O Sétimo Universo: As crônicas de Hexium escrita por Wesley Rego


Capítulo 1
Capítulo 1 - Uma memória do passado




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Faz um ano desde que Derick descobriu que a terra não é o único planeta habitado por humanos e se frustou ao saber que raras pessoas sabem ou saberão da verdade. Uma verdade que jamais será exposta ao resto do mundo. 

Derick estava em sua cama, bem luxuosa na verdade, o tecido macio e a consistência perfeita para uma noite de sono bem confortável. Olhava o céu através do teto de vidro de um belo e magnífico quarto. Lá em cima, estavam estrelas que nós nunca veremos, pois não podem ser vistas do planeta terra. Sim, Derick não está aqui em nosso planeta, ele está em Hexium, onde seis universos habitam um único mundo. 

Mas enquanto olhava as estrelas, juntamente com vários meteoros multicoloridos de diversos tamanhos cortando os céus e suas belíssimas auroras, Derick lembrava da terra, dos seus últimos dias enquanto estava aqui conosco. Quando enfrentava os mesmos problemas que enfrentamos. Acordava cedo, corria pra escola, se preocupava em ajudar sua tia nas atividades domésticas, trabalhava bastante pra ganhar uma merreca, sonhava com um futuro melhor (bom emprego, dinheiro, casa própria), pagava impostos, entre outros problemas que você, caro leitor, conhece bem. 

A vida de Derick na terra era difícil e muito sofrida. Pra começar, ele foi criado em uma favela no Brasil, um lugar dominado e comandado pela criminalidade. Seu pai era um homem trabalhador, mas com poucos recursos e sem estudo, por mais que trabalhasse muito não conseguiu sair da pobreza. O homem se atolou em dividas e pegou empréstimos com as pessoas erradas, por não conseguir quitar seu débito acabou sendo assassinado. Sua mãe, igualmente trabalhadora, adoeceu após o falecimento do marido e faleceu alguns meses depois. Derick tinha apenas dez anos quando se tornou órfão e desde então foi criado pela tia Deny, irmã de seu pai. 

Deny foi uma excelente mãe para Derick. Sempre apoiou o sobrinho em seus estudos, o incentivou nos esportes, cuidou de sua saúde e nunca deixou faltar comida na mesa. Tia Deny vendia quentinhas na comunidade e era uma cozinheira de mão cheia. 

O sonho de Derick sempre foi ser policial. O assassinato de seu pai teve algo haver com isso. O garoto cresceu com o desejo de fazer justiça, trazer segurança e combater a criminalidade. Porém, o destino foi mais uma vez cruel. 

Certo dia enquanto voltava da escola, Derick se deparou com uma cena que o atormentaria pelo resto de sua vida. Ao chegar em casa notou que a porta havia sido arrombada, estava escurecendo e a casa estava toda escura. 

— Tia Deny! - gritou desesperadamente enquanto buscava pela tia. Mas não havia sinais dela a não ser um pequeno rastro de sangue no chão. 

Ao sair pela favela foi abordado por uma vizinha que o avisou que um grupo de quatro criminosos havia levado sua tia para os níveis mais altos do morro. Derick subiu as escadas da favela desesperadamente, havia perdido a razão e estava impulsionado pela força emotiva. Desabou em lágrimas e ódio ao encontrar o corpo de sua tia carbonizado na área de desova que Derick conhecia bem. O mesmo local onde o corpo de seu pai foi encontrado alguns anos atrás. 

Tinha apenas dezessete anos quando Derick perdeu a última família que lhe restava. Nesse dia descobriu que sua tia também possuía débitos com os criminosos e agora havia perdido toda sua família para criminalidade. Naquela mesma noite, agora movido pelo ódio e o desejo de vingança, Derick saiu da favela e caminhou até a comunidade dominada pelo grupo rival, onde revelou suas intenções de entregar o dono do morro e responsável por assassinar sua família. 

O garoto foi aceito pelo grupo que lhe forneceu uma arma, uma pistola velha e enferrujada, em troca de sua chance de vingança o grupo rival tomaria a favela e assumiriam o controle da criminalidade dos dois bairros. Mas o destino novamente interviu na vida do jovem Derick. 

Quando retornou a favela, notou que um confronto estava ocorrendo no topo do morro. Subiu as escadas de forma rápida e cautelosa e tentou se aproximar devagar da zona do confronto para antes entender o que estava acontecendo. Os criminosos da favela estavam sendo derrubados por uma figura encapuzada que conjurava espadas e machados de fogo e levantava a terra, formando muros com um simples balançar de um cajado. Derick não pôde acreditar no que estava vendo, ja havia ouvido falar em magia em contos infantis mas nunca acreditou que fosse real. Ficou paralisado e se recusava a acreditar em seus olhos. 

Uma chama azul saltou em sua direção e por pouco o atingiu. Derick correu para trás do que sobrou de um pedaço de muro para se abrigar. Em meio ao confronto observou uma garotinha correndo com as mãos na cabeça seguida por um criminoso que abandonou a batalha para persegui-la. Derick não pensou duas vezes antes de se levantar e correr atrás de ambos. 

