Noite de amor terror. escrita por THE NOTHING


Capítulo 1
Capítulo único




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 Noite de ~amor~ terror  

 

 

Heloísa Queiroz era chamada de Café porque sempre chegava na escola virada, noites e mais noites a base de café e energético lhe renderam tal apelido, ela era líder do clube de ocultismo do Colégio e ficava a noite toda em geral pesquisando sobre magia, cultos religiosos e lendas japonesas para as tardes de quarta-feira que era quando as reuniões do grupo aconteciam, isso é claro, quando não passava a noite toda jogando jogos de terror e esquecia de dormir. 

Bebel Prado era o exato oposto, ela era torcedora do time da classe do interclasse, líder do clube de maquiagem e uma das melhores alunas da classe, Isabella era eloquente, era popular, divertida, carismática e ninguém entendia como uma garota tão linda “ficava sério” com um bicho do mato como a Café. 

As duas começaram a ficar quando Bebel quando após uma aula maçante e longa sobre geometria espacial Bebel, que estava sentada ao lado de Heloísa a chamar para ser modelo no seu clube de maquiagem dizendo que ela tinha lindos olhos e cílios enormes. 

Era irônico já que para Heloísa Isabella tinha os olhos mais lindos que já tinha visto. Era duas pepitas de ouro negro, dois torrões de café que se destacavam perante a pele negra retinta, aos lábios carnudos e redondos como os de uma arte digital e sobrancelhas finas e arqueadas que destacavam sua pele perfeita e sem espinhas, e fala sério, quem tem dezesseis anos e não tem espinhas? 

Era profundamente contraria a Café, que era mais baixa que a média, tinha pele clara a um nível de palidez que chegava a ser estranho e com olheiras aparentes, a aparência de alguém que de fato pouco dormia. Se sentia desengonçada naquele uniforme da escola e pouco se via ela sem o moletom roxo que só era tirado após as aulas de educação física. 

Café não tinha muitos amigos, mas também não tinha nenhum inimigo, não era popular nem desgostada, considerava amigo apenas Lucca Andrade, seu vice—presidente do clube de ocultismo de colégio, o garoto que estava ao seu lado quando teve que debater com o diretor sobre como um clube de ocultismo seria sim benéfico para a escola, o garoto que entendia suas piadas e a quem pediu ajuda naquele dia em que foi convida por Bebel. 

—O que caralhos você vai fazer no clube de maquiagem? 

—A Bebel Prado me convidou para ir lá para ser modelo, disse que eu tenho lindos olhos. 

—Beleza, eu fico no seu lugar por hoje, mas cuidado, meninas são más. 

Lucca era medroso até demais para um garoto viciado em estudar forças ocultas, ele dificilmente fazia amigos, era desconfiado como um gatinho assustado, mas era de boa índole. Café demorou dois anos de conversas desconfortavelmente casuais até que realmente se tonarem melhores amigos. 

Bebel a maquiou naquele dia, tirou sua sobrancelha com uma lâmina que nenhum professor podia descobrir que ela trouxe para escola e a chamou de linda, e Heloísa se sentiu linda pela primeira vez em muito tempo. 

Desde então as garotas começaram a andar juntas de maneira casual, como se não fosse estranho para qualquer pessoa alheia aquilo ver aqueles dois universos opostos se fundirem, Bebel pintava as unhas de Café, sempre com poucas cores, preto, roxo ou azul real, uma vez até com um marrom escuro para honrar seu nome. 

Café por sua vez compartilhava as respostar de suas lições, sempre feitas no último dia do prazo, com letra letras garrafais, mas feias, quase ilegíveis. Lucca brincava que era runas de um feitiço quando pegava seu caderno, mas Bebel não reclamava, apenas ficava grata por receber as respostas quase sempre certas. 

