Os rejeitados escrita por elda


Capítulo 2
Capítulo 2




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 — Como você sabia que Law não estaria aqui? — Sanji perguntou assim que entrei no apartamento.

— Não sabia.

— Tá me dizendo que você veio atrás de mim mesmo com o Law estando aqui?

Sanji estava incrédulo e eu coçava a cabeça com força por estar muito confuso. Minhas pernas simplesmente se moveram e meu cérebro se esqueceu que Law morava ali. — Eu simplesmente pensei em vir te visitar e não me importei se seu amante iria gostar disso ou não.

— Ele não é meu amante! — Disse Sanji, aborrecido. — Ainda éramos amigos quando eu namorava com você!

Eu soltei um riso com escarnio. — Acredito.

— Você acreditando ou não, não importa mais. — Sanji buscou um cigarro do maço sobre um móvel de mogno, algo que me fez pensar que ainda ficava nervoso quando o assunto era nós dois. — Veio fazer o que aqui?

Nos últimos meses da nossa relação passamos a brigar muito e por motivos cada vez mais bestas. Sanji me traiu com Law, embora não houvesse nenhuma prova pra confirmar isso. Mas o nome desse desgraçado foi ficando mais presente em nosso lar que não acreditei que eram somente amigos e como brigávamos por qualquer coisa, quisemos terminar o namoro.

— Ah bem... cadê o jardim que ficava na sacada? — Perguntei ao notar pela primeira vez que não havia nenhuma planta na sacada.

— Ham... — Murmurou após assoprar a fumaça do cigarro. — Eu fiquei meio sem tempo pra cuidar do jardim e dei tudo para Robin.

Fazia muito tempo que não via Robin, talvez porque ela era mais amiga de Sanji do que minha. Mas mesmo ela tendo um amor descomunal por jardinagem e saber que tudo ficaria bem com as minhas plantas, fiquei triste em saber que Sanji se desfez delas. Eu encarava o jardim como um filho nosso.

Sanji notou meu silêncio. — Pra que veio aqui, marimo?

Eu pisquei os olhos e voltei a encarar seus olhos apáticos com o cigarro sendo segurado nos lábios. O cheiro de cigarro não se misturava mais com o da terra.

Tá a fim de sair? — Ele disse no seu típico tom maçante e que eu estava com muita saudade de ouvir.

Estava sentado no sofá lhe esperando se vestir e me lembrando o quanto era vaidoso e que por isso ia demorar bastante. Mas eu também pensava que seu pedido fora inusitado e que ele continuava o sem vergonha de sempre.

Eu realmente não fazia ideia qual foi o motivo que me fez parar ali, algo dentro de mim moveu meu corpo mais rápido que o meu raciocínio e sequer pensei que poderia me encontrar com a carranca de Law.

Respirei fundo e fechei os olhos, o cheiro do cigarro já apagado e amassado no cinzeiro ainda pairava no ar. O motivo de eu estar ali era porque simplesmente queria ver o sobrancelhas, eu queria fodê-lo.

— E então?! Gostou das minhas roupas?!

Sanji me despertou dos meus pensamentos com essa pergunta e ao abrir meus olhos lhe vi vestido com uma calça justa preta e um casaco de gola alta também da cor preta. Ele vestiu o sobretudo e me chamou para sairmos, mas ainda estava hipnotizado em vê-lo tão bonito que ele precisou se aproximar de mim para mexer no meu ombro.

— Nossa, você nem disfarça que está babando por mim.

Eu grunhi. — Cala a boca!

Passamos a andar na rua um do lado do outro, Sanji disse que seria melhor andar a pé do que de carro por ser mais romântico.

— É? E seu namorado não vai estranhar você tendo um encontro com o ex?

— Não, porque Law não é ciumento ao contrário de outros aí... — Ele me lançou um olhar querendo dizer que era eu. — Law confia em mim, não precisa se preocupar.

— Por que quis sair comigo? Não está chateado?

Sanji parou os passos ao ouvir essa pergunta. — Sei lá, marimo... terminamos no verão e já estamos em outra estação. — Ele olhou pra trás com as mãos no sobretudo e voltou a me encarar. — A cidade fica mais bonita quando chove, né? Porque o asfalto vira um espelho.

— Eu quem te disse isso.

