Better Than Misery escrita por Segre, ancientsoulwriter


Capítulo 2
Better than revenge


Notas iniciais do capítulo

Heyy, Laurinha aqui! ♥ ♥

Bora ler o ponto de vista da Sam?
Quem aí gosta de uma vingancinha?? Ksksksk.



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Agora, vá ficar no canto e pensar sobre o que você fez

(Now go stand in the corner and think about what you did)

Minha respiração pesava a cada vez que ficava mais próxima daquele corredor, o estranho é que antes isso não seria algo que eu me preocuparia, eu só sairia do elevador e andaria como uma pessoa normal, mas agora… sempre que vou ao apartamento da minha melhor amiga preciso fazer um esforço mental enorme para não pensar na porta a frente, ou em quem está atrás da porta da frente. Tão patético! Mas acho que foi o que eu me tornei… que merda, hein Samantha! 

—E aí Sam. -Spencer me cumprimentou quando entrei, ele estava sentado no sofá com um balde cheio de coisa estranha, materiais para uma nova escultura talvez???. 

—Ei… -respondi o cumprimento, enquanto me sentava ao lado dele. ‐A Carly tá aí?

—Não, ela saiu há uma hora… você está bem? Parece um pouco triste. 

Abaixei a cabeça, estava tão na cara assim? 

—Ah, nada demais… só preciso de comida. 

Forcei um meio sorriso e fui em direção a geladeira; comida, a única coisa que não me decepciona! 

Ouço Spencer se levantar do sofá e dar uma risadinha. 

—Tudo bem, eu preciso voltar lá pra dentro, mas fica a vontade… -ele parou no meio do caminho- se bem que eu acho que não preciso falar isso pra você, né?

Dessa vez fui em quem ri. 

—Pois é. Boa sorte com a escultura. 

 

Voltei minhas atenções à geladeira, acabei encontrando um pedaço do que parecia ser o último pedaço do bolo de aniversário da Carly. Eu sei que ela me mataria se eu pegasse mas, bem… o aniversário dela foi há uma semana e esse pedaço ainda está aí, se ficar mais alguns dias é capaz de azedar e se isso acontecesse, o destino desse delicioso bolo seria o lixo. 

Então o peguei, me sentei na bancada e comecei a comer, fechei os olhos em apreciação, o que não durou muito devido ao que eu estava sentindo, porque acabei comendo muito rápido, preciso parar com essa mania. 

Coloquei o prato na pia e resolvi deixar um bilhete para a Carly, quem sabe assim ela não ficaria tão brava. 

 

Depois não vi mais o que fazer ali, então resolvi me mandar, gritei um tchau para o Spencer, saí do apartamento e corri para o elevador. Eu não tinha mais nenhum lugar pra ir então decidi ir para um dos únicos lugares naquele prédio que me dava paz; a saída de incêndio. 

Era arriscado ir lá, eu sei, mas eu precisava ficar sozinha, precisava pensar, precisava me sentir minimamente bem… então era um risco que valia a pena correr! 

Quando cheguei lá, foi inevitável não sentir tudo voltando… foi aqui que eu e o Freddie demos nosso primeiro beijo, anos atrás. Fechei os olhos e me sentei na escada. 

Eu sinto tanta falta dele, dos nossos beijos, dos nossos abraços, da voz dele no meu ouvido, das nossas conversas… 

Por que tudo tinha que acabar daquela forma? 

Mas não era certo, não é? Todos diziam isso, “a garota problemática que vai arrastar o garoto perfeito pro mal caminho”... Freddie e eu nunca demos muita atenção para esses comentários, mas depois do que o Gibby fez… parece que algo se rachou entre nós dois. Ele começou a se sentir mal por estar desobedecendo a mãe, namorando uma garota que ela não aprovava… e os caralho a quatro, até que… terminamos.

Engoli em seco. Terminamos dizendo eu te amo um pro outro, desde quando isso era algo justo? 

E agora… eu mal consigo olhar pra ele, ficar perto dele antes era algo maravilhoso, eu me sentia tão bem, tão amada… agora, quando eu fico perto dele… é tão doloroso. Não posso mais vê-lo e beijá-lo como antes, nem abraçar ou pegar em sua mão, que sempre estava lá pra me apoiar em qualquer coisa. 

Não aguentei mais segurar as lágrimas, estava tão difícil lidar com tudo aquilo, eu me sentia tão sozinha, como se eu não fosse digna do amor, como se… como se o mundo estivesse contra mim. 

 

Está na hora de uma vingancinha!

(Time for a little revenge!)

—... e estão por apenas dois dólares, Carlotta, DOIS DÓLARES! -eu segurava os ombros da minha amiga enquanto falava sobre uma maravilhosa promoção de bolo gordo que tá rolando no Walmart, ela apenas ria enquanto tentava fazer com que os livros não caíssem no chão. 

Uma coisa que têm me ajudado a me sentir melhor é saber que eu tenho a Carly, ela sempre foi a minha melhor amiga, e sempre está aqui pra me apoiar. Eu não sei o que seria de mim sem ela… se eu sei o que é ter uma família ou amigos de verdade, é por causa dela, que sempre dividiu tudo comigo sem nem se importar, ela fazia mais por mim do que minha própria mãe, e eu vou ser grata a ela pra sempre por isso.

Me sinto bem pelo fato dela não ter percebido meus reais sentimentos, não seria nada legal estragar o dia dela com as minhas merdas. 

Era eu que estava sentindo, então era eu que tinha que lidar!

 

Mas meu disfarce durou pouco assim que vi quem estava nos encarando do outro lado do corredor; como assim Freddie e Gibby fizeram as pazes? Achei que o Freddie ainda estava puto pelo Gibby ter dedurado o nosso namoro pra mãe dele. Vi o Benson dar aquele clássico sorriso de lado e um leve aceno, seria pra mim? Não me espantaria completamente se fosse pra mim mas, não consegui retribuir, era como se por um segundo eu tivesse congelado, igual a princesa daquele filme. Não apenas por causa do nerd, mas porque o Gibby me olhou de uma forma estranha, era como se… ele tivesse com ódio? Sei lá, mas eu senti um arrepio na espinha, posso estar ficando paranoica mas é como se ele estivesse dizendo: “viu? você não conseguiu acabar com a nossa amizade, sua loira azeda quebradora de dedos”.

Fechei os olhos, será que ele ter voltado a falar com o Freddie está fazendo ele se sentir vingado por todas as vezes que eu o agredi enquanto namorava o nerd? 

Será que “só” ter acabado com o nosso namoro não foi o suficiente? Ele precisava da cereja do bolo? 

Quando eles deram as costas a nós, não consegui evitar questionar a Carly sobre essa súbita volta da amizade deles, mas ela apenas disse que não sabia de nada. Achei um pouco estranho, mas a Carly nunca mente, então tá ok. 

 

A história começa quando estava calor e era verão e

(The story starts when it was hot and it was summer and)

Eu tinha tudo, ele estava bem onde eu queria

(I had it all, I had him right there where I wanted him)

Acabei não indo a promoção de bolo gordo… ver o garoto que eu amo andando com o responsável pelo nosso término como se nada tivesse acontecido, tirou toda a pequena animação que eu consegui sentir naquele dia. 

Fui pra casa, encontrei minha mãe dormindo no sofá com uma garrafa de vodca na mão. Revirei os olhos, pensando; “quando essa mulher vai arrumar um emprego?”, e subi as escadas em direção ao meu quarto. Quando cheguei lá, fechei a porta, joguei minha mochila em um canto e depois me joguei na cama, fechando os olhos. 

 

⁝ Flashback on ⁝

—Freddie, para com isso! -eu dizia entre risadas enquanto o Freddie tentava me beijar. -eu preciso terminar meu sorvete!

—Sim, é claro que precisa. -ele disse, antes de, finalmente, conseguir me beijar.

Momentos assim se tornaram raros entre nós ultimamente, desde que o Gibby teve a “genialidade” de contar pra louca da mãe do Freddie sobre o nosso namoro, -e ela fez um escândalo ameaçando se jogar do último andar-, o clima anda meio tenso, nossas conversas já não são mais as mesmas, muito menos nossos gestos de carinho. Eu sei que o Benson acha que está traindo a mãe dele, mas ele não está, e o que eu mais queria era que ele entendesse isso. 

Quando ele me chamou pra ir tomar sorvete hoje, eu nem acreditei, a última vez que saímos juntos foi justamente naquele dia, então eu considerava isso um verdadeiro milagre. É tão bom estar aqui com ele, parece tão certo… é tão certo, somos um casal feliz, como tantos nesse parque. 

Por que é tão difícil para alguns entenderem isso?

—Eu fiquei tão feliz quando você me chamou hoje, baby. -eu disse, quando nos separamos e voltamos a andar de mãos dadas, ele sorriu e beijou o nó dos meus dedos. -Mas por que isso de repente?

—Eu só achei que a gente merecia um descanso disso tudo… as coisas têm sido difíceis pra nós ultimamente, né cuteness?

—Infelizmente… -suspirei- Eu só queria que as coisas fossem um pouco mais fáceis e todo mundo nos deixasse em paz!

—Eu também…

Ficamos um silêncio depois disso, até que o Freddie me parou de repente, -já tínhamos terminado nossos sorvetes a essa altura. 

—Aí, quer ir lá pra casa? Minha mãe saiu e só vai voltar à noite. Tô com saudade de você… -ele disse em um tom de voz um pouco malicioso e beijou meu rosto. Revirei os olhos e sorri. 

—Você tá ficando muito safado, Benson… mas eu topo, sinto falta do Nug Nug. 

Ele arqueou as sobrancelhas.

 do Nug Nug?

Eu fiz uma careta fofa, tentando soar graciosa, e ele riu.

—Hum…não sei… talvez eu sinta falta do seu computador de última geração também.-ri, quando ele fez uma careta fingindo desapontamento. -Você sabe, do que eu realmente sinto falta. -sussurrei em seu ouvido e sorri quando o senti ficar arrepiado. -Vamos logo, seu bobo.

O puxei pela mão e fomos correndo até o Bushwell, que não ficava muito longe dali.

 

Chegamos ao oitavo andar entre risadas, mas elas logo pararam quando ouvimos uma voz (que não deveria estar ali), dentro do apartamento do Freddie. 

—Eu já estou ficando doente com essa sensação, Lilly… não aguento mais. 

Nos entreolhamos, era a mãe do Freddie, e ela estava falando no telefone.

—Não, ele ainda não terminou com aquela delinquente, por isso eu estou te falando, eu vou surtar!... É, eu voltei a tomar os remédios mas eles não estão ajudando, toda vez que ele sai ou se tranca no quarto eu começo a sentir palpitações… 

Engoli em seco e senti Freddie apertar minha mão. 

—Se o Freddie não terminar com aquela garota ele vai acabar matando a própria mãe dele!

Isso bastou para que saíssemos de lá em silêncio. 

 

Voltamos para o elevador, e nenhum de nós ousou dizer uma palavra, isso já estava me dando nos nervos, então apertei o botão que fazia aquela caixa de lata parar. Freddie me olhou, e meu coração apertou quando eu vi que ele estava fazendo esforço pra não chorar. Fui até ele e segurei sua mão, nos sentamos no chão, um de frente para o outro.

—Olha, Sam, eu…

—Não precisa falar nada, Freddie… -o interrompi.

Nos encaramos por um tempo, como se pudéssemos enxergar a alma um do outro, se isso não fosse muito brega de se dizer. 

Eu sentia qual seria o próximo passo disso, mas não queria aceitar. 

—Olha… isso não pode mais continuar desse jeito… nosso namoro precisa ser celebrado pelas pessoas que a gente ama, e não tolerado, rejeitado ou odiado. -consegui enfim dizer, enquanto sentia uma lágrima escorrendo do meu olho direito.

—Não, Sam…

—Freddie… 

Eu o olhei, como se implorasse para ele não tornar as coisas mais difíceis, e acho que ele entendeu, porque passou a me olhar de um jeito diferente. 

Então sem que nenhum de nós dissesse nada, desabamos em um choro copioso juntos, enquanto as nossas mãos continuavam grudadas. Ele me puxou para um abraço, o gesto foi tão rápido que eu acabei sentada no colo dele, enquanto suas mãos brincavam com os meus cachos, como eu vou sentir falta disso, pensei. 

—Eu te amo. -ele sussurrou no meu ouvido, e eu sorri.

—Eu também te amo. 

Dessa vez foi ele quem sorriu.

 

⁝ Flashback off ⁝

 

Lágrimas saíam violentas dos meus olhos… por que eu me torturava tanto pensando nele, pensando em nós? Eu não aguentava mais essa sensação, mas ao mesmo tempo não me sentia forte o bastante para reagir, aquele nerd levou todas as minhas forças e a minha alegria com ele.

Talvez eu tenha motivos para odiá-lo agora.

 

Ela chegou, pegou ele sozinho e vamos ouvir os aplausos

(She came along, got him alone and let's hear the applause)

Alguns dias se passaram, por mais que eu não os tenha sentido se passando, era como se eu estivesse paralisada, vivendo de forma mecânica, fazendo as mesmas coisas todos os dias, falando as mesmas coisas todos os dias…

Eu sei que estou insuportável… nem mesmo a Carly tem me aturado mais, anteontem eu conversei com ela sobre parar com o iCarly por um tempo, me abri de verdade, disse como eu me sentia em relação ao Freddie, e ela agiu de um jeito que eu nunca tinha visto antes, fiquei até assustada, pela primeira vez em anos eu senti medo de alguém, e foi pela minha melhor amiga… isso era tão confuso!

A única coisa que eu me perguntava era: por que ela falou comigo daquele jeito?

Mas no final das indagações eu só balançava a cabeça, lembrando a mim mesma de que era por minha culpa, eu estava insuportável de se conviver.

 

Hoje é quinta-feira, e eu acordei bem atrasada, o motivo é que fui dormir bem tarde ontem depois de ter maratonado a segunda temporada de Stranger Things, mas em legítima defesa, eu estava com insônia, e a fantasia é um bom escape de realidade quando a vida está uma bosta completa… valeu aí demogorgon, se na próxima você quiser me levar para o upside down ao invés do Will, ‘tamo aceitando.

 

Cheguei na escola dois minutos antes do sinal tocar, meu recorde, já que na maioria das vezes em que me atraso ele já tocou, ou toca bem no momento em que eu chego. Subi aquelas escadas correndo, com medo dos meus cadarços parcialmente amarrados me fazer levar um tombaço digno de pegadinha. Ignorei os sermões do Sr.Howard quando passei pelo portão e me concentrei em encontrar Carly, mesmo sabendo que muito provavelmente ela já teria entrado na sala, então fui em direção ao corredor dos armários. 

Foi quando eu arregalei meus olhos, devido a surpresa que senti. 

Há alguns metros de mim, estava Carly em frente ao seu armário, mas não foi isso que me chamou atenção, e sim, ela estar próxima, muito próxima do Freddie. Eles conversavam animados sobre algo -que eu não conseguia entender devido à distância-, como há muito tempo não faziam. 

Senti algo dentro de mim se apertar. 

Foi quando ela pegou na mão dele, e ele parece ter gostado, logo correram para a sala. 

Fechei meus olhos, controlando as lágrimas que estavam doidas para saírem. Flashes invadiram a minha mente; eles dançando juntos no Vitamina da Hora no dia do baile da garota que escolhe, eles tendo uma ficada de um dia depois que o Freddie salvou a Carly de ser esmagada por aquele caminhão de tacos. 

Que porra tá acontecendo?

Fechei os olhos, respirando fundo, “calma Sam, é só uma amiga conversando com um amigo, a Carly nunca faria isso com você, ela sabe que você ama aquele idiota.” 

Fechei os olhos de novo, fazendo um esforço colossal pra não chorar ao mesmo tempo em que tentava calar meus pensamentos. 

“Sai, sai da minha cabeça, sai” eu gritava mentalmente, mas as vozes só aumentavam.

Apenas abri os olhos quando senti aplausos atrás de mim;

—Eles formam um casal lindo, né?

Era Gibby.

E eu não tinha forças nem vontade para revidar.

 

{...}

 

Eles continuaram grudados até o final da aula, e depois saíram juntos, sei lá pra onde, eles não me disseram, nem falaram comigo... só coisas monossilábicas no início ou final de uma aula. 

Do Freddie eu até esperava esse comportamento, ele tem se mantido distante desde que terminamos, e eu também, mas a Carly… ela nunca agiu assim, e está tão estranha ultimamente. Pensei em conversar com ela, mas tenho medo dela se irritar e eu acabar estragando ainda mais as coisas. 

Isso tudo me faz me sentir tão estranha… é como se eu estivesse em uma realidade paralela, como se eu fosse uma mera espectadora na vida dos outros, a coadjuvante da minha própria história… sabe aqueles sonhos onde você vê todos mas ninguém te vê por que você é invisível, mas ao mesmo tempo você sabe que eles sabem que você está ali? Pois é; é exatamente assim que tenho me sentido. 

 

—Sam? SAM! 

Desperto das minhas neuras com a voz da Wendy me chamando e seus dedos se estalando na minha cara. Na outra mão ela segurava dois CD 's de bandas de rock.

Wendy Williams é a minha amiga mais próxima depois da Carly, nos conhecemos na oitava série em um dia que pegamos detenção no mesmo dia; eu por ter jogado uma bolinha de papel com cola no cabelo da Srta.Briggs, e ela por ter colocado tachinha na cadeira do Sr.Howard. Nossa aproximação se iniciou porque no dia da detenção eu estava usando uma camiseta do Paramore, que é a banda favorita dela, por isso ela não resistiu a iniciar uma conversa comigo. Logo descobrimos que temos muito mais em comum do que apenas os interesses musicais, e nos tornamos amigas. 

Eu estou na casa dela agora, ela me chamou pra dormir aqui depois de ter percebido que eu estava um pouco… “pra baixo”? foram essas as palavras que ela usou. No início eu pensei em recusar, mas acabei aceitando, não ia fazer bem pra mim voltar pra casa.

Nunca é bom voltar pra lá. 

Quando chegamos fomos direto para a cozinha, a mãe dela fez alguns lanchinhos (que estavam maravilhosos, aliás) e depois fomos para o seu quarto, porque ela cismou que precisava organizar sua estante de CD’s, pelo o que parece estava uma bagunça… “os meus bebês da Taylor Swift não podem se misturar com os meus bebês da Katy Perry, elas tem uma rixa!”, ela disse. Eu respondi que essa rixa já foi superada há tempos e que hoje em dia elas são amigas, mas a Wendy apenas disse que é porque os “bebês” foram lançados na época das polêmicas. 

Revirei os olhos, mas admito que aquela baboseira foi a única coisa capaz de me tirar uma risada sincera em vários dias. 

—O que? -respondo. 

—Eu estou falando com você há um tempão, mas você parece que tá avoada… -ela respira fundo e se senta ao meu lado na cama. -Não vai mesmo me dizer o que está acontecendo?

Penso um pouco, será que vai adiantar alguma coisa? 

Talvez não, mas foda-se, eu simplesmente estou cansada de carregar esse fardo sozinha! Fora que a Wendy é minha amiga, sei que posso confiar nela.

Então respiro fundo e começo a tentar organizar os pensamentos.

—É que… a Carly tá estranha. -Confesso, e percebo que Wendy revirou os olhos, fazendo uma careta em seguida. Estranho.

—O que essa criatura aprontou?

—Ah, ela só… está estranha, esses dias atrás eu me abri com ela em relação ao meu término com o Freddie, perguntei pra ela se não seria melhor parar com o programa por um tempo porque está muito difícil pra mim ficar no mesmo ambiente que ele, e ela simplesmente… surtou.

A ruiva ergueu as sobrancelhas.

—Surtou como?

Apertei os olhos, não queria repetir tudo o que ela me disse, já foi doloroso demais ouvir, que dirá repetir em voz alta. 

—Basicamente disse que o programa é algo muito maior do que todos nós porque temos um público pra agradar, um trabalho a fazer… e tudo isso é mais importante do que o namoro que eu tive com o Freddie… -engulo em seco- e que era pra eu imaginar o que ela sentiu durante meses fazendo o iCarly ao lado da gente, “que não conseguia ficar um segundo sem se agarrar”... -fiz aspas com os dedos ao repetir com exatidão as palavras da Shay.

Vejo a boca de Wendy se formar em um perfeito “o”, e seu rosto ficar vermelho, quase do mesmo tom do seu cabelo. Ela pisca algumas vezes, como se estivesse processando tudo o que eu falei, e então explode:

—Que… que… QUE VADIA!

Arregalei os olhos. 

—Calma, Wendy…

—CALMA O CARALHO! -ela se levanta e joga com força os dois CD’s em cima da cama, e então me olha. -Sam… -ela começa a falar mas se perde nas palavras, e então respira fundo- eu sabia que essa garota não prestava!

—Mas… mas vocês são amigas.

—Não mesmo! Eu só fui próxima dela na oitava série porque foi a época em que a gente se conheceu, porque vocês sempre andavam juntas, e também porque -não sei como- ela descobriu que eu tinha dificuldade em geografia e vivia insistindo pra me ajudar, só aceitei algumas vezes pra não tomar bomba na matéria, mas eu nunca fui com a cara dela!

É verdade, Carly e Wendy se afastaram logo quando fomos para a nona série, mas nunca entendi o porquê, e sinceramente nunca me importei muito com isso, na época não parecia ser algo importante. Mas agora… a Wendy me dizendo essas coisas… tudo começa a fazer sentido. 

Penso em perguntar o porque ela nunca foi com a cara da Carly, mas resolvo fazer isso outra hora, em comparação ao que aconteceu hoje… essa nova informação parece algo totalmente sem relevância. 

—Entendi. -eu disse, e ela se senta na cama de novo, dessa vez na minha frente. Mas, ela até que está certa, sabe? Eu tenho que ser mais profissional, e racional também… eu estou tão insuportável ultimamente, Wendy…

—Está certa o cacete! Sam, você acabou de terminar um namoro de oito meses, aliás, um namoro não, seu primeiro namoro sério com o primeiro cara que você já amou -e ainda ama-, é completamente compreensível que você esteja assim, e se ela não é capaz de entender isso, então eu sinto muito loira, mas ela não é a melhor amiga que você acha que ela é!

Silêncio.

Eu pisco algumas vezes, será? Não, a Carly é meu anjo da guarda, ela me salvou de mim mesma. Deve ser só implicância da Wendy!

Mas, mesmo assim… o que eu vi hoje mais cedo não sai da minha cabeça. Então eu também resolvo contar esse detalhe, torcendo para que a reação da Wendy não seja exagerada.

—Ela e o Freddie estavam bem próximos hoje… até fizeram a prova juntos… -eu falo, depois de um tempo. 

—Sério? -ela faz um som, como se estivesse indignada, mas não surpresa- que cara de pau…eu estava tão nervosa que nem percebi… mas achei estranho você fazer a prova junto com o Brad, já que você sempre faz com a outra lá ou então com o Freddie…

Brad Smith; um dos melhores amigos do Freddie, -que se tornou um dos meus amigos também durante meu namoro com o nerd-, estagiário do iCarly, o garoto que todo mundo achou que eu gostava já que era estranho demais pensar que eu poderia estar apaixonada pelo Benson… 

Se não fosse ele se oferecer pra fazer a prova comigo tenho certeza que eu ia bombar em matemática, eu já estava péssima e fiquei ainda mais quando entrei naquela sala, meu estômago se revirou e eu quis sair correndo dali. E eu quase fiz isso, mas ele me impediu, segurou a minha mão e me ofereceu um chocolate quando eu aceitei ser sua dupla. 

—Pois é… -eu disse, reflexiva, e suspirei; as lágrimas querendo vir. -Entende agora? De repente eu não entendo mais nada sobre a minha própria vida, por que a Carly está tão estranha? por que eles estão tão próximos? Por que… por que eu não posso ficar com o cara que eu amo?... eu estou com tanto medo, Wendy… com tanto medo do que pode acontecer com eles sozinhos sem mim, sabe? Estou com tanto medo do Freddie me esquecer…

As lágrimas começam a cair, e eu perco completamente o controle sobre elas, Wendy me abraça. Geralmente eu recuso abraços, mas no momento sinto que é exatamente disso que eu estou precisando; acolhimento. Então eu a abraço de volta, deixando que mais lágrimas molhem o cabelo e a camiseta da minha amiga.

—Vai ficar tudo bem, Samys… você não está nessa sozinha!

 

Ela o levou mais rápido do que você pode dizer sabotagem

(She took him faster than you could say sabotage)

Eu e Wendy ficamos até uma da manhã organizando os CD’s dela, a garota tem muito CD, bem mais que eu, e depois fomos dormir. No dia seguinte ela acordou passando mal, mais uma daquelas crises fortes de sinusite que ela costuma ter durante as trocas de estações, então não fomos à aula. 

Eu já me sentia um pouco melhor, a Williams é muito boa em animar as pessoas à sua volta, parece um talento pessoal e eu a admiro muito por isso. Passamos boa parte da manhã assistindo Friends enquanto tomávamos café, rimos muito com os episódios, concordamos que Phoebe e Joey deveriam sim ter sido um casal, e chegamos a conclusão de que os pais dela pareciam uma cópia exata de Monica e Chandler.

 

Pausamos quando ela precisou ir ao banheiro, então eu aproveitei para dar uma olhada no meu celular, não o pegava desde ontem a tarde. Entrei no Instagram e curti alguns posts que apareciam no meu feed; alguns de amigos, colegas de escola, outros de páginas de humor que eu seguia. 

Até que eu cheguei em um que fez com que todas as sensações ruins começassem a voltar, como um caleidoscopio de ressentimentos; uma foto de Carly e Freddie juntos, ele beijando a bochecha dela e ela com um sorriso enorme. A legenda fez meu coração, já rachado, dar mais um trinco: “O que é pra ser é, não importa o que aconteça ou quanto tempo passe. #CreddieIsReal ♥.”

O… o que?

Meus olhos se encheram de lágrimas, abri os comentários, muitos comemorando e desejando felicidades. 

Eles… eles estão… não, não pode ser…

Recebo uma notificação de mensagem da Carly e a abro, mesmo sabendo que talvez eu não deveria.

“SAM SAM VOCÊ VIU? EU E O FREDDIE ESTAMOS NAMORANDO! AAAAAAAAAA”

“EU ESTOU TÃO FELIZ ELE É O NAMORADO PERFEITO!”

“Agora entendo porque vocês viviam de agarramento, ele beija muito, muitooooo bem”

“Obrigada por ter cuidado dele por mim, se não fosse você eu nunca teria percebido meus sentimentos por ele”

“Você é uma amiga incrível!”

Não respondo, o celular cai no meu colo. Surpreendentemente as lágrimas não vem, eu estou em um profundo choque, me perguntando se o que eu acabei de vivenciar é real ou se eu estou no meio de um horrível pesadelo, se for a segunda opção, então torço para que alguém me acorde logo. 

