Namjoon caminhava pela floresta em passos lentos, Hoseok ao seu lado, ambos envoltos em um silêncio angustiante. O retorno ao castelo transcorria assim, parando para descansar à noite e continuando durante o dia. Não havia troca de palavras, apenas o peso do sofrimento compartilhado. Hoseok tentava conter suas próprias lágrimas, consciente da dor de Namjoon, antevendo o quão difícil seria para ele superar a perda de Jin.

Nas pausas noturnas, enquanto Namjoon descansava, Hoseok, que não necessitava de muito sono, dava voltas para espairecer. Em uma dessas noites, percebeu a ausência de Namjoon no acampamento e foi procurá-lo. Encontrou-o em uma árvore alta, entregue ao pranto desolador. Hoseok sentiu a dor e o sofrimento transbordando nos soluços de Namjoon. Sem palavras ou consolo a oferecer, compartilhou do peso da situação, consciente de que a traição de Jin causava um sofrimento indescritível a Namjoon.

Ao chegarem ao castelo, o Rei esforçou-se para confortá-los, mas logo percebeu que talvez fosse melhor deixá-los sozinhos naquele momento difícil. Namjoon trancou-se em seu quarto, recusando-se a falar com qualquer pessoa. Jogou-se na cama e chorou, revivendo cada palavra de Jin. Inicialmente, ele negava a realidade, mas à medida que aquela conversa ecoava em sua mente, a negação cedia lugar à raiva. Namjoon jurava esquecer Jin e garantia que nunca mais o queria ver.

Hoseok chorava incessantemente, sentindo profundamente a falta do irmão. Jimin e Taehyung entraram em seu quarto, oferecendo apoio e abraços até que, por fim, ele adormecesse nos braços dos amigos. No dia seguinte, Namjoon se recusava a sair da cama. O Rei batia à sua porta inúmeras vezes, trazendo pratos de comida que ficavam intocados. Apesar das tentativas de Jimin de se comunicar com Namjoon, este permanecia inacessível. A angústia de ambos era palpável; queriam apenas permanecer deitados, cada um imerso em seu próprio sofrimento.

...

Três dias se passaram e Namjoon ainda não havia comido nada, o Rei arrombou a porta e o encontrou doente, precisaram cuidar muito dele até que ficasse estável. 

Taehyung tentava convencer Hoseok a ir brincar lá fora, o ruivo estava fraco pois não via a luz do há dias. 

— Hobi — Taehyung o olhava choroso — Por favor, vamos lá pra fora.

— Não estou com vontade — A voz de Hoseok estava fraca, sua pele pálida e seus lábios ressecados. 

— Não pode se entregar assim… precisa ser forte.

— Eu não sou forte, Tae, eu sou fraco. Por isso perdi meu irmão.

— Você não o perdeu. Ele não morreu, ele está vivo.

— Mas escolheu ficar naquele lugar. 

— Não diga isso, como pode não confiar no amor que Jin tem por nós? Você e o Tio Nam são dois idiotas!

— Não fale assim! Nam é um adulto e eu sou um elfo! tenho mais de trezentos anos…

— O Jin disse que se fosse humano sua idade equivaleria a quatorze anos, ou seja, eu sou dois anos mais velho que você, então me escute!

Hoseok suspirou.

— Escutar o que? 

— Precisamos ficar fortes e ir buscar o Jin!

— Não seja bobo, já falei que Jin está lá porque quer…

— Eu não acho isso! 

— Por que não?

— Não sei, só sei que os adultos que deveriam saber. Eu só sinto isso, acredito no amor de Jin por nós e sei que ele jamais iria nos abandonar. Ele deve ter tido um bom motivo pra querer ficar lá. 

— Quero acreditar nisso — Hoseok o olhava com tristeza. 

— Vem cá — Taehyung bateu na própria coxa — Isso vai passar e em breve o Jin estará de volta.

— Assim espero… assim espero — Hoseok deitou a cabeça nas pernas de Taehyung e chorou baixinho. 

...

Conforme o tempo avançava, Namjoon esforçava-se para se recuperar e tentar esquecer Jin. No entanto, todas as noites, ele era assombrado pela voz de Jin chamando por ele. Superar no começo foi uma tarefa árdua; em algumas ocasiões, Namjoon, movido pela esperança, ia secretamente até Hillvards na expectativa de encontrar Jin, mas nunca teve sucesso. Por fim, ele aprendeu a conviver com o vazio que persistia em seu peito.

