Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 13
Capítulo 13 - Floresta Esmeralda




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Aeris observou atentamente enquanto Lyra e Luna, sua irmã, desciam o morro em direção à sua importante missão. Assim que as figuras das duas desapareceram no horizonte, rumo à enigmática Floresta Vermelha, Aeris agiu. Com um gesto decidido, ele enterrou uma pedra mística no solo. No instante em que a pedra tocou a terra, algo extraordinário aconteceu: um portal feito de raízes entrelaçadas emergiu, crescendo e se expandindo até formar uma passagem para o outro lado do continente.

Este não era um portal comum; era um caminho direto para a Nação do Ar, mais especificamente para a Floresta Esmeralda — o lar ancestral da tribo de sua mãe. Lá, em meio ao esplendor verdejante e à tranquilidade das copas das árvores, Aeris teria um encontro destinado com o guardião da floresta. Este guardião era o protetor dos segredos antigos e dos sussurros da natureza, um ser cuja sabedoria era tão vasta quanto as raízes da própria floresta.

A missão de Aeris era clara, mas o caminho à frente estava repleto de mistérios e perigos desconhecidos. Com o coração firme e a mente focada no dever, ele deu o primeiro passo em direção ao portal, pronto para enfrentar o que quer que o esperasse do outro lado, na Floresta Esmeralda.

O olhar de Aeris pousou sobre Elian, o príncipe e dobrador de água, que ainda vestia sua armadura, claramente grande demais para seu corpo esguio. A armadura, embora desajeitada, refletia a luz do sol poente, criando um contraste com a expressão sombria de Elian. O jovem príncipe estava visivelmente apreensivo, a ansiedade marcada em seus olhos azuis como o oceano. Ele sabia que a jornada que se avizinhava não seria apenas uma prova de suas habilidades como dobrador, mas também um teste de sua coragem.

Aeris, percebendo o medo que assombrava Elian, aproximou-se com passos suaves.

 - Elian. - começou ele, sua voz tão calma quanto a brisa que precede a tempestade. - Sua bravura não é medida pelo tamanho da armadura que veste, mas pela força do espírito que carrega. Você não está sozinho nesta jornada, eu estarei ao seu lado.

Elian olhou para Aeris, encontrando um conforto inesperado nas palavras do dobrador de ar. Com um aceno de cabeça, ele sinalizou sua prontidão para seguir em frente. Juntos, eles se voltaram para o portal de raízes, o coração de Elian batendo no ritmo das ondas, enquanto Aeris liderava o caminho com a confiança de quem conhece os segredos do vento.

E assim, dois companheiros de elementos diferentes, mas com destinos entrelaçados, embarcaram na jornada rumo à Floresta Esmeralda, onde o guardião os aguardava, e onde suas vidas mudariam para sempre.

Aeris avançava pela floresta, o som metálico da armadura de Elian ecoando a cada passo cauteloso que davam juntos. O crepitar das folhas sob seus pés era acompanhado pelo ritmo constante e reconfortante do aço contra aço, uma sinfonia de determinação e coragem.

De repente, um silêncio se abateu sobre a floresta, como se a própria natureza prendesse a respiração. Aeris ergueu os olhos para o céu, onde um vulto imenso cruzava as nuvens. Era um dragão, cujas escamas cintilavam com um brilho esmeralda sob os raios do sol poente. A criatura movia-se com uma graça que desafiava seu tamanho colossal, suas asas desenhando padrões antigos no ar.

O dragão não emitia som algum, sua presença era tão etérea quanto a névoa que se formava entre as árvores. Seus olhos, duas esferas de um azul profundo, refletiam um conhecimento ancestral, e por um momento, Aeris sentiu como se o dragão o observasse diretamente, compartilhando um segredo silencioso entre eles.

A criatura então desapareceu atrás de uma cortina de nuvens, deixando para trás apenas o eco de sua majestade. Aeris e Elian trocaram um olhar, sabendo que o encontro com o dragão não fora uma coincidência, mas um presságio de que sua jornada estava entrelaçada com mistérios ainda maiores do que imaginavam.

 - Mal pressagio. Dragões não estavam extintos? – pergunta Elian, com um tremor em sua voz.

 - Não sabemos se oque foi relatado sobre o desaparecimento deles é verdade, mas ele não parece extinto para mim. – brinca com a situação, enquanto observava a expressão emburrada do jovem príncipe.

