Suco de maçã escrita por elda


Capítulo 1
único




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Era verão como dizia o azul do céu sem nuvens que observava. Uma gota de suor deslizou lentamente no meu rosto, que pude pegá-la a tempo com a mão. Pássaros gorjeavam e insetos cantavam na grama alta de um terreno cercado com fio farpado, eu estava só.  

Resolvi sair do meio da rua, o asfalto devia estar pelejando e como não via minha sombra, pensei que era por volta do meio-dia. No entanto, embora fizesse muito calor, não voltei para casa. Desci uma ladeira que levava até a estação e no meio do caminho encontrei uma máquina nova de venda automática que me fez parar o passo. Eu escolhi o suco de maçã que eu detestava, mas que ele gostava. 

Sanji dizia que tinha paladar apurado demais pra ser a única pessoa da cidade que tomava aquele sabor. Nunca pensei que essa característica dele fosse tão irônica como agora porque, antes de ele sair para estudar um curso que ganhou numa competição de pratos, ele me perguntou se eu sentiria sua falta e eu respondi que não. O idiota insistiu, perguntou se eu não me lembraria dele se eu visse alguém fumar e eu respondi que ele não era o único fumante que conhecia. Então, ele falou dos seus olhos azuis e eu disse que seria mais fácil lembrar-me das sobrancelhas ridiculamente enroladas. Ele fez bico e me mandou a merda depois de dizer que só queria um pouco de romance. 

 Mas agora o suco de maçã... era só ele e eu acho que ele não ficaria ofendido se eu me lembrasse dele assim. 

Eu continuei o meu caminho para a estação. A verdade é que nunca esqueci Sanji e volta e meia fazia aquele percurso como se ele estivesse lá me esperando. Não abri o suco, não pelo motivo de eu achar o sabor ruim, mas eu só pensei... se ele estivesse com muita sede quando chegasse lá? Ele ia me encher de elogios, até imagino... 

“Até que essa cabeça de alga tem um cérebro, né?” 

Não, não tinha, não. Ela só gosta de pensar demais, fanficar e tudo mais. Por que não fui mais romântico quando lhe vi pela última vez? De fato, Sanji fumava muito e eu não me lembrava de ninguém que fumasse o tanto que ele. Seus olhos eram azuis da cor daquele céu de verão que passei a encarar desde que ele se foi. Sem eu perceber, o azul se tornou algo que passei a necessitar. 

Pensava nisso quando vi pessoas embarcarem no trem e eu continuar na estação, sentindo o seu vento por conta da alta velocidade, esperando o fim do vagão chegar pra partir. 

Ele chegou. 

Mas chegou junto a uma voz “Marimo?” 

Sanji estava diante de mim, ele segurava uma mala de rodinhas e me parecia surpreso. 

“Pensei que fosse o velhote de merda que me pegaria... ele pediu pra você vir no lugar dele? Velho preguiç- 

Ele mal terminou de falar e o abracei apertado. Sanji riu abafado no meu ombro e retornou o abraço. 

“Estava com muita saudade...” 

Eu lhe disse com a voz entrecortada e, como demorava, Sanji pegou o meu braço e se afastou um passo pra trás “Você se esqueceu que é hoje o dia que volto daquele curso de merda?”

Pela minha reação exasperada, Sanji devia ter cogitado que nem eu estava ali para buscá-lo. Eu enxuguei minhas lágrimas no antebraço e comecei a rir, havia me esquecido que seria esse o dia “Você por acaso tá com sede?” 

Sanji piscou os olhos como se estivesse intrigado e realmente era uma pergunta estranha "Tô!" 

Dei-lhe o suco e aquela cara amarrada abriu um sorriso que eu já sabia o que ele diria “Não falei que você ia se lembrar de mim?!” 


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