Sinto minha respiração falhar, meu estômago se revirar, se embrulhar, meu coração batendo em um ritmo tão acelerado que seria de se esperar que a qualquer momento explodisse. Meus olhos encaram um ponto qualquer no chão, sinto a primeira lágrima descer do meu olho direito. Ouço a porta do banheiro abrir; Wendy saiu e em poucos segundos está parada na minha frente, assustada, me perguntando o que está acontecendo. Eu não respondo, então ela pega meu celular, ouço seu grito de fúria; ela chamando a Carly de vadia, puta, desgraçada e o Freddie de safado traidor, filho da puta e canalha. 

Me sinto fraca para dizer ou fazer qualquer coisa, e então o choque passa.

E eu sinto meu pulmão se abrir, liberando as primeiras lágrimas para então eu cair em uma crise; a mais forte dessas duas semanas. Um grito sôfrego sai da minha boca e eu perco completamente o controle das minhas emoções; as lágrimas saem como cascatas grossas dos meus olhos, sinto Wendy me abraçar forte, sua raiva dando lugar ao desespero. 

Desespero ao me ver desmoronar em sua frente e em seus braços. 

—ELES ESTÃO JUNTOS, WENDY, JUNTOS! -me surpreendo comigo mesma quando consigo dizer alguma coisa, há poucos segundos eu sentia a minha garganta fechada. -POR QUÊ, POR QUE ELES FIZERAM ISSO COMIGO? EU AMO TANTO ELES E ELES… ELES ME TRAÍRAM, ME PASSARAM PRA TRÁS… -engasgo com as minhas próprias lágrimas e saio dos braços da Wendy, que limpa algumas lágrimas minhas com o polegar e tira alguns fios do meu cabelo do meu rosto- EU SABIA QUE TINHA ALGUMA COISA ERRADA, EU SABIA… -soluço e ela me abraça de novo.  

—Samys eu… eu sinto muito, não sei o que te dizer, eu até esperava isso daquela vadia, mas nunca pensei que aquele idiota fosse ser capaz de algo assim…

—Nem eu… -digo baixo, quase em um sussurro.

 

Eu nunca imaginei, não teria suspeitado

(I never saw it coming, wouldn't have suspected it)

Eu subestimei a pessoa com quem eu estava lidando

(I underestimated just who I was dealing with)

Se existisse outra palavra mais forte que péssima, com certeza eu a usaria, porque o jeito que eu estava era pior do que péssima, era… deplorável, pra dizer o mínimo. Passei o final daquela fatídica semana com uma febre muito forte, a mãe da Wendy, que era enfermeira, disse que era emocional. Ela cuidou de mim e só me deixou ir pra casa na manhã de domingo, quando a febre abaixou. Minha mãe, por incrível que pareça, se preocupou comigo e me ajudou a me recuperar cem por cento da febre.

Ela nunca tinha feito isso antes.

Algumas semanas se passaram e eu não melhorava, continuava deprimida, sem vontade nenhuma de levantar da cama, me afastei de todo mundo, perdi o apetite, me alimentando só quando a fome apertava, quase não ia a aula e quando isso acontecia, me sentava nos fundos da sala, evitando ficar perto ou olhar para o casalzinho, parei de ir gravar o programa e toda semana a Carly lotava meu celular com mensagens exigindo a minha presença e perguntando o motivo de eu não estar indo . 

Eu ignorava todas.

 

Agora estou encarando o teto branco do meu quarto, enquanto uma música triste toca nos meus fones. Não tenho chorado mais, parecia que todas as lágrimas haviam saído do meu corpo, me abandonado, agora eu só me sentia, profundamente vazia, incapaz de sentir algo positivo. 

Eu nem ao menos me reconhecia mais… me perguntava onde está a minha força, tão admirada, invejada e temida por todos? Cadê a minha racionalidade e o meu escudo? Que tanto me ajudaram em situações horríveis? Como quando meu pai foi embora, e o tio Carmine preso?

“Estão no fundo do poço, igual você” aquela voz chata na minha cabeça me dizia. 

 

—Sam? Posso entrar? -sei o que a minha mãe está dizendo por leitura labial, ela está parada no batente da porta. Bufei, entediada.

—Já entrou. -respondo, seca, e ela apenas se aproxima, se sentando à minha frente na cama. Também me sento, me encostando na cabeceira e tirando os fones.

Ela me analisa por alguns segundos e sua expressão é de… sei lá o que, não estou conseguindo nem decifrar os meus sentimentos direito, que dirá os dos outros…

—Olha Sam… é… -ela tenta começar um diálogo, mas como nunca se preocupou em fazer isso, não consegue. Que pena. Estou com vontade de perguntar se posso voltar a ouvir minha música em paz. -Eu sei… que eu nunca fui uma mãe perfeita e que por causa disso a gente sempre foi distante, mas… eu nunca te vi assim, tão… tão triste, tão deprimida.

Solto uma risada nasal sarcástica.

—Primeiro: eu nunca precisei de uma mãe perfeita, só precisei de uma mãe. Segundo: você é quem sempre fez questão de ser distante e nunca fazer a mínima questão de esconder que a sua queridinha sempre foi a Melanie. Terceiro: eu não estou triste, estou… sei lá como eu estou, talvez seja um aglomerado de coisa ruim…

Um silêncio constrangedor se instalou no quarto depois que eu disse isso. Minha mãe fechou os olhos, como se estivesse arrependida de algo, e então olhou pra mim, arregalei os olhos quando ela segurou a minha mão direita. 

—Eu estou preocupada, filha… você precisa reagir, precisa ir com mais frequência à escola, precisa comer mais… precisa pentear esse cabelo, precisa trocar essas roupas… é horrível te ver assim! 

Sinto algo dentro de mim se aquecer por ela ter me chamado de filha. Mas não consigo dar muita atenção a essa sensação, e logo retruco:

—Horrível? Pra quem exatamente? -pergunto. 

—Para todos nós que te amamos, mas principalmente para você.

—E você por acaso me ama?

—Você realmente acha que não?

Suspiro.

—Você nunca disse!

Suas palavras morrem, ela abaixa a cabeça e solta a minha mão, saindo do quarto em seguida. 

Ainda bem que desde cedo eu aprendi a não esperar muita coisa e não criar expectativas quando o assunto é Pam Puckett!

 

Ela devia saber que a dor estava me acertando como um tambor

(She had to know the pain was beating on me like a drum)

Fui à escola no dia seguinte, ainda haviam muitos olhares de pena direcionados a mim, cochichos e risadinhas também. Mas eu sinceramente não me importava, pelo menos não muito, as pessoas falam mesmo, sempre foi assim… pelo menos não eram elas quem tinham me traído. 

As duas primeiras aulas passaram como um borrão, dormi na metade da segunda, e no horário do almoço fui para os fundos da escola, eu estava almoçando lá desde que tudo aconteceu, apesar da insistência de Wendy e Brad para que eu me sentasse com eles.

Comecei a comer minha maçã, ela estava boa, terminei rápido até. Logo peguei meu sanduíche de presunto e queijo, fechei os olhos em contemplação ao dar a primeira mordida; que delícia! Quando estava prestes a chegar na metade dele, a porta se abre e Brad entra, ele está um pouco sério, parece até mesmo… preocupado? 

—Ei, Sam… -ele diz, com as mãos no bolso e um sorrisinho tímido. 

—Ei… -dou mais uma mordida no meu sanduíche.

—Como você está? -ele pega uma cadeira e se senta de frente pra mim. 

—Bem… -minto.

Ele aperta as sobrancelhas, parece estar pensando sobre alguma coisa. 

—Não precisa mentir pra mim.

—Mas eu não estou mentindo! -termino meu sanduíche e jogo o papel dele na bandeja ao meu lado.

—Está sim! -ele insiste. -Olha, eu vou mandar a real; estou muito preocupado com você! Aliás, não só eu, mas a Wendy e o Spencer também… e até arrisco dizer que o Freddie também está!

Congelo na hora. 

Como assim, “o Freddie também está?”. Reviro os olhos, não mesmo. 

—Como assim?

—Sam… você não está nada bem! Isso é nítido e todo mundo sabe o motivo… -ele ia dizer mais alguma coisa mas eu o interrompi. 

—Tá, e daí? No que isso muda a minha vida e a vida do Freddie e da Carly? Eles já estão juntos, andando por aí como se eu não existisse, então não, eu não acredito que ele esteja preocupado comigo, eu vejo ele sorrindo por aí como se tivesse acabado de ganhar um presente… e de certa forma ele ganhou, né; a garota dos sonhos dele. -digo, com amargura, e minha voz se altera. É claro que é horrível pra mim ver ele namorando com a minha melhor amiga… que aliás eu estou tentando entender porque de todos os caras que se jogam aos pés dela ela decidiu ficar logo com o que eu amo! Eu estou me questionando sobre tanta coisa em relação a ela ultimamente… por que ela fez isso? tipo, ela sabia o quanto eu estava e estou sofrendo com esse término, ela sabe o quanto eu amo o Freddie, e do nada começa a namorar com ele? Isso não faz sentido…será que eu me enganei com ela durante todo esse tempo? Ela não gosta mais de mim ou ela nunca gostou?... é tão confuso, Brad, tão… desesperador… e eu estou me sentindo tão fraca por estar aqui desabafando com você, mas… tá tão pesado segurar esse saco de merda sozinha, todo mundo me olha com pena, alguns até com deboche… a minha vida virou de cabeça pra baixo, eu real tô no fundo do poço, tenho tanto medo de nunca mais ser a Sam que eu sempre fui e que todos conhecem. E eu… eu sinto falta de quem eu era! Eu detesto acordar todos os dias e ver a pessoa que eu me tornei, ver minha melhor amiga com o amor da minha vida… como eu pude ter me afundado tanto?...

Ficamos em silêncio depois disso, eu não consigo dizer mais nada, nem sei se tem mais o que dizer… Brad sai da cadeira, coloca a minha bandeja em outro canto e se senta ao meu lado. 

—Obrigado por você ter dividido isso comigo, Samys… mas é completamente compreensível que você esteja se sentindo assim, não precisa se sentir mal por isso, ok? e eu sei que falar isso não vai adiantar nada mas é só pra você saber, porque… demonstrar sentimentos não é sinal de fraqueza, você não é fraca por desabafar, dizer como você se sente… pelo contrário; isso mostra o quão forte você é!

Dei um sorrisinho, o Brad me lembrava tanto o Freddie as vezes… que saco!

—Agora -ele continuou-, eu vou ser sincero; eu nunca gostei da Carly! Ela sempre me incomodou…

Ergui as sobrancelhas, a Wendy já tinha me dito a mesma coisa. 

—Por que? -faço a pergunta que eu deveria ter feito para a minha amiga, mas que não fiz. 

—Aquele jeitinho dela de querer ajudar, acolher todo mundo, sabe? Eu sempre desconfiei de quem é solícito até demais, sempre quer ficar bem com todos, como se fosse alguém perfeito, isento de defeitos… e agora eu vejo que eu nunca estive errado! Eu tive certeza das minhas impressões sobre ela naquele dia do quadro do Erro no Sistema, lembra? -faço que sim com a cabeça e ele continua- Então… eu acabei ouvindo sem querer uma parte da “discussão” -ele faz aspas com os dedos- que vocês tiveram e logo depois que você saiu e a Carly entrou no estúdio, ela ficou completamente pálida, tentou disfarçar e disse que não sabia que eu estava ali. Então eu comecei a me perguntar se ela teria te tratado daquele jeito se ela soubesse que eu estava ali. O fato dela ter começado a namorar com o Freddie só foi o ponto chave para que eu tivesse a confirmação… eu não sei como isso aconteceu, não sei de quem foi a iniciativa… e não que o Freddie não esteja errado, mas ela como sua melhor amiga desde criança, deveria ter tido mais consideração. 

Fico alguns segundos em silêncio, absorvendo tudo o que Brad me disse. Cada palavra fazia muito sentido, ele e Wendy estavam de fora e mesmo assim conseguiram perceber coisas que eu jamais percebi em anos de amizade com a Shay. 

Eu fui tão… idiota, burra, estúpida… 

Como eu pude ter sido tão cega?

 

Ela subestimou a pessoa de quem estava roubando

(She underestimated just who she was stealing from)

Cheguei bem cansada em casa, essa semana havia sido muito exaustiva, em níveis absurdos! Mas pelo menos foi a última antes do feriado de final de ano, terei duas semanas livres de pisar nesse inferno!

Me joguei na cama, tentando esvaziar a minha mente que estava bem barulhenta nos últimos tempos, mas as palavras de Brad e Wendy ainda ecoavam na minha cabeça, era como se durante anos eu tivesse com uma venda nos olhos, me impedindo de ver a realidade, me impedindo de ver quem a Carly realmente era; uma cobra venenosa. 

Durante muito tempo eu me sentia mal quando apontava um mísero erro da Carly, quando eu fazia isso eu me sentia péssima, como se eu não fosse digna da amizade dela nem de todas as coisas que eu conheci quando nos tornamos amigas. Às vezes eu até me sentia… suja. 

 

Mas não, eu nunca deveria ter me sentido assim, a Carly nunca foi meu anjo da guarda, muito menos minha fada madrinha. Se toda ajuda que ela me deu durante anos nunca foi sincera, então eu não devo nada a ela. Nunca foi amizade, sempre foi manipulação. 

Carly Shay não apenas roubou o meu namorado (vulgo amor da minha vida), ela roubou o meu amor próprio, minha saúde mental… 

Ela me roubou de mim mesma! 

Aquela filha da puta é uma manipuladora narcisista, e nada me tira da cabeça que provavelmente ela também está manipulando o Freddie, por isso eles ficaram juntos tão rápido. Me pergunto se ela já fez isso com outras pessoas também… não me surpreenderia se sim. Mas ela é a garota mais popular da escola, ela ostenta uma popularidade conquistada com mentiras, manipulações, falsidade… eu preciso abrir os olhos de quem ainda está cego pelos encantos dela! Não é justo que ela continue fazendo o que faz, não é justo que pessoas ainda sejam enganadas -como eu fui-, não é justo que Spencer tenha que lidar com uma irmã assim. 

