O tempo todo que os irmãos falavam sobre como foram suas vidas e do tanto que se procuraram, o anjo da virtude se manteve quieto e distante, ele os ouvia muito bem, mas mesmo assim não quis parecer inconveniente e nem de longe queria atrapalhar aquele momento tão esperado pelos irmãos, então deixou que os dois matassem a saudade e quando o irmão mais velho se foi o jovem letrado teve que o procurar pela casa.

...

— Ah, você está aí! — Ele falou quando viu o anjo na sacada contemplando o carro do Seo sumindo na penumbra. — Posso saber o que está pensando?

O anjo se virou e o Kim ficou ainda mais curioso por sua expressão inexistente, mas que era tão expressiva ao mesmo tempo que deixou o humano completamente perdido por alguns instantes.

Aquele anjo era intenso em níveis nunca vistos pelo Kim, e pensar naquela sua intensidade o fez ruborizar.

— Você está vermelho...  — Foi apenas o que o anjo disse a ele.

O Kim levou as mãos ao rosto, realmente ele se sentia quente e isso justificaria seu rubor.

— Estou? — Ele falou tentando disfarçar seu estado inegável.

— Sim, está... Você está bem? Quer se sentar um pouco?

O anjo falava em um tom igualmente enigmático, fazendo o Kim ficar ainda mais curioso por ele, mesmo que não fosse essa sua intenção, pois o anjo estava mesmo preocupado com o humano.

— Tudo bem, podemos nos sentar na sala um pouco, talvez eu esteja mesmo um pouco tonto.

— Hum... então vamos.

Eles foram até a enorme sala do jovem letrado e após se sentarem permaneceram em silêncio por um tempo, e sem confessar um ao outro coisas aconteciam dentro de cada um deles, coisas fortes que eles não sabiam o que poderia ser, muito menos como lidar com elas.

Depois de um bom tempo daquele jeito o rubor do Kim só aumentou e o pior é que ele sentia não só o seu rosto queimar, mas seu corpo e algumas partes bem específicas queimavam incontroláveis, então para tentar se livrar daquilo ele mesmo relutante começou a falar.

— Bom, preciso te agradecer por me ajudar, mesmo que eu meio que tenha o forçado a isso, o que eu sinto muito, mas mesmo assim muito obrigado, hoje foi o melhor dia da minha vida, poder reencontrar o Binnie depois de tanto tempo... — Ele parou e viu o quanto o anjo lhe encarava profundamente e sem conseguir evitar sorriu sem jeito. — Por que você me olha assim? Eu estou o ofendendo? Na verdade, eu sei o que deve ser, vem comigo, vamos para a biblioteca, eu vou libertar você.

O Kim se levantou e já ia se virar quando sentiu seu corpo todo tremer, e olhando para trás o anjo da virtude o estava segurando pelo braço.

Os dois se encararam novamente e o Kim sentia seu coração pulsar em sua garganta, assim como suas veias queimarem como se o que passasse por elas fossem as lavas de um vulcão prestes a entrar em erupção e a tensão ali foi quebrada pela doce voz do anjo.

— Posso te pedir que não me liberte ainda?

O Kim piscou algumas vezes sem saber o que responder.

— Pensei que estivesse louco para se livrar de mim e do meu domínio sobre você.

— Eu também pensava isso, mas depois de um tempo o observando mais de perto me lembrei o quanto sempre fui curioso pela humanidade mesmo sem nunca poder me aproximar, mas você tornou isso possível e se me libertar agora voltarei imediatamente para o centro da vontade divina e acredito que nunca mais poderei pisar na terra porque anjos como eu são proibidos de tal ato, acredito que você deva saber disso já que me amarrou a você.

O Kim ouvia tudo atentamente, e diferente do que ele imaginou, aquele anjo da virtude não era soberbo, ou sequer hostil, muito pelo contrário era um curioso pela humanidade e, diga-se de passagem, um lindíssimo exemplar da fonte mais pura de atração divina.

— Mas isso não será ruim para você futuramente?

O anjo encarou aquele letrado, digamos que até um tanto incrédulo.

— É sério que está pensando em mim e não em você? Quero dizer, você não pensou nas consequências de manter um anjo da virtude preso a você?

— Na verdade, pelo que li, estou ainda na punição mínima pelo meu ato, como se fosse uma advertência o que eu receberia, e como não o usei para fins considerados hediondos ou sombrios, provavelmente eu não sairia muito machucado.

— É talvez um castigo leve para o advertir, seria o ideal para o pai, mas se conceder o meu pedido as coisas podem piorar e muito para você, acredite, e foi por isso que achei estranho você perguntar se isso seria ruim para mim.

— Entendo, mas por que você quer tanto ficar? Apenas curiosidade pelos humanos?

O Yang o encarou e logo em seguida o respondeu.

— Também por que gostei daqui, só digo que estou gostando dos humanos, pois gostei de você. — O anjo falou tão naturalmente que o letrado ficou abismado. — Então, se você me manter em sua posse, eu poderia aprender mais sobre os humanos, digo, mais sobre você.

— Tem certeza que é o que quer?

— Sim, eu tenho, então é a minha vez de te fazer um pedido. — Ele se aproximou do Kim, e o encarou nos olhos. — Por favor, me deixe ficar com você mais um pouco.

O corpo do Kim quase entrou em combustão instantânea, mas ele não se moveu um só centímetro, ficando ali parado em frente ao anjo, tão perto e tão longe, aquilo o estava deixando zonzo.

