Lá estava ele naquela fria noite, mais uma vez em um evento beneficente organizado pelo seu pai. Os sorrisos e conversas forçadas eram a pior parte. Ele detestava completamente fazer sala para as pessoas, ainda mais a desconhecidos. A insinceridade que as pessoas conversavam nesse tipo de ocasião era abismal, puro jogo político.

Mas tudo mudou quando os olhos cinzas de Draco encontraram com um belo par de olhos verdes.

O dono das esmeraldas era um garoto acompanhado de um casal, provavelmente seus pais, concluiu Draco. O menino era uma cópia do homem mais velho e a mulher tinha os mesmos olhos incrivelmente verdes.

A recepcionista liberou o acesso a eles após conferir a lista de convidados. O garoto olhou curiosamente para Draco quando a família passou por ele em direção às mesas. Seus olhos pareciam perguntar algo e Draco sentiu uma sensação encantadora.

O tempo passava e Draco continuava a fazer sala para os amigos de seu pai que chegavam, puxava o saco de alguns políticos, fazia campanha para eleitores e coisas do tipo. Mas sempre que podia, ele direcionava olhares para aquela família. Eles estavam sentados do outro lado do salão.

Draco estava cansado, já havia feito campanha o suficiente por aquela noite. Quando o bar abriu, ele julgou uma boa ideia parar e relaxar um pouco.

Ele estava tão entretido deliciando seu Strawberry Piña Colada que não percebeu a silhueta caminhando em sua direção desde o outro lado da sala. “O mesmo que ele”, disse o garoto ao bar man quando se sentou ao seu lado. “Desculpe, mas já nos conhecemos? ”, perguntou ele.

Draco finalmente percebeu a presença dele ao seu lado. “Não”, respondeu. Definitivamente não. Ele com certeza se lembraria daqueles olhos se já os tivesse visto.

O bar man entregou a bebida do rapaz. “Meu deus,” disse ele após bebericar “isto é muito bom. Qual o nome? ”

“Você pediu um drink que não conhecia? ”, o rapaz confirmou com a cabeça. “Por quê? ”

“Bem, você estava tomando, ” ele apontou para o copo de Draco, “ — e me desculpe, mas você não aparenta ser do tipo que bebe coisas fortes — então achei uma boa ideia pedir algo igual. ”

E realmente Draco não gostava de bebidas fortes. “É tipo uma Piña Colada, mas tem morango também. O nome é Strawberry Piña Colada”.

O garoto confirmou com a cabeça. “Aliás, ” ele estendeu a mão para Draco em um cumprimento “meu nome é Harry. ”

Draco aceitou o cumprimento, apertando a mão de volta. “Me chame de Draco. Então, Harry, ” começou Draco, sem saber exatamente sobre o que deveriam conversar, embora todos os seus instintos implorassem por isso, “qual sua idade? ”

“Vinte e um”.

“Legal, eu também. Suponho que você estude ou trabalhe. Eu estudo medicina, sabe, é bem puxado e não tenho tempo para trabalhar ” Draco estava se mordendo por dentro, como podia ser tão bobo? Estava tendo uma conversa ou fazendo uma entrevista? E por que estava falando tão rápido, emendando um assunto no outro?

“No momento eu não trabalho, estou apenas estudando para fazer a prova da polícia ” disse ele enquanto terminava de beber seu drink. Ele fez outro pedido para o bar man e Draco o acompanhou. “Sabe, eu acho medicina uma área bem interessante. ” Draco deu de ombros. “Você não gosta de estudar isso? ”

“Não muito, eu acho” ele bebericou seu drink, girando o dedo pela borda do copo “Meu pai meio que quis que eu fizesse medicina, então eu faço. ”

“E você tinha alguma outra pretensão de curso? ”

Draco suspirou. “Na verdade, não. Eu não sei bem o que eu realmente quero da minha vida. Tem vezes que eu penso em apenas sumir, sabe? Pegar uma mochila com algumas roupas, um bom perfume, um canivete e desaparecer. ”

Harry o olhou cético. “Um perfume, sério? Com tantos itens melhores, você escolheria um perfume? ”

“Nunca, jamais na vida você me veria sem perfume” disse Draco em um tom extremamente sério.

“É, realmente o seu cheiro é muito bom ” Draco corou e agradeceu pela iluminação no bar ser mais fraca, impedindo que Harry percebesse o rubor em seu rosto. “Lavender Blue? ”

“S-sim. Entende de perfumes? ”

“Nem um pouco, ” Harry encolheu os ombros “mas acho que o perfume que minha mãe é o mesmo. Chutei e acertei. ”

“Oh. ”

As unhas de Draco pareciam ser a coisa mais interessante do mundo naquele momento. Ele não era muito bom em conversas, nunca tinha assunto, era uma pessoa bastante desinteressante em sua opinião. Talvez fosse por isso que não tinha amigos e estava solteiro.

“Você sempre frequenta leilões beneficentes? ” perguntou Harry, quebrando o gelo.

Draco suspirou. “Quando é meu pai quem organiza, sim. O problema é que ele sempre faz esses eventos e eu preciso ficar fazendo sala para os amigos dele, tentando conseguir votos e alianças. É um saco. ”

“Se o seu pai é o organizador deste evento, isso quer dizer que você é filho do governador Malfoy. ”

“Sim. ”

“Seu pai tem umas ideias bem absurdas, devo dizer. Meus pais não gostam muito dele- ”

“Olha, ” cortou Draco “sem quer ser rude, mas não tenho o mínimo interesse em discutir política com quem quer que seja, principalmente se a conversa envolver meu pai. ”

“Certo, me desculpe ” Harry bebericou mais um pouco de seu drink, deus, aquilo era realmente muito gostoso. “Você gosta de música? ” ele perguntou após escutar atentamente a canção que era reproduzida pelas caixas de som distribuídas pelo salão.

“Gosto, claro. Na verdade — voltando àquela questão sobre o que eu gostaria de fazer se pudesse escolher — acho que musicista seria uma boa opção. ”

“Você toca algo? ”

“Piano, muito bem modéstia à parte. ” Draco inflou o peito em sinal de orgulho. “Tive aulas desde os seis anos. ”

“Gosto de piano, já me atrevi a tentar uma vez, ” Harry fez uma careta ao se lembrar da cena, “mas não tenho coordenação motora para isso. ”

“É questão de treino, com o tempo você adquire uma coordenação melhor. Paciência é a chave para a música. ”

“É, eu sei, mas digamos que não sou a pessoa mais paciente do mundo para me dedicar a coisas que exijam muito tempo para se aperfeiçoar. ”

Draco o observou por um tempo, Harry tinha um bom físico, precisava ter já que queria ser policial como tinha dito antes. “Mas você frequenta a academia, certo? ”

“Sim. ”

“Então, também é preciso tempo e dedicação para ter um bom físico. ”

Harry sorriu, Draco estava certo. “É, você me pegou ” disse ele encolhendo os ombros. “Acho que esse é um caso de coisa que você gosta, mas não o suficiente para se dedicar. ”

“Entendo, sou assim com academia. ”

Os drinks acabaram e mais uma vez eles pediram o bar man outra rodada. Harry estava viciado naquele frescor adocicado. “Gosto dessa música que toca. ”

“É o Pas de Deux do Quebra-Nozes. ”

“Já participei de uma peça do Quebra-Nozes na escola, foi no 3º ano. ” Harry deu mais um gole em seu drink. “Eu queria ser o próprio Quebra-Nozes, mas não consegui o papel. ”

“Suponho que tenha sido o Rei Rato, então? ”

“Fui a árvore de Natal da sala da Clara. ” Draco engasgou com a bebida, ele riu, riu como se sua vida dependesse disso. “Meus dotes artísticos são péssimos, a professora notou isso bem cedo durante meu teste. ”

“Espero que você não tenha pego raiva da peça por conta disso” comentou Draco, enquanto enxugava as lágrimas de riso que escorriam pelo seu rosto.

