Sob o Pôr do Sol escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo Único – Você é Minha Pedra Preciosa




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Aquela era para ser apenas mais uma missão do time 7. Foram encarregados de escoltar a filha de um senhor feudal, assim como seu dote (um baú consideravelmente grande com o que eles supunham ser ouro ou joias) até a Vila vizinha, onde encontraria o homem com quem ia se casar.

A moça gostava muito de falar, assim como todos os nobres que já escoltaram. Pessoalmente, Naruto achava triste e injusto pessoas se casarem por decisão de suas famílias, sem direito a escolha, mas a moça lhes contou muito alegre que ela e seu noivo eram amigos de infância e que gostava dele, o que o fez se sentir melhor.

Amigos de infância… geralmente pessoas que crescem juntas possuem um laço tão forte que são quase como irmãos, mas não era o caso dele. Naruto olhou para o colega de time à sua frente, que agora ouvia a moça tagarelar sobre como seu noivo era bonito e se parecia um pouco com ele fisicamente, exceto pelos olhos, que eram azuis.

— É sério! Os cabelos não são tão espetados, mas vocês se parecem muito. E ele fica assim calado, igual a você, quando está com vergonha — ela continuava falando, sem notar que não era vergonha que Sasuke sentia — Você parece uma versão mais jovem dele. Mas os olhos… ah! Parecem mais com os do seu amigo — virou-se para encarar Naruto.

“Amigo”, Naruto pensou. É claro, aos olhos dos outros isso era tudo que eles podiam ser. E provavelmente para Sasuke também.

— Sakura — Sasuke aproximou-se da amiga — Será que você pode conversar com ela agora?

— Mas você nem conversou, só estava ouvindo…

— Exatamente. Se eu falasse alguma coisa seria para mandá-la calar a boca e não posso fazer isso — Sasuke explicou — Mesmo ela gostando do noivo parece que está dando em cima de mim, eu não aguento mais isso.

— Como é difícil ser popular — Sakura riu, mas atendeu ao pedido dele.

Caminharam por mais alguns minutos até que chegaram a uma bifurcação.

— Qual é o caminho para sua casa, Princesa? — Kakashi voltou-se para ela.

— Na verdade meu pai disse que eu deveria ir direto para a casa do meu noivo e me preparar para o casamento — apontou para a direita — Mas ele também disse que queria que levasse o dote até a minha casa, pois ele só será entregue depois do casamento — apontou para a esquerda — Não sei o que fazer — murmurou aflita.

— Seu pai bem que podia ter explicado isso melhor, hein — Naruto reclamou.

— Não fale assim, Naruto — Kakashi repreendeu — Sakura e eu acompanharemos a Princesa. Naruto e Sasuke, levem o dote em segurança até a casa dela. Se alguém tiver problemas durante o caminho, use o sinalizador para que o outro grupo possa ir ajudar, entendido? — perguntou e os demais assentiram — Quando terminarem a missão podem voltar para a Vila.  Até mais tarde, garotos — Kakashi despediu-se e seguiu o caminho da direita junto com Sakura e a Princesa. Naruto e Sasuke seguiram o caminho oposto.

Naruto estava sozinho com Sasuke outra vez. Isso acontecia frequentemente em missões e ele nunca sabia como agir. Era tão mais fácil quando tinham doze anos… tinha apenas que lidar com a antiga rivalidade e competir para ver quem era o mais forte. Sentia saudades dessa época. Agora, com quinze, amadureceu o suficiente para entender que eram bons em coisas diferentes e que podiam se completar durante as lutas contra os inimigos, explorando os pontos fortes um do outro.

Infelizmente ou não, também tinha amadurecido a ponto de notar que o que sentia por Sasuke não era rivalidade e nem amizade. Era algo mais forte que jamais imaginou que sentiria por ele.

Por que justo Sasuke? De todas as pessoas naquela Vila enorme, por que tinha que ser ele? Desde criança, sabia muito bem como ele era popular com as garotas, e isso o incomodava até hoje. Sabia que ele tirou a nota mais alta quando se formaram na Academia Ninja e que era uma espécie de prodígio. Naruto, por outro lado, sempre foi conhecido como o palhaço da Vila. Tudo bem que isso havia mudado de uns tempos pra cá, ele se tornou um ninja bastante habilidoso, mas esse tipo de fama não se apaga com facilidade.

