Chamas e Brisas escrita por Michel


Capítulo 11
Capítulo 11 - Guardião




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                O amanhecer dava cores quentes as folhagens da Floresta, dando um brilho místico nela. O acampamento que montaram ficava alguns metros de distância, em um pequeno morro que se podia ver parte do horizonte coberto pela floresta vermelha. Luna observava o esplendor, enquanto sentia a luz solar sob sua pele acompanho pela brisa. Seus olhos logo se voltam para Elian, trajando sua enorme armadura ainda, mesmo a pedido de Aeris de tirar ela, ele mantem uma postura de soldado que não lhe cabia ainda, ou se era destinado para tal.

 - Jovem príncipe! – grita Luna para chamar a atenção dele. – Desmonte o acampamento, comece pelas barracas.

                Antes mesmo que ele respondesse um “não” alto vindo abaixo do morro surge, Aeris subia enquanto balançava seus fios loiros molhados, acabara de tomar um banho no lago perto do acampamento.

 - “Não”? – pergunta Luna.

 - Isso, vamos ter que ir a pé para a floresta. – complementa ao se aproximar de sua irmã.

                O jovem dobrador do ar usava apenas sua túnica com as mangas dobradas até seu cotovelo. E a calça marrom dele, mas sem botas.

 - Por que? – pergunta Lyra, que alimentava os cavalos.

 - Para evitar muita bagagem caso...

 - Tivermos que correr? – Luna completa a frase com um olhar fuzilante.

 - Você disse que não teríamos problemas em cruzar a floresta. – balbucia Elian fazendo gestos com seu braço, que emitem som metálico das placas da armadura se batendo.

 - Não vamos, pois iremos solicitar uma reunião com o guardião da floresta. – explica com um sorriso no rosto, mas ainda incomodado com a armadura que seu companheiro usava.

 - Você conhece o Espirito “Rei”? – pergunta Luna fazendo aspas com as mãos.

 - Não, mas estou louco para conhece-lo. – responde com um sorriso enquanto caminha para perto das barracas.

                Elian observava seus companheiros, Lyra, Aeris e Luna, enquanto discutiam os próximos passos de sua jornada. Eles estavam decididos a entrar na Floresta Vermelha, um lugar dito ser habitado por espíritos antigos e mistérios insondáveis. Elian, com seu porte franzino e o medo evidente em seus olhos azuis profundos, sentia-se dividido.

                Seus olhos logo se encontram os orbes azuis de Aeris, que o observava sentado no gramado enquanto vestia suas botas. O dobrador do ar percebe o medo do jovem, mas espera ele se expressar, pois apenas aceitando o medo poderia seguir em frente. Entretanto sua espera foi em vão, pois o jovem príncipe se recolhe dentro de sua armadura.

 - Elian, tire essa armadura. Não acho que seja precisa no momento. – balbucia Aeris, já com as botas vestidas.

 - Não. – ele diz firmemente com a voz tremula.

 - Escute...

                Aeris levanta seu tom de voz ao mesmo tempo que fica de pé, pronto para dizer algumas palavras pouco gentis para o menino. Mas ao sentir a mão de Lyra em seu peito, ele para dando um longo suspiro.

 - Vamos em três para a floresta. Fique e vigie nossas coisas no acampamento. – Lyra diz fitando o Elian, que abre um sorriso choroso como resposta. – Conversamos depois. – solta ao fitar rapidamente Aeris, pois não era do feitio dele perder a cabeça assim.

 - Muito bem então, vamos apenas com a roupa do corpo. – Luna diz já descendo o morro. – Como vamos encontrar o guardião da floresta?

 - A brisa nos guiará.

                Aeris, Lyra e Luna adentraram a Floresta Vermelha, um lugar onde a natureza pulsava com uma energia antiga e misteriosa. Eles eram guiados por uma brisa suave que parecia conhecer cada segredo do bosque, sussurrando entre as folhas e conduzindo-os por um caminho invisível. As árvores altas, com suas folhas de um vermelho profundo, formavam um dossel que filtrava a luz do sol, banhando tudo em um tom rubro.

Conforme avançavam, a floresta parecia se abrir para eles, revelando a presença majestosa do Espírito Guardião. Era um lobo gigante, com chifres de alce que se erguiam orgulhosamente em direção ao céu. Sua pelagem era um mosaico de verde e azul, cores que refletiam sua essência ligada ao ar e à terra. Seus olhos eram como duas luas cheias, sábios e antigos, observando os viajantes com uma curiosidade serena.

O lobo gigante moveu-se com uma graça que desafiava seu tamanho, cada passo um baile entre os elementos que ele representava. Aeris, Lyra e Luna pararam, respeitando a presença do guardião, sentindo a força da terra sob seus pés e o toque do vento em seus rostos. O encontro com o Espírito Guardião não era apenas um momento de sua jornada, mas um ponto de conexão com o mundo ao seu redor, um lembrete de que cada passo na Floresta Vermelha era um passo em direção ao entendimento mais profundo dos mistérios da vida.

