Legado De Poder escrita por Merophe


Capítulo 13
XIII




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A nova semana começou com mais uma reunião no monte. Eliane reuniu as conhecidas à tarde e insistiu muito para que a irmã também comparecesse. Gigi sentiu uma identificação especial com Fiorella, especialmente devido à sua aparência reservada. Ao contrário da irmã, Fiorella parecia não concordar com as fofocas e só falava quando lhe dirigiam a palavra.

Assim como Fiorella, Gigi tentou recusar o convite para o monte. No entanto, percebendo que Eliane não era alguém que respeitava as decisões contrárias, viu-se obrigada a ir, mesmo contra sua vontade.

Assim como no baile anterior, as convidadas começaram a chegar aos poucos. As inseparáveis amigas Rizzo foram as primeiras a chegar no monte, tendo um vínculo mais íntimo com Eliane. Fiorella, por sua vez, não fez a mesma recepção calorosa, permanecendo no conjunto bistrô no jardim, sem sequer se levantar.

Os olhos curiosos do bebê nos braços de Melina pousaram em direção a Eliane, enquanto as conversas giravam em torno do desenvolvimento do menino. Após algum tempo, a esposa de Gerald surgiu, acompanhada das duas filhas, braços dados em um gesto familiar.

Eliane soltou um apelido qualquer, que Benedita não compreendeu completamente, enquanto esta ainda se aproximava lentamente pelo gramado. Fiorella prontamente demonstrou desagrado pela piada da irmã.

— Seu marido também é mal feito.

— Pasini é agradável. — Eliane abriu o leque vermelho, balançando-o na mão, mesmo com o sol mais fraco e o monte sendo bastante ventoso. — Ter passado tanto tempo em casa te deixou mais desagradável e sem entender nada.

Gigi observou Fiorella unir as mãos por cima da perna cruzada, sem responder à irmã. As duas tinham uma contrariedade absurda, desde postura, palavras e empatia.

Benedita acenou timidamente quando se aproximou, e Eliane, com falsidade, a cumprimentou com um abraço. Questionada sobre a ausência da filha, Eliane respondeu que a deixara com o irmão na mansão, e que ela parecia estar melhor da febre que surgira posteriormente.

Vendo a mulher de costas, era evidente sua forma volumosa, e sua caminhada parecia um tanto desajeitada, embora os saltos baixos talvez contribuíssem para o andar desalinhado na grama.

Benedita não se deixava abater pelos comentários sobre seu peso, aproveitando-se bastante de ter um marido bonito e mais jovem que ela para elevar sua autoestima.

Ela realmente não se importava com nada. Enquanto o marido investia em gel, loções corporais e trajes modernos, Benedita preferia esconder sua gordura sob vestes quase sempre floridas e largas, com babados nos braços e nos ombros. Seu cabelo castanho médio, solto, combinava perfeitamente com seus olhos risonhos e sua risada engraçada.

Igualmente eram as duas filhas, com a mesma alegria no rosto, embora fossem magras como o pai. O nome de uma era Mila e o da outra Marisa. As duas sentaram próximas de Gigi, espiando a conversa da mãe.

Nesse momento, só estavam as mulheres reunidas no monte. Fiorella não deu muita atenção para a conversa da irmã; preferiu ficar calada, examinando ao redor do monte. A chácara contemporânea do Planalto das Bambinas era um refúgio encantador, com gramados bem cuidados, um gazebo convidativo e uma piscina relaxante, tudo em harmonia com a natureza ao redor.

O bebê de Melina balbuciou; tudo estava normal até aquele momento. Eliane continuou sua conversa direta com Benedita, enquanto Gigi observava as duas meninas mais uma vez e então desviou o olhar para o gramado, onde avistou a figura recém-chegada no monte.

Não sendo um convidado, por isso Eliane também se acomodou na cadeira, ajustando-se.

— Parece que alguém se perdeu no caminho.

— Estava procurando um lugar para passar um tempo, acho que finalmente encontrei o lugar certo.

