Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 16
Capítulo 16 - Fronteiras




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A manhã desponta com os primeiros raios de sol se infiltrando pela abertura da barraca, banhando o espaço com uma luz dourada e suave. Lyra, sentindo o calor do novo dia, tenta delicadamente se desvencilhar do abraço de Aeris, buscando não perturbar o descanso que ele tanto merece. No entanto, Aeris, mesmo nos confins do sono, percebe o movimento e, com um riso baixo e contente, a puxa de volta para perto de si. É um gesto carinhoso, um convite silencioso para compartilhar mais alguns momentos preciosos na tranquilidade da manhã.

Do lado de fora, a vida já começa a se agitar. Luna e Elian, com vozes animadas, discutem sobre o café da manhã, ponderando entre frutas frescas ou talvez algo mais substancial para começar o dia. Suas conversas são pontuadas por risadas e o som ocasional de utensílios sendo preparados para a refeição. O aroma de café recém-feito e o tilintar de pratos criam uma melodia matinal, prometendo um início de dia acolhedor e cheio de camaradagem para todos no acampamento.

A manhã na barraca se desenrola com uma leveza cômica, enquanto Lyra e Aeris trocam comentários sobre as habilidades culinárias — ou a falta delas — de seus companheiros. Lyra, com uma pitada de teimosia e um desejo de contribuir, insiste em assumir o comando da cozinha, apesar das tentativas frustradas de se libertar do abraço de Aeris. Ele, por sua vez, encontra diversão nas tentativas dela, sua risada baixa ressoando no espaço confinado, um som que fala de intimidade e cumplicidade.

 - Não me lembro de ter experimentado a comida de Luna, ou do Elian. - argumenta a princesa do fogo, enquanto o calor do rosto de Aeris em seu pescoço traz um conforto inesperado.

 - Isso porque ela não sabe cozinhar, pelo menos não sabia. - responde Aeris, com um tom que sugere histórias não contadas de tentativas culinárias passadas.

 - Então me deixa assumir o comando. - suplica Lyra, sua voz misturando determinação e um leve pedido de ajuda, enquanto tenta, em vão, se desvencilhar dos braços do loiro.

 - Não faz mal um café da manhã ruim. - solta Aeris, sua fala carregada de um humor que alivia a tensão do momento, sugerindo que, às vezes, as imperfeições são parte da beleza da vida compartilhada.

A tensão entre Lyra e Aeris se transforma em um jogo de vontades, uma dança delicada de desafio e provocação. Lyra, com a determinação ardente de uma princesa do fogo, encara Aeris, seus olhos dourados brilhando com um misto de ameaça e diversão.

 - Não me faça apelar. - ela alerta, sua voz baixa carregada com a promessa de uma retaliação que poderia ser tão ardente quanto as chamas que ela controla. A intimidade do momento, entretanto, é suavizada pelo humor subjacente, uma faísca de cumplicidade que brilha entre eles, tão vibrante quanto o fogo que Lyra comanda.

A tensão entre eles se transforma em um jogo travesso, uma batalha de risos e leveza. Aeris, com uma sobrancelha arqueada, questiona a audácia de Lyra, seu ceticismo evidente na curva de seu rosto.

 - Você não ousaria? - ele pergunta, desafiando-a com um olhar que mistura dúvida e um convite tácito para a provocação.

 - Quer apostar? - ela retruca, a confiança em sua voz tão palpável quanto o brilho de travessura em seus olhos. Com um sorriso malicioso, suas mãos já se posicionando estrategicamente, prontas para lançar um ataque de cócegas que promete ser impiedoso.

E antes que Aeris possa se preparar, ela lança seu ataque, dedos ágeis e implacáveis buscando os pontos mais sensíveis, desencadeando uma onda de risadas que preenche a barraca.

 - Veremos quem é melhor. - Aeris consegue dizer entre risos, enquanto tenta, em vão, defender-se do poderoso ataque de cócegas da princesa do fogo.

A manhã se enche de alegria e cumplicidade, enquanto do lado de fora, os sons de Luna e Elian planejando o café da manhã se misturam com a melodia das risadas dentro da barraca, anunciando o início de mais um dia cheio de aventuras e união para o grupo.

O sol da manhã brilha alto no céu, espalhando seu calor dourado sobre o lago tranquilo onde o grupo havia tomado um banho refrescante após um café da manhã compartilhado. Agora, vestidos com roupas novas que carregam o aroma fresco da natureza, eles se reúnem perto da barraca onde a dobradora de terra ainda repousa em um sono profundo.

