Doce Mistério escrita por Kah Nanda


Capítulo 1
Doce Convite


Notas iniciais do capítulo

Boa noite a todas, sejam muito bem-vindas leitoras antigas e novas. Eu sou a Kah Nanda e continuando a abertura do novo ciclo de fanfics, chegou o momento de estrear a segunda longfic de 2024.
Com o êxito que tive ano passado ao conseguir postar duas longs simultaneamente, ainda intercalando com outros projetos. Esse ano decidi arriscar e voltar a alguns primórdios, mantendo um ritmo de postagem semanal duplo.
O que isso quer dizer? Quem já me conhece sabe que pretendo postar duas fanfics de maneira quinzenal, intercalando as atualizações às quintas-feiras. Enquanto que esse projeto será postado todas as segundas. Então torçam por mim, para que meus planos deem certo e assim, possa retribuir com posts fresquinhos por dois dias na semana.
Agora um comentário breve, enquanto estava à procura do título da fanfic, pensei em diversas opções, porém quando Doce Mistério surgiu, sabia que só poderia ser esse. Ainda que tenha hesitado por um instante, visto que já possuo uma short-fic chamada, Doce Tentação. Que tem uma trama completamente diferente da que acompanharemos aqui e até mesmo o sentido do nome se deve a aspectos distintos. Então, ao longo da jornada que estão prestes a acompanhar, entenderão bem o motivo de ter me apaixonado tanto por esse título e porque fará jus a tudo ;). Até as notas finais.
Apreciem Sem Moderação...

Capítulo Postado Em: 05/02/24 - O início de Doce Mistério...



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POV Bella

Dezembro/2001

— E quais seus planos para o Ano-Novo?

Alice levantou mais uma pergunta enquanto continuamos a conversar.

Pois por conta da distância, os custos das ligações e especialmente, o fuso horário sempre difícil de acertar, não costumamos nos falar tanto quanto gostaríamos.

Por isso, acredito que essa seja nossa última chamada do ano. Sendo que também é a primeira que conseguimos efetuar esse mês e por essa razão, já estamos conversando há um bom tempo...

— Ainda não sei bem. – Emiti sem muito ânimo. – Talvez vá para Paris ou acabe ficando por aqui mesmo.

Dei de ombros, mesmo sabendo que minha amiga não pode ver.

E sorri sozinha, pensando se algum dia conseguiremos efetuar conexões do tipo, de maneiras mais simples e rápidas...

— Você realmente vive em um mundo totalmente diferente do meu.

— Por que está falando isso?

— Porque enquanto meus planos para a virada se resumem em decidir qual prato levar a casa da minha sogra. Os seus se derivam de escolhas entre passar em uma paisagem paradisíaca na Suíça ou na França.

— Alice, por favor. – A contive. – Não faça tanto drama. Pois também não é como se você própria nunca tivesse ido a Paris.

— Sim. Eu fui uma vez e na minha lua de mel. – Destacou. — Como a maioria dos cidadãos comuns. Não como você que tem um passaporte tão abarrotado de carimbos que já nem cabem mais.

Por nenhum momento passou pela minha cabeça corrigi-la sobre a usabilidade do meu passaporte. Já que ao longo dos anos, acabei tendo que adquirir mais de um, por conta de quão cheios os anteriores ficaram. Mas tudo só aconteceu por conta da minha profissão e ela sabe disso.

Porém, ao invés de seguir por esse caminho, preferi contornar a situação de outra maneira.

— Mas não queira se fazer de tão cidadã comum. Pois você sempre foi à princesinha de Valentine.

— Uma cidade com pouco mais de dois mil e oitocentos habitantes, localizada no norte do estado do Nebraska, em meio ao centro do país.

— Obrigada pela aula de geografia. – Debochei.

— Só estou deixando claro a que se refere.

— Mas, ainda assim. – Continuei meu raciocínio. – Você é filha do prefeito, com a médica mais conceituada da cidade. Além de ter casado com o chefe de polícia atual.

— Isso é verdade...

Mesmo sem ver, posso atestar o sorriso que está exibindo agora.

O que a deixa com traços de menina, igual na época em que nos conhecemos.