Às vezes ficava divagando sobre o que aconteceria se ele se declarasse. Será que Sasuke riria dele? Não, ele não era o tipo de pessoa que ri dos outros… mas provavelmente o rejeitaria, assim como fez com todas as garotas que já se declararam para ele. E Naruto não fazia ideia se algum garoto já tinha se declarado para ele. Além do mais, não queria arriscar perder a relação que tinham agora. Se ele se declarasse e fosse rejeitado, não poderiam nem continuar sendo amigos.

— O que houve, Naruto? — Sasuke perguntou de repente, despertando-o de seus pensamentos.

— Hein? O que? — Naruto o encarou atordoado — O que houve? — repetiu.

— Você é sempre tagarela, mas hoje está calado demais. Aconteceu alguma coisa?

“Aconteceu faz tempo”, Naruto pensou, mas não podia dizer isso.

— Nada. Eu só estava pensando em porque aquele senhor feudal nos mandou escoltar a filha dele e o dote, sendo que tinham destinos diferentes. Digo, não que a gente não dê conta, mas teria sido melhor ele contratar duas equipes — Naruto observou — Olha só como esse baú é pesado, deve estar cheio de ouro. O cara deve ser muito pão duro!

— Foi realmente estranho ele contratar uma equipe só — Sasuke concordou, segurando a outra alça do baú — Vai ver ele gastou todo o dinheiro no dote da filha.

— Ei, que tal olharmos o que tem aqui dentro? — Naruto sugeriu com um sorriso arteiro.

— Nem pense nisso, Naruto.

— Qual é, não está curioso? — ele perguntou — Não quer saber se é ouro, ou joias…

— Não estou nem aí — Sasuke o cortou — Nossa missão é entregar esse baú em segurança, apenas isso.

— Você é muito chato — Naruto reclamou.

Sabia que Sasuke sempre cumpria as regras à risca e essa era uma das coisas que gostava nele, mas, às vezes também o frustrava. Não custava nada dar uma espiadinha.

— Ai, ai, ai! Espera um pouco! — Naruto colocou o baú no chão e Sasuke fez o mesmo — Deu câimbra na minha mão — mentiu, massageando-a com a outra mão.

— Francamente, você não tem jeito — Sasuke suspirou — Deixe-me ver — ele aproximou-se e começou a massagear a mão que Naruto disse estar com câimbra

Ok, aquilo não estava nos planos. Naruto pretendia fingir uma câimbra no pé em seguida como desculpa para se abaixar e abrir o baú a fim de ver seu conteúdo. Mas sua curiosidade desapareceu quando Sasuke segurou sua mão. A mão de Naruto foi tomada por um calor confortável onde Sasuke a massageava, espalhando-se pelo resto do corpo. Torcia para que sua face não estivesse corada.

Naruto pensou novamente em fingir estar com câimbra no pé, mas dessa vez não para espiar o conteúdo do baú, e sim para ter uma desculpa para receber massagem de Sasuke. Não importa se era uma desculpa esfarrapada, se fizesse com que o garoto se aproximasse assim dele, valeria a pena.

— Está melhor? — Sasuke perguntou. Tinha parado de massagear sua mão, mas não a soltou.

— Sim… eu estou bem, obrigado — Naruto respondeu sem jeito.

— Ótimo. Então vamos…

— Sasuke, espere! — Naruto agarrou a mão dele com firmeza antes que o rapaz a soltasse.

— O que foi agora?

Será que Naruto devia dizer? Sasuke era tão atencioso com ele… eram poucas as pessoas com quem ele realmente se preocupava. Talvez houvesse a chance, ainda que pequena, de ser correspondido.

— Eu… eu preciso dizer que… eu estou… — Naruto deu um passo na direção dele, cometendo um grande erro.

Estava tão focado no que fazia que não notou o desnível de terra no chão e acabou tropeçando e caindo, levando Sasuke junto, visto que segurava sua mão. Sentiu a cabeça bater em alguma coisa, mas ignorou a dor ao notar que estava estatelado no chão, com Sasuke em cima dele.

