Metalwillverso escrita por Metal_Will


Capítulo 7
Absurdo (Pesadelo do Real)


Notas iniciais do capítulo

"Pesadelo do Real" foi minha história mais perturbadora. Contava a história de Monalisa, uma garota de 12 anos que, ao mudar seu caminho para a escola, ativa uma série de eventos que a fazem descobrir que todos ao seu redor conhecem a natureza da sua realidade, mas não contarão a ela, a menos que ela passe por vários outros eventos até chegar à verdade, a saída do Labirinto.

Foi uma história filosófica, baseada na eterna questão metafísica da verdadeira natureza do real. Estamos sonhando? Estamos na caverna de Platão? Estamos sendo enganados por um gênio maligno? Somos apenas um cérebro em um balde? Ou será que estamos em um grande labirinto sem saída? Também tomei como referências ficções como o filme "O Show de Truman", o filme "Labirinto" e o livro "O Mundo de Sofia". Poderia ficar ainda melhor se eu conhecesse mais elementos gnósticos, mas fiz o que pude dentro das minhas limitações.

O final é particularmente perturbador e recomendo ler a história original antes de acessar aqui. Foi uma das minhas melhores histórias e prendeu a atenção de muitos leitores.

Não sabia muito bem como fazer um especial a partir do final, mas acho que encontrei uma brecha para fazer uma breve reflexão. Não é um capítulo longo, mas espero que gostem.



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"É preciso imaginar Sísifo feliz"— Albert Camus

Mais uma manhã, mais um dia. O despertador toca e Monalisa abre seus olhos, ainda sonolenta. Mais um dia de aula, mais um dia em uma rotina da qual ela não sabia onde terminaria. Ela se formaria, conseguiria um trabalho, um casamento, filhos. Mas no fim, onde tudo isso daria? O mundo não vai acabar algum dia? E o universo não vai continuar do mesmo jeito, com a Terra nele ou não? De certa forma, aquela quieta garota de doze anos já tinha uma visão um pouco triste da vida. No fim, qual seria o sentido de tudo aquilo?

Apesar disso, ela seguiu com sua rotina. Tomou café com seus pais tão monossilábicos quanto ela e foi para a escola. Fez o mesmo caminho de todos os dias, assistiu as aulas e foi embora. Só que, por alguma razão, por algum motivo que ela não sabia explicar, decidiu fazer algo diferente. Em vez de ir direto para casa, resolveu passar em uma loja de doces para comprar um pedaço de bolo. Sim, um pedaço de bolo. Ela não era uma apaixonada por doces ou algo do tipo, mas teve vontade de comer um bolo de sobremesa. Como quase não tinha sobremesas em casa, ela achou que seria bom variar. Seu plano era comprar um pedaço de bolo apenas para ela e ir para casa. Apenas isso. Uma mudança de rotina quase insignificante.

Foi o que fez. Após andar um pouco, entrou na doceria abrindo a porta. Qual não foi sua surpresa quando, ao cruzar a porta da loja, em um piscar de olhos, vê o cenário mudar completamente. Em vez de uma loja de doces comum, o que ela encontra é uma sala totalmente branca. Ao se virar para trás, ela percebe que a porta por onde entrou sumiu. Assustada e confusa, Monalisa começou a ficar nervosa, mas, como mesmo em situações assim, não era de feitio gritar ou se desesperar. Ela tentou raciocinar e entender o que estava acontecendo. Observando ao seu redor, a menina viu uma pequena porta. Ao tentar abri-la, viu que estava destrancada e, com um pouco de dificuldade, passou por ela. Ali dentro, viu um salão enorme, gigantesco, muito maior do que a própria loja em que estava. Ao olhar para cima, viu uma figura parecida com o seu...pai?

—Pai? - estranhou a menina. O homem olhou para baixo e, suspirando, falou:

—Monalisa - disse ele - Não imaginei que chegasse aqui tão rápido.

—O que está acontecendo? - estranhou ela - Não estou entendendo nada!

—Venha até aqui - disse ele.

—Como? O senhor está voando a metros de altura.

—Apenas suba.

Monalisa tentou saltar e, para sua surpresa, levitou facilmente até onde seu pai estava, como se estivesse em um sonho.

—O que é tudo isso? - perguntou ela - Eu estou sonhando?

—Você ativou um evento - disse ele - Mas parece que o ativou de modo inesperado. Você tinha que passar por muitas coisas antes.

—Não estou entendendo nada - falou ela - Eu...só queria comprar um bolo e...

—Nesse caso - interrompeu o pai dela - É melhor usar o jeito mais rápido.