— Sem contar seus próprios méritos. – Retomei. – Como a também atual responsável pelo setor de parques e recreações da cidade.

Comprovando como certos frutos não caem tão longe da árvore, a seu modo, Alice acabou seguindo um pouco os passos dos pais, especialmente do Sr. Brandon. Tendo escolhido trabalhar com algo voltado a prestação de serviços à cidade.

— Agradeço os elogios.

— Não disse nada além da verdade.

— Pois muito bem, já que estamos tocando nesse assunto. Não posso deixar de citar.

— O que foi?

— Quando você virá me visitar Bella?

Apesar da careta que fiz, não demorei a responder.

— Alice, já conversamos sobre isso.

— Sim e até hoje não cumpriu sua promessa. – Cobrou. — Você é capaz de citar argumentos quanto a minha cidade, como talvez alguns moradores locais não conseguem. Mas efetivamente, nunca pisou aqui.

— Eu sempre fui uma boa aluna.

— Não mude de assunto.

— Não estou mudando.

— Bella, você não veio ao meu casamento. Ainda não conhece meu marido pessoalmente.

— Por favor, Alice. Não traga esse assunto de volta. – Pedi em súplica. – Você sabe os porquês de não poder ter comparecido ao seu casamento. E também, como lamento não estar por perto ou disponível quando vieram a Paris. Para ao menos encontrá-los em meio a uma visita breve.

— Sim, sim. Eu sei de tudo isso. E de todo modo, são águas passadas. Por isso, vamos focar no presente.

— Quanto a que?

— Quanto ao fato de estar grávida e querer muito revê-la. – Informou. — Você sabe que desejos de grávidas não podem ser negados.

— Não, não me venha com esse tipo de chantagem.

— Não é chantagem, somente a verdade. – Reforçou. — No dia em que você engravidar, compreenderá do que estou falando.

Fechei os olhos de forma tão intensa que o celular tremeu em minha mão, provavelmente, emitindo uma interferência na ligação.

— Bella? Oi? Está me ouvindo?

— Sim. – Confirmei, voltando ao foco. – Foi só um lapso na ligação.

— Ainda bem, pois detestaria que perdêssemos a chamada diante de um assunto tão sério.

— É claro.

— Mas como estava dizendo, não há momento melhor para que venha me visitar. – Continuou a argumentar. — Eu já não posso viajar para longe, por estar no estágio final da gestação. E se vier por essas próximas semanas, poderá não só me ver grávida, mas também quem sabe, até mesmo conhecer meu bebê.

— A previsão de nascimento do seu filho não é para meados de fevereiro? – Relembrei.

— Sim, algo em torno disso. Pode ser um pouco antes ou um pouco depois. Sabe como gestações não são cem por cento previsíveis.

Novamente, ignorei a leve pontada e prossegui.

— O que quer dizer, que para ter a possibilidade de conhecer seu filho, precisaria ficar na cidade até ao menos o fim de fevereiro.

— E que mal há nisso?

— Alice, o ano ainda nem começou, ou seja, seria um período de no mínimo dois meses. – Salientei.

— O que para muitos se caracteriza como um espaço de tempo destinado a férias. – Rebateu. — Já ouviu falar sobre esse conceito?

— Já.

— E quando foi à última vez que desfrutou desse tipo de descanso? — Questionou séria. — Quando foi à última vez que efetivamente tirou férias Bella?

— Você sabe quando...

Não contive a resposta rápida, mas para a minha sorte, ela somente deu andamento no assunto atual.

— Pois então. Uma vida inteira já se passou após aquele verão. Em inúmeros sentidos. — Destacou. – E desde lá, você só tem trabalhado praticamente sem pausas. Isso não é saudável amiga e tão pouco deve fazer bem.

— Eu não trabalho de forma ininterrupta, Alice. – Justifiquei. – Agora mesmo, estou sem qualquer trabalho à vista.

— Somente porque faltam apenas dois dias para a virada do ano.

— Meus compromissos para o início de 2002 também ainda não foram estabelecidos.

Informei, mas sem saber a verdadeira razão.