— Você definitivamente está estranho hoje, Naruto. Digo, mais do que de costume — Sasuke falou em cima dele, aparentemente sem se importar com a posição em que estavam.

— Não é verdade… eu sou sempre assim — Naruto virou o rosto para o lado, pensando em como sair daquela situação.

— Mentira — Sasuke o segurou pelo queixo, forçando Naruto a encará-lo — Você está agindo estranho o dia todo. O que está acontecendo? Se está com algum problema pode me contar.

— Já disse que não é nada — Naruto mentiu — Me deixe levantar — fez menção de se erguer, mas Sasuke o empurrou de volta para o chão.

— Nada disso. — ele segurou os dois braços de Naruto — Você queria me dizer alguma coisa antes, certo? O que era?

— Eu… esqueci — Naruto mentiu na maior cara de pau. Não podia dize a verdade naquela situação.

Naruto imaginou como Sasuke reagiria se ele contasse a verdade. E se dissesse que estava sempre nervoso e agitado porque gostava dele? Naruto sentiu vontade de rir, mas a sensação era de desespero. Já imaginou algumas vezes como seria se declarar, mas não na posição em que estavam.

— Você mente muito mal — Sasuke colocou uma das mãos em seu peito — Veja só, o seu coração está disparado. Significa que está nervoso.

— É claro que estou nervoso, você está em cima de mim já faz uns cinco minutos. Você é pesado, sabia? — Naruto disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça. E, pessoalmente, achava que mentia muito bem.

— Certo, certo, se não quer contar, tudo bem — Sasuke desistiu — Mas, Naruto… dê uma olhada nisso — ele virou a cabeça e Naruto acompanhou seu olhar.

Naruto tinha batido a cabeça durante a queda, e agora descobriu que tinha sido no baú que carregavam. A tranca acabou se abrindo, revelando várias pedras preciosas.

— Uau! Então era isso que tinha no baú?

— Pois é — Sasuke enfim levantou-se e examinou melhor o conteúdo do baú — Rubis, diamantes… isso são jades? Ou esmeraldas? — Sasuke examinou algumas pedras verdes — Minha mãe saberia dizer.

— O que importa? Devem valer uma fortuna! — Naruto também se aproximou para observar melhor.

— E é por isso que é um dote — Sasuke observou.

— Um monte de pedras… não é à toa que esse baú é tão pesado.

— E nossa missão é levá-lo em segurança ao seu destino — Sasuke lembrou — Vamos, não podemos perder mais tempo.

Naruto fechou o baú e os dois retomaram a caminhada. Permaneceram em silêncio durante o resto da viagem.  Naruto se perguntava se o amigo estava chateado por ele ter “esquecido” o que ia dizer. Pensou que, com aquela situação, Sasuke perceberia os sentimentos dele, mas aparentemente isso não aconteceu. Naruto sabia que lidar com romance não era o ponto forte dele, mas não achou que era tão ruim assim.

Aquela cena também ficou gravada na cabeça de Sasuke. Naruto tão perto dele a ponto de poder sentir seu hálito quente enquanto o rapaz falava batendo em seu rosto. O jeito como se recusava a encará-lo levou Sasuke a acreditar que ele estava corado, então acabou segurando seu queixo por impulso só para conferir. E depois seus braços, apenas para poder sentir o garoto mais próximo de si. Apenas para tocá-lo e se aproximar de formas que geralmente não poderia. Inventou desculpas esfarrapadas, sem se importar se estava deixando Naruto desconfortável… céus, ele era uma pessoa horrível.

Agora não importava mais se Naruto estava mesmo com algum problema ou se era apenas impressão, Sasuke jamais saberia. Quem iria querer conversar com alguém assim? O jeito era torcer para que fosse apenas sua imaginação.

Os dois chegaram ao seu destino pouco antes do pôr do sol. Após se identificarem, receberam permissão para entrar e entregar o baú de joias pessoalmente ao senhor feudal que os contratou. Explicaram que a filha dele estava sendo escoltada por seus outros colegas de time e a essa altura já devia estar chegando à casa do futuro marido. Após receberem a recompensa (mais pedras preciosas) deixaram a propriedade, retornando para casa..