A garotinha havia sido encurralada em um estreito beco sem saída. O criminoso apontava um fuzil para ela quando um som de disparo ecoou pelo beco. Derick atingiu o criminoso no ombro. O homem caído virou-se para Derick e executou uma sequência de disparou. O garoto pegou uma cobertura atrás do muro de uma casa na entrada no beco. 

— Seu maldito! Você está morto! - Gritou o homem furioso mandando vários disparos na entrada do beco. 

Percebendo que estava em uma posição de desvantagem, o criminoso agarrou a menina pelo braço e apontou o fuzil para seu corpo. 

— Largue a arma senão irei mata-la! - gritou o criminoso - Você aí! Na entrada no beco. Está me ouvindo? Se não largar essa arma vai ter que atirar em nós dois. Deixe-me sair e deixo a garotinha viver. Eu tenho ordens do patrão para mata-la. 

Derick não viu outra alternativa. Perdeu a chance de matar o criminoso e agora ficou em uma situação que não sabia como resolver. Se largar a arma o criminoso poderá mata-lo e também matar a garota. 

— Tudo bem. Eu vou soltar minha arma - gritou Derick. 

— Seu imbecil! Quero que jogue a arma para mim e apareça com as mãos em cima da cabeça! Você está ouvindo? Senão eu a mato. Não estou blefando. Estou pronto para acabar com ela! 

Derick ficou apavorado. Percebeu que não havia escolha e então jogou a arma no Beco que parou bem nos pés do criminoso. Ao aparecer com as mãos na cabeça o criminoso apontou o fuzil para o garoto. Um feixe de luz passou ao lado da cabeça de Derick e o garoto viu o criminoso ser atingido no rosto e desabar no chão. 

A garota gritou e correu para a entrada do beco. Derick se abaixou com o susto. Enquanto a menina corria o criminoso levantou a cabeça e disparou em sua direção. Derick conseguiu abraçar a garota no momento em que ela havia o alcançado e virou-se de costas recebendo os disparos. 

Uma bola de fogo voou por cima dos dois e puderam ouvir os gritos do criminoso como se estivesse queimando. A visão de Derick começou a escurecer, quando olhou os olhos azuis diamante da garotinha e lá atrás, pôde ver a figura encapuzada que conjurava feitiços, os observando. 

A garotinha pressionou a mão no peito de Derick e disse algumas palavras que ele não pôde entender. Sentiu que a dor causada pelos disparos havia sumido, seu corpo arrepiou-se e algo muito poderoso havia atingido seu coração. A escuridão se tornou uma luz muito clara e uma paz imensa o encobriu. 

Ao abrir os olhos Derick viu nuvens distantes que estavam na sua altura e ao mesmo tempo pareciam inaucansaveis. O chão brilhava e era branco, tão branco que parecia feito de luz ofuscada. Não havia mais nada. O lugar parecia um infinito vazio exceto pela personificação de uma mulher, mas Derick não enxergava seu rosto e nem detalhes de seu corpo, apenas um longo cabelo esvoaçante e a silhueta de um corpo feminino. 

— Mãe? - perguntou ele acreditando está morto e com a última esperança de seu coração que era reencontrar sua amada mãe. 

A figura feminina se aproximou e o tocou no peito. Derick sentiu uma forte energia envolver seu corpo. 

— Bem vindo Derick Sam. - disse a figura luminosa - Eu sou a Sentinela, minha função é garantir que nenhum ser maligno ou associado a práticas obscuras acessem o mundo de Héxium. Sua verificação foi concluída com êxito. Sua alma está limpa. Você tem permissão de atravessar a porta se assim desejar. - a figura de uma voz suave e delicada. 

— Porta? - Derick se sentiu assustado e ao mesmo tempo com uma leveza espiritual - Mas que porta? E para onde ela leva?

— Vejo que ainda não conhece a verdade. Isso é algo incomum. A maioria das pessoas que chegam até aqui já sabem para onde vão, mas você parece ter vindo contra sua vontade. 

— Me desculpa, estou meio confuso. Não consigo lembrar direito das coisas. Eu só me lembro de sentir muita dor e de ver uma garotinha... e agora parece que estou tendo algum tipo de alucinação. Me sinto estranho, como se tivesse carregando algo pesado e alguém tivesse tirado isso de mim. 

— Curioso. Sua alma está purificada, o que também é algo incomum. Já que todas as pessoas sempre carregam uma mancha sombria em seus corações. 

— Uma mancha sombria? 

— Quis dizer que todo ser comum possui tendências para o bem e para o mal. E por melhor que a pessoa seja ainda carrega consigo um delicado toque de escuridão, capaz de mudar toda sua personalidade com uma simples perturbação emocional. Sinto que sua maldade foi extraída, como uma pele necrosada, e um novo tecido cresceu no lugar. Talvez deva atravessar a porta e trilhar seu novo caminho. Afinal é uma dádiva concedida a poucos estar aqui. 

— Mas... O que há lá? 

Um portal se abriu do nada, era feito de luz e tinha o formato de uma porta gigantesca. Derick pôde ver campos verdes e floridos ao longe. Com pássaros que desconhecia, sobrevoando a vegetação. Cachoeiras distantes e brilhantes. E com o som suave da voz da sentinela lhe respondendo: 

— Um novo mundo. 

 

 

 

 


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