Da mesma forma, Hoseok também frequentava Hillvards, conseguindo entrar nas cavernas por ser um elfo. Em suas visitas ao irmão, tentava persuadi-lo a retornar para casa, mas Jin mantinha a mesma postura, afirmando estar feliz com seu marido. Hoseok percebia uma tristeza latente em Jin, embora este negasse. Não compreendia por que o irmão optava por viver daquela maneira, mas, apesar das discordâncias, esforçava-se para aceitar e respeitar sua decisão. Hoseok não desejava cortar os laços fraternos e continuaria visitando Jin, mesmo que discordasse da escolha dele.

...

Quatro anos se passaram, e a vida no castelo continuava próspera. Namjoon, agora com vinte e seis anos, dedicava-se intensamente ao treinamento com o Rei e o exército real de Amicitia. Tornara-se um guerreiro forte e destemido, liderando o treinamento de novos recrutas. Suas habilidades com a espada eram excepcionais, e o Rei compartilhara com ele todo o conhecimento e técnicas de luta. Namjoon destacava-se não apenas como espadachim, mas também como um hábil estrategista, contribuindo para a segurança do reino.

Taehyung, recém-completados dezoito anos, havia se tornado o melhor arqueiro entre os humanos, ficando atrás apenas de Hoseok, que, devido à sua linhagem élfica e centenas de anos de experiência, era naturalmente superior no manejo do arco.

Hoseok, por sua vez, dedicou muitos anos de treinamento a Taehyung, transmitindo-lhe o legado dos arqueiros. Apesar de suas responsabilidades no castelo, o ruivo não conseguia ficar confinado por muito tempo e visitava o reino regularmente para encontrar seus amigos. Entre essas visitas, não deixava de ir até Jin, embora mantivesse isso em segredo de Namjoon, que preferia fingir que Jin havia morrido, tamanho era sua mágoa.

Namjoon estava se preparando para uma viagem especial com Jimin, que completava dezesseis anos. Como presente, o pequeno príncipe desejava explorar o mundo além dos limites do castelo, ansioso por conhecer novas pessoas, sabores e experiências. Após persistência, o Rei concedeu permissão para que Jimin viajasse para Fratris junto com Namjoon, considerada a cidade mais segura para tais aventuras. A empolgação de Jimin era evidente, e Taehyung, paciente, ouvia entusiasmado sobre os planos para a viagem.

— Tem certeza que não quer vir com a gente, Tae?

— Não posso, Namjoon ficará fora, quero ficar aqui para cuidar de tudo. Deixo para a próxima. Pretendo fazer uma viagem em breve também — Taehyung sorriu e olhou para a janela.

— Para onde quer ir? 

— Quero ir ver meus pais… mas dessa vez quero ir com alguém especial — Taehyung sorriu tímido. 

Jimin riu e deu um tapinha em suas costas. 

— Esse alguém sou eu? — Jimin deu uma mordidinha em seu braço. 

— Ai Jimin! Isso dói! — Taehyung o olhou choroso, sem entender porque ganhou uma mordida — Jimin, você é especial, mas é como um irmão. Quero ir com alguém especial em um sentido diferente, entende? 

— Hum… — Jimin colocou a mão no queixo — Tipo um namorado? 

—— Exatamente, um namorado! — Taehyung se jogou na cama com um sorriso bobo no rosto — Jimin, como será que vai ser meu namorado? 

— Como você quer que seja? — Jimin deitou ao lado de Taehyung, estava empolgado, adorava conversar sobre garotos, beijos e primeiro amor.

Taehyung olhou para o teto e sorriu. 

— Primeiramente tem que ser bem alto, bem gigante!

Jimin deu risada.

— Você quer um namorado ou uma árvore? 

— Não seja idiota! Quero dizer que ele tem que ser maior que eu. 

— Entendo, eu também quero que meu namorado seja maior que eu — Disse Jimin. 

— Então você pode namorar qualquer um, até mesmo um duende. Todas as criaturas de Amicitia são maiores que você — Taehyung riu e Jimin o encarou. 

— Escreva o que estou dizendo, seu namorado vai ser menor que você e ele vai ter que subir numa escada pra te beijar — Jimin cruzou os braços e fez bico.

— Não gosto de homens baixinhos, mas se ele for um nobre e bondoso guerreiro que luta pela justiça, para mim está ótimo.