— Mais pedras preciosas — Naruto comentou, enquanto caminhavam, olhando dentro do saquinho com o pagamento — Parecem um monte de pedrinhas coloridas para mim. Como vamos dividir isso?

— A Hokage deve saber diferenciar o valor delas. Teremos que esperar até que ela faça as contas e nos pague — Sasuke respondeu ao lado dele.

— Faz sentido — Naruto guardou o pagamento junto à bolsa com as armas ninja — Onde será que aquele cara arranjou tudo isso?

— Ouvi dizer que ele é dono de várias propriedades com minas de pedras preciosas.

Sasuke observou o garoto de soslaio, que parecia curioso sobre o assunto. Talvez fosse isso que o esteve incomodando o dia todo. Pensando bem, Naruto passou boa parte da missão querendo saber o que tinha dentro do baú, e agora que sabia não ajudava muito, pois não entendia sobre pedras preciosas, então não fazia ideia de quanto ia receber pela missão.

— Era isso que estava te incomodando? — Sasuke perguntou.

— O que?

— Você parecia aflito com alguma coisa — ele explicou — Era porque queria saber o que tinha no baú, não é? Mas não ajuda muito, é difícil calcular o valor dessas pedras.

— Ah, sim. Eu estava mesmo curioso para saber o que tinha naquele baú — Naruto admitiu.

— Mas não é só isso, não é? Tem outra coisa preocupando você.

Naruto franziu os lábios, incomodado. Conhecia Sasuke, sabia que ele não o deixaria em paz até que contasse o que estava lhe preocupando. Devia ter disfarçado melhor.

Talvez devesse contar de uma vez. Pelo menos assim ficaria livre dessa angústia. Seria um sofrimento enorme se levasse um fora, mas era melhor que acontecesse logo para poder seguir em frente e superar esse amor platônico.

Naruto se desviou um pouco da estrada e sentou-se na grama. Sasuke o seguiu em silêncio e sentou-se ao lado dele. Permaneceram calados durante alguns segundos até que Naruto respirou fundo, reunindo coragem para falar.

— Sabia que eu simpatizei com a moça que escoltamos hoje? — Naruto contou — Ela lembra um pouco a mim mesmo. Se apaixonar pelo amigo de infância… não sei se posso te chamar de amigo de infância, mas nós nos conhecemos desde que éramos crianças. Lembro que, quando eu voltava para casa ao entardecer, você sempre estava sozinho observando o rio, e parecia tão triste.

— Minha família tinha acabado de morrer — Sasuke lembrou.

— Sim… sim, tem razão — Naruto arrependeu-se de tocar nesse assunto. Óbvio que qualquer um ficaria triste — A questão é que, sempre que eu te via na beira do rio, tinha vontade de ir falar com você. De conversar, ser seu amigo, ver como você estava.

— E por que nunca fez isso? — Sasuke indagou surpreso.

— Não sei… acho que me faltou coragem, ou fiquei com vergonha — Naruto coçou atrás da cabeça sem jeito — Mais tarde, nos tornamos colegas de time e acabamos nos aproximando.

— A gente brigava bastante — Sasuke recordou — Queríamos ser os melhores em tudo.

— Acho que ter um rival me ajudou a melhorar. Foi um incentivo para eu treinar e me esforçar mais — Naruto admitiu — Parece que faz tanto tempo… quando eu tinha doze anos, só pensava em te vencer. Não ficava nervoso quando estávamos sozinhos, nem quando rolávamos um por cima do outro por causa de uma briga ou qualquer outro motivo… nem percebia como você fica ainda mais bonito durante o pôr do sol — Naruto o encarou com um sorriso tímido — Sabia que você fica muito bonito durante o pôr do sol?

— Ele deve me deixar menos pálido — Sasuke desviou o rosto sem jeito — Já fui para o hospital uma vez quando era criança porque minha mãe pensou que eu estava com anemia, mas eu sempre fui pálido desse jeito.