Acho que somente para não deixar tão nítido como não possuo outros objetivos na vida, além de claro, o meu trabalho.

— Pois se isso não é um sinal de que é a hora certa de fazer essa viagem, não sei mais o que dizer.

— Tenho certeza que ainda encontrará alguns argumentos.

— Sabemos que sim. – Soltou um risinho e acabei fazendo o mesmo. — Mas não gostaria de ter que usá-los. Pois minha vontade é somente de estender o convite mais uma vez e enfim, ouvir sua aceitação.

Troquei o peso das pernas, observando a paisagem escura através da minha janela.

— Você sabe que nunca mais voltei aos Estados Unidos. – Pontuei. – E será mesmo que essa é a melhor hora? Depois de tudo que houve esse ano?

Não precisei citar o fato em palavras, para que ela compreenda a que me refiro.

— Bella, aquela tragédia foi uma fatalidade enorme, que ninguém jamais vai esquecer. – Ponderou e assenti em silêncio. — Porém a vida é assim, as coisas acontecem, mas todos têm que continuar.

— Sim, eu sei, mas você sabe que teria que tomar um voo para Nova York e...

— E as coisas já estão se normalizando. Ainda mais nessa época do ano, o reforço quanto à segurança está ainda maior. – Informou. — Dará tudo certo, eu garanto.

— O mundo realmente não para diante de nada, não é?

— Não amiga e sabemos muito bem disso. – O reforço da frase não passou despercebido. — Até mesmo a festa tradicional na Times Square será mantida. Com as devidas homenagens e reforços de segurança. Mas nem o que houve será motivo para deixar de ocorrer à celebração em meio à chegada de mais um ano.

Realmente, existem poucas coisas que param o ciclo natural da vida, do mundo.

Mas em suma, situações assim só costumam abalar quem é efetivamente atingido, não mais do que os reais envolvidos...

— Alice, eu prometo que vou pensar. Tudo bem?

— Se é o melhor que posso conseguir agora.

— Já não foi um não direto.

— É verdade. Vou me apegar a isso. — Prometeu. — E deixá-la descansar, porque ai deve ser bem tarde.

— Na verdade, já está ficando cedo, pois passa da uma hora da manhã.

— Minha nossa. Sempre esqueço essa diferença grande de fuso. – Ressaltou. — Então, na verdade, para você agora falta somente um dia para a virada.

— Exatamente.

— Então pense bem amiga. – Pediu contida. — Reflita sobre o que deseja para o novo ano e me informe sobre sua decisão.

— Pode deixar. – Enfatizei. – Vou pensar bem e com bastante carinho.

— É só o que peço. – Deixou claro. — E agora, até o ano que vem.

— Até. – Retribui. – Beijos e se cuida.

— Você também

Porém antes de desligar, ainda concluiu.

— E quem sabe possamos compartilhar um abraço fraternal daqui a um tempo...

— Quem sabe...

A partir dessa despedida vaga, encerramos a ligação...

***

Janeiro/2002

Não foi fácil ou simples tomar essa decisão...

Contudo, após a ligação com Alice, não parei mais de pensar em seu convite, em tudo que o envolve, mas especialmente, em como anda minha vida.

Eu realmente posso me considerar bem sucedida no que diz respeito a minha carreira, já que comecei a fotografar para catálogos de marcas de roupas desde que ainda era criança.

Conhecidos da família comentaram com meus pais sobre ser fotogênica e realmente nunca fui uma criança tímida, com isso e através dos contatos certos, entrei nesse mundo.

Mas nunca, nem pelo meu lado, muito menos através dos meus pais, tomamos isso como um trabalho sério, ainda mais em tão terna idade.

Continuei estudando normalmente, praticando atividades que gostava, crescendo e aprendendo como uma criança normal e só ocasionalmente, voltava a fazer algumas fotos, especialmente nos verões, por conta das férias escolares.

Sendo assim, enquanto algumas crianças iam para colônias de férias, casas de parentes em cidades pequenas do interior. Eu passava meus dias sendo montada e fotografada para inúmeras revistas e catálogos publicitários.

Mesmo antes de atingir a adolescência, já tínhamos compreendido que jamais poderia ser modelo de passarela, por conta da estatura mediana que possuo e para mim, isso foi um alívio.

Ainda sempre precisei me manter dentro de um padrão de peso e manequim, mas ao menos, sabia que não seria submetida a pressões para além de permanecer com um rosto apresentável, sendo fotogênica e carismática frente às câmeras.

Porém minha vida passou pela primeira guinada brusca ao início da década de 90, com o falecimento da minha mãe. Éramos realmente melhores amigas e perdê-la deixou um buraco enorme no meu peito, ainda mais que na época, tinha somente 14 anos.

Como essa questão de modelar era algo que fazia muito com seu apoio, pois ela sempre estava comigo em todas as sessões. Não somente por ser menor de idade, mas porque realmente era um momento que gostávamos de compartilhar juntas.

Com sua partida, todo o brilho atrelado a isso se perdeu...

Compreendendo-me mesmo sem palavras, papai não tentou incentivar ou forçar de qualquer maneira que continuasse, visto tudo que estávamos lidando em nosso seio familiar.

Porém apesar de muito carinhoso, atento e prestativo, pelas longas jornadas de trabalho, não seria possível ficar comigo constantemente e não querendo que passasse a ser criada somente com a influência dos empregados, convidou sua irmã mais velha, minha tia Carmen, para vir morar conosco e ajudar no restante da minha criação.

Tia Carmen nunca casou e permaneceu morando com meus avós paternos, auxiliando-os ao longo da vida, por isso tinha não só disponibilidade, mas também, experiência em cuidados.

Acontece que é muito diferente prestar apoio aos pais e em idades mais avançadas, do que a uma adolescente em formação, ainda mais com o trauma recente da perca da mãe.

Mas em consenso para que tudo desse certo, ela, papai e eu, fomos nos adaptando com o passar do tempo e aos poucos, ajustando os moldes de todos para conseguirmos usufruir de uma boa convivência.

A única coisa em que não concordávamos, era sobre sua ideia fixa de que voltasse a fotografar. Muitas vezes alegando que minha mãe ficaria triste por ver que deixei de lado algo que gostava tanto.

Então, nesses momentos, papai tomava a frente e encerrava o assunto. Deixando claro que a decisão era somente minha e que nada deveria influenciá-la. Assim, o assunto ficava esquecido por um período, até ela encontrar uma nova brecha e voltar a pontuá-lo, porém nos primeiros anos, encontrando sempre uma negativa da minha parte.

Só que alguém no universo realmente não deve gostar de mim...

Pois somente cinco anos após perder minha mãe, meu pai também se foi. E atrelada a sua perca, que ocorreu não muito tempo depois de completar 19 anos. Os meses seguintes continuaram virando minha vida de ponta cabeça e não só uma vez, mas inúmeras.

De uma maneira que jamais poderia imaginar...

Foi ai que tia Carmen, como minha única parente viva e responsável para todos os efeitos, assumiu as rédeas de tudo e encaminhou o novo rumo do meu destino.

Deixamos os Estados Unidos para trás, com tudo que conhecia e especialmente, com as dores que carregava do meu passado e seguimos a Europa, local onde residimos até hoje.

Desde que chegamos, variamos a moradia por diversos países, mas conforme fui envelhecendo e conquistando um pouco mais de autonomia, passei a preferir viver em um lugar só meu.

Tia Carmen não se incomodou nenhum pouco, também gostando da ideia de usufruir de uma liberdade que nunca possuiu. Pois ao sair da casa dos pais, passou a residir na nossa e depois, ainda compartilhamos residências por um bom tempo.

E sendo sempre muito interessada por esse assunto, continua a morar em Milão, vivendo e respirando moda todos os dias. Enquanto só costumo retornar a cidade para compromissos de trabalho.

Pois o que acabou sucedendo, foi a minha volta a esse mundo. Porém pela primeira vez, o tomei como um trabalho sério. Como meu meio de vida e ao menos quanto a isso, tenho me saído muito bem.