 

Comecei a sentir algo que eu não sentia há muito tempo, me levantei e fui até o espelho; meu rosto estava vermelho, minhas mãos suavam, mil palavrões passavam pela minha cabeça, minha mão direita estava enganchada em soco… eu estava enlouquecida pela raiva! 

“Carly Shay assinou seu atestado de óbito quando decidiu mexer com uma Puckett, e agora terá de aguentar as consequências!”

Pensei, antes de quebrar o espelho.

 

Ela não é uma santa e não é quem você pensa

(She's not a saint and she's not what you think)

Decidi começar minha vingança pelo Freddie! 

Eu precisava abrir os olhos dele, ele era quem estava sendo mais manipulado do que qualquer outra pessoa, eu precisava resgatar o meu amor das garras daquela lá. 

 

O problema era encontrar uma brecha perfeita… agora que não tem escola, fica difícil encontrar ele, eu não podia arriscar ir ao Vitamina da Hora muito menos no Bushwell… eu precisava encontrá-lo em um lugar que não tinha riscos da Carly nem de ninguém próximo a ela aparecer…

Resolvi ligar para o Brad, ele com certeza saberia de algo que pudesse me ajudar. 

E de fato, ele sabia. 

Freddie havia dormido em sua casa na noite anterior para uma campana de um jogo nerd deles, Gibby também estava presente mas não ficou pra dormir como o planejado, de acordo com Brad, ele teve “problemas”. 

 

Enfim, agora estou em frente a casa do Smith, criando coragem pra apertar a campainha. Devem ser umas dez horas, Freddie costuma acordar cedo, mesmo quando não temos aula. 

Fecho os olhos e rapidamente toco a campainha, não demora muito para Brad me atender, ele diz que Freddie está no quarto, mas não sabe que eu estava vindo,- como eu pedi que ele fizesse-. 

Entrei na casa e meu coração dava pulos à medida que eu ia me aproximando da porta, quando cheguei no batente dela, vi Freddie de costas mexendo no computador. Haviam várias latas de energético no chão, a maioria delas perto das coisas dele. Me assustei porque Freddie sempre passou longe dessas coisas, ele dizia que era “bomba de ritmia”. O máximo que ele bebia era uma cerveja de vez em quando; -e sempre Heineken-, nunca de outra marca. 

Estar ali… o olhando, tão concentrado, tão lindo, tão… tão nerd bobo, fez meus olhos se encherem de lágrimas, ainda doía muito o fato de eu o ter perdido. Saber que ele não era mais meu, e sim de uma garota venenosa que não o merece, simplesmente me quebrava, -bem mais do que eu já estou-.

 

Ouço um barulho do lado de fora da casa, que me faz acordar daquela espécie de transe em que eu me encontrava. Respirei fundo, me preparando pra dizer algo.

—Anda tomando energéticos agora? -eu falo, em um tom de voz firme e ao mesmo tempo falho.

Ele hesita um pouco mas se vira para me encarar. Aquela era a primeira vez em meses que olhávamos um nos olhos do outro e falávamos algo de verdade, não apenas coisas monossilábicas.

E sozinhos. 

O que era uma tortura ainda maior, considerando que tudo que eu mais queria era ir até ele e beijá-lo. 

—Sam… -ele disse, tão baixo que nem eu mesma sei como consegui ouvir. -O… que você tá fazendo aqui?

—Eu… precisava trocar uma ideia com você, conversar… é importante!

Freddie continua me encarando, seu olhar é algo indecifrável; ele parece surpreso, triste e um pouco… aliviado? Ele ainda estava sentado na cadeira e eu continuava com os pés fincados no batente da porta, incapaz de me mexer. 

—Pode falar…

—Ok, mas primeiro… eu preciso saber se esses energéticos -aponto para as latinhas no chão- são seus.

—Sim, e do Brad e do Gibby também. Por que?

Bufei.

—É sério, Benson? Você sempre disse que essas coisas são umas “bombas” -faço aspas com os dedos-, que fazem mais mal do que bebida alcoólica, que os casos mais frequentes de doença cardíaca em jovens são por causa dessas merdas… -me sinto encorajada em me aproximar um pouco mais então eu o faço, ficando agora apenas três centímetros de distância dele- Freddie… está tudo bem?

Ele engole em seco, com certeza não estava esperando por isso. Ficamos alguns segundos em silêncio, ele abaixou o olhar para o chão, agora está evitando me encarar. 

—Olha… -me aproximo um pouco mais, me ajoelho pra ficar em sua altura já que a cadeira é baixa, agora é impossível ele não me olhar; olhos tristes, pensei. -Você sabe que pode contar comigo pra tudo, não sabe? Se tiver acontecendo alguma coisa eu quero te ajudar…a gente não está mais junto mas eu nunca deixei de me importar com você!

Ele suspira baixo, e eu quase toco em sua mão, que está encostada no joelho. Nossa aproximação está muito perigosa.

—E por que você se importa tanto, Puckett?

—Você sabe porque…

E então ele me encara, de novo, dessa vez bem mais profunda. Ao contrário do que acontece com muitas pessoas, nossas trocas de olhares nunca são, nem nunca foram, constrangedoras, muito pelo contrário. Sempre que nos encarávamos assim era como se um pudesse ver a alma do outro, os olhares sempre foram nossa principal forma de comunicação, e o fato de estarmos separados não alterou em nada essa conexão.

 

Mas então, como se o encanto da meia noite tivesse se quebrado, ele se afasta de mim e levanta, agora está de costas de novo, pelo reflexo do espelho consigo vê-lo apertando os olhos, como se estivesse em uma luta interna consigo mesmo. Me levantei, permanecendo ao lado da cadeira, e após o que pareceram horas, mas foram apenas minutos, ele se vira de novo, dessa vez olhando para qualquer ponto que não seja eu. 

—Mas não era isso que você queria me dizer, né? -faço que sim com a cabeça- Então, manda… -ele cruza os braços e sua expressão está muito séria, por um segundo fico com medo e penso em desistir de tudo.

—Ok, eu vou ser direta: Olha, Freddie… eu sei que é difícil pra você ouvir isso, mas… a Carly ela… ela não é quem você pensa!

Sua postura de “senhor durão” se altera para uma de “senhor confusão”. 

—Como assim? 

—Ela… ela não está sendo sincera com você! 

—E por que você acha isso?

—Porque… cara, ela nunca gostou de você, aí quando a gente termina do nada ela começa a gostar de você? Não faz sentido, ela está tentando me atingir! Ela nunca gostou de mim, nunca foi minha amiga, e eu só descobri isso recentemente… eu… eu não quero que você seja enganado, que você sofra…

Ficamos em silêncio até que do nada ele começa a rir, uma risada sarcástica (até meio maléfica), que eu nunca tinha ouvido antes vindo dele.

—Ciúmes, Puckett? Sério?

Franzi o cenho. O que?

—É essa a sua maior preocupação? Sério? Cara, eu falo que a sua namorada tá te usando e você começa a rir?

—Claro, porque eu sei que não é verdade, você só está criando desculpinhas pra eu voltar com você, mas sinto em te informar, Sam, que eu não vou cair… agora por favor, vai embora!

Congelei na hora.

—O… o que?

—É isso que você ouviu, não me procure mais!

Meus olhos se encheram de lágrimas.

—Cara… você está sendo tão injusto comigo… por que tá agindo assim, Freddie?

—Porque você está tentando acabar com a minha felicidade, como você sempre faz!

Perdi todas as forças… o que fizeram com o meu Freddie? O garoto doce que sempre me dizia coisas lindas, me dava conselhos, sorria como uma criança quando eu topava fazer alguma coisa nerd com ele.

Será que o veneno da cobra já havia o tomado e eu não tinha mais nada a fazer?

Não, não, eu me recuso a acreditar nisso.

 

Caminhei em direção a porta, mas quando parei no batente dela, me virei para encará-lo de novo, seria loucura da minha cabeça dizer que ele parecia estar com uma lágrima escorrendo em um dos olhos?

—Você… você ama a Carly? -minha voz vacilou ao fazer essa pergunta, o esforço para não chorar estava se tornando inexistente. 

Mais uma vez, ele não respondeu, só virou a cara para outro canto do quarto.

Proferi um som que poderia ser interpretado como um “sussurro de tristeza”, se isso existe, e saí correndo em disparada da casa do Brad, enxugando as inúmeras lágrimas que começaram a cair assim que pisei fora daquele quarto.

No caminho, pude ouvir Brad perguntando o que havia acontecido e gritando com Freddie, querendo saber “o que ele havia feito”. Mas eu sinceramente estava nem aí… só me importava em correr até estar bem longe dali.

Freddie Benson havia, mais uma vez, conseguido quebrar meu coração!

 

Ela é uma atriz, uau

(She's an actress, whoa)

Estou andando em círculos no meu quarto, tentando organizar a confusão de pensamentos que a minha mente se tornou.

 

Freddie está manipulado!

Isso é um fato. Carly conseguiu influenciá-lo como uma atriz ao fazer uma performance tão boa, que deixa o público vidrado e louco para fazer as coisas que a personagem faz. Ele é apenas uma marionete naquelas mãos de unha postiça dela…

 

O que complica um pouco meus planos… agora preciso de uma estratégia um pouco mais arriscada, mas necessária. 

Formular planos, estratégias, metas nunca foi um problema, eu sempre dominei isso muito bem. Mas geralmente eu agia sozinha, não me lembro da última vez que precisei da ajuda de alguém para atingir meus objetivos, em parte porque fui ensinada a isso desde cedo, e em outra parte porque minha especialidade é mandar!

Só demorei um pouco para escolher os meus aliados, seria melhor se fosse mais de uma pessoa, mais ou menos como são as eleições para representante de classe; um líder, um vice e um suplente, é bom ter olhos em vários lugares. Também teria que ser pessoas que não gostam da Carly ou tenham aversão a ela por algum motivo, (isso era fato) e também teriam que ser pessoas relativamente próximas ao Freddie e que eu possa confiar. 

Logo pensei em Wendy e Brad. A Wendy porque ela odeia a Carly, é minha melhor amiga, a única pessoa que frequenta a detenção que eu confio, e também porque ela tem algumas aulas com o Freddie. E Brad porque, agora, ele é a pessoa mais próxima do Freddie que faz parte do meu círculo social, também não gosta da Carly e eu sei que posso confiar nele, ele têm me dado várias provas disso desde que nos conhecemos. 

 

Paro de andar em círculos, parando no centro do meu quarto. Agora resta saber se eles aceitariam… mas tenho certeza que sim, simplesmente porque não tem motivos para eles não aceitarem!

 

Pego meu celular, entro no Whatsapp e crio um grupo;

I Clube dos Cinco Menos Dois I

“Preciso falar com vocês.”

“Me encontrem na minha casa hoje às 19 horas!!”

“É urgente!”

“Ah, e Wendy, traz a torta de limão da sua mãe”

“Por que a foto do grupo sou eu dormindo na aula de química?” -Brad pergunta.

Reviro os olhos, é exatamente o tipo de coisa que o Freddie falaria!

 

Mas ela é mais conhecida pelas coisas que faz

(She's better known for the things that she does)

na cama, uau

(on the mattress, Whoa)

Wendy e Brad estão sentados no sofá da sala e eu estou em pé na frente deles, eles me olham com curiosidade, talvez pensando no porquê eu os chamei até aqui. Penso em como começar essa conversa… do nada me bateu uma insegurança, de alguma forma eu sinto que essa vingança vai mudar muitas vidas, não apenas a minha, do Freddie e da Carly. 

—E então?... -Wendy começa. 

—Eu vou me vingar da Carly! 

Brad, que estava bebendo água, se engasga e Wendy dá tapinhas nada amigáveis em suas costas. 

—Como assim? -eles perguntam ao mesmo tempo, apesar de terem expressões diferentes agora; Wendy está sorrindo, como se tivesse amado a notícia, e Brad apenas está chocado, ai ai… nerds. 

—Foi isso que vocês ouviram, eu vou me vingar daquela biscate! -digo e pego um pedaço da torta de limão na mesa de centro, me sentando no outro sofá ao lado. -E preciso da ajuda de vocês!

—Eu amei a notícia amiga, mas por que você quer a nossa ajuda? Você nunca precisou de ajuda pra essas coisas. Na real, pra quase nada… 

Dou uma mordida na torta. 

—É, mas agora eu preciso, o Freddie está de cabeça virada! Apesar de eu não gostar de admitir isso, não vou conseguir agir sozinha… 

—Isso é verdade, ele tá todo estranho… -disse Brad, dando mais uma mordida na torta. 

—Hoje ele me perguntou quem descobriu os Estados Unidos… -disse Wendy, mais pra si do que pra nós. -Cara, isso é bizarro… 

—É sim! -concordo, após engolir meu último pedaço de torta. 

—Mas o que você pretende fazer, Sam? -perguntou Brad, enquanto colocava o copo na mesa. 

—Eu ainda não sei… só preciso saber se vocês estão comigo nessa! 

—Você sabe que sim Samys, eu e você pra sempre, esqueceu? -disse Wendy sorrindo e se sentando ao meu lado. Ela pega minha mão direita e eu também sorrio. 

—Pode contar comigo, loirinha! -disse Brad, também sorrindo, vindo até nós. 

 

Eu e Wendy nos levantamos e então nós três fazemos uma roda e colocamos nossas mãos no centro, igual os três mosqueteiros fizeram séculos atrás. 

