Um Novo Começo escrita por Avezch


Capítulo 3
Arma-X Parte 3




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Assim que eles pararam de rolar pelo barranco, Logan e Victor precisaram de um minuto para se recuperar. Suas roupas estavam destroçadas, com incontáveis rasgos e furos, manchas de sangue em todos os cantos.

Logan nunca havia lutado com alguém incansável como ele. Quer dizer, ao menos ele achava que não. Aparentemente aquele sujeito o conhecia e disse que já tinham lutado antes. Desejava lembrar desses embates, as informações podiam ser úteis. Pelo que via naquele momento, no entanto, o corpo de Dentes-de-sabre podia se curar sozinho, assim como o dele, e suas unhas e presas eram afiadas e resistentes como aço.

Com dificuldade, Logan falou, arrastando as palavras:

— O que você e sua gente querem de mim?

— Que voltemos a ser uma grande e amorosa família – respondeu Dentes-de-sabre. – Somos armas, Wolverine, só temos uma serventia. E você aqui, fingindo ser gente, passeando de moto como se estivesse de férias, está se enferrujando. Seu potencial indo todo para o fundo do poço – riu de forma debochada. – Que tragédia.

Eles se atacaram novamente, os pássaros assustados voaram dos galhos das árvores. Cada golpe era visceral, debilitante, o sangue se espalhava pela intocada natureza. Dentes-de-sabre era mais forte e mais rápido, mas Logan notou o quanto ele demorava para regenerar as feridas.

Tentou intensificar sua agressão, mas a verdade foi que se precipitou. Victor podia aguentar muito, era um homenzarrão veteranos de inúmeras batalhas. Com um poderoso soco, Logan foi parar contra o tronco de uma árvore, fazendo-a chacoalhar por inteiro, galhos e folhas caindo. A dor súbita fez com que ficasse paralisado por um segundo, tempo suficiente para seu oponente encurtar a distância e o encurralar.

Dentes-de-sabre o golpeou-o sem parar, alternando entre socos e cortes com suas unhas afiadas. Logan não podia fazer nada, ele aguentou cada ataque com tudo que podia. Quando o ataque devastador cessou, ele caiu de joelhos, enquanto Victor arfava, cansado. Uma poça de sangue se formava entre eles.

— Chega, Wolverine, - disse Victor, tirando sua jaqueta arruinada – toda vez que lutamos eu sempre saio vencedor. Ainda mais nesse seu estado... confuso, você não tem chance. Por que não resolvemos isso com uma cerveja gelada?

Tossindo sangue, Logan assentiu com um gesto. Porém, assim que Dentes-de-sabre baixou a guarda e se descuidou, ele se aproveitou da oportunidade e saltou sobre as costas dele, fincando suas garras.

Victor gritou e, com raiva, impulsionou seu corpo contra a mesma árvore. Logan ficou pressionando entre ele e o tronco. Ficaram naquela luta até que os soldados que haviam saído de seus jipes chegassem, apontando seus fuzis.

— O que estão esperando? – perguntou Dentes-de-sabre, se esforçando para se livrar de um teimoso carrapato alojado atrás dele. – Atirem nesse maldito!

Cumprindo as ordens, os homens atiraram sem se preocupar em atingir seu líder. Foi o suficiente para que Logan o soltasse, e ele rapidamente saísse da linha de fogo, enquanto todos continuavam a massacrar seus gatilhos.

O fuzilamento terminou tão rápido quanto começou, logo a munição dos pentes se esgotou, deixando nada mais que uma vítima ajoelhada, morta. Até que, um minuto depois, já não estava mais.

Logan voltou a respirar, puxando o ar violentamente. A dor o impedia de se levantar, de continuar lutando pela própria vida. Seus membros não respondiam à sua vontade de sobreviver, na verdade faziam questão de ignorá-lo. Era o fim.

— Capturem-no – ordenou Victor, grunhindo ao passo que as feridas, tanto dos cortes quanto das balas, regeneravam. Os homens obedeceram, cercando o alvo caído, mas, no fim, não puderam pôr suas mãos nele.

*

De trás das árvores três X-men apareceram, focados, pacientes em seu ataque. Colossus passou pelos soldados como um trem descarrilhado, e foi de encontro à Dentes-de-sabre, que desviou de forma felina.

Dos homens que se mantiveram conscientes, Kitty Pryde se certificou de que nenhum deles pudesse levantar. Ela fez uso de seus movimentos ágeis, tão habituada com os intensos exercícios na Sala de Perigo, seus chutes e socos velozes e os colocou fora de ação.

Logan, confuso com a chegada daqueles desconhecidos, se aproveitou e correu floresta adentro, o sangue pingando, as feridas de belas se regenerando com a dor que sempre o acompanhava.

Jean Grey se atentou à ele enquanto flutuava acima das copas das árvores. Ela confiou nos seus companheiros de time para cuidar do outro mutante e foi atrás daquele que tanto a intrigava.

Logan, disse ela só para ele ouvir, espere, queremos te ajudar.

A súbita voz dentro da sua cabeça fez com que Logan parasse e, com as garras para fora, olhasse para todos os cantos à procura da fonte. Quando não encontrou ninguém deu um urro gutural e rasgou o tronco de um pinheiro que estava à sua frente.

— Apareça! – gritou ele.

Lentamente, Jean obedeceu. Ela flutuou e pousou diante dele, deixando-o confuso ao ver uma mulher ruiva com um colante amarelo e preto apertado. Ela se aproveitou do silêncio para falar:

— Desculpe, Logan, invadir sua mente sem permissão foi mal educado da minha parte. Meu nome é Jean Grey, estou aqui para te ajudar.

Ele sacudiu a cabeça como se tentasse sair de um transe.

— O que todo mundo quer comigo?

— Eu sei que pode ser difícil acreditar, mas eu e meu time estamos tentando te salvar desses soldados. Não os conhecemos, não sabemos o que querem com você – Jean se aproximava devagar à medida que falava. – Queremos te tirar daqui e te ajudar, clarear sua mente. Você deve ter visto na televisão ou no rádio, pessoas que conseguem fazer coisas estranhas, mutantes. Nós somos, você também é.

Sim, Logan tinha ouvido falar de “mutantes”, era um tema grande e problemático que todo político tinha opinião formada, geralmente envolvendo sentimentos alarmistas e preconceituosos. Até então, contudo, ninguém havia arranjado uma solução concreta de como lidar com a existência deles.

De certa forma ele sempre soube que havia algo de distinto nele, nenhum ser humano normal tem garras que saem das mãos, ou podem sobreviver a um fuzilamento à queima-roupa. Só que ele não tinha dado nome aos bois.

— Mutante é? – disse ele, um pouco mais relaxado – Suponho que aquele brutamontes que diz que me conhece também é um.

— Sim – disse Jean. – Podemos explicar tudo, tirar suas dúvidas.

— E isso é um daqueles convites irrecusáveis ou eu tenho alguma escolha?

Nesse momento a quietude da floresta foi interrompida por um corpo metálico rolando descontrolado, destruindo tudo em seu caminho, seguido por um Dentes-de-sabre totalmente ensandecido, correndo de quatro como um predador felino na selva.

Jean levantou voo e pôde ver Kitty seguindo atrás deles, arfando.

— Wolverine – disse Dentes-de-sabre, ficando de pé, enquanto Colossus fazia o mesmo. – Seus amiguinhos atrasaram um pouco nossos negócios, mas o seu fedor não escapa do meu faro.

— Nem o meu, aparentemente - disse Logan, preparado para mais um confronto. – Meu nariz diz que a gente se conhece, mas nenhum sentido ou instinto em mim o trata como um amigo.