As marcas, fotógrafos, revistas e afins, parecem me adorar e conquistei um bom mercado, mesmo sem efetivamente ter me tornado uma modelo de passarela. Com isso, o que diz respeito a comerciais, publicidades, mercado de roupas, joias, maquiagem, perfumes, etc. Sou hoje uma das modelos mais requisitadas e bem pagas do ciclo europeu.

Todavia, a euforia e espontaneidade que possuía quando criança, que me fizeram me destacar nesse ramo, foram se perdendo ao longo dos anos, ao menos no que diz respeito a quem sou na vida pessoal.

Quando estou em um estúdio, em meio a um ensaio, com uma equipe ao meu redor, assumo a persona necessária ao papel pretendido, como imagino que atores e atrizes façam. Mas no dia a dia, quando posso ser simplesmente eu, encontrei um lugar seguro e tranquilo em meio à reclusão...

Tanto que a única amiga que consegui preservar da vida antiga, foi Alice. E somente porque ela é simplesmente irredutível e não se deixou ser colocada para fora da minha vida, como todo mundo que deixei para trás.

Mas mesmo hoje em dia, tenho colegas de trabalho, pessoas com quem convivo bem, porém não verdadeiramente amigos com quem possa compartilhar mais do que um sorriso em meio a um evento.

E rendida por todas essas percepções, tendo optado por permanecer na Suíça mesmo. Em meu enorme apartamento na cidade de Genebra. Ao começar a ver e ouvir os fogos através da varanda principal fui tomada por compreensões quanto a minha vida estar passando, estar envelhecendo, mesmo que ainda esteja somente no meio da casa dos vinte anos.

Mas, ainda assim, ao olhar para trás, não consegui encontrar grandes confortos ou marcas que valham a pena ser lembradas, ao menos não após ter deixado meu primeiro lar.

Ou talvez, se buscasse mais fundo, um marco específico, antes dos acontecimentos que mudaram tudo...

Com isso, antes mesmo da chuva de fogos terminar, minha mente tomou uma decisão. E sem qualquer receio, comecei a efetuar todas às providências para colocá-la em prática.

Tratei dos trâmites necessários para executar a viagem, contando com o apoio de Alice em determinados aspectos, pois após ser informada da visita, expressou o ânimo das formas mais enérgicas possíveis.

Como realmente não possuía nada para esse início de ano e ao longo do tempo, cada vez mais fui tomando conta dos meus trabalhos e carreira, apesar de ainda contar com grande suporte da tia Carmen, somente informei a certos colaboradores sobre a decisão de viajar de férias e a princípio, sem data de retorno prévio.

E falando na minha tia, pontuando mais uma de nossas diferenças, ela sim encontrou toda uma vida após a mudança. Então hoje possui não só amigos que estão sempre consigo, mas, até mesmo, um namorado. Com quem viajou para comemorar as festas de fim de ano.

E eu realmente tentei entrar em contato para avisar da viagem, porém ao não obter sucesso, resolvi deixar tudo explicado em uma carta. Onde relatei meus planos de forma sucinta. Assim, quando ela regressar, estará informada e se quiser entrar em contato, conversaremos no devido tempo.

Só que agora, enquanto o carro que tomei ao desembarcar no último aeroporto, percorre as estradas que me levarão a cidade da minha melhor amiga. Não consigo pensar em nada além de bons presságios, sentindo profundamente que essa viagem será realmente muito boa...

Pois em primeiro lugar, reencontrar Alice será incrível, apesar de só termos convivido por um período curto ao fim das nossas adolescências, nunca deixamos de estar presentes na vida da outra, ainda que bastante a distância, porém desde quando a conheci, senti que se tornaria alguém especial, o que acabou se concretizando.

E além de precisar dessa folga, estou tento a oportunidade de voltar ao meu país e não só isso, a pisar novamente em um estado que me fez tão bem, proporcionou tantas alegrias e memórias felizes. Ainda que tudo tenha acontecido em outra cidade e não em Valentine, meu novo destino.

Apesar de estarmos no inverno, posso perceber como o dia está começando a clarear, com isso, exemplificando a empreitada que iniciei há quase um dia...