 - Como vamos encontrar o Espirito Guardião?

 - Da mesma forma que encontramos o outro, ele nos guiará.

Aeris parou por um momento, fechando os olhos para sentir melhor a brisa que acariciava seu rosto. Era uma brisa suave, quase imperceptível, mas carregava consigo o frescor das alturas e o perfume sutil das flores da Floresta Esmeralda. Seus cabelos loiros e curtos dançavam ao ritmo do vento, como se fossem pequenas chamas douradas brincando em meio à luz do entardecer.

Ele sabia que essa brisa não era uma mera coincidência; era um chamado, um guia sutil enviado pelo Espírito Guardião. Aeris respirou fundo, permitindo que a essência da floresta preenchesse seus pulmões, e com ela, a coragem e a sabedoria dos antigos. A brisa parecia sussurrar em seu ouvido, contando histórias de tempos esquecidos e segredos guardados apenas pelos espíritos da natureza.

Com um passo confiante, Aeris seguiu a direção da brisa, cada vez mais forte, que o conduzia por entre as árvores e sobre riachos cristalinos. Ele sentia a presença do Espírito Guardião cada vez mais próxima, como uma força invisível que o guiava através do véu que separa o mundo dos homens do reino dos espíritos.

E então, em meio ao coração da floresta, onde a brisa se transformava em uma melodia antiga, Aeris encontrou o que buscava. Diante dele, o Espírito Guardião se revelava, uma entidade de luz e sombra, tão antiga quanto a própria floresta, e tão sábia quanto o vento que tudo vê. O encontro, embora silencioso, estava repleto de significados, e Aeris sabia que sua jornada estava apenas começando.

O Espírito Guardião se manifestava diante de Aeris como uma visão de pura majestade e mistério. Sua forma era fluida, mudando sutilmente como a bruma que se move com o vento entre as árvores. Era uma entidade de luz e sombra, com contornos que pareciam feitos de folhas e galhos entrelaçados, pulsando com a vida da floresta.

Seu rosto era como um espelho da natureza selvagem: olhos profundos e sábios que brilhavam com um verde luminescente, refletindo a eternidade das florestas. Seu olhar era penetrante, capaz de enxergar a essência de tudo o que vive. A pele do guardião tinha a textura da casca de uma árvore antiga, marcada pelo tempo e pelas histórias de incontáveis eras.

Ao redor de sua figura, folhas de esmeralda e vinhas dançavam em um ritmo etéreo, acompanhando o movimento de seus braços. Quando o guardião se movia, parecia que a própria floresta se movia com ele, cada passo uma sinfonia de sons naturais. A presença do Espírito Guardião era ao mesmo tempo tranquilizadora e imponente, um lembrete do poder antigo que reside no coração da Floresta Esmeralda.

 - Missão cumprida? – sussurra Elian para seu companheiro.

 - Jovem mestre do ar, retornaste. – a floresta se agitava ao som de sua voz.

 - Estou em missão ao seu amigo, o Espirito da Floresta Vermelha. Ele diz que estava com problemas e precisava de ajuda. – fala Aeris com cuidado em suas palavras, mais suave possível.

Enquanto o Espírito Guardião da Floresta Esmeralda falava, Aeris e Elian se entreolharam, confusos. As palavras do espírito fluíam como uma melodia desconhecida, uma língua antiga que ressoava com a sabedoria das eras, mas que lhes era completamente estranha. Era como ouvir o sussurro do vento ou o murmurar de um riacho — belo, mas indecifrável.

Aeris, com sua intuição aguçada pelo treinamento como dobrador de ar, tentava captar o significado por trás dos sons harmoniosos, buscando alguma familiaridade nos padrões da fala. Elian, por sua vez, franzia a testa em concentração, sua mente de dobrador de água trabalhando para discernir a essência das palavras como se tentasse entender o murmúrio das ondas.

Apesar de não compreenderem as palavras exatas, ambos sentiam a importância do que estava sendo transmitido. Havia uma urgência e uma serenidade na voz do Espírito Guardião que transcendia a barreira da linguagem, comunicando-se com eles em um nível mais profundo, um nível de espírito e emoção.