Lorenzo chegou ao conjunto de bistrô, deslizando a mão com o relógio no pulso dentro do bolso da calça. Ele lançou um olhar para o rosto de todas, numa forma de saudação discreta.

— Acontece que este monte é exclusivamente para mulheres. Procure a sua turma.

— Quem sabe eu não descubra mais alguns segredos femininos por aqui.

— Deixe-me adivinhar, veio buscar conselhos sobre como ser charmoso para conquistar corações femininos?

— Vim buscar algo muito mais valioso: a sabedoria feminina sobre os segredos da vida.

Gigi continuou a escutar a conversa, observando como os sorrisos se misturavam às palavras. Lorenzo demonstrava habilidade em contornar as alfinetadas de Eliane enquanto envolvia as outras mulheres na discussão. Era como se ele estivesse tentando distrair a atenção para que ninguém percebesse suas discretas olhadas para a garota, como se quisesse transmitir-lhe uma mensagem sem palavras.

Ele deu uma volta até onde a garota estava sentada, aproveitando a conversa contínua das mulheres para se ajoelhar, ficando à altura do ouvido dela.

— Eu queria saber como você está. Não acho que era necessário terem te tirado da minha casa. Não fiquei feliz com isso.

Mesmo de cabeça baixa, Gigi percebeu a mão de Lorenzo voltando para o bolso do blazer marinho. Ele então ofereceu uma maçã vermelha na palma grande.

— Uma das macieiras lá de casa deu frutos. Parece que estávamos fazendo algo certo.

Lorenzo ofereceu a maçã a Gigi como um presente de coração. A fragrância madeirada e forte na maçã irritou rapidamente as narinas da garota após a primeira cheirada.

Eliane observou discretamente a mão estendida de Lorenzo, enquanto abria o leque na metade do rosto para disfarçar a direção dos olhos assim que ele se levantou.

A garota viu Lorenzo se afastar, mencionando que estava indo para a Fortaleza de Prata. Logo em seguida, Eliane notou a jovem se levantando, já antecipando o que estava acontecendo.

Não foi algo que preocupou muito Eliane. Antes de sair da mansão, ela havia deixado o missionário particular informado sobre algumas exigências. Ela imaginava que a garota ainda pudesse tentar encontrar Ettore, provavelmente para ir embora. Era provável que ela não estivesse satisfeita com a mudança para a mansão de Eliane.

Ela deu ordens a Kadu para ficar atento à moça quando se afastasse pelo monte, instruindo-o a evitar que ela se encontrasse com o rapaz e a não proferir qualquer coisa desagradável para a garota. Caso contrário, ela o ameaçou de negociação no mercado negro.

Kadu avistou a moça passando pelo gazebo, seu vestido amarelo balançando ao vento, sem se importar se alguém estava observando. Ela parecia uma menina curiosa, olhando de um lado a outro pelo monte, provavelmente em busca do rapaz.

Temendo pela negociação valiosa dos olhos, como a patroa mencionou que faria, ele resolveu se aproximar já com uma conversa preparada.

— Nos vimos no baile, se lembra?

Ele era o rapaz da máscara verde que se abaixou para falar aos ouvidos da moça no baile. Gigi reconheceu os olhos azuis elétricos, mas ainda ficou sem entender o que ele realmente estava querendo.

— E então... Você gostou daquela noite?

— Fui embora mais cedo.

Kadu mordeu o lábio, percebendo o deslize que ela o fez lembrar de sua saída sem aproveitar completamente o baile.

— Eu não sou muito bom nisso de conversa, sabe? Eu posso desenrolar melhor se você me contar alguma coisa.

Por um instante, Gigi olhou estranhamente para ele, mas depois de dar uma olhada pelo gramado, resolveu se aproximar do rapaz.

— Você viu o rapaz de tatuagens?

— Não dava para você ter me perguntado outra coisa?

— Você quem pediu que eu falasse de algo.

— Algo não sendo tão específico. Eu nem me dou bem com essa pessoa.