De acordo com meu planejamento, visto todas as horas que demoraria a chegar, optei por fazê-lo durante a manhã. Em detrimento disso, deixei meu apartamento ontem por volta do meio-dia, no horário local de Genebra.

Então viajei de carro por três horas até chegar a Zurique, pois apesar de Berna ser a capital do país, o melhor aeroporto internacional fica nessa localidade.

Meu primeiro voo estava programado para as 16h e com tudo dando certo, deixei o país praticamente sem atrasos. Passando a atravessar o oceano em uma durabilidade de pouco mais de nove horas.

Ao desembarcar no aeroporto internacional John F. Kennedy, comecei a sentir os primeiros sinais fortes de Jet-leg. Pois enquanto na cidade que nunca dorme era por volta de oito horas da noite, meu relógio biológico ainda atrelado aos horários da Suíça estava pedindo por descanso ao constatar o início da nova madrugada.

Mas como a maratona ainda não tinha acabado, peguei um novo voo por volta das 21h, com destino ao estado do Nebraska, porém infelizmente, não foi possível voar direto novamente. Sendo assim, o avião fez uma escala de 1h10min no aeroporto de Denver, no Colorado, antes de finalmente seguir ao destino final, o conhecido estado do milho.

O último desembarque foi feito em North Platte, cidade já pertencente ao Nebraska e como derradeiro meio de locomoção, adentrei nesse carro que está prestes a me deixar em Valentine.

Alice até se ofereceu para ir me buscar ou pedir para que um carro da prefeitura fosse designado a assumir a função, mas descartei todas as ideias. Assim, finalmente estou prestes a chegar, após pouco mais de duas horas de caminho pela estrada.

E apesar do relógio estar marcando a entrada das cinco horas da manhã, horário local do estado, meu psicológico sabe que estou em circulação, sem um descanso efetivo, há quase vinte e quatro horas...

Por isso, quando o carro parou em frente ao Harmony Hotel, agradeci a todas as divindades possíveis pelo descanso que terei dentro de alguns minutos.

Sabendo a quantidade de bagagem que traria, não somente por consumo pessoal, mas muito pelo fato de estarmos no inverno e as roupas serem maiores e mais pesadas. Desde Genebra, contratei veículos com bom suporte de porta-malas para dar conta de carregar tudo.

Assim que o motorista abriu a porta, enxerguei a fisionomia de um homem e uma mulher em frente à entrada principal do hotel.

— Você é a senhorita Swan? – Ela questionou.

— Sim e vocês são os donos do hotel?

— Exatamente. – Respondeu. – Seja bem-vinda não só as nossas acomodações, mas também a cidade.

— Muito obrigada.

Conforme os preparativos, a escolha desse hotel em específico foi uma delas e Alice fez um reforço informando sobre a minha chegada e mencionando nossa amizade.

Para garantir que tivesse o melhor suporte, já que também recusei ficar em sua casa, sabendo como deve estar atarefada com a chegada do bebê, para ainda lidar com uma hóspede.

— Eu sou a Gianna. – A mulher efetuou as apresentações. – E esse é meu marido, Santiago. Somos os Harmony.

Concluiu e fiz a associação com o nome do hotel.

— É um prazer conhecê-los. – Afirmei. – Eu sou Isabella Swan.

Ela assentiu e logo virou ao marido.

— Querido, ajude o motorista a recolher as bagagens da senhorita Swan, você sabe qual quarto ela ficará.

— Certo, com licença.

— E pode me acompanhar. – Indicou. – Faremos só os primeiros trâmites do check-in, para que possa se acomodar e descansar.

— Realmente estou precisando, obrigada.

— Não há de quê...

A partir disso, tudo aconteceu rápido...

Pois agi no automático em meio à continuação do diálogo com Gianna, já que ela pediu para ser tratada de maneira mais informal, dispensando o uso do senhora Harmony.

Ao ser liberada para acessar o quarto, não dispensei muita atenção para focar na decoração, apenas constatei brevemente que tudo parece muito bonito, limpo e aconchegante e rapidamente testei a eficácia do chuveiro, que para meu grande alívio, produziu água quente em abundância e logo também apliquei a mesma confirmação diante do conforto da cama...

