mesa ressoa pela taberna, capturando a atenção de todos. O homem, com um sorriso que revela sua natureza malévola, brinca com o tesouro diante dele, mas não pode ignorar o olhar penetrante de Zara. Ela espera, exigindo a informação prometida. Ele finalmente aponta para o cais, suas palavras carregadas de veneno:

 - Você provavelmente tropeçou nos corpos delas ao atracar. - seu riso cruel se espalha, enquanto ele se inclina sobre a mesa, o cristal ao pescoço de Zara reagindo à tensão do momento, brilhando com a intensidade do fogo.

A verdade atinge Zara como um golpe, e uma fúria avassaladora irrompe de seu peito. Com um grito que rasga o silêncio da taberna, ela lança-se sobre o homem com uma lâmina reluzente em punho. Mas ele, com a astúcia de quem já escapou de muitas emboscadas, empurra a mesa com força, espalhando ouro e prata pelo chão de pedra.

Os olhos do homem deslizam rapidamente para os membros de sua gangue, que aguardam seu comando. Com uma calma que contrasta com o caos, ele ordena:

 - Matem-na.

As palavras são um sinal, e a taberna se transforma em um campo de batalha. Os outros clientes, percebendo o perigo iminente, correm para fora, deixando Zara para enfrentar sozinha a ameaça que se ergue diante dela.

Cercada por cinco adversários, Zara luta com a ferocidade de uma tempestade. Ela se esquiva, corta e morde, cada movimento um testemunho de sua determinação em não cair sem lutar. No entanto, a superioridade numérica prevalece, e eles a capturam, lançando-a contra a parede com brutalidade.

A luz da taberna começa a desvanecer-se atrás dos vultos que avançam, e Zara, com lágrimas brilhando em seus olhos, enfrenta a realidade de seu destino. A dor em seu coração não é apenas pelo perigo iminente, mas também pela tristeza profunda de saber que as duas pessoas que ela desesperadamente tentou salvar estão perdidas para sempre.

No entanto, mesmo nesse momento de desespero, uma centelha de esperança permanece. Zara, com a resiliência que sempre a caracterizou, pode ainda encontrar uma saída, um caminho para honrar a memória daqueles que ela não pôde salvar e continuar sua luta contra as sombras que ameaçam Eldoria.

O grito de Luna corta a tensão do ar, e o brilho de esperança retorna aos olhos de Zara. A dobradora de água entra em ação com uma força e precisão impressionantes, suas mãos desenhando arcos no ar enquanto ela conjura o poder da água. Em um instante, os cinco agressores são envoltos em gelo, suas figuras congeladas em expressões de surpresa e medo.

                Os olhos de Luna encontram os de Zara, e uma onda de alívio e alegria inunda o coração da jovem morena. A presença de Luna, sua aliada e amiga, traz consigo a promessa de segurança e o reforço de que, juntas, elas podem enfrentar qualquer adversidade.

                Enquanto Luna expressa preocupação, perguntando se Zara está bem, a exaustão toma conta da jovem guerreira. Sem forças para responder ou manter-se de pé, Zara apenas consegue respirar pesadamente, lutando contra a escuridão que ameaça engoli-la.

O som sinistro de palmas interrompe o silêncio tenso, acompanhado pela risada rouca do homem que Zara enfrentou. As chamas começam a se formar ao redor dele, crescendo com cada batida de suas mãos. O fogo reflete em seus olhos, revelando um prazer perverso na situação. Zara, apesar de sua fraqueza, percebe o perigo iminente e tenta reunir o que resta de sua força, enquanto Luna se prepara para proteger sua amiga e enfrentar a nova ameaça que se revela através das chamas e da escuridão da taberna.

 - Fique para trás! – grita Luna fitando os olhos de Zara, que desejava gritar para que sua companheira fugisse.

 - Então novas vítimas! – ele grita formando chamas em sua boca.

