O Relógio De Bolso De Chloe Diaz escrita por Charlie


Capítulo 1
Festas são inúteis


Notas iniciais do capítulo

a primeira frase de todos os capítulos é a musica tema de cada capitulo. se puderem ouvir lendo, a experiência fica melhor. espero que gostem (:



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DANCING WITH MYSELF – GENERATION X

Eu estou numa festa a fantasia, e tipo, fala sério? O quão ridículo isso é? Se você se esforça e faz uma fantasia foda, fica ridículo de esnobismo. Se você taca um foda-se e faz uma péssima, fica ridículo de ignorância. Eu vim para a festa com uma roupa casual já que não sou doida de parecer um dos dois, mas acho que nessa tentativa acabei parecendo uma adolescente chata que não gosta de nada do que as pessoas da idade dela gostam. Eu não gosto de especificas comidas – principalmente doces e salgadinhos de saquinho – não gosto de ler, não gosto de assistir séries nem filmes, não gosto de ouvir música alta como está aqui, não gosto de dormir tarde, não gosto de conversar, não gosto de nada. A única coisa que eu gosto é dormir, durmo praticamente o dia todo depois que chego da escola.

Pego meu celular e coloco nos fones de ouvido uma música que eu gosto: Dancing With Myself de Generation X e vou para a pista de dança. Danço igual uma pessoa que não sabe de nada de dança. Ando de um lado pro outros com as pernas juntas agachando e levantando. Balanço meu cabelo de um lado para o outro, mas começo a suar e prendo em um rabo de cavalo.

— Chloe! – grita um garoto que eu nunca vi na minha vida – quer dançar comigo?

Tiro um lado do meu fone de ouvido

— Eu nem te conheço. Porque tá falando comigo? – grito de volta.

— Porque você é a garota mais gostosa da escola e todo mundo sabe disso.

Dou um tapa na sua cara e saio andando. Mas ele tem razão, eu sou mesmo uma gostosa e me pegaria, porém, eu não aceito ouvir isso de garotos que fumam qualquer coisa – principalmente a parte de garotos – e eu sei que ele fuma por causa do seu cheiro ruim de cigarro. E tipo, sinceramente, tem quem acha isso sexy e atraente? Isso me da repulsa. O ambiente escolar é um inferno, mas já é melhor do que fica rem casa com uma mãe narcisista e um pai alcoólatra. Porque eu fui inventar de vir nessa festa de colégio? Tipo, aqui tem tudo que eu odeio. Adolescentes caóticos – que fumam e bebem igual idiotas – professores que eram para cuidar dos alunos, mas ficam de conversinha entre si, e muita gente me assediando, tipo, muita. Paro a música, tiro meus fones de ouvido e guardo o celular. Saio para fora e encontro minha melhor amiga conversando com um cara mais velho que ela, e isso me deixa furiosa e eu não sei porque. Tipo, tenho uma opinião polêmica sobre pedofilia – depois dos quatorze você pode namorar pessoas de qualquer idade sem ter relações sexuais, diz a lei. Mas tipo, se manque! Isso é totalmente antiético e estranho – mas nunca fiquei assim, com esse sentimento que não sei descrever por alguém especifico. Bem, ela é minha melhor amiga.

— Natasha, você acha bonito isso?

Ela me olha furiosa e o cara se retira.

— Porque fez isso!? – ela exclama.

Dou de ombros.

— Você sabe sobre minha opinião sobre pedofilia então nem venha me perguntar o que foi.

Ela gesticula algo que eu suponho ser indignação e vai embora. Me sinto culpada se a magoei, mas não está certo ela ficar dando em cima de um cara de trinta anos no máximo.

Tem momentos que eu só queria viver outra vida em outra época. Tipo, como seria uma versão minha dos anos setenta? Uma garota loira que usa coques, camisetas coloridas de bandas e calças flare? Eu realmente não sei. Poder experimentar mudar de vida e época a hora que quisesse seria muito interessante. O único problema seria que uma garota lésbica da minha idade no Brasil, nessa época seria complicado. De qualquer forma, amo os anos setenta, mas suas particularidades sobre racismo, gordofobia, homofobia e transfobia não. Quase ninguém admite que os anos cinquenta até noventa são péssimos para se viver sendo minoria. A maioria romantiza essas épocas e tipo, qual o problema dessas pessoas? Isso é muita falta de estudo.

. . .

Me jogo na cama e descido que vou dormir. Porque ficar acordada se posso dormir e esquecer várias coisas ridículas que fiz no dia? Tipo dar um tapa na cara de um garoto escroto, talvez magoar minha melhor amiga e sei lá, outras coisas de manhã como surtar e fazer uma campanha a legalização do aborto dentro de casa e quase ser expulsa. Mas é sério! Aborto não seria a mesma coisa que bater uma? Porque um é normalizado e o outro é problematizado? Enfim, de qualquer forma, vou dormir e espero que não seja acordada.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado :)