Sentada na cadeira desconfortável do hospital, Hermione observava como Ron dormia serenamente na cama. O quarto aquecido cheirava a desinfetante, um odor que ela conhecia muito bem. Os cabelos ruivos caiam sob o rosto pálido, sem as marcas de sofrimento que pautavam seu rosto diariamente, enquanto tentava combater sua doença: varíola de dragão. Uma doença já não tão mortal como antigamente, graças às poções que tinham sido desenvolvidas. Antigamente, ter Varíola de Dragão, era uma sentença de morte.

Cada dia tinha sido uma batalha, entrando e saindo com regularidade do hospital. St. Mungus tinha sido uma segunda casa para eles durante um ano e oito meses, anotados diariamente em um calendário que Hermione tinha em casa.

Tinha sido o lugar onde tinha passado mais tempo. Tivera de meter baixa do emprego, para poder acompanhá-lo todos os dias. Quando Ron passava a noite no hospital, ela ficava em casa, chorando para libertar sua dor.

Os Weasleys tentavam ajudar em tudo o que precisavam, tirando uma grande parte da pressão dos ombros dela. Os primeiros meses tinham sido horríveis: Ron tinha perdido mais de metade de seu peso e perdido grande parte de seu cabelo.

Tinha havido uma altura em que Ron não queria que o viessem visitar, para que não vissem sua vulnerabilidade. Mas Hermione era tão teimosa como ele e vinha visitá-lo todos os dias. Só há poucas semanas é que o cabelo tinha voltado a crescer, o que a deixava esperançosa.

Tocou em uma das mãos, que descansava sob o peito. Tinham iniciado cedo o tratamento, por isso, a chance de sobreviver era maior.

Sentiu os olhos marejados de lágrimas ao se recordar do sofrimento de seu marido. Embora tentasse esconder sua dor, ela já o conhecia há tempo suficiente para saber como se sentia.

Limpou as lágrimas que ameaçavam sair com os dedos, não querendo que a vissem chorando.

Aquele dia era especial. Iriam saber os resultados do tratamento. Se todas aquelas sessões tinham ajudado Ron a regredir a doença. Hermione tinha esperança de que seu marido iria sobreviver.

Escutou um gemido e se virou, vendo os olhos de seu marido se abrindo pesadamente.
— Ron. - Chamou, apertando sua mão - Como se sente?
— Como se um trem tivesse passado por cima de mim. - Murmurou ele, tentando se erguer da cama. Hermione o ajudou, colocando travesseiros atrás de suas costas.
— E então? Já sabe de algo?
— Ainda não me disseram nada. - Respondeu ela, afastando a almofada. Não queria dizer nada, mas aquela demora a estava deixando ansiosa.
— Vai ficar tudo bem. - Tentou consolá-la Ron, apertando sua mão, querendo lhe passar segurança e conforto. Sabia como sua esposa tinha sofrido com sua doença. E tê-la a seu lado o tinha ajudado a ultrapassar melhor aquela situação. Tinha certeza de que não teria conseguido sobreviver a todo o tratamento: à queda de cabelo, à perda de peso, a perda de sua autoestima. Todas as alterações que seu corpo teve devido ao combate à doença.

Ninguém lhe tinha dado tanto apoio como ela. Não que sua família não tivesse ajudado, mas não tinham sabido o que fazer. Sua mãe só tinha chorado em sua presença, o deixando mais angustiado, enquanto trazia bolos caseiros e seu pai o olhava com tristeza, sempre abraçado a sua mãe.

Harry e Ginny tentavam motivá-lo com temas que gostava, conversas curtas, já que tinham empregos exigentes: ele era Auror e ela jogadora das Harpies.

Bill e Fleur vinham várias vezes visitá-lo e Charlie, como morava na Romênia, não podia fazer muitas viagens internacionais, mas enviava cartas semanalmente, querendo saber como estava.

Percy e Audrey não vinham tantas vezes como gostariam, já que sua cunhada estava grávida e vê-lo tão debilitado a impressionava.

George aparecia ao fim de todas as tardes, lhe contando como tinha sido seu dia nas "Gemialidades Weasley". Ron queria saber tudo sobre o negócio, já que também se tinha tornado sócio. Como estavam as vendas, novas invenções eram abordadas com regularidade, fazendo com que Ron - mesmo debilitado - sentisse que fazia parte de tudo.

Escutaram passos do lado de fora e ficaram alertas. O medibruxo Carter, quem tinha cuidado de Ron durante todo aquele processo, entrou no quarto com uma pasta na mão.

O coração de Hermione fraquejou ao ver o rosto sério do idoso medibruxo, que era normalmente bastante simpático. Temendo notícias ruins, sentiu os olhos se enchendo de lágrimas. Ron, percebendo sua aflição, apertou sua mão, lhe transmitindo confiança.
— Medibruxo Carter. - Começou Hermione, com voz trêmula - Quais são os resultados? Ron melhorou da doença, ou piorou?
Vendo a aflição de Hermione, o medibruxo deixou escapar um sorriso e falou, em tom afável:
— Tenha calma, Srª Weasley. Os resultados são melhores do que a gente esperava.
— Que quer dizer? - Perguntou Ron, fracamente, um raio de esperança o atingindo. Vendo como sua mulher estava quieta, também tinha percebido que algo tinha mudado.
— O senhor respondeu tão bem ao tratamento, mesmo com todas essas consequências físicas, que está curado. - Revelou o medibruxo. Hermione explodiu em lágrimas, aliviada. Merlin tinha ouvido suas preces.

Ron fechou os olhos, não acreditando. Estava curado. Quase dois anos de luta intensiva contra uma doença que, mesmo com um tratamento, matava tanta gente, tinha conseguido sobreviver.
— Obrigado, medibruxo Carter. - Agradeceu, emocionado. Tinha derrotado aquela maldita doença. Hermione se atirou a seus braços, chorando compulsivamente, aliviada. Ron estava a salvo.

O medibruxo, sabendo que precisavam de ficar a sós, pousou magicamente a pasta com os relatórios e a alta em cima da mesa de cabeceira e saiu, fechando a porta silenciosamente.

Não se apercebendo que estavam sozinhos, trocaram um beijo apaixonado. Finalmente a Varíola de Dragão tinha sido derrotada e podiam viver o resto de seus dias em sossego. Tudo ficaria bem a partir daquele momento.

FIM