Ela foi se afastando enquanto Kadu insistia em manter algum assunto sem sentido.

— Não seria bom você ficar por aqui?

Gigi dirigiu o olhar para ele após afastar os cabelos esvoaçados do rosto; havia escutado sua voz alta novamente.

— Eu acho que ele não está por aqui. Acho que você deveria estar ciente de uma coisa sobre Ettore. Ele só traz a patroa e depois some por aí, quando volta é só para buscá-la de volta.

 

 

Na Fortaleza de Prata, a reunião entre alguns capôs estava em andamento. Pasini trouxe à tona o assunto de sua participação na votação da Sociedade, escutando os conselhos da mulher antes de sair da mansão. Ele sabia que precisava decidir com cuidado o que colocar em prática.

Sendo um dos presentes, até Davide concordava que seria necessário realizar uma votação para escolher alguém para ocupar o lugar de Caius. Ele vinha pensando nisso desde que conversou pela primeira vez com Lorenzo e até o aconselhou a assumir a liderança.

Ele veio um pouco contra a decisão de Pasini de concorrer nos votos. Davide tinha contato com alguns Marqueses e foi assim que ele se adiantou em contatar Nicolas, um primo distante de Vincenzo que morava atualmente na Austrália com a mulher prestes a dar à luz.

— Então você chamou Nicolas para voltar para Monte dos Reis.

Lorenzo indagou sobre a convocação de Nicolas. Ele havia chegado ao castelo e permanecido em silêncio durante a maior parte do tempo.

— Se formos fazer uma votação, acho justo que tenha ao menos alguém dos Marqueses concorrendo.

Lorenzo passou os dedos pelo rosto, perdido em pensamentos, enquanto Pasini girava sua grossa aliança de ouro no dedo, contemplando a surpresa em silêncio.

— O herdeiro de Vincenzo não garantirá muita coisa. Perderíamos tempo tendo que ensiná-lo os nossos costumes dentro da máfia.

Mesmo perdido em pensamentos, Lorenzo notou que a voz de Davide estava sendo direcionada mais para o seu lado. Davide havia avistado a garota no baile, e Lorenzo sabia que a indireta era dirigida a ele.

Tanto Lorenzo quanto Pasini ponderaram sobre como os planos poderiam mudar com a novidade trazida por Davide. Embora não fosse exatamente o que Eliane esperava de Lorenzo, sua decisão de colaborar com Caius para buscar o filho de Vincenzo e trazê-lo para Monte dos Reis alterava significativamente a dinâmica da máfia, tornando a liderança do herdeiro apenas uma distração para as investigações de Caius na cidade normal.

Não seria necessário que a garota estivesse diretamente envolvida com a máfia, mas sim que estivesse presente diante da família dos Marqueses na cidade, ocupando o lugar de Caius, que era o representante dos Marqueses em Monte dos Reis. Isso não correspondia exatamente à visão de Enrico de sua filha se envolvendo com o crime. Em vez disso, uma mente brilhante estaria por trás dela, exercendo controle indireto sobre a cidade.

Lorenzo já havia demonstrado ser um abutre interesseiro desde a nomeação de Caius. Ele induziu o amigo a trair a esposa e fez horrores para conquistar a confiança.

Eliane estava certa; Lorenzo também estava se aproveitando da oportunidade de assumir a máfia, mas de uma forma ainda mais covarde, sendo uma sombra dos outros.

Quando chegaram em casa durante a noite, Pasini explicou para a mulher o debate da reunião. Ele falou sobre a vinda de Nicolas, que já estava sendo preparada, algo que Eliane logo discordou, considerando que a mulher estava grávida.

Inicialmente, Eliane imaginou que fosse ideia de Lorenzo trazer o primo de Vincenzo de volta para a cidade, até que tudo fosse explicado. Lorenzo se prontificou a ligar para Eliane para falar um pouco sobre o assunto. Eliane esperou que o marido subisse para o quarto, ficando sozinha no salão de estudo.

A ligação continuava, rendendo discussão entre os dois.

— Seu marido está concorrendo para a votação, mas todos nós sabemos quem realmente vai liderar as coisas, não é mesmo?

— Ao contrário de você com a sua esposa, eu não preciso esconder nada do meu marido. Eu vi você com a garota. Parece que você está bem interessado nela, não é? Pude ver nos seus olhos.

— Ah, você sabe como são essas coisas. Às vezes, é difícil resistir a um belo par de olhos. Mas é claro, se ela se mostrar interessada, quem sou eu para recusar?

— Não se iluda. Você pode ter suas artimanhas, mas não vai ganhar essa votação.

— E quem disse que eu irei concorrer a votação com o seu marido? Nicolas voltando, ficarei do lado dele. Eu não sou idiota de perder para você.

 

 

A chegada de Nicolas já estava sendo comentada em Monte dos Reis, e Ettore veio a descobrir por Fiorella quando ela o instruiu a ir, na quarta, para a mansão Casa do Príncipe. Nicolas havia exigido ficar na mansão que fora de Vincenzo, e o rapaz teve que inspecionar os cuidados que faziam com a residência.

Fazia muito tempo desde que a mansão fora aberta para convidados. A ideia de hospedar-se em meio ao legado dos falecidos membros da família dos Marqueses de Monte dos Reis não era agradável para ninguém.

A mansão exibe uma aura clássica, envelhecida pelo tempo, mas ainda mantendo sua beleza e elegância. Seus jardins, pontuados por arbustos bem aparados e canteiros impecáveis, são dominados por rosas azuis, uma raridade que floresce em toda a sua majestade. As rosas, originalmente confinadas à estufa de vidro, foram espalhadas pelo exterior da mansão, adornando a entrada e acrescentando um toque de cor e delicadeza ao ambiente. Fora o pai de Vincenzo que decidiu espalhar mudas de rosas azuis pelos jardins.

A fachada da mansão, com suas colunas majestosas e detalhes arquitetônicos requintados, transmite uma sensação de grandiosidade e nobreza. O átrio, com seu teto alto e vitrais coloridos, proporciona uma atmosfera acolhedora e imponente ao mesmo tempo, refletindo a riqueza e o prestígio da família que ali ainda reside.

Desde o momento em que se atravessava o portão, era possível sentir o aroma das rosas, uma fragrância que se impregnava facilmente na pele e que muitos associavam imediatamente a fragrância exalada por Vincenzo, o lorde das rosas azuis.

Mesmo estando tão próximo do mistério da morte de Vincenzo, Ettore ainda sentia que estava muito distante da verdade. O pai e os dois filhos mortos, esse era o resultado quando se envolvia no mundo do crime. No entanto, em uma família tão importante, as chances de algo assim acontecer eram praticamente inexistentes. Havia algum motivo que levou ao fim dos Marqueses de Monte dos Reis. Ao menos do irmão mais novo de Vincenzo, o pai desconfiou que foram os Arma Branca que o assassinaram com uma facada nas costas em um bar lotado. Leonardo ainda tentou fugir para o carro, mas na entrada do bar caiu desfalecido. A morte dos Marqueses provavelmente tinha algum interesse de poder.

Ettore estava andando pelo átrio, com a vista distante nas rosas, quando o celular tocou. Reconheceu imediatamente a voz de Enrico do outro lado da linha.

— Me mandaram resolver um problema logo cedo. Eu ainda não soube nada sobre ela.

— Liguei para saber de notícias dela, o aniversário dela está próximo, daqui a duas semanas...

— Quantos anos ela vai fazer?

— Dezenove.

Ettore pensou que a ligação tinha caído devido ao silêncio que se seguiu na chamada, mas depois de ouvir o murmúrio de Enrico, ele se adiantou.

— Eu posso passar na sua casa? Preciso conversar algumas coisas com você.