 

Talvez tenha sido só um cochilo ou um sono curto, mas o fato é que quando levantei próximo a hora do almoço, já foi bem mais renovada e pronta para seguir com o dia.

Antes de seguir para o quarto, pedi a Gianna se teria como avisar Alice sobre minha chegada e ela deixou claro que minha amiga seria informada. Então não me surpreendi ao encontrar um bilhete, que com certeza foi passado por baixo da porta, informando sobre ela querer me encontrar para almoçar em um dos restaurantes locais.

Com esse compromisso em vista, tomei outro banho e vesti uma roupa para circular na cidade, protegida do frio, mas não tão agasalhada quanto presaria se ainda estivesse na Europa.

Ao deixar o quarto e regressar a recepção, reencontrei o casal e só então me dei conta de que não sei como chegar ao local marcado. Porém ao expressar tal questão, eles prontamente se ofereceram para chamar um táxi ou simplesmente informar como encontrá-lo a pé mesmo, ao garantir que não fica tão longe.

Optei pela segunda opção, para já começar a me integrar com os aspectos da cidade e diante das indicações de fácil compreensão, deixei o hotel, seguindo a caminho do restaurante.

Não precisei caminhar mais do que vinte minutos até avistar a fachada do estabelecimento onde encontrarei Alice, já que toda a rua é preenchida pelos mais diversos comércios alimentícios.

Quase como se todos na cidade tivessem escolhido somente esse lugar para abrir suas lanchonetes, restaurantes, bares e afins. Mas talvez o ponto seja esse mesmo, um aspecto atrelado à cidade pequena.

Sorri com esse pensamento e antes de voltar a caminhar sentido a faixa de pedestre mais próxima, acabei sendo trombada por um corpo pequeno se chocando contra o meu.

— Oh.

— Desculpe.

A voz doce e suave chamou minha atenção e redirecionei o olhar a criança a minha frente, constatando que uma linda menina foi à autora do encontro.

E não é eufemismo pensar que ela é realmente linda, pois o longo cabelo em um tom talvez castanho puxando para o claro, misturado com mel possivelmente, cai em ondas sedosas por suas costas.

Enquanto o rosto é todo bem composto, com traços delicados, um narizinho pontudo, sobrancelhas finas, porém os olhos. Há algo neles que me intrigou levemente...

— Mocinha.

Uma voz se sobrepôs, tomando a atenção.

— Quantas vezes já lhe disse para não correr? Ainda mais na rua?

— Eu não estava correndo, vovó.

Ela tentou justificar, mas é claro que a mulher mais velha não acreditou, contudo, somente continuou a caminhar até ficar próxima o suficiente e mantendo o olhar sobre a criança, a fez retroceder.

— Desculpe, eu estava correndo.

Apesar da linguagem corporal cabisbaixa pelo erro expresso, não há temor em seu rosto, proveniente de uma possível repreensão. E além de achar isso interessante, também me surpreendi ao ver que ela não hesitou em voltar atrás e revelar a verdade.

— Mas é que estou ansiosa para chegar. – Justificou.

— Sim, eu compreendo. – A avó da menina confirmou. – Porém não é bem melhor caminharmos com calma e chegar sem qualquer contratempo, do que correr e arriscar um machucado que a impedirá de aproveitar o dia?

Diante de tais palavras, acabei não me contendo.

— Minha mãe costumava falar exatamente assim.

As duas redirecionaram o olhar e a mulher mais velha citou.

— Então acredito que tenha aprendido a lição, pois ao menos visivelmente, não possui qualquer sinal de desobediência.

Compreendendo o que quer dizer, comentei.

— Acho que meus joelhos se recuperaram ao longo dos anos.

Brinquei e a menina sorriu, mas não perdi o foco.

— Porém eu realmente costumava ouvi-la, a minha mãe. – Deixei claro. – E, por isso, me livrei de muitas enrascadas. – Pisquei.

— Prometo que não vou mais correr.

A pequena citou não só reforçando a avó, mas de algum modo, a mim também.

— Agora que já tomamos um pouco do tempo da moça, vamos indo, para não atrapalhá-la mais.