—Uma por todos e todos pela justiça! -gritamos e “jogamos” nossas mãos pro ar, o que nos arrancou risadas sinceras. 

 

Aperte o cinto, Carlottinha… os jogos já vão começar! 

 

 

{...}

 

Eu e Brad estamos rindo de uma história que a Wendy está contando sobre a tia dela enquanto andamos pelo refeitório. Acabamos por escolher uma mesa no centro, infelizmente ou felizmente em frente à mesa dos “populares”, onde Carly exibia Freddie como um troféu. Estou me segurando pra não sair de onde eu estou pra encher a cara daquela ordinária de porrada. Mas me controlei, ninguém poderia suspeitar de nada!

 

Essa é a primeira vez em meses que eu almoço no refeitório, tinha até me esquecido de como esse lugar é bizarro; mesas separadas por panelinhas, comida sem graça, barulho, tias da cantina dizendo mil vezes que não vão colocar mais comida no prato de quem já repetiu mais de duas vezes, Srta. Briggs inspecionando o ambiente e às vezes a voz do diretor Franklin nos alto falantes. 

Por que eu tinha aceitado vir pra cá mesmo? 

 

Milagrosamente a comida hoje está boa, apesar de ser toda vegetariana (aposto que foi ideia de uma daquelas líderes de torcida nojentas). Dou mais uma garfada no meu risoto, sinto meu rosto ficar vermelho, de repente toda a raiva, a tristeza e uma certa confusão tomam conta de mim de novo quando vejo Freddie beijando a Carly… eu devo ser muito masoquista mesmo, que ódio! Com tantas mesas disponíveis nesse lugar, por que a gente teve que escolher logo essa? Fecho os olhos e respiro fundo, eu não posso deixar a emoção falar mais alto dessa vez, tenho que manter minha cabeça fresca para começar a planejar minha vingança!

Em seguida ele sai pra buscar alguma coisa pra vagabunda, deve ser o sorvete que estão dando como sobremesa. A vadia olha pra cá e fica alguns segundos nos olhando, com cara de vitoriosa (coitada, mal sabe o que a aguarda). 

 

Até que ela se levanta, vindo até nós, sinto vontade de perguntar se ela perdeu alguma coisa, mas novamente, me contenho, até porque alguém aparece pra esbarrar nela; Griffin. 

Fazia tempo que eu não via esse cara… ele e Carly namoraram por um tempo, mas ela terminou com ele porque ele coleciona bichinho de pelúcia. Dois idiotas! Eu nem sabia que ele ainda estudava aqui… dou mais uma mordida nos legumes (eca) e depois um gole no meu suco de laranja. 

Até que Wendy chama nossa atenção pra algo; 

—Ô gente, é impressão minha ou ela tá flertando com esse garoto? 

Presto atenção neles, e percebo que não é impressão da Williams, ela está mesmo flertando com outro enquanto o namorado dela foi pegar sobremesa pra ela. 

Reviro os olhos. Não que me surpreenda, a essa altura nada mais me surpreende, principalmente vindo dela, mas mesmo assim, não consigo ignorar isso… é muito vadia mesmo! Ela não merece nem respirar o mesmo ar que o Freddie!

Largo os talheres no prato, enojada demais para continuar comendo.

 

Logo ela vai perceber que roubar o brinquedo dos outros

(Soon she's gonna find stealing other people's toys)

No parquinho não traz muitos amigos

(On the playground won't make you many friends)

A próxima aula era educação física, não fazia muita diferença pra nós então tacamos o foda-se e matamos essa aula. Agora estamos na sala de projeção, precisávamos ficar em um lugar seguro para que ninguém nos achasse. Fora que Brad estava se borrando com medo de ser descoberto, ao contrário de nós, ele disse para avisarem ao professor que ele passou mal. 

Cara, por que nerds tem que ser tão medrosos?...

 

—E se uma de vocês colocasse tinta no shampoo dela? -sugeriu ele.

Wendy revira os olhos e eu bato minha mão na testa.

—Não estamos mais na quinta série, Smith! -disse ela, enquanto se sentava em cima da mesa.

—Não mesmo, fora que estamos falando de destruir alguém, tirar essa coroa conquistada com mentiras e falcatruas da cabeça dela… -falo, enquanto ando de um lado pro outro tentando pensar em algo. -Seria interessante ter algum modo de espionar ela, descobrir algum podre bem cabeludo que desmascare essa pilantra!

Um breve silêncio se instaura, até que Wendy se pronuncia:

—Talvez eu possa ser essa pessoa… 

Imediatamente eu olho pra ela e Brad faz o mesmo.

—Ah gente, eu sou uma boa atriz, tenho lábia, não sou muito próxima dela mais, mas ainda temos algumas aulas juntas… eu sou a segunda pessoa com má fama na escola que ela cumprimenta. Talvez não seja fácil no início, mas ela vai morder a minha isca!

Eu e Brad nos entreolhamos, seria arriscado o método de espionagem ser uma pessoa, principalmente uma pessoa que anda comigo, mas, sei lá… a Wendy me passa muita confiança, e parece que ele pensa o mesmo. 

—Bom, ruiva, eu tava pensando em câmera escondida no quarto ou no estúdio do iCarly… mas a sua ideia também é boa apesar de arriscada. Se você puder fazer isso vai ser bom, mas vamos ter que tomar muitos cuidados, ela não pode nem sonhar que você está com a gente! -eu digo e ela assente.

—Ainda podemos manter a câmera escondida, eu tenho alguns equipamentos que montamos no Clube AV no meu armário e um deles é uma câmera em formato de caneta. -diz Brad.- Eu dou a chave do meu armário pra Sam e ela pega, -agora ele está olhando diretamente pra mim- se alguém aparecer você diz que, antes de eu ir embora, eu pedi pra que você devolvesse para o meu armário alguns livros que pegou emprestado comigo, depois que usasse. A câmera-caneta é marrom com a tampa branca e está dentro de um estojo preto, não tem como errar! Você -agora ele olha pra Wendy- pode usar ela, sei lá, no seu cabelo, cachecol… algum lugar visível e que ao mesmo tempo não dê bandeira. 

Balanço a cabeça, assimilando tudo o que eu acabei de ouvir. 

Essa é a vantagem de se ter um amigo nerd!

—Ok, você é brilhante mister chocolate! 

Ele sorri, esse é um apelido que eu dei pra ele quando nos conhecemos, o motivo é porque ele é bom em fazer chocolates, a receita da bisavó dele é a melhor!

—Caramba, Smith… tô impressionada! -disse Wendy com um sorrisinho enquanto batia palmas.

—Obrigado garotas, mas é melhor vocês partirem pra ação logo, o sinal já vai tocar. Eu vou ficar um pouco mais aqui até ter certeza de que eu consigo sair da escola pelos fundos. E fiquem de olho no celular, porque eu vou mandar por mensagem as instruções de como usar a câmera. 

—Beleza. Vambora Wendy!

Puxo minha amiga pela mão e fecho a porta depois de ouvir Brad sussurrando um “boa sorte pra nós”. 

 

{...}

 

Os próximos dias passam de forma frenética, nesse meio tempo, Wendy conseguiu conquistar a confiança da Carly ao ponto da Shay tê-la colocado no meu lugar para apresentar o programa. De certa forma fico aliviada por ser Wendy ali, não outra pessoa, tipo aquela cobra da Missy. 

Eu e a ruiva agora só nos falamos por mensagem e de vez em quando ela aparece aqui em casa pra me atualizar de algo, ela está tendo avanços significativos.

 

Agora são oito da noite de um sábado e ela me liga, eu estava lendo um livro pra escola e rapidamente peguei meu celular quando o ouvi vibrar no meu bolso, desesperada pra sair daquele tédio. 

Na ligação ela me disse que estava chegando na minha casa em dez minutos porque precisava me mostrar algo importante. 

—O que foi? -perguntei, quando ela entrou correndo dentro da minha casa. 

—Você precisa ver isso, Samys! -ela diz enquanto desbloqueia o celular e o coloca na minha cara. 

Puta. Que. Pariu. 

Era uma foto da Carly dando uns amassos muito bem dados no Griffin… 

Ela estava com o cabelo todo bagunçado, sem blusa, ele sem camisa e mais pareciam que estavam se engolindo do que qualquer outra coisa. 

Fechei meus olhos, tentando inutilmente controlar o nojo que eu estava sentindo. 

 

Carly está traindo o Freddie. 

Eu nunca duvidei disso, desde que ela flertou com o Griffin no refeitório, mas mesmo assim, ver ela consumando essa traição fazia uma raiva subir em mim, ela definitivamente não merece o Freddie, nunca mereceu e nunca vai merecer! 

—Como você conseguiu isso? -pergunto e ela se senta no sofá, faço o mesmo. 

—Eu estava indo para o estúdio do iCarly gravar o programa e vi eles se atracando pelo vidro da porta, estavam bem empolgados… tive que ligar pra Carly fingindo que eu já tinha chegado pra gravar o programa e estava no saguão do prédio, pra eles se desgrudarem. 

—E há quanto tempo você acha que isso está acontecendo? 

—Não sei… mas não é a primeira vez que eu vejo o Griffin na casa dela, ele está ajudando o Spencer com uma escultura…

—E daí ela se aproveita disso pra chifrar o Freddie… -digo, mais pra mim do que pra ela. -Me manda essa foto! -peço e ela balança a cabeça, concordando. 

—O que você vai fazer com isso? -ela me pergunta. 

—Ainda não sei, mas não posso trazer isso a público de qualquer jeito, preciso planejar algo bombástico! 

 

Ela devia ficar ligada, devia ficar ligada

(She should keep in mind, she should keep in mind)

Que não tem nada que eu faça melhor do que vingança

(There is nothing I do better than revenge)

Já fazem algumas horas que Wendy foi embora, agora o relógio marca duas horas da manhã e eu estou deitada na minha cama encarando o teto enquanto ouço um dos meus álbuns favoritos da Avril Lavigne. Eu ainda pensava no que fazer.

Aquela foto não saía da minha cabeça… e está me tirando o sono!

Eu precisava decidir o que fazer com ela… mas algo me dizia que mesmo sendo uma foto comprometedora e polêmica, ainda era muito pouco pra acabar com aquela talarica. 

Tipo… fotos de pessoas traindo seus companheiros aparecem todo dia na internet e as pessoas comentam mas uma semana depois já esquecem, eu precisava fazer algo que fizesse as pessoas comentarem por anos!

“Você lembra daquela garota que apresentava aquele webshow?”

“Sim, ela foi desmascarada pela ex-melhor amiga, né?”

“Sim, todos achavam que ela era uma pessoa doce, sensível e meiga, mas na verdade era uma cobra peçonhenta pronta pra dar o bote!”

Sorri ao pensar nisso. 

Eu vou fazer Carly Shay ficar marcada com uma letra escarlate para o resto da vida dela!

 

Senti meu celular vibrar, desbloqueei meu celular (mas não pausei a música), era o grupo da turma. Revirei os olhos, eu tinha silenciado as notificações dessa merda mas tive que reativar quando resolvi me vingar… quem sabe alguém não deixava escapar algo comprometedor lá?

E de fato… estavam comentando sobre o mais recente post da escola no SplashFace, parece que tinha algo a ver com a formatura, não dei bola pras abobrinhas que as líderes de torcida frescas e os jogadores de futebol idiotas estavam comentando, e saí do WhatsApp clicando no ícone do SplashFace.

“Temos o prazer de anunciar que o baile anual de formatura está confirmado para esse ano. Em breve mais informações sobre o evento, mas já façam suas apostas sobre quem será o Rei e a Rainha do baile.”

Att: Diretor Franklin.

Um sorriso mais do que travesso brotou nos meus lábios.

Eu já sei como eu vou arrancar a máscara da cara da vadia da Carly!

 

Ela vive como se a vida fosse uma festa e ela estivesse na lista de convidados

(She lives her life like it's a party and she's on the list)

Ela olha pra mim como se eu fosse uma tendência da qual ela já enjoou

(She looks at me like I'm a trend and she's so over it)

Eu acho o olhar zangado dela de sempre um pouco preocupante

(I think her ever-present frown is a little troubling)

E ela acha que eu sou louca porque eu gosto de rimar o nome dela com as coisas

(And she thinks I'm psycho 'cause I like to rhyme her name with things)

Mas sofisticação não é o que você veste ou quem você conhece

(But sophistication isn't what you wear or who you know)

Ou derrubar as pessoas para chegar onde você quer ir

(Or pushing people down to get you where you wanna go)

Eles não te ensinaram isso na escola preparatória, então cabe a mim ensinar

(They didn't teach you that in prep school, so it's up to me)

Mas nenhum vestido vintage te dará dignidade

(But no amount of vintage dresses gives you dignity)

Se eu iria me vingar da Carly no evento mais importante da escola, então eu precisava estar à altura! Tanto da ocasião quanto do que eu iria fazer. 

O baile será daqui há duas semanas, mas Wendy e Brad me convenceram de que eu já precisava começar a me preparar, eles insistiram que poderiam cuidar da vingança enquanto eu planejava meu “outfit”. Brad havia assumido toda a parte tecnológica. A foto do beijo? ele passou pra todos os tipos de armazenamento existentes. A câmera-caneta? ainda não foi usada, mas ele já tinha os programas prontos pra quando precisássemos dela. O diretor? O deixou cuidar das projeções no baile. E Wendy continuava espionando a Carly. Até o momento ela não havia conseguido nada além da foto e ser mal tratada pela cobra, mas carregava aquela câmera-caneta pra todos os cantos, por sorte ela é compositora, de modo que ninguém desconfia do porquê ela ter o que ela agora chama de “caneta da sorte”. Então eu estava tranquila quanto a isso.