 - Tolo achar que terei medo de um simples velho que sabe dobrar fogo. – com uma confiança inabalável em seu olhos, ela sabia que podia vencer a luta.

Luna se levanta, a tensão do momento pulsando em cada fibra de seu ser. Ela não convoca a água, sua aliada habitual; em vez disso, ela se concentra na dança dos pés, uma técnica de evasão e ataque que Aeris, seu irmão e mestre do ar, lhe ensinou. Seus movimentos são graciosos e precisos, um balé de passos que confunde e desequilibra o homem diante dela. Com um giro rápido, ela o faz tropeçar, e ele cai com um baque surdo, a surpresa estampada em seu rosto.

Orgulho brilha nos olhos de Luna, uma homenagem silenciosa ao irmão que lhe deu mais do que habilidades — deu-lhe confiança e astúcia. Mas a batalha não termina com a queda do homem. Ele se recupera rapidamente, sua raiva se transformando em chamas que ele lança em direção a Luna. Ela recua, e com a fluidez de sua natureza, ergue um escudo de água, a barreira cintilante absorvendo o calor furioso do ataque, protegendo-a e preparando-a para o próximo movimento neste duelo de elementos e vontades.

Luna, percebendo que seu oponente não passa de um velho com um truque de fogo, decide encerrar a luta com um ataque simples. Ela se aproxima com cautela, observando enquanto ele se prepara para cuspir mais chamas. No momento exato, ela avança, deslizando ágil como a água que domina, e com um movimento rápido e preciso, desfere um golpe que atinge o homem no ponto certo, fazendo com que o fogo se extinga e ele caia no chão, derrotado.

O velho, agora sem forças, não pode mais resistir, e a taberna volta a se encher de um silêncio pesado. Luna olha para Zara, oferecendo-lhe uma mão para ajudá-la a se levantar. A jovem dobradora acompanha Zara até seu Veleiro, a mesma que não conseguia conter suas lagrimas pela perda que acabará de descobrir.

Zara deixa escapar um sorriso tênue, iluminando seu rosto marcado pela batalha enquanto ela compartilha fragmentos de sua história com Luna.

 - Fui adotada por duas piratas. - ela começa, sua voz embargada pela emoção. - Elas eram as donas deste veleiro, o lar que me acolheu quando fui abandonada ainda criança.

Ela descreve uma aventura que viveram juntas, navegando pelo alto mar, cruzando fronteiras e desafiando tempestades, uma jornada que as levou através de todas as nações.

 - Elas me ensinaram o valor da liberdade e da família. - Zara continua, as lembranças trazendo lágrimas aos seus olhos.

Luna, sentindo a dor e a perda na voz de Zara, estende a mão com um gesto suave, tocando seu rosto. Com um olhar carinhoso, ela enxuga as lágrimas da amiga, oferecendo silenciosamente o conforto que palavras não podem expressar. Juntas, sob o céu estrelado, elas compartilham a dor e a beleza de um passado que moldou suas vidas e as uniu em um laço inquebrável.

                Uma troca de olhar surge entre ambas, um desejo súbito em Zara, um desejo carnal. Com o aproximar de seu rosto com de Luna, ambas encostam suas testas. Podendo ouvir o respirar uma da outra, que se mistura quando sentem o toque suas peles.

Zara olhou nos olhos de Luna, encontrando ali um universo de possibilidades. Com a suavidade de quem conhece os segredos dos mares, ela puxou Luna para si, e seus lábios se encontraram em um beijo que selou a promessa de aventuras compartilhadas. O som das ondas embalava o beijo, e o calor do abraço de Zara era tudo que Luna desejava sob a vastidão do céu estrelado.

Ali elas não desejam saber do futuro ou passado, apenas aprofundar esse sentimento sem culpa. A noite dela se encerra em desejos carnais e troca de caricias sob o luar escondidas de olhos curiosos.


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