Cipriani escrita por Bella P


Capítulo 1
Prólogo




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LORENZO DETESTAVA O SUBTERRÂNEO. O lugar era frio, cheirando a mofo e sempre tinha uma gota ou outra de umidade prestes a pingar na sua testa. E não vamos começar a falar dos túneis. A pior coisa que existia no subterrâneo eram os seus túneis: enormes labirintos que levavam a vários lugares e, ao mesmo tempo, a lugar nenhum.

Os túneis eram o que ligavam os covis uns aos outros, eram estradas sob a terra. Largos como as autobahns, intensamente iluminados e que, naquele momento, estavam lotados de carros que buzinavam enquanto demônios xingavam uns aos outros com grunhidos e rosnados.

Era a hora do rush.

Lorenzo riu diante da ridícula noção de que demônios tinham hora do rush. E por que não teriam? Eles tinham carros. Elétricos ou a gás não poluente, adaptados de maneira brilhante para irem de 0 a 100 km/h em três segundos. Afinal, seria contraprodutivo viver sob a terra e morrer intoxicado por CO2. Não foi por isso que os demônios se separaram dos humanos?

Tanto faz. Lorenzo não dava a mínima, pois a prioridade dele no momento era outra. Tipo, não sangrar até a morte no banco do carona do Hummer que Hunter e ele estavam. A volta deles, Camaros, Porsches e Mustangs tentavam abrir brecha no trânsito caótico. Demônios gostavam de carros possantes e esportivos. Quem diria. Lorenzo sempre os achou absurdamente arrogantes e a quantidade de conversíveis que os cercavam apenas corroborava a sua ideia.

— Lorenzo? — Lorenzo virou a cabeça molemente na direção de Hunter, que dividia-se entre dirigir e vez ou outra lançar um olhar preocupado para o caçador.

O carro da frente andou, um Porsche prata que reluzia sob a luz da avenida. Eles andaram também, para parar mais uma vez cem metros à frente. Lorenzo odiava engarrafamentos, ainda mais quando ele estava preso em um, morrendo, e com a guarda real em seu encalço. 

Hunter inclinou-se sobre Lorenzo e delicadamente retirou a mão que ele usava para pressionar o ferimento em sua barriga. Lorenzo observou com uma fascinação estrangeira os dedos avermelhados pelo sangue e gargalhou, ganhando um olhar estranho de Hunter. 

— Não está tão ruim. — Hunter comentou enquanto erguia o tecido empapado da camisa de Lorenzo, para ver melhor o ferimento.

Lorenzo riu mais uma vez. O que, sinceramente, não foi uma boa ideia. A risada sacudiu o seu corpo por completo e fez as suas entranhas doerem, o lembrando que quatro garras afiadas haviam sido enterradas em seu abdômen há pouco tempo. 

— Você mente muito mal — Lorenzo acusou, com um tom de divertimento na voz. Se Hunter estava tentando tranquilizá-lo, estava fazendo um péssimo trabalho.

Mais uma vez o trânsito andou, depois de uns dez minutos de buzinadas dos carros ao seu redor, e então as buzinas e os xingamentos ganharam um companheiro para complementar a sua caótica sinfonia:

Gritos.

Hunter e Lorenzo franziram as sobrancelhas e olharam ao mesmo tempo para o retrovisor. A imagem era, no mínimo, medonha: 

Uma picape GMC vinha abrindo caminho, usando as grades quebra-mato em seu pára-choque dianteiro como uma vassoura, varrendo os carros caros, assustando motoristas e passageiros, que abandonaram os seus veículos de maneira afoita e aos gritos de desespero.

Hunter e Lorenzo se entreolharam e então Hunter acelerou a Hummer e porrou o Porsche parado na frente deles. O motorista do Porsche, obviamente, não gostou desta manobra e saiu do carro com toda a intenção de arrumar briga. Intenção esta que Lorenzo viu desaparecer do rosto bonito do demônio quando as íris alaranjadas do sujeito foram parar no GMC que tinha acabado de passar por cima de um Ford Fiesta, e o esmagado como se este fosse uma barata.