E então, como se percebesse a dificuldade dos jovens, o Espírito Guardião pausou. Com um gesto gracioso, ele tocou a testa de cada um com um galho que brotava de sua mão. No instante do toque, uma onda de compreensão os inundou, e as palavras do espírito se tornaram claras, não através do som, mas através do sentimento e da conexão com a floresta ao redor deles. Era uma comunicação sem palavras, mas repleta de significado.

 - Temo estar com problemas em meu reino, um grupo de dobradores entram na floresta junto de um dragão.

                Aeris lembrasse da sensação de ser observado pelo dragão que sobrevoou eles quando chegaram. Uma sensação de perigo.

 - Como podemos ajudar? – pergunta Aeris.

 - Não posso enfrenta-los no momento, eles têm drenado minha força para alimentar o ser que um dia tinha desaparecido. – com a sabedoria em sua voz, as plantas tremem com sua preocupação.

 - Eles não foram extintos? – pergunta Elian sobre as historias que ouvira falar.

— Houve um tempo. - disse ele - Em que os céus eram adornados com o voo majestoso dos dragões. Suas asas eram como velas capturando os ventos do destino, e suas chamas, um espetáculo de luz e calor. Mas, então, tão repentinamente quanto surgiram nas lendas, eles se foram. - Aeris e Elian escutavam, fascinados e perplexos, enquanto o guardião continuava. - Não sabemos o motivo de seu desaparecimento. Alguns dizem que foi uma mudança no tecido do mundo, uma alteração nas correntes mágicas que sustentam a vida. Outros falam de uma grande catástrofe, escondida nas dobras do tempo e do espaço. E há aqueles que sussurram sobre um exílio auto imposto, uma retirada para um reino além do nosso alcance. O que restou... - concluiu o Espírito Guardião - são apenas ecos de sua existência, sombras dançantes nas nuvens e histórias contadas ao redor das fogueiras. Eles se tornaram lendas, esperanças de um retorno que talvez nunca aconteça. - com um suspiro que parecia o vento passando pelas folhas, o guardião encerrou a história, deixando Aeris e Elian com mais perguntas do que respostas, e com um sentimento de saudade por criaturas que nunca conheceram.

 - Então ele está controlando esses dobradores? – pergunta Aeris.

 - Pelo contrário, uma dobradora com um espirito forte comanda a fera. E ela lidera esse grupo de dobradores.

 - Onde podemos acha-los? – pergunta novamente o dobrador do ar.

 - Caso forem ajudar minha floresta, usem essa flauta.

                A terra sob os pés de Aeris começou a tremer suavemente. Pequenas pedras e folhas dançavam ao redor de um ponto específico, onde a energia da floresta parecia mais concentrada. Então, como se atendendo a um chamado ancestral, uma flauta começou a emergir do solo. Era uma flauta esculpida em madeira antiga, com veios que contavam histórias de tempos esquecidos. Suas curvas eram adornadas com símbolos místicos, e ela exalava uma aura de magia pura.

 -  Um som surgirá dela ao ser tocada, convocando ajuda dos espíritos da floresta, os quais lhe escolheram como Guardião e Mestre do ar.

                Enquanto a luz do entardecer banhava a floresta com tons dourados e âmbar, o Espírito Guardião da Floresta Esmeralda contemplava Aeris com um olhar de aprovação e orgulho. Uma risada calorosa e profunda começou a ecoar pelo espaço, uma risada que parecia brotar das próprias raízes da terra e se espalhar pelas copas das árvores. Era uma risada que carregava consigo a alegria dos céus e a sabedoria do vento.

 - Ah, Aeris. - disse o Espírito Guardião, sua voz vibrando com um contentamento genuíno. - Os espíritos do ar escolheram bem. Você, que agora detém o título de Mestre do Ar e Guardião, é a prova viva de que a tradição e o poder continuarão a fluir através das gerações.

Com essas palavras, o guardião começou a se dissipar, sua forma se desfazendo em um turbilhão de folhas e luz. A risada, ainda ressoando pelo ar, era um som que inspirava não apenas felicidade, mas também uma promessa de aventuras futuras e de um legado que Aeris estava destinado a cumprir.

 - Então vamos ter que lutar contra um dragão? – pergunta Elian com um medo evidente em sua voz.

 - Eu realmente não sei o que faremos ainda, mas precisamos ver qual a situação.