Sasuke não conseguia encarar o garoto. Apesar dos raios de sol que ainda batiam sobre eles, suas mãos tremiam, porém de nervosismo. Era difícil acreditar que Naruto gostava dele. E que era ele quem estava se declarando. Já recebeu muitas declarações ao longo da vida, mas nunca de alguém que realmente amava, simplesmente não sabia o que fazer.

— Não foi isso que eu quis dizer! — a voz estridente de Naruto chamou sua atenção — Eu gosto de você como é naturalmente.

Naruto arregalou os olhos e levou as mãos à boca. Acabou deixando a frase escapar sem perceber.

— Eu… gosto de você — repetiu um tanto encabulado, embora já fosse perceptível considerando tudo que ele disse antes — Ei, Sasuke — ele levou a mão ao rosto do rapaz, que ofegou — Pode me mostrar seu Sharingan?

— Hein? Pra que?

— Por favor, me mostra.

Sasuke suspirou e ativou o Sharingan. Naruto encarou os olhos escarlates fixamente..

— Parecem ficar mais intensos sob o pôr do sol. Eles são mais bonitos do que qualquer rubi que tenha nessa bolsa de joias, sabia? — Naruto comentou, observando os olhos de Sasuke sem nem piscar. O vermelho se destacava ainda mais sob o pôr do sol, intensos e brilhantes.

— Os seus também.

— O que? — Naruto piscou confuso.

— Os seus olhos… parecem estar brilhando mais do que de costume. E seu cabelo parece fios de ouro — afagou os cabelos dourados inconscientemente — É engraçado como o pôr do sol deixa tudo ainda mais bonito.

— É… acho que sim — Naruto afastou-se, envergonhado — Sabe, eu nunca pensei que iria gostar justo de você. Digo, praticamente todas as meninas da Vila já se declararam para você, os senseis te adoram por causa das suas habilidades… acho que não dei sorte.

— Não importa se sou bom em batalhas. Mesmo com o Sharingan, jamais conseguiria copiar tudo o que você disse — Sasuke respondeu — Você falou com a voz do coração, e eu preciso fazer o mesmo.

— O que? — Naruto piscou surpreso — Sasuke, eu já vi muita gente se interessar por você ao longo dos anos, mas nunca vi você gostar de ninguém. Por acaso você…

— Naruto, defina “gostar” — ele interrompeu.

— Como assim?

— Eu gostava muito da minha mãe. De forma maternal, é claro — acrescentou, já com o Sharingan desfeito — Eu gosto da Sakura, como amiga. Gosto do Kakashi, é um bom sensei, apesar de sempre chegar atrasado. E, apesar de não parecer, também gosto dos nossos colegas que se formaram na Academia Ninja com a gente. O Shino, o Kiba, o Shikamaru… na verdade não gosto tanto assim do Shikamaru  — admitiu — O que eu quero dizer é que existem várias formas de “gostar”. E, a forma como gosto de você… não é mais como amigo.

— Não é? — Naruto sentiu o coração dar um salto. Por muito tempo se preparou mentalmente para lidar com uma rejeição, mas nunca considerou a outra possibilidade.

— Quando o time está reunido eu fico com vontade de ficar sozinho com você, e quando estamos a sós não sei como agir. Como nunca fui muito de conversar, isso ajuda, mas sinto meu coração bater mais rápido, minhas mãos suarem, vontade de te abraçar, mas sei que não posso fazer isso sem motivo — Sasuke disse tudo muito rápido antes que perdesse a coragem — Isso não é o tipo de coisa que se sente por um amigo.

— Realmente não é — Naruto concordou, surpreso com aquela confissão — Então você…

— Ei, Naruto — Sasuke interrompeu — Eu já disse que você também fica ainda mais bonito sob o pôr do sol?

Sasuke segurou o rosto dele e passou os dedos pela bochecha, até chegar aos lábios. Cobriu a distância que os separava e o beijou.

Um beijo desajeitado no começo, visto que nenhum dos dois tinha experiência no assunto.  Naruto apoiou as mãos nos ombros dele e Sasuke finalmente o abraçou, como queria há tanto tempo. Naruto percebeu imediatamente que o garoto falava a verdade, podia sentir o coração dele batendo rápido, no mesmo ritmo que o seu.