Era hora de tomar uma decisão. Um segredo pairava sobre Monte dos Reis, e qualquer um poderia sentir isso. A indecisão entre Eliane e Lorenzo, juntamente com a enganação em relação à garota ainda na mansão de Lorenzo, já eram suficientes para causar preocupação. Algo maior estava em jogo, e somente aqueles com os olhos bem abertos podiam perceber.

Com a chegada iminente de Nicolas e a nova votação em andamento, o mistério de Monte dos Reis estava se tornando ainda mais complicado de desvendar. Quem estava querendo tomar o poder de Monte dos Reis?

Provavelmente, Enrico sabia de alguma coisa e a estava guardando por lealdade a Vincenzo ou por algum motivo desconhecido. Ao sair de Monte dos Reis com a filha de Vincenzo, ele tinha ciência do motivo pelo qual Vincenzo optou por esconder a filha. Mas por que ele continuaria mantendo esse segredo? Especialmente agora, com a filha em Monte dos Reis, envolvida nesse mistério, havia o risco iminente de a situação se complicar ainda mais.

Enrico disse que ficaria aguardando o rapaz. Ele também não estava indo muito bem; durante o tempo em que a garota estava fora de casa, começou a conversar mais com o pai e acabou descobrindo que Gustavo pensava em voltar para casa. Iniciou mencionando que estava cansado da Espanha, planejando trazer apenas o casal de cães maltês e retornar à mansão.

Com tantas informações circulando e a filha em Monte dos Reis quase descobrindo a verdade, o retorno do pai que ele não se dava muito bem voltando para a cidade, e Ettore, que já se encontrava no salão fechado com Enrico, trazendo à tona assuntos mais sérios, a situação parecia cada vez mais complexa.

Enrico já teve a oportunidade de ver Nicolas uma vez. Ele era um homem muito alto, de olhos verdes oliva, mas seu rosto era fechado e comprido. Nicolas não se envolvia com Vincenzo e raramente comparecia aos bailes, pois não via necessidade em sua própria presença. No geral, não havia muito o que dizer sobre ele. Quanto à nova votação, certamente renderia discussões, especialmente envolvendo Eliane e Lorenzo.

— Ela me pediu para não te dizer a verdade. Tudo aconteceu no baile. A garota está agora na mansão de Eliane.

— Você sabe se ela chegou a saber de alguma coisa?

— Até agora não, mas ela estava querendo voltar para casa, tinha me pedido para falar com você para tirar ela da cidade.

Enrico ouviu atentamente as palavras de Ettore, com uma expressão séria e pensativa. Ele se afastou da poltrona, as palavras pairando em sua mente.

— Eliane pode querer se aproveitar da situação.

— Foi isso que pensei, ainda mais com o marido dela concorrendo na votação. Ela não aceitaria perder para um Marquese.

— Eu sei como estas disputas acabam. Se Eliane ainda não contou nada para ela, é melhor agir rápido.

 

 

A movimentação na mansão Villa Serenità começou logo cedo. Pasini se preparou para se encontrar com alguns conhecidos, enquanto Eliane, dando conselhos a seu marido, o instigava a fortalecer os relacionamentos. Ela enfatizava que qualquer simpatia no início poderia render resultados favoráveis posteriormente.

Eliane desceu as escadas com passos firmes, decidida a surpreender o filho no salão de estudo. Enquanto se aproximava, ouviu os ruídos distintos da bola de ping pong batendo contra a parede, indicando que ele estava ali, ocupado com alguma distração.

Luca interrompeu sua distração ao perceber sua mãe parada na porta com os braços cruzados.

— Nós temos visita na mansão.

— Eu sei.

Luca ficou incomodado ao ver sua mãe adentrando o salão. Observou-a dando voltas, com cada passo fazendo o salto preto tinir no piso de mármore.

— Deveria demonstrar simpatia quando necessário.

A bolinha de ping pong voltou a ser sacudida contra a parede, dessa vez com mais força, como se Luca estivesse tentando ignorar deliberadamente a conversa da mãe e o tipo de assunto que talvez ela estivesse tentando trazer à tona.