A brisa que sopra é mais do que um simples sussurro do vento; é uma presença poderosa que anuncia a chegada de alguém grandioso. Com um farfalhar suave das folhas e o perfume da terra úmida, ela traz consigo o grande Lobo de chifres de alce, o Espírito Guardião da Floresta Vermelha. Sua figura imponente emerge da floresta, os chifres majestosos como galhos de uma árvore antiga, e os olhos, sábios e profundos, refletem a história viva da floresta que protege.

 - Vejo que completaram meus dois pedidos com maestria. – a águia branca que acompanhará Lyra e Luna em sua jornada, agora pousa em um dos chifres do Guardião. – Mas vejo que não fora uma tarefa simples. – complementa ao ver as feridas de Aeris e Lyra, assim como a dobradora da terra.

O Guardião, com sua voz que ressoa como o murmúrio da própria floresta, fala em um idioma antigo e esquecido, ininteligível para o grupo. Mas as palavras não são necessárias, pois a intenção é clara na energia que ele evoca. Das profundezas da Floresta Vermelha, uma luz verdejante emerge, envolvendo a todos em seu abraço curativo. As feridas do corpo e da alma começam a se fechar, cicatrizadas pelo poder ancestral da terra.

E então, com um gesto suave que parece mover as próprias árvores, o Guardião faz um pedido silencioso, mas poderoso. Ele pede que a dobradora de terra seja deixada sob sua proteção, para que possa descansar e se recuperar sob a vigilância do espírito que é um com a floresta. O grupo, sentindo a sinceridade e a importância do pedido, concorda sem palavras, reconhecendo que a dobradora de terra estará mais segura e cuidada nas mãos do Guardião do que em qualquer outro lugar.

 - Como prometido, a travessia pelo meu reino foi dada. Boa sorte com sua jornada.

A cena se desenrola com uma rapidez que deixa o grupo sem palavras. Aeris, com uma pergunta pairando em seus lábios, mal tem tempo de expressá-la. O Guardião, com a majestade que lhe é própria, oferece um último olhar ao grupo — um olhar que carrega a sabedoria das eras e a promessa de cuidado. E então, tão silenciosamente quanto chegou, a fera se desvanece, levando consigo a dobradora de terra inconsciente.

O ar parece vibrar com o eco da partida, e o espaço antes ocupado pelo Guardião e pela moça agora está vazio, deixando apenas a memória de sua presença. O grupo fica ali, contemplando o lugar onde, momentos antes, havia uma conexão tangível com o místico.

 - Bom, temos a passagem segura. – murmura Elian, tentando infundir esperança em meio à incerteza.

 - Qual o próximo passo? - ela indaga, sua voz carregada com a seriedade de quem sabe que cada escolha é crucial. Luna, com a atenção dividida entre a conversa e a visão de seu irmão, busca entender o que virá a seguir.

 - Preparemos os cavalos e cavalguemos até a Nação da terra, com otimismo chegamos em dois dias. – declara, enquanto ajusta seu manto.

 - Então vamos. – ele diz, e seu sorriso radiante é um farol de confiança para o grupo.

Com a determinação de quem sabe que cada ação é um passo em direção ao destino, Aeris prende sua espada ao cinto de couro, o metal frio um lembrete do caminho que já percorreram. Um a um, os membros do grupo desmontam suas barracas, dobrando o tecido com cuidado e respeito, como se cada dobra contasse uma história.

Os cavalos, companheiros leais dessa jornada, recebem suas selas com a promessa de novas descobertas. Eles parecem entender a importância da missão, seus olhos inteligentes observando a Floresta Vermelha que se estende diante deles. A floresta, com suas árvores altas e folhagem densa, é um desafio e um mistério, mas o grupo está pronto.

Durante dois dias, eles atravessam o coração verdejante da floresta, fazendo pequenos acampamentos ao cair da noite. O fogo do acampamento é um ponto de luz na escuridão, um lugar para compartilhar histórias e sonhos antes de se entregarem ao sono.

E então, no final da jornada, quando os pés estão cansados e as mentes estão cheias de memórias, eles veem a muralha. Imponente e antiga, ela se ergue no horizonte, a bandeira da Nação da Terra tremulando orgulhosa no alto. É um sinal de que chegaram, um marco que declara que a aventura, embora longe de terminar, alcançou um novo capítulo.

 - E como vamos entrar? – pergunta Luna, enquanto acariciava seu corcel.

 - Estamos em qual fronteira? – pergunta Aeris tentando se localizar no mapa que puxará de sua bolsa.

 - Na fronteira de Centro-Oeste. – a princesa do fogo responde, enquanto tomava água de seu cantil.

 - Não me diga que temos que dar a volta? – murmura desanimado Elian, já não aguentando mais cavalgar.

 - Isso volta para a minha pergunta, como vamos entrar? – pergunta novamente Luna.

 - Da mesma forma que eles.

