Metalwillverso escrita por Metal_Will


Capítulo 6
Terapia (Suave Sedução)


Notas iniciais do capítulo

"Suave Sedução" foi uma história relativamente curta e excepcionalmente adulta, onde me arrisquei a explorar o tema delicado da relação entre religião e sexo. O protagonista, Lucas, era um garoto tímido do interior com o sonho de ser pastor. Porém, sua nova vizinha, Letícia, uma bonita e misteriosa jovem vinda da cidade, começou a se envolver com ele e tentá-lo para corromper seu voto de castidade.

Não foi minha primeira história com um teor mais erótico, mas foi a primeira em que tratei a tensão sexual com mais seriedade. O passado de Letícia, em particular, não foi nada leve.

A principal referência que usei nessa história foi a minissérie "Presença de Anita", ainda que tenha alguns elementos de "Hilda Furacão". De qualquer modo, minha intenção foi criar uma personagem naturalmente sedutora e perturbadora.

Nesse capítulo especial, vemos o que aconteceu com Letícia após os eventos de "Suave Sedução". Boa leitura!



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Já era quase cinco horas da tarde e Murilo, o jovem psicólogo em seu primeiro ano de trabalho após formado, estava quase encerrando seus atendimentos do dia. Faltava apenas uma pessoa para ele encerrar seu expediente e voltar para sua casa, onde sua esposa o aguardava. Por sinal, ele também estava em seu primeiro ano de casamento. Após despedir sua última paciente, ele olhou para a sala de espera e não viu ninguém. Será que ela não veio?

—Marisa - disse Murilo, chamando sua secretária Marisa, uma mulher por volta de seus trinta e um anos - Não tinha mais uma paciente?

—Sim - confirmou a secretária - É Letícia o nome dela, mas ainda não chegou.

—Será que ela desistiu? - perguntou ele - Bem, vamos dar mais uns cinco minutos de tolerância. Se ela não vier, eu vou embora.

Mas assim que terminou de dizer essas palavras, uma moça muito bonita, usando vestido e sapatos pretos, chegou ao local. Ela estava um pouco ofegante, como se tivesse corrido muito. Tinha lindos cabelos loiros puxados para o ruivo e olhos azuis espetaculares. Essa era a Letícia.

—Boa tarde - falou ela - Desculpe o atraso.

—Letícia? - perguntou Murilo.

Letícia confirmou com um sorriso. Murilo a cumprimentou e pediu que entrasse. No consultório do psicólogo havia uma escrivaninha, com uma cadeira para o terapeuta e outra para o paciente, mais um pequeno sofá. Por ser sua primeira sessão, a garota não sabia muito bem o que fazer.

—Fique à vontade - disse ele - Pode sentar aqui ou, se preferir, sentar no sofá.

—Acho que vou no sofá - escolheu ela - O senhor se incomoda...se eu tirar meus sapatos?

—Fique à vontade - repetiu o psicólogo. Letícia tirou seus sapatos e se sentou no sofá, praticamente deitando nele.

—Desculpa - falou ela - Tenho trabalhado tanto que fico muito cansada. Fora que odeio sapatos. Só uso para sair mesmo. Em casa, praticamente só ando descalça.

—Certo. No que você trabalha? - perguntou ele.

—Administro uma floricultura - explicou a garota - Comecei em uma cidadezinha no interior, mas tive alguns problemas e acabei saindo de lá. Depois mudei para uma cidade um pouco maior, consegui gerar mais capital e finalmente abri uma rede maior aqui em São Paulo.

—Você nasceu no interior? - indagou o psicólogo.

—Não - respondeu Letícia - Morava em Campinas. Aconteceram algumas coisas que mudaram bastante a minha vida. Na verdade, aconteceu muita coisa. Tanta coisa que chegou nesse ponto de procurar fazer terapia.

—Entendo - falou o jovem terapeuta - Por favor, conte o que aconteceu.

Letícia contou sua vida. Poderíamos detalhar tudo que ela já viveu, mas se você está aqui é porque já sabe tudo que aconteceu com Letícia. Sua ligação forte com a mãe, sua atração inesperada por seu padrasto, a morte da mãe, a relação conturbada com o padrasto, a morte do padrasto, sua mudança para Rosas da Aliança e, enfim, sua relação com Lucas.

—Certo - disse Murilo, após ouvir a história de Letícia por quase quarenta minutos, sem interrupções - E o que aconteceu depois disso?

—Saí de Rosas da Aliança e, no meio da estrada, fiquei amiga de uma família jovem - disse ela - Era um pai, uma mãe e duas crianças. Almocei com eles e descobri que o pai estava em viagem para visitar uma tia distante da esposa dele que havia falecido.

Murilo aguardava a continuação da história.