 

Mas em relação a mim… eu nunca gostei dessas coisas de moda, sempre achei besteira! Nunca tive jeito pra me arrumar, nunca gostei de maquiagem… a fase em que eu fiquei mais interessada nessas coisas foi quando eu namorei o Freddie, mas eu tinha motivos pra isso na época. Eu queria ficar bonita, apresentável pra ele… queria me sentir bem comigo mesma e eu realmente me sentia assim quando eu me arrumava.

Mas depois de tudo que aconteceu… eu voltei aquela estaca zero, enfiei as maquiagens no fundo de uma das gavetas do meu guarda roupa junto com algumas roupas que eu usei em encontros com ele. 

Mas… talvez meus amigos tenham razão, talvez eu precise mesmo resgatar essa parte de mim que ficou no quarto dele assim que o relógio bateu meia noite. 

Fechei os olhos, tentando espantar essas memórias, eu sinto tanta falta dele! 

 

Agora estou andando pelo shopping procurando uma loja que venda vestidos por preços acessíveis… até que uma em específico me chama atenção por causa de uma peça na vitrine; um vestido vermelho (mais ou menos do mesmo tom do que a Taylor está usando na capa do Speak Now Deluxe) de alcinha, meio desfiado na barra… um estilo bem rockstar! Sorri e entrei na loja. 

Uma moça me atendeu e me entregou a peça, fui em direção a um dos provadores e quando eu o coloquei… foi impossível um sorriso sincero não brotar nos meus lábios; o primeiro sorriso sincero que eu dava em meses! Me senti tão bem, tão… feliz. 

De repente eu senti que, mesmo que essa vingança não dê certo, mesmo que depois de tudo isso o Freddie ainda insistisse na burrice de ficar com a Carly, mesmo que eu tenha que arcar com consequências depois, mesmo que a minha relação com a minha mãe nunca melhore, mesmo que eu não passe em nenhuma faculdade… tudo ficaria bem no final!

Porque, eu tenho a mim mesma, eu sou fiel a minha essência, eu sou uma pessoa boa -apesar de não ser santa- e… cara… eu sou linda! Esse vestido realça isso… as alcinhas finas e o decote princesa revelam com perfeição a minha pele alva e alguns sinais de nascença que eu tenho (e que eu até tinha esquecido que existiam). E a barra desfiada… ela simplesmente ajuda a destacar minhas pernas, Pam diz que eu tenho andar de modelo, “cat walk”, estou começando a acreditar nisso. 

Decido levar esse vestido, ele vai ficar lindo com um all-star branco!

 

Saí do provador com o vestido em um dos braços, eu ia em direção ao caixa até que encontro com Wendy, a coitada estava cheia de vestidos nos braços, ela me olha pedindo socorro. E ao seu lado está Carly, a vadia me olha de forma cínica e eu percebo que ela está segurando uma risada. Mas nem isso é capaz de me abalar, mantenho meu sorriso de vitória e pela primeira vez, não sinto raiva, apenas uma enorme pena.

—O que está fazendo aqui, Sam? -ela me pergunta. -Será que você não sabe que aqui é uma loja de vestidos? A loja de bolo gordo fica do outro lado da rua.

Mantenho meu sorriso, permitindo que uma ponta de ironia se juntasse a ele. Eu não iria dar esse gostinho a ela. 

Não mais!

—Ora, eu sei muito bem que aqui é uma loja de vestidos.-respondo, percebendo seus olhos se arregalaram em surpresa pela forma ríspida pela qual eu a respondi. A vadia fica tão perplexa, que ela apenas joga os cabelos lambidos por vaca dela e sai andando, com Wendy atrás dela.

A ruiva vira a cabeça pra trás e me olha; ela continua pedindo socorro com o olhar e eu sussurro um “sinto muito” pra ela, que volta a olhar pra frente.

Percebi que Carly está muito empenhada para esse baile, o que não é uma surpresa, ela sempre foi assim com qualquer tipo de festa. Coitada, mal sabe ela que nenhum vestido, por mais vintage e bonito que seja, nunca a dará dignidade e a jamais fará ser uma pessoa decente!

 

Balanço a cabeça, tentando fazer com que esses pensamentos se dissipem, não é hora pra isso. Pago meu vestido e saio da loja animada e revigorada. Uma parte importante de mim foi restaurada e isso me deixa genuinamente feliz.

Sam Puckett está de volta!

 

Ela não é uma santa e não é quem você pensa

(She's not a saint and she's not what you think)

Ela é uma atriz, uau

(She's an actress, whoa)

Mas ela é mais conhecida pelas coisas que faz

(She's better known for the things that she does)

na cama, uau

(on the mattress, Whoa)

—PARA BRAD! -eu grito, em alto e bom som. 

Eu e Brad estamos assistindo um filme de terror, tudo começou quando ele veio aqui em casa deixar algumas anotações de física pra me ajudar, eu só precisava fechar essa matéria pra passar de ano e pegar meu diploma. 

Aí do nada começou a chover e ele precisou ficar aqui, então ele deu a ideia de fazer algo pra passar o tempo e eu perguntei se ele gostaria de assistir um dos meus filmes favoritos; O Chamado. Ele disse que tudo bem, mas não tem nem uma hora que o filme começou e ele já está se borrando todo, gritando igual uma garotinha de cinco anos. Aff!

—QUAL É, SAM? É UM FILME DE TERROR, VOCÊ ESPERA QUE EU DÊ GARGALHADAS??? 

Revirei os olhos, voltando a atenção ao filme. 

 

Até que em menos de cinco minutos ouvimos a campainha tocar, reviro os olhos, de novo, e me levanto, indo atender. 

Wendy entra apressada dentro de casa, seus cabelos estão pingando nas pontas e sua roupa está um pouco molhada. 

—Vocês precisam ver isso! -ela diz e saca a câmera-caneta. Eu e Brad nos entreolhamos, animados, finalmente ela conseguiu usar essa geringonça! 

A ruiva pula no sofá, se sentando em forma de borboleta e eu e Brad nos sentamos em lados opostos, de forma que ela fica no meio. 

—Ela confessou! Confessou que nunca amou o Freddie… -a ruiva diz, entregando a câmera-caneta para o Smith, e eu fecho meus olhos em alívio. Finalmente temos algo a mais pra usar na vingança. 

Me perdoa Freddie, mas precisamos fazer isso! 

 

Logo ela vai perceber que roubar o brinquedo dos outros

(Soon she's gonna find stealing other people's toys)

No parquinho não traz muitos amigos

(On the playground won't make you many friends)

Ela devia ficar ligada, devia ficar ligada

(She should keep in mind, she should keep in mind)

Que não tem nada que eu faça melhor do que vingança

(There is nothing I do better than revenge)

Dei uma mordida na minha rosquinha e em seguida beberiquei um pouco a minha vitamina dupla de morango.

Era tão estranho vir ao Vitamina da Hora depois de tudo o que aconteceu… eu vinha muito aqui com o Freddie, a Talarica, o Gibby e o resto da galera… quando tudo era bom, ou pelo menos assim eu achava. 

Eles continuam vindo aqui, por essa razão eu tenho evitado vir. Hoje estou só eu, duas meninas do ensino fundamental, um cara com um notebook vendo coisas de trabalho e uma mãe com dois filhos. E, claro, Costela, -que no momento está ocupado colocando maçãs em um espeto-… fico feliz ao ver que ele não perdeu essas manias estranhas que fazem o Vitamina da Hora ser esse point único que é! Talvez eu tenha dado sorte… com essa agitação toda para o baile, a formatura e as provas finais muitos estão ocupados, alguns porque estão com medo de não passar, outros porque estão vendo trajes para o baile e etc.

 

Termino a minha rosquinha ao mesmo tempo em que sinto alguém cutucar meu braço direito. Reviro os olhos, pronta para dar um soco no indivíduo, até que eu me surpreendo ao ver quem estava do meu lado.

—Spencer? -minha voz sai mais como uma pergunta do que um cumprimento. Ele está segurando um copo de vitamina e parece um pouco abatido, mas está sorrindo.

Spencer sempre foi como um irmão e uma figura paterna pra mim. Foi ele que me levou ao hospital quando eu caí da árvore e quebrei o braço aos oito anos, -pouco tempo depois de eu ter virado amiga da Carly-, foi ele que me ajudou a superar alguns pesadelos horríveis que eu tinha… fora que eu nunca vou esquecer do dia em que ele se disfarçou como a Pam só pra me ajudar a sair daquele hospital psiquiátrico. 

Depois que tudo aconteceu eu me afastei um pouco dele, já que eu não andava mais com a irmã dele. Mas eu sei que ele ainda se preocupa comigo, às vezes ele me manda mensagem perguntando se eu estou bem e se colocando a disposição pra me ajudar em algo. 

Abri um sorriso, era bom vê-lo, sinto muita falta do meu irmãozinho mais velho. 

 

Me levantei e o abracei. 

—Como você está baixinha? Saudade de você. -ele perguntou, me abraçando de volta.

—Eu estou indo… também estou com saudades. -respondi e saí do abraço.

—Posso sentar aqui? -perguntou, apontando para a outra cadeira disponível na mesa em que eu estava sentada. Fiz que sim com a cabeça e voltei a me sentar, dando mais uma mordida na minha rosquinha. -Foi uma coincidência ótima eu ter encontrado você aqui Sam, eu precisava mesmo falar com você…

Arqueei uma das sobrancelhas, desconfiada, com certeza era bomba.

—Manda! -disse, após dar o último gole na minha vitamina. 

—Então… olha, antes de tudo eu acho importante dizer que eu sei das coisas que a Carly anda fazendo por aí, e que eu não concordo com nenhuma delas!

Que bom, Spencer continua sensato e esperto.

—...mas… -droga! comemorei cedo demais- essa situação não pode continuar desse jeito… vocês duas precisam sentar e conversar, talvez a amizade não dê mesmo pra ser recuperada mas talvez vocês consigam voltar a conviver de forma civilizada. A energia de tudo tá tensa! A da nossa casa, a do Bushwell inteiro, a da Carly, a do Freddie, a do Gibby… e a senhora Benson piorou na loucura! É como se nada se encaixasse, entende? É como se o mercúrio retrógrado e o inferno astral tivessem se juntado pra atrapalhar a vida de todo mundo!

Segurei a vontade de rir, ai ai… Spencer e suas maluquices…

—Tá tudo uma merda mesmo, eu sei… mas sinto muito Spencer, com a sua irmã não tem conversa! Ela me jogou no fundo do poço…

Ele fecha os olhos em lamentação e ficamos em silêncio durante um tempo.

—Sam… o Freddie não está bem…

Suspiro.

—Eu sei… mas ele não quer me ver, me mandou até sumir da vida dele… -dei uma risada nasal sarcástica- a sua irmã conseguiu enredar ele muito bem… só espero que ele consiga se salvar a tempo! -me levantei, pronta pra ir embora.- E fala pra sua irmã ficar ligada, ela vai precisar!

Ele franziu o cenho,confuso. 

—Como assim? O que você quer dizer com isso? 

Dei de ombros e saí do estabelecimento.

Sinto muito Spencer, mas você vai ter que descobrir sozinho! 

 

Eu sou só mais uma coisa para você revirar seus olhos, querida

(I'm just another thing for you to roll your eyes at, honey)

Você pode ter ele, mas não sabia?

(You might have him, but haven't you heard?)

Eu sou só mais uma coisa para você revirar seus olhos, querida

(I'm just another thing for you to roll your eyes at, honey)

Você pode ter ele, mas eu sempre fico com a última palavra, uau

(You might have him but I always get the last word, whoa)

Desço do carro de Brad quando ele abre a porta para mim e seguro sua mão. Combinamos de vir juntos pra ninguém desconfiar de nada… na verdade, meu plano era vir sozinha, mas Brad insistiu para que eu fosse com ele então aceitei, pensando que talvez essa pudesse ser a minha forma de me vingar do Freddie. 

Ele não está pegando a garota que antes era minha melhor amiga? Então eu vou curtir uma noitada com um dos melhores amigos dele! Apesar de eu não ter coragem de ficar de fato com o Brad, eu não sinto nada por ele além de amizade e não quero estragar nada com ele.

Wendy disse que Billy, um dos garotos da banda marcial a convidou de última hora, então ela não poderia vir conosco. Mas de certa forma é até melhor, se ela viesse conosco talvez alguém (até mesmo Carly) pudesse ver e suspeitar de algo e daí o plano ia por água abaixo. 

 

Tiramos fotos no hall, foi legal fazer uns dez chifrinhos na cabeça do Smith sem que ele visse… as caretas também foram geniais! 

Nos separamos quando entramos no salão, já tinha uma quantidade razoável de gente e a música estava bem alta, era uma lenta. Começo a andar sem um rumo definido, até que meus olhos encontram os de Carly; ela está no meio da pista de dança quase comendo o Freddie, só foi ela me ver que começou a morder a orelha dele igual eu fazia quando namorava esse mané. Reviro os olhos, isso é o melhor que ela consegue fazer pra me provocar? 

Começo a andar em direção a pista de dança, Carly do nada fecha a cara e seu olhar é de… medo? Dou uma risadinha. A música brega já está quase no final então vou até o DJ, peço para ele tocar uma música bem agitada que eu tinha em mente, ele assente e eu volto para a pista de dança; essa parte não estava planejada, mas eu vou adorar fazer isso!