Com o tempo a atração de Café por Isabella foi aumentando e a pequena queda se tornou um penhasco, ela não era só linda, ela era genuinamente legal, simpática e sincera. Sua alma era como uma chama, era quente, acolhedor de estar perto, era divertida, era mais que um rostinho bonito, ela sem dúvida merecia toda a fama que tinha, e os vários seguidores no Instagram também. 

De algum modo Bebel era simples, mas espetaculosa um paradoxo que só fazia sentido a quem a conhecesse, ela não tentava trazer atenção a si, não era autocentrada, mas de algum modo era grandiosa, majestosa e gostava de ser assim. 

Foi ao som de Honey de Jonny Balik que deram seu primeiro beijo, embaixo da arvore de jamelão que tinha perto da quadra enquanto apreciavam uma tarde ensolarada na hora do almoço. Todos sabiam que Bebel ficava com meninos e meninas, mesmo que pouco fizesse quando a isso. Já Café, era uma surpresa, talvez para quem não a conhecesse ela passasse por assexual, por até por uma garota hetero que seria eternamente virgem e teria muitos gatos. 

Entre as duas nada era muito sério até o momento, não que Bebel não quisesse tornar oficial o que as duas tinham, mas sabia que Café não tinha simplesmente nenhuma experiencia em relacionamentos e tinha que ir devagar para que ela pudesse digerir tudo com calma. 

E ela teve calma, por seis meses, tempo o suficiente para ela para que Café se sentisse confortável em compartilhar seus sentimentos com outro alguém, que pudesse entender e confiar seus sentimentos a Isabella, e agora ela queria fazer oficial. Em grande estilo. 

A primeira coisa que fez foi chamar seu irmão, Theteu, para ajudar no plano. Matheus Prado no geral era o cara mais despreocupado que se pode conhecer, três anos mais velho, ele se entretia  em geral jogando LOL ou CS, perturbando a irmã ou ajudando os pais no mercado da família. 

Ele também era, por algum motivo o melhor amigo o melhor amigo da irmã desde crianças, seu confidente e sem dúvidas o único cabeção que toparia qualquer que fosse a ideia que Bebel tinha na cabeça. 

O primeiro passo foi falar com Lucca, descobrir tudo que ele sabia que Bebel ainda não tivesse conhecimento, ele disse que o aniversário de Café estava chegando e mesmo que a família dela tivesse o hábito de fazer grandes festar de aniversario, Café não gostava de toda aquela festividade então seria fácil a tirar de casa no dia. Era engraçado, Bebel podia jurar que Lucca estava realmente assustado com suas falsas ameaças. 

O segundo fácil foi simples, Isabella convenceu Theteu a levá—la ao centro da cidade, olhar por qualquer coisa que pudesse servir de presente para sua futura namorada bonecas assombradas, fotos de aparições, livros de feitiçaria, cristais, qualquer coisa que pudesse ser achada em um sebo ou brechó que tivesse um ar místico que sabia que Heloísa gostava. 

Quando encontrou um livro velho em um sebo, que aparentemente falava sobre demônios e maldições ela teve a certeza de que era o presente perfeito e sem pensar comprou o livro que definitivamente precisava de umas boas reformas. 

Era um livro grosso, com páginas amareladas, algumas saltavam para fora, soltas. A capa era marrom, com detalhes em metal dourado que lembrava ouro além das letras, já desgastadas douradas da escritura Daemones et carminas. Não havia nenhuma indicação de quem era o escritor, era um livro bonito, mesmo que velho. E pelo que conhecia de Heloísa seria perfeito. 

Era sete de agosto, dia do aniversário de Café e Bebel não viu problema em falar para Café que estava preparando uma surpresa para ela, mesmo que Café não gostasse muito de surpresas prometeu que dessa gostaria. 

Quando chegou a noite as meninas pularam o muro da escola juntas, foi mais fácil assim uma vez que ele era maior do lado de fora que do lado de dentro, Heloísa ficou impressionada com a facilidade que Bebel tinha de pular aquele muro, era como se fosse profissional naquilo, não era de se estranhar que as vezes Bebel aparecia com uma coquinha gelada na hora do almoço mesmo não sendo permitido na escola. 