Eles se encaravam grunhindo. Colossus achou tudo aquilo divertido, mas também se preparava para continuar com a luta. Então Jean gritou:

— Agora Lince Negra.

Duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Kitty atravessou o tronco da árvore que estava usando para se esconder, agarrou Dentes-de-sabre pelas pernas e o fez afundar na terra junto com ela até a cintura. Jean o atacou psiquicamente e o atordoou momentaneamente, tornando seus sentidos animais aguçados ineficazes.

Quando se deu por si, Victor estava enterrado e sozinho no meio da mata com uma dor de cabeça insuportável.

*

Os mutantes guiaram Logan pela floresta, enquanto Dentes-de-sabre tirava um cochilo forçado. A ruiva ainda os sobrevoava e ele não podia conter sua curiosidade sobre ela. Quando teve sua mente invadida, não foi dolorido, ele sentiu-se calmo pela primeira vez em muito tempo. Fora reconfortante, aconchegante.

A menina e o gigante, por outro lado, eram outra história. Apesar dos seus odores não lhe transmitirem ameaça, ele caminhou um pouco mais afastado. Quem o intrigava mais entre os dois era o gigante. O sujeito havia lutado com seu perseguidor e saíra ileso, seus músculos fazendo o traje amarelo e vermelho esticar além do normal.

Foi a garota quem quebrou o silêncio:

— Então, qual seu nome?

— Logan – disse ele, um pouco irritado por ter de conversar.

— Sou Kitty Pryde, o grandão é Peter Rasputin.

Silêncio. Kitty, pelo contrário, ficou irritada pela falta de conversa.

— Ei, a coisa normal a se fazer quando alguém te salva é dizer “obrigado”.

— Vou agradecer quando me falarem porque estão atrás de mim e o que querem. Até onde eu sei, posso ter saído de uma organização militar secreta pra outra.

Kitty cruzou os braços e se aproximou:

— Então por que não solta essas garras aí e nos ataca?

— Lince – interveio Jean, sobre eles.

Logan falou:

— Por enquanto estou exausto, assim que eu me recompor um pouco a gente conversa. A propósito, quantos anos você tem? Desde quando se recrutam crianças?

Ao ouvir a pergunta, no mesmo instante Peter chegou mais perto, só por precaução. Dependendo do humor da Kitty, ele teria de segurá-la. Mas ela respondeu:

— Pra sua informação, tenho 21. E eu achava que precisava ter altura mínima pra ser militar.

— Boa – Logan tentou, mas não conseguiu segurar o riso.

Chegaram a uma clareira após alguns minutos de caminhada, Kitty teve de se sentar para recuperar o fôlego. Não demorou para que o Pássaro Negro surgisse no céu e pairasse acima deles.

A comporta se abriu e Homem-de-gelo acenou e disse:

— Aí Kitty, deu pra segurar o café da manhã na barriga? Aqui quase que a gente morre com o Scott pilotando. Esse aí é o mutante? Prazer, Bobby Drake.

— Meu Deus, - disse Logan - vocês são um exército de crianças?

Jean deu uma risadinha:

— Algo assim – então apontou para ele subir. – Vamos?

Ele suspirou e olhou ao redor, pensativo. Sua moto havia sido destruída, suas roupas foram retalhadas, o corpo doía apesar dos ferimentos terem desaparecido. No meio da estrada as chances daqueles caras procurando pela “Arma-X” ou pelo “Wolverine”, de encontrá-lo eram maiores do que se estivesse voando.

Porém ele entraria num jato com um monte de estranhos e iria só para o diabo sabia onde. Então olhou para Jean Grey, e suspirou outra vez. Quem sabe não seria melhor satisfazer sua curiosidade?

Estalou o pescoço e as costas e subiu para o jato. Bobby Drake, trajando um colante amarelo e azul escuro estendeu sua mão. Logan hesitou por um segundo e o cumprimentou, se apresentando.

*


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