“Na verdade, eu me diverti bastante. ” Draco inclinou uma sobrancelha em descrença. “Juro, depois que eu vi que teria que decorar um monte de falas, fiquei grato por só precisar ficar em pé por dois minutinhos com pisca-pisca em volta de mim. ”

“É um pró. ”

“E você? Nunca participou de nenhuma peça na escola? ”

“Não na escola. Quando eu era mais novo eu fazia balé, e ,como eu era o único garoto na aula, eu sempre ficava com o papel de Siegfried em alguma apresentação. ”

“Sig-quem? ”

“O príncipe do Lago dos Cisnes. ”

“Eu nem sabia que ele tinha nome. Nunca assisti ao balé. ”

Draco ergueu as duas sobrancelhas e arregalou um olho em espanto. “Você deveria ser preso por isso. É um crime hediondo nunca ter assistido esse clássico. ”

A conversa continuou a fluir de uma maneira ótima. Harry descobriu que Draco tinha talento para várias áreas artísticas além de piano e balé, ele sabia pintar e até mesmo escrevia. Era um mistério para Harry que Draco não soubesse o que realmente queria fazer da vida, ele demonstrava bastante interesse em várias coisas.

Draco, por outro lado, percebeu que Harry era muito ativo e estava sempre em algum canto no interior fazendo trilhas, acampando com amigos e coisas do tipo — coisas da qual Draco tinha alergia só em pensar.

Também tiveram uma discussão amistosa sobre qual era o melhor jogo da atualidade, Draco jurando de pé junto que RDR2 era o melhor e apontava os motivos, já Harry teimava que era GTA V, embora ambos tenham concordado que GOW talvez fosse superior.

E à medida que iam conversando e encontrando coisas em comum, faziam discussões saudáveis e pediam outra rodada de Strawberry Piña Colada, Draco foi percebendo que estava sendo encantador conhecer Harry.

Tudo que ele poderia dizer sobre aquela noite era que ele estava encantado por conhecê-lo.

Aquela noite estava tão incrível que ele mal percebeu que o leilão já havia acabado e os convidados estavam se retirando do salão. Os pais de Harry se aproximaram dos dois o chamando para ir embora. “Tudo bem, vou em um minuto” disse ele. “Quer me passar seu contato? ” perguntou Harry estendendo seu telefone para Draco.

Antes de pegar o aparelho, Draco deu um último gole em seu drink, ele não percebera o bigode que se formara em seu filtrum nasal. Impulsivamente Harry aproximou sua mão e limpou a espuma com o polegar. “Desculpe, estava sujo” disse ele após Draco corar e entregar o celular.

“Bem, adeus ” disse Draco estendendo a mão.

Draco se virava para ir embora quando sentiu a mão de Harry em seu ombro. “Você esqueceu uma coisa ” disse ele.

“O que-”

E quando se virou novamente, Harry o puxou para perto de seu corpo, seus olhos procurando alguma confirmação nos de Draco. Seja lá o que Draco tenha feito, foi um sinal verde para Harry continuar.

E então, eles se beijaram.

Fora um beijo rápido, mas encantador. A língua de Harry se entrelaçava à sua de todos os jeitos, os lábios seguindo os movimentos. As mãos de Harry seguraram firme a cintura de Draco enquanto ele sentia uma fraqueza em seus joelhos, deus, ele queria desmaiar.

Infelizmente eles precisaram interromper o beijo quando a mãe de Harry, muito envergonhada, voltara para chamar o filho mais uma vez.

Draco estava maravilhado e poderia passar a eternidade toda se perguntando se Harry também se sentira assim. Ele estava rezando para que essa despedida não tenha sido o fim, mas sim o início.

***

No banco de trás do carro, Draco lembrava de tudo o que ocorrera durante a noite, ela havia sido perfeita, ele corou por todo o caminho para casa. Ele se perguntava se Harry desconfiava que Draco havia ficado encantado por conhecê-lo.

Ás duas da madrugada ele andava para lá e para cá em seu quarto, ansioso por uma resposta, o celular em cima da cama. Por favor, não esteja apaixonado por outra pessoa, pensava ele enquanto andava.

O aparelho vibrou e uma notificação de mensagem acendeu a tela.

Harry enviara uma mensagem chamando-o para um encontro.