 - O que devo a visita de vocês? – pergunta o guardião com a voz serena e poderosa, ecoando pela floresta com uma brisa.

                Após ser questionado, Aeris da um passo a frente com um sorriso em seus lábios, retirando sua lamina da bainha e pousando a mesma sobre o gramado que andavam. Seus olhos azuis fitam a criatura majestosa a sua frente, pronto para tentar dialogar com ela.

 - Venho solicitar uma audiência. – diz com a voz suave.

 - Você exala o cheiro do dragão ancião e dos espíritos dos ares. – a fera mística analisava o dobrador a frente. – Muito bem, aceito tal pedido..

O Guardião da Floresta, com um gesto lento e deliberado, tocou o solo com suas patas gigantes. De repente, três pedras surgiram do chão, crescendo e se moldando até se tornarem assentos perfeitos para Aeris, Lyra e Luna. As pedras pareciam ter sido esculpidas pela própria natureza, suas superfícies lisas e frias ao toque, mas de alguma forma emanando uma sensação de acolhimento.

O trio se aproximou e, com um aceno respeitoso ao Guardião, tomou seus lugares nas pedras. O lobo gigante com chifres de alce os observava com olhos que brilhavam com a sabedoria dos séculos. A audiência havia começado, e o ar estava carregado com a importância do momento. O Guardião falou então, sua voz como o vento que passa pelas folhas e a terra que se acomoda sob o peso dos séculos, concedendo-lhes a permissão que buscavam e oferecendo conselhos que só um ser de sua estatura poderia dar.

Enquanto falava, o ar e a terra ao redor pareciam ouvir, a Floresta Vermelha inteira em silêncio atento. Aeris, Lyra e Luna sentiam-se pequenos diante da grandeza do Espírito Guardião, mas ao mesmo tempo fortalecidos e honrados pela confiança que lhes era depositada. A reunião selava um pacto antigo, um entendimento entre os guardiões da natureza e aqueles corajosos o suficiente para buscar sua sabedoria.

 - Sobre o que desejam conversar? – pergunta a fera, olhando diretamente ao dobrador do ar.

 - Primeiramente, Vossa majestade possui um nome? – pergunta Luna, pois estava curiosa e animada por estar na presença dessa besta mística.

O Guardião da Floresta, ao ser questionado sobre seu nome, soltou um som que lembrava o riso, uma sequência de sussurros e murmúrios que pareciam ser levados pelo vento entre as árvores. Era um som antigo e alegre, como se a pergunta lhe trouxesse uma diversão há muito esquecida. Os olhos do lobo gigante brilhavam com uma luz travessa, e por um momento, ele pareceu ainda mais místico e imponente. Então, com um olhar gentil para os viajantes, o Guardião falou. Sua voz era como o som da terra se movendo, profunda e ressonante, mas as palavras que vieram eram como o zumbido das folhas e o farfalhar da grama – algo inaudível, um segredo que permaneceria apenas com ele e a floresta que guardava.

 - Não acho que possamos entender. – solta Lyra.

 - E não deveriam, pois essa é a língua dos espíritos. Apenas o humano que carrega a alma do Ancião pode ouvi-la. – seu olhar gentil se repousa para Aeris, que lhe estrigava. – Seu cheiro se parece com o do Dragão Ancião, como um mestre do ar o tem?

 - Sou filho da Anciã.

 - Um filho do ventre da Anciã, assim como essa outra jovem. – solta ao sentir o mesmo cheiro vindo de Luna.

 - Adotados. – solta Luna, recebendo o farfalhar da floresta junto da risada vindo do Guardião.

 - Uma cria de amor e laços, mas não de sangue. Interessante. – um suspiro vindo lobo cria uma leve brisa que atravessa a floresta. – O que desejam?

 - Uma passagem segura para o outro lado da floresta, temos uma missão para aqueles cantos. – reponde Aeris.

 - Um pedido razoável. Lembro-me de ouvir dos pássaros que está ocorrendo uma guerra entre seu povo naquele canto. Por que desejas ir lá?

 - Para tentar parar a guerra, ou pelo menos evitar que mais pessoas morram por um objetivo besta. – responde novamente Aeris.

O Guardião da Floresta, ponderava em silêncio a solicitação dos viajantes. Seus olhos, refletindo a verdejante vida ao seu redor, brilhavam com a sabedoria das eras. Ele compreendia a importância de sua decisão, pois cada passo dado em suas terras sagradas ressoava no coração da natureza. Com um suspiro que parecia mover as folhas e acariciar as raízes, ele finalmente assentiu, concedendo a Aeris, Lyra e Luna a benção de uma travessia segura.

 - Para Solumia, a nação da terra, vocês caminharão sob minha vigilância. - disse ele, sua voz ecoando como um murmúrio da própria floresta. - E que a terra sob seus pés seja tão firme quanto a promessa que agora lhes faço. Apenas se aceitarem meu pedido em compensação.

 - Qual seria? – pergunta Lyra.