— Tudo bem Yang, você ficará comigo pelo tempo que quiser.

O anjo da virtude foi até ele e deixou um selar na bochecha do Kim.

— Obrigado Kim, serei seu anjo particular a partir de agora.

O Kim estava atordoado, o selar ainda marcava de forma efetiva a pele do seu rosto e ele desejou poder beijá-lo nos lábios, porém sacudiu levemente a cabeça na tentativa de espantar aquele pensamento.

— Não me agradeça, eu te devia isso. — O anjo não se afastou de si e aquilo o estava atordoando ainda mais. — Bom, venha comigo, vou lhe mostrar onde será seu quarto.

O anjo o seguiu curioso e assim que o Kim lhe deixou no cômodo que destinou para si lhe mostrando onde tinha tudo o que ele poderia precisar, o letrado saiu de lá como quem precisasse muito fugir de perto do anjo, e entrando em seu quarto ele fechou a porta atrás de si, e assim que se lembrou como era respirar ele foi logo tirando suas roupas, ele precisava de um banho urgentemente para espantar seja lá o que fosse tudo aquilo.

...

— Por que deixar que a água corra assim pelo seu corpo?

O Kim levou um susto, afinal o que o anjo estava fazendo ali o encarando como quem estivesse se divertindo?

— Você não deveria estar aqui, Yang, por que não ficou no seu quarto?

— Eu preciso ficar lá? Por quê? Para jogar água no meu corpo também?

O Kim acabou sorrindo para o anjo.

— Isso também, lá é para seu descanso e privacidade.

— Mas eu não preciso descansar, eu não durmo, mas agora fiquei curioso por fazer o que está fazendo, parece bom.

Assim que disse isso, o anjo fez suas próprias roupas sumirem e foi para debaixo do chuveiro com o letrado que arregalou os olhos por conta da proximidade do corpo do anjo ao seu e se sentiu ferver novamente.

— Por que fez isso?

— Isso o quê? O que estamos fazendo Kim?

— Eu estava tomando banho e agora você também está.

O anjo deu um sorriso genuíno e o Kim não conseguia pensar em mais nada que não fosse na beleza daquele ser colado a si embaixo daquela ducha.

— Essa é a primeira vez que tomo banho, nós brincamos nas cachoeiras do paraíso e é legal, mas isso é diferente, e a água está quentinha, é gostoso assim.

Se o Kim ficasse muito tempo mais ali, ele não conseguiria esconder o que estava de fato sentindo, então ele deixou o anjo dentro do box e saiu se enrolando na toalha.

— Pode ficar aí o tempo que quiser, vou me trocar e me deitar um pouco, use o sabonete e o shampoo ali, sabonete é a barra passe no corpo, o shampoo está no frasco, é para o cabelo.

— E esse outro aqui? — Ele falou segurando o outro frasco que tinha ali e seu semblante se mantinha curioso.

— É o condicionador, passe no cabelo depois do shampoo.

— Está bem. — O anjo sorriu para ele — E você precisa cuidar disso aí seja lá o que for. — Ele apontou para o meio das pernas do Kim, que desejou morrer por ter sido pego daquele jeito pelo anjo nada discreto.

— Não se preocupe com isso, anjo. — Ele saiu dali às pressas deixando o anjo tomar seu banho.

— Por favor, me chame de Yang, eu gosto mais quando me chama assim.

O anjo falou um pouco mais alto e o Kim sorriu pela forma ingênua dele e assim que ele se trocou ele se dentou em sua cama buscando respirar normalmente agora que estava longe do anjo, mas a imagem que teve a pouco não estava o deixando, e pelo letrado ela não o deixará nunca.

...

— O banho é muito gostoso e sente só, — o anjo levou seus cabelos molhados para o Kim — Isso cheira tão bem.

Mais uma vez o Kim sorriu, e pegou uma toalha seca que já tinha separado para dar ao anjo.

— Aqui Yang se seque, e pode usar aquelas roupas ali, acredito que servirão bem em você.

Em um piscar de olhos o anjo apareceu vestido novamente em sua cama.

— Serviu sim, obrigado.

Ainda de cabelos molhados e tão próximo a ele, o Kim novamente quis beijar o anjo, mas se forçou a não pensar nisso.

— Vem aqui, vou secar seus cabelos. — Ele começou a secar e assim que acabou ele se deitou novamente.

— Pode dormir, ficarei velando seu sono.

Assim que o anjo falou aquilo, o Kim sentiu seus olhos pesarem, como mágica e ele entendeu que o anjo estava o pondo para dormir, não era bem o que ele queria no momento, mas a sensação era tão gostosa que ele apenas se deixou levar.

— Boa noite, Yang, e obrigado mais uma vez, por me ajudar a encontrar o Bin.

O Yang o estava admirando, ele olhava o semblante do Kim e sentia coisas em seu coração, coisas que ele não entendia.

— Boa noite, Kim, durma bem e obrigado por me deixar ficar com você.

O humano adormeceu e o anjo seguiu o encarando, e logo ele sentiu algo no meio de suas pernas que ele desconhecia.

— Estou igual a ele na hora que saiu do banho, o que será que ele fez para fazer sumir? E por que estou me sentindo tão quente?

Sem entender aquilo, o anjo ficou encarando seu volume por um longo tempo, mas depois decidiu que olhar para o Kim era muito melhor, então ele se virou para o humano deitado ali e resolveu ficar o olhando pelo resto da noite.

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