O homem pega uma esfera brilhante rosa e a coloca na testa de Monalisa. A cabeça da menina absorve a esfera e, rapidamente, ela se lembra de tudo que aconteceu. Aquela não era a primeira vez que algo estranho aconteceu com ela. E nem a segunda...

—Ah, de novo! Pai, digo, Mestre das Chaves - gritou ela - Eu...não saí do Labirinto...eu não tinha morrido? Eu não estava no inferno? Não estou entendendo nada.

—Bem, o inferno é isso - disse o homem, o Mestre das Chaves - É viver e reviver o Labirinto para sempre, e sempre, e sempre.

—Quantas vezes eu passei por isso?

—Desde que você morreu pela primeira vez? Pelo menos dois bilhões de vezes.

—Dois...bilhões?

—E você continuará vivenciando isso para sempre - explicou o Mestre das Chaves, sem perder a calma - Algumas vezes, você morre naturalmente. Em outras, você ativa eventos e descobre que está no Labirinto. Mas esse loop nunca acabará. Essa é a sua sina.

—Nunca...vai acabar - disse ela - Só que dessa vez foi diferente. Eu cheguei na verdade bem mais rápido!

—Só porque foi um evento diferente - disse ele - Daqui, você perde suas memórias novamente e recomeça o ciclo. Não há escapatória.

—Não há...escapatória - balbuciou ela - Isso parece aquela história que minha professora de literatura me contou. O homem que foi condenado a levar uma pedra morro acima e, sempre que ele chegava ao topo, ela escorregava.

—Sim - confirmou o Mestre - É o mito de Sísifo. É parecido com o seu caso.

Monalisa suspirou e se sentou em pleno ar.

—Sabe? Achei essa história algo horrível - comentou ela - Lutei tanto para descobrir a verdade e, no fim, eu havia morrido. Agora, parece que isso não me abala tanto.

—A primeira vez é sempre impactante. Isso vale para muitas coisas.

—Pensando agora...Será que minha primeira morte foi mesmo real? Será que antes do Labirinto, eu já não estava em um outro Labirinto?

—Essa é uma questão de perspectiva - disse ele - Se for isso, talvez você estivesse em um Labirinto maior.

—E esse Labirinto não poderia estar dentro de outro e de outro e de outro? - indagou a garota.

—Poderia - disse ele - No fim, apenas o criador do Labirinto pode fornecer respostas.

—O Dédalus - lembrou Monalisa - Ele é criador desse Labirinto. Mas e o criador dos outros?

—Não posso falar mais do que isso - confessou o Mestre das Chaves - Seria contra as regras dar mais informações.

—Então, eu nunca vou saber, mesmo que tente? - perguntou a garota.

—Existe uma sequência de eventos que te leve a essa resposta - disse o Mestre das Chaves - Mas seria muito difícil você ativá-la. Teria que ser uma ordem muito específica.

Monalisa apenas suspirou.

—Quer saber? Não me importo mais - falou ela, se levantando.

—Então...

—Tudo que me resta é vagar pelo Labirinto eternamente, não é? - perguntou a garota - Isso poderia me deixar angustiada, mas se não posso fazer nada, vou apenas aceitar.

—Aceitar? - disse o Mestre das Chaves surpreso.

—Vamos - falou ela - Apague logo a minha memória e me deixe continuar o ciclo.

—Vai mesmo aceitar isso? Viver uma vida absurda?

—Sim, é absurda - disse Monalisa - Viver a mesma vida tediosa para sempre e sempre. Mas já que não tem remédio, remediado está. Acho que estou até começando a ver alguma beleza no absurdo.

—Bem, eu só sigo a minha função - disse ele, abrindo um portal - Entre por esse portal. Você acordará na sua cama, na manhã de hoje, não lembrando de mais nada.

—E assim para sempre, não é?

—Assim para sempre - confirmou o Mestre das Chaves - Pelo menos até você ativar um evento que te dê mais respostas.

—Se o Labirinto é eterno no tempo e vou seguir nesse curso para sempre, então uma hora vou descobrir a verdade, não vou?

—Olhando por esse lado...

—Então, que seja - disse Monalisa sorrindo - Vou só continuar e abraçar o absurdo até lá. Até mais, pai.

—Até mais, minha filha.

Monalisa entrou pela porta e, assim que a cruzou, um clarão fez com que ela acordasse mais uma vez em sua cama, com o despertador tocando.

"E lá vamos nós de novo", pensou ela. "Essa vida...não tem sentido nenhum mesmo."

Fim?


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Notas finais do capítulo

Acho que nunca terá um fim...

Bem, no próximo capítulo voltaremos a refletir sobre a vida em um capítulo especial de Procurando.

Até lá! :)



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