Gatilho escrita por JMcCarthyC


Capítulo 1
Gatilho, capítulo único




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Dedicatória

 

Essa “cena” foi escrita em alguma noite de 2009 e é dedicada à minha amiga Ane, Team Jasper antes de Eclipse.

Antes de Lua Nova.

Eu arriscaria dizer antes mesmo de Crepúsculo.

 

 

Gatilho – Capítulo Único

 

Ele jogou a arma pesada nas mãos da menina como se esperasse que ela tivesse o mesmo controle que ele com o objeto. Em choque, a menina dos cabelos curtos apenas observava os movimentos do homem uniformizado com tamanha intensidade que ela seria capaz de desenhá-lo ali mesmo no chão de terra batida, com os olhos fechados se lhe pedissem para tanto.

A manga comprida da farda estava dobrada na altura dos cotovelos, revelando apenas um pedaço dos braços queimados pelo sol forte do Texas.  A parte de cima estava para fora da calça com alguns botões abertos que deixavam à mostra a regata branca colada ao corpo encharcada de suor.

Ela engoliu a seco e tentou voltar a se concentrar no rifle enorme que jazia em suas mãos. Teria funcionado se a visão do homem não fosse tão incontrolavelmente convidativa. Se ele não drenasse toda sua atenção com uma intensidade tão insana.

Derrotada, ela se forçou a encará-lo uma segunda vez.

Os cabelos loiros ondulados cobriam parte do rosto fino até a altura das orelhas, contornados por um filete de suor que escorria teimosamente até parar no canto dos lábios dele. Os lábios incrivelmente moldados que pareciam tão deslocados no que deveria ser um rosto duro de militar. Os lábios que completavam com tanta perfeição o verde brilhante dos olhos dele. O verde que a fazia sair do ar quando era obrigada a encará-lo de perto.

- Pronta?

Foi como se a tivessem puxado outra vez para aquela dimensão. O deserto voltou a entrar em foco, a arma em suas mãos voltou a pesar, o calor do sol voltou a castigar sua pele. Sem conseguir articular as palavras ordenadamente para uma frase simples que fosse, ela acenou debilmente que sim com a cabeça.

O homem sorriu.

O sorriso torto, o sorriso perfeito, o sorriso que ela sabia ser tão raro naquele rosto sério e que, ainda assim, poderia iluminar uma cidade inteira. Se ao menos ele soubesse daquilo...

O som abafado dos coturnos batendo contra a terra vermelha cortava o ar inerte enquanto ele caminhava a passos lentos ao encontro da menina. Descontraído, ele foi desabotoando a parte de cima da farda, até ficar apenas com a regata branca molhada colada contra o peito. Os braços fortes estavam ali. A pele morena de sol também.

Hipnotizada, ela deixou que ele se aproximasse com o ar presunçoso que lhe era tão característico.

- Assustada? – ele perguntou lançando-lhe um olhar de lado antes de atirar parte do uniforme na banqueta de madeira próxima – Você já devia saber que eu não mordo.

A menina sentiu o coração começar a bater com força contra as costelas e a respiração ficar mais frenética.

Péssima idéia. Péssima.

Ela sabia que não devia ter concordado com a idéia do irmão, não devia ter concordado em estar ali com o amigo dele. Ela nem queria aprender a atirar, em primeiro lugar. Ela nunca havia pegado em uma arma, mal conseguia distinguir os dos lados daquela coisa. Mas só de saber que ele seria o professor...  simplesmente não tinha como dizer não.

- Quero ver se você é tão ruim quanto o seu irmão. – ele falou debochado, se jogando largado na banqueta sobre a blusa.

Ela respirou fundo antes de conseguir dirigir a palavra a ele.

- Eu não faço a menor idéia de como se pega nisso, Jasper. E você sabe disso.

Ele cruzou os braços, presunçoso, e sorriu outra vez.

- Tente. – ele deu de ombros.

Ela sentiu o queixo cair. O que ele queria dizer com tente?  Aquilo era uma arma, caso ele não tivesse percebido. Uma arma nas mãos de alguém que nunca havia chegado nem perto de pistolas d’água e que estava com o cérebro seriamente comprometido por... por ele.

- Eu não sei, Jasper. – ele repetiu tentando controlar o tom da voz – Ou você me mostra, ou eu vou embora.

Ela viu as sobrancelhas dele se arquearem e um sorriso jocoso se moldou em seus lábios. Sentiu os braços vacilarem, as pernas desaparecerem sob seu quadril. O homem loiro se levantou, ainda com a postura imponente e retomou os passos até ela.

- Então você quer que eu te mostre? – ele provocou.

Ela sabia que era um provocação, e sabia porque  já havia decorado cada tom diferente de cada palavra que ousava deixar aquela boca tão desenhada para atingir seus ouvidos.

A menina fechou os olhos.

Ela tinha alguma consciência do vento, talvez um mínimo de noção própria. Seus ouvidos captavam apenas o baque surdo dos coturnos, cada vez mais próximos, arrastando a terra com os passos torturantemente lentos.

Ela queria abrir os olhos outra vez. Queria levantar o rosto e encará-lo, ela sabia que ele estava perto. Podia sentir o cheiro dele, podia quase sentir o calor do corpo forte se aproximando perigosamente.

A pele se arrepiou. Os dedos dele tiraram uma mecha de cabelo que cobria a orelha da menina com uma delicadeza que ela sabia que não devia estar ali. Simplesmente não era, não podia...

- Você vai precisar abrir os olhos se quiser aprender.

Foi um sussurro.

