(INTERATIVA) A nova era de ouro dos heróis escrita por Capitão Óbvio


Capítulo 1
Ampulheta


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira interativa nesse perfil. Espero que curtam!

Link da ficha nas notas finais do capítulo.



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Abriu os olhos sem saber ao certo o que estava acontecendo. Estava em um estado de torpor tamanho que apenas conseguia se concentrar na enorme dor de cabeça que sentia, lancinante. Naquele momento não tinha nome e nem lembranças, era apenas um emaranhado de células que gritavam de dor. Respirou fundo, tentando fazer as íris se habituarem ao novo ambiente.

Percebeu que era dia, pelos raios de sol que quase lhe cegaram. Percebeu que estava deitada sobre um solo arenoso e, além da enorme dor de cabeça, conseguiu sentir também o calor que lhe tomava conta do corpo inteiro. Cavou levemente com a mão direita e sentiu a areia quente adentrar suas unhas. Tomou enorme fôlego e ergueu o corpo de uma única vez, de súbito.

— Nem ouse, menina! — Exclamou uma voz às suas costas. — Se mexer um dedo eu te mando de volta pra onde nunca deveria ter saído! — Ouviu um engatilhar de arma. — Aliás, como ultrapassou a fronteira?

As palavras entraram por seus ouvidos, mas apesar de ter entendido muito bem todas elas, aquela construção gramatical não parecia fazer nenhum sentido. Seus olhos ainda se focavam e, por mais que não pudesse olhar para seu algoz, conseguia agora enxergar grandes bancos de areia ao seu redor, um sol que brilhava sobre sua cabeça e uma vegetação rasteira e parca. Um cenário quente e morto. Olhou para si mesma e viu que trajava roupas rasgadas, uma camisa de flanela xadrez, uma calça jeans e botinas. Nos braços, tudo o que conseguia perceber com clareza eram muitas cicatrizes, indo das mãos aos cotovelos, além de marcas de sangue seco por toda a sua pele.

— Tranquilo, Ian! — Exclamou uma segunda voz também vinda das suas costas. — Olha os braços dela, deve ser mais um dos experimentos deles. Se bobear essa aí não deve nem mais saber falar. Você viu o que eles fizeram com a Sarah.

— O grande problema não é ela saber falar, camarada. — Voltou a falar a primeira voz, engatilhando e destravando a arma. — O problema é ela saber matar!

Sua cabeça doía ainda mais com todo o esforço que fazia para tentar organizar minimamente os pensamentos. Nada ainda fazia sentido, e nem mesmo um nome, uma identidade, uma mísera lembrança que fosse vinha a sua mente. Só conseguia sentir dor e medo. Medo esse que a fez erguer as mãos trêmulas, em sinal de rendição.

— Isso, assim mesmo! Boazinha! — Disse novamente Ian, a primeira voz que agora pudera associar a um nome. — Só não estouro teus miolos agora porque o chefe vai gostar de te ter como moeda de troca! — Sentiu passos se aproximarem e o cano de uma arma encostar em sua nuca. — Levanta! Vamos dar uma voltinha!

— Para com isso, Ian! Como eu disse antes, ela não deve saber nem que existe. A coitada deve estar cansada e com medo.

Sentiu a aproximação desse segundo homem que, diferente do primeiro, aparentava ser mais simpático. Ele então prosseguiu falando:

— Vamos te levar para um lugar seguro. Não se preocupe com...

A mão do homem lhe tocou o ombro e imediatamente a dor de cabeça se ampliou ainda mais. Tudo começou a girar em sua mente, a visão escureceu e as vozes, antes nítidas, passaram a ficar lentas, graves e ecoando por todos os lados, como se não mais viesse de suas costas, mas de todas as partes possíveis e imagináveis. Levou as mãos à cabeça, tentando diminuir aquela dor insuportável, tentando fazer com que aquelas vozes parassem de se repetir.

Parou então de sentir o solo arenoso, o calor do sol, e até mesmo as vozes. Um instante de silêncio e escuridão, interrompidos por um rompante estampido.

CLINK!

— Moça, tá tudo bem?

Abriu os olhos novamente. Estava sentada em uma calçada, com um círculo de pessoas ao seu redor. Tudo o que conseguia notar é que era noite e chovia fraco. O calor que outrora sentia era substituído por um frio de lhe gelar os pulmões.

— Acho que você desmaiou, ou se desequilibrou. Tá tudo bem?

A simpática voz vinha de uma mulher sexagenária de longos cabelos brancos presos em um simpático coque. Vestia um vestido vermelho e um casaco por cima, protegendo-se do frio que fazia. Ela sorria enquanto estendia a mão. A resposta imediata foi aceitar a ajuda, tocando a mão da velinha simpática. Assim que foi erguida, a sorridente senhora achegou-se ao seu ouvido, dizendo de forma doce:

— Você tem chamado muita atenção, Fatimah. Não foi o que combinamos, não se lembra?

Piscou os olhos, encarando a senhora que a fitava sorrindo. Ela prosseguiu:

— Não, você não se lembra de nada. — Um muxoxo. Aproximou-se ainda mais, sussurrando. — O mundo está acabando, docinho. Se não ficarmos juntas, então vamos morrer sozinhas. Tem outros como eu e você nos esperando. Não restam muitos, mas acho que ainda há algo o que fazer.

— Outros como eu? — Ainda tentava entender. — Quem eu sou?

— Não é hora nem lugar, meu amor. — Respondeu. — Venha comigo, não queremos mais plateia.

As pessoas começaram a dispersar a medida que as duas caminharam, se afastando dali. O nome Fatimah lhe repetia na mente enquanto seguia os passos da senhora que a guiava. Um branco tremendo ainda ocupava sua mente, mas aquele nome, aquela sonoridade lhe deu a primeira sensação de familiaridade desde que toda aquela loucura começou.

— Outros como nós, você disse? — Recebeu de volta o mesmo olhar simpático. — O que somos nós?

A senhora então interrompeu os passos.

— Ora, Fatimah, já estivemos em melhor forma, mas somos o que somos. Somos heroínas, querida. Claro que meus tempos áureos já passaram, mas você... — Olhou-a da cabeça aos pés. — Você ainda continua da mesma forma desde o dia em que te conheci! – Meneou a cabeça. — Para nossa sorte, temos uma nova geração bem empolgada! — Abriu ainda mais o sorriso. — Mas ainda há muitos dos tempos de ouro também. Você vai adorar revê-los!

Engoliu a seco aquelas palavras. Tudo continuava sem sentido e sua cabeça só se embaralhava ainda mais. Sentiu-se tonta novamente, um leve enjoo a tomou conta, mas em meio a toda aquele turbilhão, optou por reunir forças apenas para seguir caminhando.

Um relâmpago cortou o céu ao fundo, acompanhado do forte barulho do trovão.

Uma tempestade parecia estar chegando.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Link da ficha de personagem:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfX2UJoZ3np8y4chB__tx1jLk4QVDptHnFGFQIdcKhwvUmSnw/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0



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