 

Fico uns dois metros de distância dos dois e quando os acordes de Dress, de Taylor Swift, começam a tocar, eu jogo meus cachos pra trás, balançando meu corpo de forma sensual em seguida, absorvendo o ritmo da música e tudo o que ela dizia. Quando abro os olhos, percebo muita gente olhando pra mim, (alguns rapazes até mesmo me chamando de linda, maravilhosa, perfeita e gostosa), mas apenas duas ali realmente me interessavam. Observo Freddie engolir em seco, com certeza ele estava tendo um déjà vu… eu vivia dançando dessa forma pra ele quando estávamos juntos, foi por causa de uma dessas danças que tivemos nossa primeira vez. Tínhamos exagerado um pouco no vinho após um jantar que ele fez pra mim em um dia que sua mãe viajou, a TV estava ligada na MTV com o videoclipe de Pillowtalk do Zayn Malik sendo exibido… não resisti e comecei a dançar, e a única reação de Freddie ao final da minha apresentação foi ter me pegado no colo e correr comigo para o seu quarto. 

As coisas sempre pegavam fogo quando se tratava de nós.

Dou uma risadinha quando ele ajeita a gravata e limpa uma gota de suor da testa na parte em que a Taylor canta sobre ter comprado um vestido apenas para que o mendigo do Joe Alwyn o tirasse; aproveitei para fazer um movimento que levava minhas mãos ao colo, ia até minha barriga, e voltava, abaixei um pouco a alça do vestido pra dar um gran finale e mordi o lábio inferior, o nerd nunca resistia quando eu fazia isso. Senti vontade de gargalhar quando ele desviou o olhar pra qualquer outro canto que não fosse eu. 

É Freddie… aprecie o que você perdeu.

 

A música, infelizmente, chega ao fim, mas eu já me preparo para a próxima, até que sinto uma voz irritante atrás de mim.

—Não acredito que teve mesmo coragem de aparecer aqui! 

Dou uma risadinha, me viro e me deparo com uma Carly raivosa e um Freddie nervoso.

—E por que eu não viria? É o meu baile de formatura, criatura!

—Porque você… não se encaixa nesses lugares! Você é uma marginal, proibida de ir em vários lugares desse país, desprovida de educação e que dança igual a uma puta! Será que você não tem respeito pelos casais presentes aqui?

Revirei os olhos. Não é possível!

—Um: esqueceu de dizer que a Europa também não me quer por lá. Segundo: de putaria você entende muito bem né?. E terceiro: quem é você pra falar de respeito? principalmente sobre respeito ao namoro alheio? Fora que eu não tenho culpa de ser gostosa…

Eu a encaro com a mesma fúria no olhar que ela me encara; ficamos alguns segundos assim, e nesses mesmos segundos observo a tentativa dela de retrucar, algo que ela aparentemente não consegue fazer. Que peninha!

Quando a vaca finalmente parece pensar em algo, é interrompida pelo Benson, que pela primeira vez se manifesta:

—Meninas… por favor, estão todos olhando…

—CALA A BOCA, FREDDIE! -Carly grita, se virando para encarar ele. Observo a expressão assustada dele e instintivamente penso em defendê-lo, pensando por um segundo em desistir de tudo e apenas agarrar a mão dele, o levar pra longe dali…

Ele abaixa a cabeça, e eu dou um olhar mortal à Carly antes de sair de perto deles. 

 

Vamos lá, não aguenta? Vamos lá

(C'mon, can't take that? C'mon)

O baile seguiu tranquilo depois do ocorrido, pra minha surpresa. Já tinha se passado meia hora e Brad me mandou uma mensagem dizendo que ele e Wendy já estavam na sala de projeção.

É agora!

Diretor Franklin termina de agradecer a todas as pessoas que se dispuseram a vir ao baile, e então, quando ele ia sair do palco, eu subo as escadas e paro ao lado do diretor, que me olha com espanto e curiosidade. Pego o microfone da mão dele. 

—Muito obrigada pelas palavras Ted, nunca foi segredo o quanto eu te admiro como educador, diferente de alguns aqui você realmente acredita na educação, nos alunos que tem, e se não fosse a sua paciência e dedicação eu com certeza não iria pegar meu diploma amanhã. 

Ele dá um sorriso sem graça e pega o microfone de volta.

—Ah, Sam que é isso… eu só faço o meu dever, a recompensa é de vocês alunos!

—...mas, -continuo, em um tom de voz um pouco mais alto- eu realmente preciso dizer algo aos meus amados colegas e professores aqui presentes, algo muito importante e que não pode passar de hoje!

Pego o microfone da mão dele e encaro a multidão de adolescentes e poucos adultos.

 

Ela não é uma santa e não é quem você pensa

(She's not a saint and she's not what you think (no)

Ela é uma atriz, uau

(She's an actress, whoa)

Mas ela é mais conhecida pelas coisas que ela faz

(She's better known for the things that she does)

na cama, uau

(on the mattress, Whoa)

Logo ela vai perceber que roubar o brinquedo dos outros

(Soon she's gonna find stealing other people's toys)

No parquinho não traz muitos amigos

(On the playground won't make you many friends)

Ela devia ficar ligada, devia ficar ligada

(She should keep in mind, she should keep in mind)

Que não tem nada que eu faça melhor do que vingança

(There is nothing I do better than revenge)

—Bom… todos aqui sabem os ocorridos dos últimos meses, não é? Principalmente aqueles que são fãs do webshow que eu apresentava junto com a minha ex-melhor amiga e o meu ex-namorado… -solto um suspiro, isso vai ser mais difícil do que eu pensei- a questão é que… coisas horríveis precisaram acontecer para que eu abrisse os meus olhos sobre aquela pessoa que eu sempre tive como meu maior exemplo; a pessoa que eu achei que tinha me salvado de mim mesma, é a mesma pessoa que teve coragem de me usar como guarda-costas a nossa amizade inteira… não se importou em ter me enganado, em ter me empurrado para o fundo do poço, em ter me tirado o único cara que eu já amei na minha vida. -o silêncio aumenta e eu vejo Freddie abaixar a cabeça.- Enfim, a questão é que essa pessoa continua enganado muita gente, e eu prometi a mim mesma que ela nunca mais iria fazer com alguém o mesmo que ela fez comigo. Por isso, gostaria que vocês vissem duas coisinhas…

Faço o sinal para Brad e em segundos as fotos de Carly beijando Griffin aparecem como um slide na parede atrás de mim. Ouço vários sons de surpresa e indignação, Freddie olha espantado para a morena ao lado dele, que ainda está olhando para as fotos com os olhos arregalados. 

—...pois é, senhoras e senhores… Carly Shay não é nem nunca foi a santa que todos sempre pensaram! E eu entendo o choque porque também fiquei assim quando a máscara dela caiu pra mim… mas fiquem tranquilos, o show está apenas começando!

Faço de novo o sinal para o Smith e ele repete o processo; dessa vez é o vídeo da confissão que aparece na parede; todos voltam a ficar em silêncio. 

—Por que é que você beijou o Griffin? Achei que você gostava do Freddie…

—Ah Wendy, é que você ainda é uma garota. Quando você for mulher vai entender exatamente do que eu estou falando. O Griffin sabe fazer as coisas de um jeito que o Freddie jamais poderia.

São as palavras que surgem no vídeo, ouço mais sons de espanto e alguém sussurrar um “vadia”. Mas permaneço meu olhar em Freddie, que se encontra com os olhos marejados. “Sinto muito meu amor”, digo a ele em pensamento.

—...mas se é assim por que não termina as coisas com o Freddie e fica logo com o Griffin?

—Você é maluca? Até parece que eu vou largar o Freddie! Ele é bem mais famoso do que o Griffin, eu jamais conseguiria todo esse status sem ele, ok?

O vídeo se encerra com Carly suspirando de forma irritada e fechando a porta na cara de Wendy. 

 

Há um silêncio depois disso, e Carly permanece estática no chão, como se estivesse acabado de tomar um choque, e de certa forma ela tomou. Quanto a Freddie, eu sei que ele só quer fugir dali, mas também não consegue.

Nem eu no momento consigo.

 

Você ainda acha que sabe o que está fazendo?

(Do you still feel like you know what you're doing?)

Porque eu não acho que saiba

('Cause I don't think you do)

Ah, você ainda acha que sabe o que está fazendo?

(Oh, do you still feel like you know what you're doing?)

Porque eu não acho que saiba

('Cause I don't think you do)

Ah, você ainda acha que sabe o que está fazendo?

(Oh, do you still feel like you know what you're doing?)

Porque eu não acho que saiba, não acho que saiba (vamos lá)

(I don't think you do, I don't think you do (come on)

Vamos ouvir os aplausos

(Let's hear the applause)

Faço mais um sinal e Brad liga o projetor de luz, o colocando em cima de Carly; agora ela está iluminada, brilhando pela humilhação que mereceu passar. Seu vestido roxo destaca as expressões raivosas e as inúmeras lágrimas silenciosas que saem de seus olhos e escorrem por suas bochechas. De repente, todos os olhares se viram para ela, mas diferente do que a Shay está acostumada, são olhares negativos; de choque, espanto, desprezo…

A máscara caiu, vadia!

 

Me mostre o quão melhor você é (você é muito melhor, né?)

(Show me how much better you are (you're so much better, yeah?)

Então, você merece alguns aplausos

(So you deserve some applause)

Porque você é muito melhor

('Cause you're so much better)

Começo a descer as escadas, indo de encontro a ela, eu precisava muito desabafar, não levei o microfone, o que eu iria dizer é pra ficar só entre nós duas. Ela também fixa o olhar em mim, quem vê por perto pode jurar que vão sair faíscas de nossos olhos a qualquer momento. Meu andar é triunfante, mantenho a cabeça erguida, diferente dela, que está um pouco curvada.

—Que porra foi essa? -ela me pergunta entredentes, a voz saindo tão baixa quanto um sussurro. 

—Apenas uma vingança de quem foi muito humilhada!

Ela dá uma risadinha sarcástica.

—Sua ingrata! Se não fosse por mim você estaria condenada a passar o resto da vida na miséria, cometendo crimes pra ter um prato de comida na mesa! Talvez precisaria até se vender pra pagar as dívidas da sua mãe alcoólatra, que são infinitas! 

Fecho meus olhos e sinto uma vontade absurda de meter a mão na cara dela, mas eu não iria dar esse gostinho a ela, eu sei, que no fundo é isso que ela espera que eu faça, prove a todos os argumentos dela, perca minha razão e faça essa vingança ter sido em vão.

—Não! Eu realmente nunca fui muito certa, muito menos santa… mas durante anos de amizade você me fez acreditar nas minhas próprias inseguranças, dizia coisas incríveis sobre mim e depois fazia algo que desconsiderava completamente suas palavras. Dizia que queria me ver feliz, ajudou o Freddie a se declarar pra mim, e depois começou a falar merda pra gente, que devíamos experimentar os hobbies um do outro mesmo que eu não goste dos dele e ele não goste dos meus. Não estava nem aí pra nossa felicidade, você só queria pagar de dona da razão, como sempre. E quando terminamos… você enxugou cada lágrima minha que eu derrubei no seu ombro, e duas semanas depois? Você estava com ele! Com o amor da minha vida, o beijando na minha frente, sem se importar em como eu ia me sentir… mas isso foi só o estopim, a cereja do bolo pra que a sua máscara caísse pra mim. De repente tudo começou a fazer sentido, as vezes em que você tentava me mudar, me fazer encaixar nesse seu padrão de patricinha, não ter acreditado em mim quando eu contei sobre a Missy, ter feito uma festa de aniversário pra mim e só ter dito coisas ridículas na hora do discurso, assim como a maioria das pessoas… eu até poderia fazer uma lista maior mas são tantas coisas, que é impossível dizer todas elas, mas você sabe, não é? Você sabe de tudo o que me fez, você sabe de tudo o que me causou. -dou um suspiro, já estava começando a ficar cansada- O que é uma pena, porque eu lamento de verdade por tudo isso… eu realmente te amava, Carly, como uma irmã, você era meu maior exemplo, a pessoa que eu mais protegia além de mim mesma… é mesmo muito triste saber que nada disso era recíproco. Você matou a nossa amizade, matou todo o amor e admiração que eu sentia por você… mas pelo menos, hoje eu sei qual é o meu valor, eu sei que não tem, nem nunca teve nada de errado comigo. Hoje eu sei que eu não devo nada a você, porque você nunca foi sincera comigo. E, sinceramente? Eu sinto pena de você por isso, porque você precisa se camuflar, fingir ser o que não é pra conquistar a confiança das pessoas… enquanto eu, que tenho todos os motivos para fazer isso, nunca fiz! Eu posso ser uma babaca de marca maior mas eu nunca escondi isso de ninguém, quem se envolve comigo se envolve consciente. E sabe qual é a melhor parte disso? Deitar a cabeça no travesseiro a noite e dormir com a consciência limpa! Mas, você é melhor do que eu, né? Sempre foi, e sei que continua achando isso, então… parabéns! 

Começo a aplaudi-la de forma irônica e segundos depois paro. Ela continua me olhando da mesma forma, mas dessa vez eu percebo algo diferente em seu olhar; algo parecido com medo? Sei lá… mas ela parece estar um pouco assustada, como se não esperasse ouvir nada do que eu acabei de dizer. 

 

Ela o levou mais rápido do que você pode dizer sabotagem

(She took him faster than you could say sabotage)

O silêncio se instaura entre nós duas, em uma espécie de transe? Sei lá… é como se só houvesse nós duas aqui e diferente de mais cedo ela nem se esforça a tentar dizer algo. 

Ela sabe que eu estou certa!

E então, como em um passe de mágica, esse “transe” acaba e ela pigarreia, pronta a se manifestar;

—Vamos embora, Freddie! -ela agarra o braço dele e tenta puxá-lo, mas ele permanece onde está e puxa o braço, se livrando do aperto dela.