Do que diabos era feito aquela picape?

O motorista do Porsche rapidamente desistiu da briga e começou a correr como os seus companheiros, por entre os corredores estreitos formados pelos carros parados. Hunter deu outra porrada no esportivo, agora abandonado, e Lorenzo sentiu uma pontada de dor subir pelo seu torso diante do impacto.

Dor por causa do movimento brusco que estava piorando o seu ferimento e dor porque Hunter estava destruindo um belíssimo Porsche, que finalmente saiu do caminho depois da terceira porrada e Hunter fez com os outros carros o que o GMC fazia atrás deles: abria caminho à força. 

Talvez eles tenham conseguido andar mais cem metros de estrada, Lorenzo não saberia dizer, pois a dor fazia pontos escuros surgirem em sua visão, ele suava frio e não precisava de espelho para saber que deveria estar pálido como um papel.

— Hunter! — Lorenzo gritou quando mais uma porrada fez o Hummer inteiro sacudir, e talvez ele tenha apagado por alguns segundos diante da dor, pois, quando voltou a si, Hunter o olhava com puro pavor estampado em seu rosto.

— Aguente só mais um pouco Lorenzo — o mestiço praticamente implorou, mas Lorenzo não aguentava mais nada.

— Hunter… — disse em um tom que Hunter compreendeu completamente, pois a sua expressão preocupada transformou-se em uma de pavor.

— Pensei que Ciprianis fossem mais durões — Hunter disse com raiva pura em seu tom de voz. Lorenzo soltou uma risada fraca.

— Durões? Sim. Invencíveis? Não — Lorenzo suspirou — Você sabe o que fazer.

— Não! — Hunter disse petulante e entre dentes trincados.

— Isto não é um pedido, é uma ordem! — Lorenzo rebateu, igualmente petulante — Você não quer tanto ser reconhecido como um Caçador? Comece por isto: quando o seu comando der uma ordem, você a obedece.

— Lorenzo… — se Hunter ousasse continuar aquela discussão, Lorenzo bateria nele, com ou sem ferimento enfraquecendo as suas ideias e deixando os seus movimentos letárgicos.

Não precisava os dois morrerem ali por causa da teimosia de Hunter. Alguém precisava seguir em frente, avisar aos Cipriani o que estava prestes a acontecer. Hunter ainda hesitou um minuto, um minuto precioso, pois o GMC estava chegando absurdamente perto, e então Lorenzo ofegou, porque Hunter havia acabado de beijá-lo.

Um beijo breve, mas que pareceu durar uma vida e, quando se afastou, Hunter mirou Lorenzo como se quisesse dizer algo, algo que Lorenzo sentiu no fundo de seu ser saber exatamente o que era.

— Não! — Lorenzo cortou Hunter antes mesmo que o mestiço pudesse abrir a boca. Ele não queria ouvir aquelas três palavras. Não queria que a última coisa registrada pelo seu cérebro fosse um “eu te amo”. Isto era a vida real, não um romance piegas. Hunter não insistiu, somente deu um último olhar para o caçador e saiu do carro.

Lorenzo observou Hunter se afastar com a agilidade de um gato, pulando por sobre carros e pessoas como se esses obstáculos não fossem nada demais. Um tranco na traseira do Hummer fez Lorenzo sibilar de dor e então pelo túnel ecoou o som de portas se abrindo e uma silhueta familiar apareceu na porta aberta do lado do motorista. Lorenzo riu ao reconhecer a forma de Lorena, nas roupas pretas que agora faziam parte de seu novo guarda-roupa.

— Eu pensei que Ciprianis fossem mais durões — ela disse de forma jocosa, enquanto se inclinava para dentro do carro.

Lorenzo riu mais uma vez, em uma mistura de delírio e histeria. 

— E nós somos — e com um gesto rápido ergueu o braço que não usava para pressionar o ferimento, braço cuja mão carregava uma Magnum 44.

Lorena só teve tempo de arregalar os olhos e então, Lorenzo atirou.

 


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