— Ah, é mesmo! Foi você quem me disse isso! — Ele passou a mão no cabelo e pigarreou. — Não sei o motivo, eu perguntei sem pensar... foi meio que automático.

Eu ri. — Te digo que comigo aconteceu o mesmo... do nada apareci no seu apartamento! — Chutei de leve sua perna e enterrei minhas mãos nos bolsos da calça, sentia-me envergonhado por tê-lo tocado com... o pé.

— Foi tão automático que nem raciocinou que Law poderia estar no apartamento, né?

— Isso!

Sanji também estava constrangido.

— Ele tá na casa dos pais.

— Ele quem?

— Law.

— Opa, parece que me esqueci de novo dele.

Começamos a rir, mas voltou a chover e corremos atrás de algum lugar para nos proteger. Paramos numa marquise respirando fundo por termos corrido muito, depois olhamos o estabelecimento que se encontrava atrás de nós e entendemos que se tratava de um cinema erótico.

— Tá a fim de entrar?

— Sobrancelhas, você continua tarado!

— Pode ser, mas acredite: nunca entrei num desses!

— E não vai ser hoje que você vai entrar.

— Qual é, marimo! Vai ser que nem naquele filme Taxi Driver!

— Não sei que filme é esse, você deve ter visto com Law.

— Foi com você, idiota! Mas tu é uma anta que dorme sempre nos filmes e por isso não se lembra!

Sanji pegou no meu braço e me puxou até a bilheteria. Ao entrarmos na sessão sentimos um cheiro peculiar, porque era um local de quinta categoria em que as pessoas podiam fumar durante o filme e fazer outras coisas também. Sabe, coisas com fluídos e tals. Contudo, quase não havia ninguém e as pessoas daquela noite fitavam a tela com os olhos cansados como se estivessem vendo um filme contemplativo e não putaria, muito provavelmente eram pessoas que giravam a noite e que apareciam por lá na hora do intervalo.

Eu e Sanji nos sentamos no centro depois de retirarmos nossos sobretudos. Conforme o tempo passava, nós dois achávamos o lugar mais estranho possível.

— Por que tem esse barulho quando o pau entra na boceta? — Perguntei ao sobrancelhas.

— Sei lá, eu nunca entrei numa boceta pra saber!!

Começamos a rir, mas nos familiarizamos logo com os filmes e passamos a achar chato porque todos eram iguais, fomos embora. Como não chovia, deu pra andar bastante até o fliperama que ainda funcionava naquele horário.

O fliperama era um lugar conhecido, nós frequentávamos na nossa época de namoro, mas desde o término eu nunca mais fui nele. Pergunto-me se Sanji fez o mesmo.

— Quanto tempo que não venho aqui!

Eu consegui ouvir Sanji dizer isso no meio das máquinas, nas quais cada uma tinha uma música 8bit tocando infinitamente.

— Sério? — Ele acenou com a cabeça que sim. — Eu também tô um bom tempo sem vir pra cá.

— Desde que acabamos.

— Eu também!!

— Então, marimo, vamos aproveitar que estamos de volta!!

Ele pegou na minha mão para entrarmos na fila de fichas e eu senti meu rosto esquentar. Aquela noite estava parecendo o nosso primeiro encontro.

Jogamos vários jogos e até mesmo brigamos, porque fazíamos disputas idiotas. Por exemplo, em jogos de arcade lutávamos um contra o outro, mas uma força sobrenatural fazia com que empatássemos.

Eu só não competi no Pump it Up, porque fico sem graça em jogar um jogo que te expõe demais para o público e o, vaidoso do sobrancelhas, não. Sanji era muito bom nesse jogo e todos que lhe desafiavam, perdiam. As suas pernas tinham alguma coisa...

Ele ficou horas com os olhos fixos nas setas que apareciam na tela pra pôr o pé no quadrado certo. Sanji estava feliz. Feliz como no nosso início de namoro.

Quis começar tudo de novo.

Depois fomos para um posto de gasolina tomar um café preto na loja de conveniência.

— Está se divertindo, marimo? — Sanji perguntou assoprando o café. Estávamos sentados numa das mesas circulares da loja, uma que ficava perto da vitrine. Eu observava as luzes virando borrões com a vitrine cheia de gotinhas por ter chovido um pouco depois que entramos no estabelecimento.

