Leah e Jacob: um amor mortífero escrita por Batatinha


Capítulo 4
Capítulo 4




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Os olhos tristes mais lindos que já vi. (Joab Brandão)

 

 

Jacob conheceu a excêntrica Leah em 2008. Ele não tem uma explicação plausível, mas por algum motivo, se lembra exatamente daquele dia: 

 

Era início de dezembro e tudo gritava: aproveitem o momento! Ele não tinha muito o que se preocupar nessa época, sua vida resumia em faculdade, engenharia, futebol americano, festas, os amigos e as garotas. O moreno possuía tudo que um jovem adulto poderia querer, menos uma coisa, ou melhor uma pessoa: Bella Swan, sua amiga de infância e seu desejo amoroso desde sempre. 

 

Entretanto, com um pouco de sorte, ou com muita sorte — ele implorou muito para que a linda lua cheia que iluminava o céu naquela noite ajudasse-o, nos livros que as irmãs liam sempre funcionavam — Jacob mudaria aquele status de “amigo” naquela noite. Depois de muito refletir, chegou a conclusão que precisava contar tudo o que sentia para Bella, isso ou ele morreria com tudo que sentia entalado na garganta. O jovem só não contava com um pequeno detalhe: encontrar o seu grande e inatingível amor aos beijos com o rei dos idiotas, Edward Cullen.

 

Jacob Black quis quebrar a casa do cunhado em pedacinhos, queria quebrar qualquer coisa que estivesse à sua frente, principalmente, aquele protótipo mal feito do Charles Bingley. Sabia que seria egoísta pensar daquela forma, mas, porra! Sério que aquele água de salsicha era mais interessante que ele? Não era possível, não era. Tinha plena consciência de seu descontrole. Contudo, quem possui controle quando se está apaixonado por uma mesma pessoa por seis malditos anos e, no momento se encontrava com o coração quebrado porque foi trocado por um almofadinha qualquer. Caralho! Ele tinha licença poética para agir feito um imbecil selvagem, mas sabia que agir daquela forma afastaria a Bella para sempre de sua vida, e não era isso que queria, pois preferia vê-la beijando aquele cara e sendo feliz, mesmo aquilo custando seu estoque de felicidade. 

 

Então Jacob acabou tomando uma decisão muito sensata, iria para casa e dormir, assimilar o coração partido e depois seguiria sua vida, torcendo para a amiga perceber o quão ruim foi sua escolha, e ele faria o possível para isso, nem que isso custasse todo seu tempo e emocional.

 

— Ei cara, te procurei por toda parte. Vamos animar isso aqui, nem parece uma festa e sim, um velório. Tenho umas ideias de jogos bem maneiros e quentes… — o sorriso malicioso de Embry clareava seu rosto, mas desfez-se ao olhar para amigo. — O que aconteceu?

 

— Nada. Só não estou no clima hoje, vou para casa descansar a mente.

 

—  Os jogos começam na próxima semana, essa é nossa última comemoração antes dos jogos, vamos aproveitar, Deus sabe quando podemos ser irresponsáveis novamente. Só temos a porra de uma vida e você quer mesmo desperdiça-la dormindo? 

 

— Mano, maneira na erva e na autoajuda, esse é o trabalho do treinador Charles e não o seu.  — o moreno revirou os olhos, Embry estava alterado e se descobrisse o que Jacob tinha acabado de descobrir, bem, a paz do Black acabaria ali; isso, ou Embry tentaria fazer com que o amigo esquecesse a amada da forma mais obscena possível.

 

— É a Bella não é? Desencana, cara! Ela não liga para você, aliás soube que ela está ficando almofadinha do Cullen. Vá viver, Black! E deixe a garota viver também. — agora Jacob pensava em chutar a cara do amigo. — Meu amigo, você pode ter quem quiser, na hora que quiser, e tu quer justamente quem te trata como um irmão mais novo, e você sabe que ela não te quer. 

 

Custava mentir um pouco? — pensou Jacob. Sabia que o amigo tinha razão, naquele momento ele não ter nada, muito menos razão. Só queria tirar aquele sentimento ruim do peito e sumir daquela festa. 