As luzes da escola estavam acesas e o guardinha de certo perambulava por aí sem rumo e sem ter o que fazer numa escola sozinha a noite, Bebel evitou as câmeras espalhadas pela escola como uma ninja até chegar à sala de sete, a sala que normalmente acontecia os encontros do clube de maquiagem, aonde tudo começou. 

Lá estava a sala, iluminada pela luz de inúmeras velas, pétalas de rosas jogadas pelo chão Lucca e Matheus já conversavam animadamente enquanto esperavam as duas chegarem, era impressionante o quanto homens fazem amizade fácil. Havia balões prateados com a escrita de “Feliz 17 anos” neles próximos ao quadro branco com a mesma escrita em canetinha neon. 

—Helo, esse é o meu irmão, Matheus. Matheus, essa é a Heloisa. — 

—Minha irmã não para de falar de você. Feliz aniversário baixinha. —Ele  

—Obrigada, ela fala muito de você também. 

—Aaaah, então ela fala muito de mim é? 

—Cala boca, bocó. Eu só disse que você fede e que tem piadas ruins. 

—Podemos começar isso logo, eu não quero ficar até tão tarde na rua. —Lucca interrompeu, era próximo das onze horas e além de ter saído escondido para vir para a celebração, não era preciso ser um mestre do terror para temer os perigos noturnos. Ele foi até a primeira mesa da última fileira próxima a janela e pegou o bolo que ali estava, os esperando. 

Era um bolo de um andar, preto, com detalhes roxos e glitter, com cobertura de chantily e em cima tinha duas velinhas com o número um e o número sete dourados, cores que remetiam a realeza e Bebel sabia que eram as favoritas de Heloísa. 

Os três começaram a cantar baixo um parabéns para você lento, mas animado e batiam palmas levemente para não fazer barulho enquanto Café apenas batia palma sem jeito não tendo ideia do que fazer naquela situação. 

Quando chegou o momento do “Com quem será?” Theteu pegou discretamente uma câmera e começou a gravar o momento que Bebel se ajoelhava em frente de Café com um anel de compromisso em mãos. Agora as rosas no chão faziam sentido. 

Café apenas acenou um sim com a cabeça emocionada e abraçou Bebel com uma força que quase a fez cair para trás. 

—Agora os presentes. —Lucca falou animado entregando um caixinha com o formato triangular com uns vinte centímetros de altura por dez de largura. Café desatou o laço de cetim e abriu a caixa revelando um boneco de argila com símbolos em um idioma desconhecido. 

—Seu dever da aula de artes? 

—É um golem, um protetor místico que pode ser trazido a vida. —Explicou pacientemente revirando os olhos. 

—Ótimo, agora tenho proteção quando ver dois caras numa moto.—Brincou abraçando o melhor amigo. 

—Agora abre o meu. —Pediu entregando o livro embrulhado em um papel presente simples que Café rasgou com uma imensa facilidade. 

— Daemones et carminas, é um livro de feitiços? —Falou em um latim arranhado 

—É o que parece, encontrei em um sebo, achei que seria o tipo de coisa que ia gostar de ler. 

—E acertou, meu amor, obrigado. — Falou dando um beijo na, agora, namorada. 

—Tenta um feitiço. —Theteu sugeriu querendo se afastar daquela cena nojenta de sua irmã beijando alguém em sua frente. 

—Não, não, não... péssima ideia. Nunca se deve mexer com magia que não se conheça bem. 

—Para de ser medroso, Lucca, olha, esse aqui parece ser sobre trazer objetos a vida. —Café falou enquanto folheava o livro botando as palavras do Latim em português usando o Google tradutor, ela botou o golem em cima da mesa, olhou novamente o livro e olhando para o golem recitou as palavras. 