 - Primeiro, devem purificar o Espírito Corrompido, que lançou sua sombra sobre um nobre Dobrador da Terra. Ele se perdeu nas profundezas enevoadas do vale esquecido, e apenas a luz de vossas almas puras pode libertá-lo de sua prisão sombria. – com a voz que ecoava como vento entre os troncos, solta seu primeiro pedido.

 - “Primeiro”? – diz Luna fitando seu irmão, que matinha seu olhar fixo na fera a sua frente, prestando atenção em cada palavra dita por ele.

 - Segundo, devem buscar meu antigo aliado, o Guardião da floresta da Nação do Ar. Tempos atrás, nossas conversas dançavam nas brisas matinais, mas agora, seu silêncio pesa sobre mim como uma tempestade iminente. Descubram o motivo de seu retiro e tragam a harmonia de volta às nossas terras. – ele termina voltando seu olhar para o céu onde as aves voavam livremente.

 - Como encontraremos esse espirito corrompido e iremos para a Nação do ar? – pergunta Aeris por não saber a localização do primeiro problema, e o segundo ser do outro lado do continente, tendo que voltar todo o caminho e andar por uma semana a cavalo para chegar na nação do ar.

                Da terra a frente de Aeris surge uma pedra com uma runa esculpida nela, junto dela uma águia pousa majestosamente, demostrando o orgulho que continha em suas penas brancas.

 - A águia os guiará para o primeiro pedido, e ao enterrar a pedra, um portal surgirá para que possam ir a Floresta Esmeralda. Apenas quando cumprirem ambos pedidos, concederei a passagem por minha floresta. Boa sorte viajantes.

                Ao terminar, ele se vira, e sua forma começa a se desfazer em uma dança de folhas e brisa. O chifre resplandece uma última vez, como um farol de esperança, antes de se dissolver em partículas de luz verde e azul que se espalham pelo ar, deixando para trás apenas o sussurro das folhas e a sensação de um encontro transcendental.

 - Então vamos voltar para por as ideias em pratica? – pergunta Aeris com um sorriso desajeitado, com uma águia em seu ombro e segurando uma pedra que pode leva-lo para a nação do ar em segundos.

Após uma audiência mística com o Espírito Guardião da Floresta Vermelha, Aeris, Luna e Lyra fazem o caminho de volta ao acampamento, suas mentes ainda ecoando com as palavras sábias do guardião. A floresta, antes um emaranhado de segredos e sombras, agora parece acolhê-los como velhos amigos, guiando-os suavemente através de seu verde profundo.

Ao se aproximarem do acampamento, a figura de Elian se destaca contra o brilho suave do crepúsculo. Ele está imóvel, a armadura de guerreiro que veste parece engoli-lo, pendendo solta sobre seu corpo mais esguio do que o metal foi feito para proteger. Mas há uma força nele que a armadura não pode conter; uma determinação que brilha em seus olhos e na postura resoluta com que ele os espera.

O dobrador do ar fica para trás enquanto fitava sua irmã caminhando em direção a jovem príncipe, tirando sarro dele, fazendo o mesmo rir um pouco. A águia que estava sobrevoando o grupo pousa no ombro de Lyra dessa vez, a mesma que fica ao lado dele fitando-o com seus olhos dourados.

 - Qual o motivo dessa implicância? – pergunta enquanto faz carinho na águia.

 - Não sei, ainda não sei. Mas me policiarei para não acontecer novamente. – com a voz suave e soturna, ele observa sua amada acariciar as penas da águia. – Temo que não posso ajuda-lo nesta jornada.

 - Assim como ninguém podia ajuda-lo em sua, devemos apenas apoiar ele. Pois ele ainda não confia em nós para se abrir.

 - E você, confia em mim? – pergunta Aeris ao se aproximar mais da morena.

Em um momento de ousadia e paixão, Lyra estendeu a mão e agarrou Aeris, puxando-o para mais perto com um gesto atrevido. A surpresa de Aeris foi palpável, um misto de choque e desejo refletido em seus olhos azuis. Enquanto eles se aproximavam, o som do bater de asas preencheu o ar, e a águia branca que antes repousava no ombro de Lyra alçou voo, sua plumagem reluzente contra o céu.

 - Tenho uma confiança e um desejo que queima feito um fogo em meu peito. – um sorriso malicioso surge nos lábios da princesa do fogo.

 - Aeris! – grita Luna, interrompendo o momento de Lyra e Aeris.

                Luna surgiu de repente, interrompendo o íntimo encontro entre Aeris e Lyra com um sorriso travesso que só uma irmã mais nova poderia ter. Seu olhar sapeca e a risada contida eram claros sinais de que sua interrupção não era acidental, mas uma brincadeira típica de irmãos. Lyra, sem perder o ritmo, lançou a Aeris um olhar cúmplice antes de plantar nele um beijo rápido e surpreendente, deixando-o momentaneamente atordoado. Com um sorriso que misturava diversão e desafio, ela se afastou, caminhando de volta ao acampamento com a graça de quem sabe que controla a situação, enquanto Luna observava, ainda sorrindo, a cena que acabara de orquestrar.


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