Aos poucos, foram pegando o jeito. Seus lábios se encaixavam de forma mais natural, movendo-se devagar e com curiosidade. Naruto subiu as mãos, uma delas enlaçando o pescoço de Sasuke enquanto a outra afagava os cabelos negros. Sentiu Sasuke apertar um pouco o abraço, mas não sentia como se ele quisesse ter mais intimidade. Era uma sensação de proteção, como se Sasuke quisesse cuidar de algo (nesse caso alguém) muito valioso.

Separaram-se quando ficaram com falta de ar, mas permaneceram abraçados. Naruto podia sentir o hálito quente do rapaz em seu pescoço enquanto ele ofegava, causando-lhe arrepios. Tinha certeza de que Sasuke sentia o mesmo, ele estava ofegante também.

— Naruto — Sasuke chamou, sem desfazer o abraço — Caso não tenha ficado claro, eu também gosto de você.

— Eu percebi — deixou escapar uma risada, desfazendo o abraço para encará-lo — Mas é bom ouvir com todas as letras.

— Fico feliz por você ter se declarado. Eu não pretendia fazer isso — Sasuke contou — Achava que você nunca iria gostar de mim desse jeito.

— Está brincando? Você é praticamente um ímã do amor! — Naruto exclamou. Em seguida assumiu um ar mais preocupado — Sasuke… tem certeza disso?

— Como assim?

— Sobre namorar um garoto. As pessoas da Vila podem comentar.

— Eu não tenho família. Não devo satisfação a ninguém — Sasuke lembrou — Além do mais, por que está tão preocupado comigo? Não pensou que podem falar sobre você também?

— Ah, é — Naruto sequer pensou nisso — Na verdade eu nunca imaginei que seria correspondido, então não pensei nesse detalhe — coçou atrás da cabeça sem graça.

— Você não tem jeito mesmo — Sasuke suspirou — Não precisa se preocupar com isso. O Kiba e o Shino estão namorando faz tempo e ninguém liga. E olha que os dois têm família.

— Eles estão namorando? — Naruto exclamou surpreso — Tem certeza?

— Eu vi os dois no Ichiraku se beijando na semana passada — Sasuke contou — Se estavam tentando esconder, estão fazendo um péssimo trabalho.

— Eu não fazia ideia — Naruto falou, ainda surpreso com a informação. Andava tão preocupado com os próprios problemas que nem prestava mais atenção no que acontecia ao seu redor.

— Viu só? Não precisa se preocupar.

— Tem razão — Naruto assentiu — Mas aposto como ficou surpreso por receber uma declaração de um garoto, não é?

— Outro garoto já tinha se declarado para mim antes, na verdade — Sasuke confessou.

— O que? É sério? — Naruto exclamou pasmo — Quem foi?

— Lembra do Jovem Mestre da Vila da Cachoeira que escoltamos no mês passado?

— É claro, ele não parava de tagarelar sobre como o seu cabelo era sedoso, seu rosto era lindo, e… peraí, foi ele? — Naruto exclamou quando caiu a ficha — Então foi por isso que você parecia tão envergonhado quando voltamos para casa. Quando ele pediu para falar a sós com você, achei que ele queria um autógrafo ou coisa assim.

— Eu só passei doze horas com ele — Sasuke lembrou-se da missão — Como alguém pode se apaixonar em doze horas? O maldito não parava de dizer asneiras, achava que podia me comprar porque o pai dele era rico — falou ofendido.

— Uau… ser popular é mais difícil do que imaginei.

— Tinha que ter visto a cara dele quando eu disse que já gostava de outra pessoa — sorriu para Naruto.

— Parece que ganhei uma pessoa bastante concorrida — Naruto sorriu de volta.

— Já vou avisando que vou te dar trabalho — Sasuke falou sério — Você sabe como as pessoas ao meu redor costumam agir.

— Passei a vida inteira vendo isso, e não é a sua popularidade que vai me intimidar — Naruto respondeu — Se alguém tentar se aproveitar de você eu acabo com ele! Ou ela!

— Ah, é? E se eu tentar me aproveitar de você? — Sasuke sorriu de canto, aproximando seus rostos.

— Hein? Como assim… se aproveitar de mim…?