—Conversei um pouco mais com ele e vi que era um excelente pai - explicou Letícia - Era atencioso com a esposa, com os filhos. Parecia uma família perfeita, sem problema nenhum. Seria realmente uma pena se algo estragasse aquilo.

—Tipo o quê?

—Tipo...uma jovem moça tentar se aproximar do pai.

—Espera, você está dizendo que depois de tudo que você tinha acabado de passar com o garoto que queria ser pastor...ainda quis se envolver com um homem casado?

—Sim - reconheceu ela, olhando para o psicólogo com um sorriso malicioso - Eu não faria isso, se não fosse o detalhe da família perfeita.

—Pelo que estou entendendo, você tem uma atração peculiar por casos delicados. Primeiro, seu próprio padrasto, depois, um garoto que queria preservar a virgindade, agora, um homem casado com uma família perfeita.

—Esse é o meu problema - falou ela - Meu prazer está no proibido.

—Daria para dizer que você age assim justamente por ser um tabu?

—Talvez - reconheceu a garota - Só sei que o proibido é mais gostoso.

Murilo colocou a mão no queixo, pensativo. Nem terminou seu primeiro ano como psicólogo formado e já pegou um caso bem complicado.

—E você se envolveu com esse pai?

—Digamos que eu tive "sorte" - prosseguiu a garota, fazendo sinal de aspas com os dedos na palavra "sorte" - Logo depois do almoço, fingi que meu carro teve algum problema e pedi para ele verificar. Nessa hora, fiquei sozinha com ele e tentei me aproximar, mas ele logo recusou e disse que estava muito bem casado.  Lembro até hoje do olhar de desprezo que ele me lançou.

—Você se sentiu rejeitada?

—Sim - disse ela - Ao contrário do Lucas, que me rejeitou, mas depois me tratou com carinho, ele me olhou com nojo. E ele tinha razão. Até aquele momento, ele estava apenas sendo gentil e eu me aproveitei disso para dar em cima. Sou um lixo de pessoa mesmo.

—Calma, calma - falou Murilo - Não se veja dessa forma. O que precisamos fazer é analisar melhor esse seu impulso de desejar o proibido. Por que você acha que é assim?

—Olha, eu não sou uma ninfomaníaca, nem nada do tipo, tá? - disse Letícia - Posso ficar muito tempo sem sexo e masturbação já costuma me deixar satisfeita. Mas, alguns casos, eu simplesmente não consigo resistir. Alguns homens passam uma aura tão, tão pura, que sinto uma vontade incontrolável de corromper aquilo. Sou agnóstica, não sei se existem coisas como Deus ou o diabo, mas parece que o diabo me controla nessas horas.

—E você acha que não é você no comando da situação?

—Não, foi um jeito de falar - explicou ela - No fundo, eu sei que a única responsável sou eu mesma. Eu e só eu que tenho esse desejo.

—Minha hipótese é que você concentra toda a sua sexualidade nesses contextos - sugeriu Murilo - Você já teve algum relacionamento mais duradouro?

—Nunca - ela respondeu prontamente - Nunca namorei, nem nada do tipo.

—E você costuma ter uma vida social? Costuma sair para conhecer pessoas novas?

—Pouco - disse ela - Sou chefe só de funcionárias mulheres na minha floricultura. Também moro sozinha e não tenho saco para sair. Fora que a maioria dos caras que tem por aí são uns babacas.

—Você não tem interesse nenhum em conhecer outros rapazes? Ou mesmo homens mais velhos, mas que estejam disponíveis?

—Não - respondeu ela, secamente - O meu desejo simplesmente aparece com pessoas bem específicas. E quando isso acontece, é como se meu corpo pegasse fogo. Simplesmente não consigo aguentar. Mas não dou a mínima para caras que não me despertam interesse.

Murilo realmente tinha um caso complicado em mãos. Era uma garota com uma sexualidade extremamente aflorada, mas concentrada em casos bem específicos. Trabalhar com ela seria mais difícil do que ele pensava.

—Bom, Letícia. Teremos que trabalhar isso - explicou ele - Seu tempo de sessão está terminando, mas quero que você volte aqui mais vezes, ouviu?

Letícia apenas sorriu.

—Claro - disse ela - Foi bom falar com você, doutor...Murilo, né?

—Sim - disse ele - Nos vemos quando? Semana que vem?

—Pode ser - aceitou ela, se levantando do sofá e reparando na aliança de casamento dele.

—Então, pode marcar seu horário com a Marisa.

— Obrigada, Murilo - falou Letícia - Você...é mesmo uma boa pessoa.

Letícia olhou bem nos olhos dele com uma profundidade perturbadora e não conseguiu segurar um sorriso sedutor. Pelo visto, algumas pessoas nunca vão mudar...

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, entraremos novamente no Labirinto em "Pesadelo do Real". Até lá! :)



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