Ela sentiu o ar deslocado pelo hálito quente dele bater contra suas bochechas e entorpecer seus sentidos momentaneamente. No segundo seguinte ele sorriu. Ela sabia que ele estava sorrindo.

Relutante, ela destravou as pálpebras, obstinada a fitar o horizonte cor de terra. A vontade de virar o rosto era angustiante. Era quase impossível de ser controlada.

Inerte, ela deixou que ele subisse as mãos pelas dela, sentindo o coração explodir conforme a pele dourada dele se arrastava pela dela. O toque era incrivelmente macio... Era quase com se ele violasse todas as regras que o tornavam militar. Era quase como se ele fosse... errado e, de alguma forma misteriosa, incrivelmente...  certo.

- Jasper, eu... –

- Shhh... – ele a interrompeu, envolvendo-a completamente em seus braços.

Os corpos haviam se colado. Ela conseguia sentir o coração dele bater contra suas costas e as respirações se sincronizaram. Longas, pesadas... ansiosas.

As mãos perdidas se deixaram guiar pelas dele, até que a arma estivesse na posição correta. Tentou respirar mais fundo, um rosto se colocou ao seu lado. Ela podia sentir a pulsação nas têmporas naquele momento, qualquer coisa exterior aos dois não importava. Qualquer coisa exterior a ele... ela não queria que importasse.

- Eu estou aqui para te amparar quando ela disparar. – ele tentou acalmá-la, seu polegar deslizando preguiçosamente pelo braço dela – Agora você coloca o seu dedo no gatilho, mas...

Foi como uma permissão que ela não sabia explicar.

Ela mal se deu conta de quando a pressão da mão dele aumentou contra ela, nem quando seus dedos livres subiram pelos cabelos loiros desgrenhados com um desejo urgente guiando-os até a nuca do militar.

Ela o pegara de surpresa, e sabia daquilo. Sabia que ele não se renderia tão fácil.

- Ane... – o nome saiu ofegante, preso entre as pálpebras prensadas como se não devesse sair dali.

- Shhh... – daquela vez foi ela quem o interrompeu.  Ela não ia deixá-lo terminar.

O dedo que outrora estivera encaixado no gatilho da arma agora subia pela mandíbula rígida dele, acompanhada pelo barulho distante do rifle sendo largado no chão. Devagar, ela contornou as feições duras dele, sentindo o corpo amolecer.

Ele não se movia. Ela não tinha pressa.

Deixou o indicador correr pela pele úmida e até secou um filete de suor que lhe descia pela testa. A respiração dele era jogada contra seu rosto, tão próxima que ela chegava a abrir a boca para bebê-la de alguma forma.

Entorpecida, o polegar desceu para os lábios, contornando-os com uma profundidade hipnotizante.

Então ela sentiu uma mão grande segurar seu pulso e afastar seus dedos do rosto dele.

- Desculpa, eu... –

- Eu... – ele a cortou outra vez, o sorriso torto moldando-se nos lábios livres – puxo o gatilho.

Ela queria sorrir em troca, mas não ouve tempo. Com um puxão, o loiro encaixou a cintura dela contra na sua, pressionando os lábios sérios com violência contra os dela. O mundo saiu de foco outra vez.  Os sentidos se misturaram, o calor pulsava de um para o outro com uma intensidade quase palpável.

As mãos dela estavam presas com tanta vontade nos cabelos dele que tirá-las dali seria impossível. Eles estavam completos, unidos. Era como se eles fossem um. Como se sempre tivesse que ser daquele jeito.

Era como se... ele fosse dela.

Relutante, sentiu seus lábios se separarem dos dele e suas mãos desceram até os ombros fortes à sua frente. Os olhos queriam permanecer fechados, suplicavam por guardar aquele momento com a maior perfeição possível.

Ela sentiu um polegar roçar suas bochechas.

Derrotada, abriu os olhos. As duas esmeraldas estavam ali, faiscando, sorrindo para ela de um jeito deslumbrante que ela não conseguia acreditar.

Em silêncio, ele ameaçou aproximar os lábios mais uma vez dos dela, mas a menina o parou. A interrogação ricocheteou no semblante dele, mas ela não deixou que ele começasse a falar.

- O segundo tiro – ela sussurrou correndo os dedos pelos cabelos loiros, acompanhando os movimentos das pupilas dilatadas dele com uma perfeição impecável  – é meu.

Ele não ofereceu resistência. Ela avançou contra os lábios molhados outra vez e o sentido se perdeu novamente.

Eles estavam completos.  Estavam unidos.

Eles eram um.

 

**********

 

N/A: Bom, como eu disse antes, isso é mais uma “cena” do que uma fic. Eu acho que eu escrevi mais como um desafio porque eu queria ver se conseguia escrever uma cena boa com alguém que não fosse o Emmett.

 

Não foi fácil, mas foi saindo... E no fim das contas eu acho que é uma das minhas cenas preferidas, de todas que eu já escrevi. Cada frase, cada palavra, foi feita como se eu estivesse com uma câmera na mão, vendo aquilo acontecer. E se eu consegui fazer com que vocês vissem exatamente o que eu queria passar, bom, é isso... hahaha

Claro, a fic é dedicada à ANE, que é a Team Jasper/Jackson do my heart *-* Que já era Team Jasper muito antes dessa palhaçada de Eclipse e que é a pessoa mais apaixonada pelo Jackson que eu conheço. Não apaixonada pela aparência dele, mas de um jeito que pouca gente entende.

Enfim, já falei demais.

Espero que tenham gostado.

 

Beijos, 

Jullie

 


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