Aeris, com um gesto discreto, chama a atenção do grupo para a multidão que se acumula nas portas de Solumia, a nação da Terra. A visão é um reflexo das tensões que fervilham dentro das fronteiras — uma guerra civil que deixou cicatrizes profundas e portões que agora se fecham, onde antes acolhiam.

Os guardas de Solumia, com olhares atentos e posturas rígidas, examinam cada pessoa que busca entrada, um processo meticuloso nascido do medo e da necessidade de proteção. Eles buscam sinais de ameaça, qualquer indício que possa perturbar ainda mais a frágil paz que se sustenta dentro dos muros.

 - Você será reconhecido devido a sua tatuagem, e eu pelos meus olhos característica de minha família. – solta Lyra ao aproximar seu cavalo para mais perto de Aeris. – Me explique como iremos passar despercebido pela guarda?

 - Vocês estão olhando para o lugar errado. Prestem mais atenção.

Aeris aponta novamente para a multidão, mais especificamente para a movimentação das carruagens de ciganos entre a multidão. Esses veículos coloridos e cheios de vida, normalmente carregados com mercadorias de comerciantes itinerantes, passam pela inspeção com menos rigor, uma cortesia estendida àqueles que trazem comércio e novidades para Solumia.

 - Como vamos convencê-los a nos dar passagem? – pergunta o jovem príncipe.

                O sorriso de Aeris se alastra por seu rosto, um prenúncio de travessuras e astúcia. Luna, conhecendo bem o irmão, reconhece imediatamente o brilho em seus olhos — um sinal claro de que as engrenagens de sua mente estão girando, tecendo um plano tão audacioso quanto engenhoso.

 - O que você está tramando? - Luna pergunta, uma sobrancelha arqueada em expectativa e um leve sorriso espelhando o dele.

Aeris apenas pisca para ela, a cumplicidade entre eles tão palpável quanto a brisa que ainda carrega o eco da presença do Guardião. Ele se vira para o grupo, pronto para compartilhar sua estratégia, que, embora repleta de riscos, promete ser a chave para sua entrada em Solumia.

 - Vamos negociar. - ele começa, sua voz baixa conspiratória. – Convence-los a nos ceder a carruagem, assim passando pela guarda.

 - Não é mais fácil se misturar? – pergunta Lyra, enquanto segura o riso ao ver o sorriso sapeca que o loiro demonstrava.

 - Prefiro o plano da Lyra. – solta Luna, se arqueando com o apoio de sua cela enquanto observava a multidão cruzando a fronteira.

 - Que isso, nem mesmo temos as roupas para se passar por um deles. – solta Aeris, com um semblante desapontado por terem recusado seu plano.

 - Então roubamos algumas roupas. E teremos que deixar os cavalos e nossas coisas. – a princesa salta de seu cavalo, para retirar a cela. – Estão prontos?

 - Sim. – todos dizem juntos, um em especial se destacou ao estar abalado ainda.

Sob o manto da manhã que ainda se estendia preguiçoso sobre a Floresta Vermelha, o grupo se reunia em silêncio, cada um ciente do peso do plano que estava prestes a ser executado. Lyra, a princesa do fogo, com um olhar determinado e uma chama de astúcia brilhando em seus olhos dourados, delineou cada passo com precisão.

 - Vamos precisar nos misturar completamente. - sussurrou ela. - E isso significa parecer parte deles.

Aeris, com um aceno de cabeça, confirmou o entendimento do grupo. Eles observaram os ciganos, notando as roupas vibrantes e os adornos que falavam de uma vida nômade e livre. Era hora de trocar suas vestes de viajantes por algo que lhes permitisse desaparecer na multidão.

Com movimentos ágeis e silenciosos, aproximaram-se do acampamento cigano, onde as roupas pendiam despreocupadamente, esperando para serem usadas. Um a um, eles escolheram peças que melhor se adequavam, trocando suas roupas de guerreiros e aventureiros por trajes coloridos e cheios de vida.

Os cavalos, companheiros leais até então, receberam um último afago antes de serem libertados de volta à floresta, onde poderiam viver selvagens e livres, longe dos perigos da guerra civil. Cada membro do grupo pegou uma bolsa, enchendo-a apenas com o essencial — objetos que carregavam memórias, ferramentas que poderiam ser úteis, e pequenos tesouros que falavam de suas origens e sonhos.

Assim disfarçados e com o mínimo necessário, eles se juntaram à fila de carruagens e ciganos, prontos para cruzar as fronteiras de Solumia. E enquanto se afastavam, a Floresta Vermelha os observava, suas árvores sussurrando histórias de coragem e mudança, enquanto a bandeira da Nação da Terra ondulava ao longe, um lembrete do mundo que esperava por eles.


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