—Não é possível que depois de tudo isso você ainda ache que eu vou continuar com você… -ela aperta as sobrancelhas em uma expressão confusa e ele revira os olhos- Eu fui muito idiota em ter acreditado em você, eu já devia ter desconfiado… por que depois de anos me rejeitando você do nada começou a gostar de mim? Bem na época em que o meu término com a Sam estava recente? Hein, Carly? -seu tom de voz aumenta e ele passa as mãos no rosto, aflito- Mas isso é culpa minha… eu não devia ter sido tão fraco e covarde… devia ter tentado consertar as coisas com a garota que eu realmente amo do que ter dado sequer a chance de você me manipular… 

Sinto meu coração dar um salto…

Como assim, “a garota que eu realmente amo?”

Sorri fraco, eu sabia que ele ainda me ama.

—... está tudo acabado! Some logo da minha frente, eu não quero nunca mais te ver!

A Shay profere um som agudo, como se fosse um choro misturado com raiva morrendo em sua garganta, olha pra mim, e dá as costas, indo embora às pressas daquele salão. Em volta, todos olham. 

É… quem disse que amizades de infância precisam durar pra sempre?

 

 

Ridgeway High, 22:30 p.m .

Estou sentada em um banco nos fundos da escola, exatamente no mesmo lugar em que eu sempre venho quando quero me esconder, foi aqui, inclusive, que eu me declarei para o Freddie aquele dia, o beijando pra mostrar a ele como eu realmente me sinto em relação a ele.

Essa é minha última vez aqui… considerando que as aulas acabaram ontem e amanhã ocorrerá a cerimônia de formatura, onde eu pegarei meu diploma. Depois, vou pegar minha moto e ir pra Los Angeles… recebi um email há duas semanas me comunicando de que eu passei no vestibular da UCLA para cursar artes visuais. Seria um novo recomeço, sem dúvidas, o que eu mais preciso! Mas vou sentir falta desse cantinho, ele é bem especial pra mim.

 

O baile ainda está rolando lá no salão, já faz umas duas horas desde que tudo aconteceu. Depois que Carly foi embora, as pessoas começaram a se afastar da rodinha e eu e Freddie ficamos nos olhando, acho que devíamos ter ficado trocando olhares por alguns minutos, até que uma música agitada começou e eu sai andando, e ele ficou lá. 

Vaguei um pouco pelo salão mas no final… acabei aqui.

A verdade é que, por mais que eu esteja feliz, aliviada, esse baile só seria legal se nós três estivéssemos unidos, como sempre fomos. Se Freddie tivesse sido meu par… nós dançaríamos juntos quase a noite inteira, depois ele me levaria pra casa dele onde faríamos o que sabemos fazer de melhor, e amanhã eu acordaria nos braços dele; o meu lugar favorito!

É no mínimo tão triste que as coisas tenham acabado dessa forma…

 

Suspirei e fechei os olhos, sentindo o típico vento frio de uma noite de início de verão bater em meus cachos e no meu rosto, sinto uma pequena lágrima silenciosa escapar de um dos meus olhos e rapidamente a seco quando ouço passos se aproximando;

—Eu sabia que ia te encontrar aqui…

Sinto um aperto no coração. 

Não acredito que ele teve coragem de vir atrás de mim. 

O ignoro por alguns segundos e então abro os olhos, o encontrando parado a minha frente; meus olhos azuis se perdem no mar de chocolate à minha frente. Dá pra ver em seu olhar a mistura de sentimentos em que ele se encontra, como um espiral de emoções. 

Ficamos em silêncio por alguns segundos e minha vontade de chorar aumenta… por que ele teve que vir atrás de mim?

—O que tá fazendo aqui, Benson? -pergunto, tentando disfarçar a minha voz quase embargada.

—Estou te procurando há um tempão, rodei essa escola inteira atrás de você, fiquei com medo de você já ter ido embora… eu preciso falar com você, é urgente!

—Sobre?...

Ele respira fundo.

—Foi muito corajoso, o que você fez! 

Ele repetiu as mesmas palavras de quando eu o procurei para pedir desculpas por ter dito a todos no iCarly que ele nunca tinha beijado ninguém. Ele tinha visto o programa em que eu ameaçava a todos que o estavam zoando por isso e confessei que eu também nunca tinha beijado.

Foi nesse dia que compartilhamos nosso primeiro beijo.

—Você acha? Pensei que ia ficar bravo por eu ter exposto seus chifres pra todo mundo ver.

Ele dá uma risadinha e inconscientemente eu sou contagiada por ela também.

—Não… de certa forma eu mereci… você tentou me alertar e eu não quis te ouvir, te expulsei da casa do Brad, fui injusto com você… é compreensível que você tenha tomado o caminho extremo depois disso, eu também tomaria.

Fico admirada com a sinceridade dele, mas ainda não baixo a guarda.

—Que bom que sabe! -digo, seca, e ele abaixa a cabeça.

—Pois é… -ele se aproxima, agora está sentado ao meu lado, ficamos um tempo em silêncio então ele me olha, e instintivamente eu também o olho. -Eu quero te pedir perdão… por tudo, pela forma como eu te tratei, por eu ter deixado a Carly me manipular, por eu não ter pensado nos seus sentimentos quando comecei a namorar com ela… –suspira- eu preciso de você, Sam! Eu até entendo se você não me quiser de volta mas, eu te amo e preciso de você… -segurou minha mão direita e começou a fazer um carinho nela, senti ainda mais vontade de chorar- esses meses longe de você foram torturantes, eu comecei a fazer coisas que eu jamais faria, me perdi de quem eu sou… 

—Freddie, não faz isso. -pedi, o interrompendo.-Eu não fiz o que eu fiz pensando só em você ou na ideia de te ter de volta, eu fiz porque precisava fazer! -o encarei- Você não sabe o quão torturante foi ter que lidar com tudo aquilo acontecendo… cara, a gente mal tinha terminado e duas fucking semanas depois você estava chupando a língua da minha melhor amiga! Tem noção de como eu me senti? Eu morria por dentro toda vez que eu te via com a Carly na escola, você todo sorridente com ela, a abraçando, a beijando como costumava fazer comigo… -solucei- você parecia estar bem demais pra alguém que tinha acabado de terminar com alguém que dizia amar… a gente terminou dizendo eu te amo, sabe? Era no mínimo estranho você já ter embarcado em outro relacionamento, principalmente sendo com quem foi… então depois de tudo… eu não sei se consigo te perdoar tão cedo, Freddie… eu ainda estou muito machucada, você e a Carly me feriram de uma forma que ninguém nunca foi capaz! Vocês eram os únicos que tinham acesso ao meu lado vulnerável, e se aproveitaram disso… -olhei para o céu por um segundo e suspirei- e agora eu vou precisar de um tempo para curar todas as feridas cicatrizadas que vocês reabriram em mim!

Observo Freddie abrir a boca pra dizer algo, mas a fecha em seguida e abaixa a cabeça (já perdi as contas de quantas vezes ele fez isso hoje). 

Esse é um dos momentos em que ficamos em silêncio e ele vasculha a mente atrás de algo que fizesse sentido nessa conversa. Teoricamente não tem muito mais o que ele dizer, mas conhecendo o Freddie como eu conheço, ele não vai sair daqui até que estejamos com nossa situação resolvida. 

E me conhecendo como eu conheço, não vou deixar ele ter a última palavra.

—Eu te amo! -digo, e ele volta a olhar pra mim, com um ar esperançoso- Eu só não consigo mais confiar em você… e isso me doi porque o que eu mais quero agora é te agarrar! Mas daí eu lembro de você com a Carly e não dá… é como se tivesse um bloqueio, colocado lá por você…

—Sammy… -ele se aproxima e toca minha bochecha, onde uma lágrima começa a descer, é a primeira vez que ele me chama e me toca assim em meses. -eu sei, eu sei que eu fui um bosta com você nesses últimos meses mas… me deixa explicar, contar meu lado da história, você e a Carly ficaram tão focadas em atacar uma à outra que se esqueceram de olhar por outros lados…

Franzi o cenho. 

Ele está me julgando?

—Como assim, Benson? Agora a culpa é minha se a minha ex-melhor amiga é a porra de uma talarica?

—Não… só estou dizendo que… tem mais gente envolvida nessa treta além de vocês duas… outras vidas, outras histórias… -suspirou profundamente e apertou minha mão com mais força.

—E você realmente acha que eu não reparei em você? Eu cheguei a tentar conversar com você sobre as porras daqueles energéticos, mas você desconversou. Eu percebi seu olhar de abatimento, as expressões de noites mal dormidas, o seu esforço para não me olhar nos olhos igual está fazendo agora… -ele arregala os olhos, um pouco surpreso- desde mais cedo você está assim… e eu percebi, sabe por que? Porque eu me importo com você! E eu amo você de uma forma que chega a ser irreal! Então não venha me dizer que eu foquei tanto na Carly que esqueci de olhar outros lados… porque mesmo focada nessa vingança, eu nunca deixei de reparar em você!

Ele sorri fraco e me… abraça, algo que me pega de surpresa.

Mas segundos depois estou sorrindo e retribuindo seu abraço.

E cara… que saudade! Seus braços ainda são acolhedores e quentes como eu me lembrava, nossa conexão não desapareceu como eu temi que tivesse acontecido; nós ainda somos Seddie.

Perdi a conta de quanto tempo ficamos assim, mas alguns minutos depois quebramos o abraço, e olhamos um nos olhos do outro.

E então, como um clique de choque elétrico, eu volto a realidade.

—Mas… -continuo- confesso que ainda é confuso pra mim o fato de você parecer gostar do namoro com a Carly, apesar de eu ter uma ideia do porque…

Ele engole em seco. 

—Eu não vou ser hipócrita; eu gostei sim, mas só no começo. Sei lá, eu estava um pouco carente depois que terminamos… ela estava ali, sendo gentil, fui fraco e me deixei levar. Mas não demorou muito para que eu tivesse uma crise ferrada de consciência, eu caí em mim e percebi o quão eu estava sendo injusto e traíra com você… e foi aí que os energéticos entraram; eu estava me sentindo péssimo e eles me faziam sentir melhor, além de me darem mais energia pra ficar acordado fazendo outras coisas e paralisarem todos os pensamentos que não tinham haver com as tarefas que eu precisava fazer. -respirou fundo- Por outro lado… eu me culpava por estar com a Carly sabendo que eu não a amava, eu sentia que eu a estava usando, sabe? Então tentei gostar dela, me convencer de que se eu tentasse, ia conseguir sentir algo real por ela que não fosse fraternal e… esquecer você… -fez uma pausa e eu engoli em seco, uma tentativa de não chorar (de novo) em sua frente- era torturante pra mim saber que eu estava causando sofrimento a garota que eu amo… você não merecia nada disso, e eu não merecia você, e sei que ainda não mereço. Mas, ainda assim, pode parecer egoísta, mas eu não consigo evitar não pedir para que você me aceite de volta.  

Desviei meu olhar do seu e passei a encarar algo aleatório do outro lado, pisquei algumas vezes, tentando assimilar sua confissão. 

Um silêncio fez pouso entre nós. 

 

Não era surpresa aquelas palavras… eu já esperava que fosse algo assim, mas… sei lá… eu sei que a ficha não vai cair agora, nem depois, talvez eu precise me reunir com todos os meus cacos e reconstruir a confiança que ele ajudou a quebrar em mim antes disso acontecer. 

E eu realmente quero que isso aconteça, e muito! Mas meu amor pelo Freddie não pode ser maior que o meu amor próprio.  

Suspirei fundo. 

—Eu entendo o seu lado, Benson, eu sei que é uma merda lidar com vícios… eu convivo com uma mãe alcoólatra, esqueceu? -meu tom de voz soou estranhamente descontraído, o que o fez voltar a me olhar- E eu realmente torço muito pra que você melhore e se cure disso. Mas… olha, tem tanta coisa acontecendo… tenho certeza que você foi aceito em várias faculdades maravilhosas e está se preparando pra se mudar em breve, eu vou pra Los Angeles cursar artes visuais e morar com uma amiga lá…

—Aquela que você conheceu no The Slap? -ele me interrompe e eu não consigo evitar um singelo sorriso, sua pergunta soou tão leve, que era como se estivéssemos em uma das conversas que tínhamos quando ainda namorávamos. 

—Ela mesma. -respondo, o sorriso ainda presente nos meus lábios- Olha… estamos deixando a escola pra trás, saindo da adolescência e indo criar nossas próprias vidas, talvez seja a hora de focar em nós mesmos, sabe? Nos nossos objetivos de vida, cuidar de nós… e isso soma com a forma que eu estou me sentindo… eu quero muito voltar a confiar em você, Freddie… mas antes disso eu preciso me curar, e o melhor é eu fazer isso sozinha, o mesmo vale pra você! Eu sei que eu vou sentir muito a sua falta, mas ainda temos a tecnologia a nosso favor, você sabe disso melhor do que ninguém -dou uma risadinha involuntária e ele faz o mesmo- e eu… eu realmente desejo tudo de bom pra você, Freddie, apesar de tudo, você é o amor da minha vida, e, ao contrário de outras pessoas… eu consigo sentir que você está arrependido de verdade.

—Obrigado, Sammy… e apesar de eu odiar admitir; você tem razão. Mas olha; eu não vou desistir de você!

O sorriso em meus lábios se alarga um pouco. 

—Tenta a sorte. 


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Notas finais do capítulo

Ai gente me senti de alma lavada escrevendo ksksksk
Espero que tenham gostado! ♥ ♥

Música: https://youtu.be/sz_u5Qci0o4?si=oiDPfsJ1CxoF9tTu



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