— Afferte me ad praesidium amicum meum.— De repente dentro da sala começou uma estranha ventania fazendo com que as pétalas de rosas, antes no chão agora rodeassem o boneco que começou a crescer até ficar com um pouco menos de altura que a própria sala que estavam. 

Os olhos do golem agora eram vermelhos e seu grito era aterrorizador, todos na sala olhavam surpreso daquilo realmente ter funcionado e estavam todos incrivelmente arrependidos dos presentes que deram. 

O golem parecia com raiva e tentou atacar primeiro a pessoa que estava mais próxima, Café que saiu correndo e por pouco conseguiu desviar do ataque. 

Todos saíram correndo deixando o lento golem para trás preso na sala sem entender como sair por aquela porta pequena, foi o tempo de descerem as escadas e se esconderem em uma sala qualquer o golem percebeu que poderia simplesmente abaixar, era uma criatura forte, mas aparentemente bem burra. 

—Que presente você inventou de me dar em Lucca. —Sussurrou Café, nervosa. 

—Golens não atacam seus senhores, pelo menos não na mitologia, você pode ter invocado um demônio que se apossou de corpo dele para ataca ou talvez o jeito que disse o feitiço tenha gerado algum efeito colateral. 

—Será que pode fazer silencio para aquela coisa não nos escutar? 

—Deve haver algo no livro que ajude. —E nesse exato momento ela notou que havia deixado o celular cair quando foi atacada, sem o tradutor aquele livro era um emaranhado de palavras desconhecidas e antes que pudesse pedir o celular de outra pessoa do grupo, Heloísa ouviu o estrondo de uma mesa sendo jogada em direção a parede, era o Golem que estava furiosamente atirando as mesas em busca deles. 

Café olhou de relance sem se deixar ser vista e o Golem, mesmo que burro se aproximava cada vez mais rápido de onde estavam escondidos, o fim se aproximava rápido. 

A mesa que Heloísa usou para se esconder foi arremessada e o Golem parecia de algum modo ainda mais bravo ao encontrá-la, Heloísa fechou os olhos esperando o golpe que receberia e provavelmente seria fatal e sabendo que seus amigos teriam um destino semelhante logo em seguida, mas apenas ouviu palavras indecifráveis e o barulho de algo se quebrando. 

Era a estatueta de argila que segundos atras era um golem furioso e atrás dela sua tia, Camila. 

—Tia? 

—Você sumiu da sua festa e a estabilidade magica da cidade quase que instantaneamente teve uma alteração, achei que estaria em problemas. 

—Não sabe o quanto estou feliz de terem percebido que eu sumi dessa vez. 

—Todos estamos. 

—Então, essa coisa de mágica é de família? 

—Não exatamente, algumas pessoas que nunca tiveram contato com magia podem a aprender com muito esforço e estudo, mas algumas pessoas têm mais predisposição e facilidade por meio da genética. 

—Mas a minha mãe nunca disse nada disso para mim. 

—Sua mãe não queria que você tivesse uma infância normal, por isso se afastou completamente da magia depois que você nasceu. 

—Isso explica minha fixação pelo sobrenatural. 

—Sem dúvidas, você sempre deu sinais de que seria uma ótima bruxa, esperávamos que fossemos contar apenas quando você fizesse dezoito, mas pelo visto você descobriu antes. 

—E por que o golem nos atacou? Não deveria proteger aqueles que o invocaram? 

—Em teoria sim, mas eu não sei que feitiço foi usado ou como a Heloísa pronunciou as palavras, muito provavelmente ela acabou invocando um obsessor que se apossou do Golem para atacar. 

—Aha! Eu disse! —Lucca falou com cara de eu te disse. 

—Agora vamos para casa, eu levo vocês 

—É acho que cumpri meu papel de te dar um aniversario inesquecível. —Disse Bebel trazendo para si a namorada em um meio abraço enquanto as duas saiam pela porta. 

—Sem dúvida. 


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