Luca encontrou-se com a garota na mesa para o café da manhã, mas nenhum dos dois se falou após cruzarem na escada.

— Você não tem vontade de conhecer outra pessoa?

Eliane viu o garoto segurar a bolinha nas mãos, interrompendo o lance por um momento antes de encará-la, deixando claro que entendia o que ela estava tentando dizer.

— Ela tem a mesma idade que a sua.

— E o que isso tem a ver? Eu tenho que me apresentar agora dizendo que eu sou um membro desta família? — Luca inicialmente aumentou a voz por conta da irritação, porém ao se dar conta de que havia se dirigido à mãe, ele conteve o sentimento por dentro.

— Não custa tentar.

— Está parecendo que é outra coisa.

— Eu digo o que é melhor para você.

— Já disse que eu gosto de Natália.

— Mas eu não gosto de Natália.

Eliane observou o rapaz engolir em seco suas próprias respostas. Luca ponderava muito antes de desobedecer, mas também não escondia a indignação, expressa claramente em seus olhos amendoados.

— Se você quer que nossa família continue a permanecer em Monte dos Reis, vai ter que fazer o que eu mandar.

Eliane estava determinada a fazer tudo o que fosse possível para garantir a vitória do marido na votação. Descobrir as intenções de Lorenzo em apoiar Nicolas foi o suficiente para ela perceber que, como sempre, ele esperaria alguma recompensa em troca do apoio prestado. Mal caráter e covarde.

Além de incentivar o marido a fortalecer os laços com os conhecidos, Eliane também coagia para que a garota se tornasse uma pretendente para o filho. Nessas horas, a diferença de idade não importava, pois Gigi, assim como Natália, já era maior de idade, mas ela seria mais útil para os objetivos da família.

Unir a filha de Vincenzo com Luca não só garantiria que nenhum outro Marquês estivesse à frente da família, mas também dos Rosa Azul. Embora fosse uma estratégia interessante, a maioria desconhecia a chegada da herdeira de Vincenzo. Provar o parentesco da garota seria trabalhoso, e essa notícia repentina poderia desviar os votos do marido. Pelo menos, se a garota ainda estivesse com Lorenzo, não haveria problemas; os votos dele, ou de quem ele apoiasse, seriam afetados.

Dizer a verdade para Gigi ainda não seria uma boa opção; no momento certo, ela usaria a filha contra o pai, mas apenas quando essa situação favorecesse a vinda da garota para o lado de Eliane. Neste momento, a Sociedade já conheceria a filha de Vincenzo, e nem mesmo Nicolas teria chances com um descendente legítimo e de direito.

Mesmo assim, não era uma situação em que Gigi fosse escolhida para ficar à frente da máfia. Enrico sabia que já estavam se aproveitando dessa situação; ela seria apenas a marionete para alguém mais esperto se aproveitar.

Ettore saiu de Pormadre após uma longa conversa com Enrico. Ao chegar na mansão de Eliane, ele manteve discrição. Quando disseram a Eliane que o rapaz estava na entrada, ela saiu para fora já suspeitando de sua aparição.

— Vim saber de Gigi.

Eliane mostrou surpresa, seus olhos se arregalaram ligeiramente diante da intimidade dele ao usar o apelido da moça.

— Eu lhe disse que avisaria a você sobre mais notícias. Por acaso, você disse alguma coisa a Enrico?

— Não, é que eu só... queria saber dela. Enrico continua me ligando, mas eu só respondo o necessário. Também o aniversário dela está chegando e eu pensei em garantir o parabéns antecipado.

Mesmo não estando muito convencida com a conversa do rapaz, Eliane mandou chamarem a garota no quarto. Ettore esperou por ela no átrio, preferindo ficar encostado na porta do veículo e retornando assim que a viu na entrada.

Ele a viu se aproximar sem jeito, as mãos escondidas dentro das mangas, como se buscasse conforto na própria vestimenta.

— Vim avisar que você precisa fazer as malas. Seu pai mandou avisar que vai tirar você daqui.

 

 

 


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