— Vocês não atrapalharam. – Afirmei. – Estou indo encontrar uma amiga, mas nossa interação também está sendo muito agradável.

— Perdão, mas você é nova na cidade, não é?

A mulher mais velha questionou e não demorei a informar.

— Sim. Eu estou justamente de passagem, por ter vindo visitar a amiga que citei.

— Entendo e desculpe a intromissão, mas é que em cidade pequena, todos se conhecem e me lembraria de já ter visto alguém tão bonita como você.

Foi inevitável não deixar o rubor tomar meu rosto.

— Obrigada.

— Você é mesmo. – A menina afirmou. – Tão bonita que parece até uma boneca.

— Eu agradeço o elogio, ainda mais vindo de você. – Destaquei. – Que é tão linda quanto uma princesa.

— Como a Bela? — A olhei confusa e ela completou. – Do filme a Bela e a Fera?

— Com toda certeza você é tão linda quanto a Bela, talvez até mais.

Um enorme sorriso preencheu o rosto infantil e fiquei mais do que feliz por proporcioná-lo.

— Foi bom conhecê-la, mas agora realmente temos que ir. – A mulher reforçou. – Ou acabaremos nos atrasando.

— É claro. – Concordei. – Foi um prazer também e até mais ver.

— Até.

Citou já começando a caminhar, agora com a neta segura pela mão.

— Tchau.

A menina acenou com um sorriso, que prontamente retribui.

— Tchau...

Ao passo que continuaram seguindo pela mesma calçada, enfim atravessei a rua para entrar no restaurante, porém foi quando me toquei que não trocamos nomes.

Mas como a mulher falou, agora estou em uma cidade pequena, então acredito que será fácil descobrir tais informações. Sem contar, que também espero realmente ter a oportunidade de reencontrá-las...

Ainda do lado de fora, avistei minha amiga já acomodada em uma mesa, pois apesar de não nos vermos pessoalmente há mais de sete anos, poderia reconhecer sua fisionomia em qualquer lugar. Apesar de ter mudado o cabelo ao longo desse tempo e esteja exibindo a barriga primorosa que guarda seu primeiro filho.

Contudo, antes de avançar para entrar, algo me fez olhar para trás, talvez a procura da avó e a menina, já não as encontrando. No entanto, no exato sentido oposto, outra fisionomia chamou a atenção...

E não o notei sozinha, já que parece que ele também está me enxergado e provavelmente reconhecendo, como o fiz de pronto, sendo impossível ser diferente.

Assim, como se o tempo, espaço e o sentido da terra parassem. Mantivemo-nos em transe. Embasbacados com a ironia desse momento, atrelada à realidade atual.

Ao menos no que diz respeito a mim e meus sentimentos, quanto ao fato de ele ter sido e talvez continuar sendo para sempre, o único homem que amei...

CONTINUA.


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Notas finais do capítulo

N/A: E ai, ansiosas para curtir e conhecer mais desses personagens?
Esse primeiro capítulo foi realmente introdutório. Vimos um pouco da amizade da Bella com a Alice. E como a amiga conseguiu convencer nossa menina a finalmente visitá-la, mas pelo que vimos, estava mais do que na hora...
E também fomos um pouco introduzidas a aspectos da vida atual da Bella. Ao seu emprego e como foi levada a ele. Contando com certas pinceladas do passado, que infelizmente, não contam com as melhores lembranças.
E apesar de ainda não sabermos quem são as personagens com quem a Bella interagiu *cof cof*. O que acharam do leve diálogo? Palpites sobre suas identidades? E falando em identidade, quem será esse homem que foi seu grande amor? Eu falei que o título condiz bem com a trama, então acompanharemos muitos desenvolveres daqui para frente...
Mas agora é com vocês, se efetuaram a leitura e chegaram até aqui, deixem uma review relatando a experiência. Estou muito animada quanto a esse enredo e espero contar com seus apoios em mais uma empreitada. Às leitoras novas, não deixem de acessar meu perfil, para conhecer os outros projetos, em andamento ou finalizados. Também me sigam no twitter: @KNRobsten. E até o próximo.
~Kiss K Nanda.



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