— Por exemplo, se estivermos sozinhos e eu decidir aproveitar para te abraçar — apoiou a mão no ombro de Naruto — Ou te beijar — passou os dedos finos pelos lábios dele — O que você vai fazer? Vai acabar comigo também?

— Não, eu… jamais faria isso — Naruto murmurou corado.

— Também existe mais de uma forma de “acabar com alguém” — Sasuke contou — Por exemplo, dá para acabar com alguém na porrada. Mas também dá para acabar com alguém demonstrando o quanto gosta dessa pessoa, até ela não aguentar mais. Beijando até ficar sem ar, como fizemos agora a pouco, por exemplo.

— Eu prefiro acabar com você dessa segunda forma — Naruto sorriu.

— Eu também.

Dessa vez foi Naruto quem o beijou. Enlaçou o pescoço do rapaz, encaixando seus lábios nos dele. Sentiu Sasuke afagar suas costas, o coração batendo descompassado, exatamente como ele havia dito antes. Sasuke parecia confiante enquanto conversavam, mas estava tão nervoso quanto ele. Isso causava um certo alívio em Naruto. Sabia que o garoto era popular, mas tinha tanta experiência em relacionamentos quanto ele. Nenhuma.

Sasuke subiu uma das mãos, os dedos se enroscando nas mechas loiras, enquanto a outra apertava o abraço. Queria garantir que Naruto não se afastaria dele. Mesmo após tudo que disseram, queria ter certeza de que o garoto permaneceria em seus braços. Nunca pretendeu se declarar, mas, agora que Naruto tinha feito isso por ele, não queria perdê-lo.

Começaram a pegar o jeito aos poucos. Naruto repousou a mão sobre o peito de Sasuke, como este havia feito com ele horas atrás, e sentiu o coração acelerado do garoto bater ainda mais rápido. Seu rosto queimava, com certeza devia estar corado, mas isso não importava agora.

Naruto sentiu as famosas borboletas no estômago quando Sasuke começou a afagar seu dorso.  Queria continuar assim para sempre, abraçando a pessoa que amava, mas ouviu som engasgado. Sasuke o afastou com delicadeza enquanto puxava o ar de volta para os pulmões com força. Naruto também respirou fundo, recuperando o oxigênio.

— Então foi isso que você quis dizer quando falou que ia se aproveitar de mim? — Naruto falou brincando quando se recompôs.

— Na verdade foi você quem me beijou, então  você é quem se aproveitou de mim — Sasuke corrigiu — E também acabou comigo — acrescentou, se fingindo de vítima.

— Você pode tentar uma revanche depois — Naruto riu, com um leve tom da antiga rivalidade na voz. Notou então que os cabelos de Sasuke pareciam mais escuros do que de costume. O sol já havia se posto — Já está anoitecendo. É melhor voltarmos para a Vila — acrescentou, levantando-se.

— Certo, vamos andando — Sasuke concordou, levantando-se também. Antes de voltarem para a estrada, encarou Naruto por alguns segundos em silêncio.

— O que foi?

— Eu só estava reparando como seus olhos ficam ainda mais bonitos à noite — Sasuke comentou — São mais brilhantes do que os diamantes que recebemos… mais até do que as estrelas.

— Pare com isso — Naruto desviou o rosto enrubescido.

— Você fica muito fofo quando está envergonhado, sabia?

— Não estou envergonhado! — Naruto mentiu.

— E mais fofo ainda quando está corado — Sasuke riu.

Naruto ia discutir, mas Sasuke segurou sua mão e o guiou de volta para a estrada. Os dois caminharam juntos de mãos dadas e com sorrisos bobos nos lábios. As pedras preciosas que receberam como pagamento pela missão que Naruto carregava podia até valer uma fortuna, mas não se comparava a felicidade que sentiam. Sasuke era grato por Naruto ter tido coragem de se declarar, caso contrário, não estariam juntos agora. E Naruto era grato por Sasuke acabar tão rapidamente com os empecilhos que ele imaginou que poderia impedi-los de ficarem juntos. E, acima de tudo, os dois finalmente perderam o medo de demonstrar seus sentimentos, pois entenderam o quão preciosos eram um para o outro.


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