Elian e Aeris avançavam com cautela pela densa floresta, seus passos silenciosos em harmonia com o sussurro das folhas. A luz do sol filtrava-se através do dossel das árvores, criando um mosaico de sombras e luz sobre o chão da floresta. Eles buscavam um ponto de observação elevado, um lugar onde pudessem espiar o acampamento dos invasores e dobradores sem serem detectados.

A cada passo, eles sentiam a tensão do perigo iminente, mas também a urgência de sua missão. O líder dos invasores, um mestre na arte da dobra, havia sido visto comandando um dragão — o mesmo dragão majestoso que cruzara os céus mais cedo. Era essencial entender suas intenções e força antes de qualquer confronto.

Finalmente, encontraram o que procuravam: uma colina suave que oferecia uma visão clara do vale abaixo. Deitados entre as raízes retorcidas de uma árvore antiga, eles observaram o acampamento inimigo. Tendas se espalhavam como cogumelos após a chuva, e figuras encapuzadas moviam-se com propósito. No centro, uma área desobstruída parecia preparada para aterrissagem do dragão, com marcas de garras recentes sulcando a terra.

Elian e Aeris trocaram um olhar de entendimento. Eles tinham o que precisavam. Agora, era hora de planejar cuidadosamente o próximo passo, pois o destino da floresta poderia depender da sabedoria e coragem de suas ações. Com o coração batendo no ritmo da floresta, eles recuaram silenciosamente, desaparecendo na vegetação como sombras ao anoitecer.  

Elian ajustava a armadura ao redor de seu corpo franzino, seus dedos tremendo levemente enquanto apertava as fivelas. O medo era evidente em seu olhar, uma mistura de determinação e incerteza diante do desafio que o acampamento representava. Ele não sabia como enfrentar os dobradores e invasores, como penetrar suas defesas ou o que fazer se o dragão retornasse.

Enquanto isso, Aeris encontrou um lugar tranquilo junto a uma árvore robusta, sentando-se para contemplar o próximo passo. Sua mente trabalhava rapidamente, pesando cada opção, cada possível estratégia que poderiam empregar. Ele sabia que a cautela era sua aliada, e a surpresa, sua arma mais poderosa.

Foi então que a quietude da floresta foi quebrada por uma presença inesperada. Uma mulher surgiu entre as sombras das árvores, movendo-se com a confiança de quem conhece bem o terreno. Seu sorriso era selvagem, um reflexo da natureza indomável que a rodeava. Ela parou diante deles, e o sorriso em seu rosto prometia tanto perigo quanto aventura, interrompendo os pensamentos de Aeris e a ansiedade de Elian com a promessa de uma nova aliada ou, talvez, um novo desafio.

A mulher parou diante de Aeris e Elian, e um silêncio carregado de expectativa se estabeleceu entre eles. Foi então que o cristal incrustado na espada de Aeris começou a brilhar intensamente, um brilho que Aeris reconheceu imediatamente — era o mesmo brilho misterioso e reconfortante que a espada emitia na presença de sua mãe, A Anciã, a detentora de todos os elementos.

À medida que a luz do cristal banhava a figura da mulher, detalhes antes ocultos pela sombra das árvores tornaram-se visíveis. Seus cabelos eram longos e negros como a noite sem lua, caindo em ondas selvagens sobre seus ombros. Seus olhos refletiam o brilho do cristal, revelando uma profundidade de cor que lembrava o céu noturno repleto de estrelas. Sua pele era marcada por símbolos tribais que pareciam dançar com a luz, e suas vestes eram feitas de tecidos que mudavam de cor como as folhas ao sabor das estações.

Ela ergueu uma mão, e o brilho do cristal intensificou-se ainda mais, como se respondesse ao seu toque invisível. Era evidente que havia uma conexão entre ela e a espada, uma ligação que ia além do entendimento comum, talvez um sinal de que ela compartilhava um poder semelhante ao da Anciã. Com um sorriso que misturava sabedoria e mistério, a mulher finalmente quebrou o silêncio ao dar uma gargalhada, pois havia encontrado o filho da Anciã, e ela sabia pela tatuagem em seu antebraço, poucos o carregam.

 - Aeris, quem é ela? – pergunta Elian levantando-se com cautela.

 - Problema. – disse enquanto agarra o cabo de sua espada.


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