— Sabe... você dança muito bem.

Sanji começou a rir. — Aquilo não é dança! Mas confesso que sou um ótimo dançarino.

Eu ri com sua franqueza, como era vaidoso... — Pena que sou chato e recusava todas as vezes que me chamava pra dançar.

— Isso é verdade! — Ele deixou o café e se levantou da mesa para se ajoelhar próximo a minha cadeira. A sua mão estava com a palma para cima e a outra no seu peito. — Será que o cavalheiro me concede uma dança?

Eu pisquei os olhos, não havia nenhuma música tocando e tinha mais dois clientes no estabelecimento, sem contar com a atendente do caixa. — Sobrancelhas... você não...

— É isso mesmo que você ouviu!

Suava de nervoso, mas quando voltei a mim já estava com minha mão na mão de Sanji e envolvendo meu braço na sua cintura. Começamos a dançar no centro da loja e eu tentava pensar que havia ninguém vendo. Contudo, eu só não via as pessoas nos fitando e nos julgando porque éramos dois homens, como também as via peladas. Não entendi meu psicológico nesse momento, era pra eu estar pelado e não elas.

— Sabe, essa noite faz eu pensar que estamos voltando. — Sanji disse do nada, no pé do meu ouvido.

Eu estremeci ao ouvi-lo. — Eu também pensei isso agora pouco.

— Você continua cheirando a sabonete.

Ri. — Sim, ainda não uso perfume.

— Mas eu gosto, sabe?

Resolvi não respondê-lo e continuamos a dançar em silêncio. Depois levei Sanji até seu apartamento que no verão era também meu e na sacada havia um belo jardim com um cacto carrancudo.

— Obrigado pela noite, marimo. Eu amei.

— Eu que agradeço, porque foi você quem fez o pedido.

— Mas foi você que apareceu aqui do nada.

Comecei a rir até um silêncio nos envolver e eu pensar em algo muito louco. Algo louco tanto quanto o pedido de Sanji para sair comigo naquela noite. — Você... Você não quer que eu suba e a gente... durma juntos?

— Você quer me foder?

— Isso.

— E o que te faz pensar que vou aceitar?

Embora eu tenha parado para pensar antes de dizer uma coisa horrorosa, eu ainda disse: — Porque você fez isso comigo.

Sanji abriu os olhos. — Você está se referindo da suposta traição com o Law?

— Não exatamente.... — Estava constrangido com as palavras que escolhi. — Só que... Ai, minha cabeça tá doendo! — Eu passava as mãos incessantemente no couro cabeludo e até batiam nos meus brincos. — Eu só quis fazer um pedido doido como o que você fez ao me chamar para sair.

Respirei fundo antes de subir o meu olhar e me encontrar com o do sobrancelhas. Eu destruí uma noite linda e ainda ia levar um tapa na cara, mas o encontrei sorrindo.

— Eu não vou fazer o mesmo com ele, porque eu não te traí, Zoro. — Disse Sanji, calmo demais pra besteira que eu havia dito. — Mas confesso que te desejei essa noite.

Comecei a chorar. — Desculpa por não ter acreditado em você.

Sanji se aproximou e passou a enxugar minhas lágrimas. — Não chore. Vá pra casa e descanse.

Respirei fundo e ajeitei minha compostura. — Será que eu posso te ver mais vezes?

— Claro, podemos ir mais vezes no fliperama.

— E naquele cinema erótico.

Rimos.

— Bem, eu vou indo! — Resolvi me despedir por perceber que não havia mais nada a ser dito. Desci os degraus da portaria com pressa e dei um aceno. — Até, Sanji!

— Até, Zoro!

No entanto, me virei de volta para o sentido do sobrancelhas, porque percebi que havia muitas coisas a serem ditas. — Eu acabei de compreender por que vim pra cá hoje do nada.

Sanji, que estava retornando pra casa, parou e também se virou para mim. — O que?

— Eu ainda te amo, Sanji. Sinto sua falta.

Dessa vez foi Sanji quem começou a chorar. — E-eu também...

Voltei a subir os degraus da portaria e passei a enxugar suas lágrimas. — Vamos recomeçar?

Ele afastou as minhas mãos para que pudesse me fitar com o sorriso mais bonito. — Sim.


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