 

— Você está certo, cara! Vou dar uma volta, tomar umas cervejas e quando eu voltar iremos animar isso aqui. — abraçou o amigo, fez o costumeiro aperto de mão e pegou a primeira cerveja que achou na frente. 

 

O Black observou as pessoas a sua volta, e que merda, todos pareciam tão felizes dentro daquela bolha de espetáculo, era estranho pensar que há minutos atrás, ele era uma daquelas pessoas. Deu um gole na cerveja e saiu pelos fundos da casa de Paul, seria mais fácil escapar por ali sem que ninguém o percebesse. Ele acenou para Quil Ateara, Jared e Sam Uley, rezando para que nenhum puxasse assunto, mas por sorte, todos pareciam muito bêbados para conversar, menos o Sam, mas ele estava mais preocupado em manter sua boca ocupada na boca da Emily.

 

Jacob só não contava com uma coisa: encontrar Leah Clearwater em um estado deveras peculiar, com uma garrafa de vodka barata e um maço de cigarro, sentada na pilastra dos fundos da casa de Paul e admirando a lua à sua frente. Era estranho aquilo, ele conhecia a garota, pois era irmã do Seth, seu amigo e ex namorada do Sam. Que loucura! Será que estava ali para não ver o Sam e a Emily? Black afastou esse pensamento, o que quer que a Leah estivesse fazendo ali não era de sua conta. Ele deveria ter ido embora, mas de alguma forma esquisita, a curiosidade falou mais alto.

 

— Ei, não se te informaram, mas a festa está acontecendo dentro da casa. — por um momento, ele se viu colocando um sutil sorriso no rosto.

 

—  Sério? Acredite, ninguém passou-me essa informação! Me sinto grata por ter avisado. — virou-se e continuou a observar a lua. E Jacob só conseguia pensar: é uma megera, bonita, mas megera. O pessoal não estava errado sobre isso. — Bem, se a festa está tão boa, o que faz aqui?

 

— Sei lá, respirando ar puro, recarregando as energias. — foi a primeira vez que tentou omitir algo para Leah, e então ela sorriu, não qualquer sorriso, mas o sorriso de: você mentindo e eu sei.

 

— Entendo! Seria inconveniente perguntar o porquê de está indo embora tão cedo? Quer dizer, isso não combina com sua fama.

 

—  E que fama seria essa, Clearwater? — ele precisa ir embora, entretanto ficou interessado no que a garota tinha a dizer.

 

— Ah, por favor! Você sabe do que estou falando? E trate de tirar essa feição convencida do rosto, eu não estou flertando com você!

 

Aquilo fez Jacob se aproximar um pouco mais. Por que ele nunca conversou com ela antes? Ah, ela podia ser bem irritante quando queria, lembrou-se. E era tão reservada e quieta. 

 

— Tenho minhas dúvidas. E acredite, poucas meninas resistem ao meu charme, pergunte ao seu irmão. — ele já tinha visto a garota que ama beijando outro, e agora não queria ser esculachado por uma desconhecida, mas não tão desconhecida. 

 

—  Acredite você, eu sei. Você é padronizado do jeito que as garotas gostam, mas existe uma versão sua em cada universidade, cidade e Estado, mudam só o nome. Até nos livros existe um bonitão igual a você, porém, eu prefiro sua versão literária, criada por mulheres, de preferência. — Ou a vodka estava agindo no organismo, ou aquela garota não o suportava. Ela puxou um cigarro e ofereceu-o, e ele aceitou.

 

—  Entendi! Sabe, talvez eu também saiba sobre seu tipo de personalidade, talvez seja a garota que finge não importar-se com as coisas para ver se coisas importam-se com você, porque é bem mais fácil supor e quebrar as expectativas, do que lidar com as decepções. É, acho que já conheci algumas de você. E acho também que você está com medo de flertar comigo e acabar apaixonada! — Porra! Por que diabos ele estava falando aquilo?

 

Leah gargalhou. Virou um copo de vodka, e lentamente deu quatro tragada em seu cigarro. 

 

— Ah, bobinho! Sente-se aqui. — bateu a mão no lugar vago ao seu lado e esperou o moreno sentar-se. — Julgo que talvez isso não possa acontecer por dois motivos: primeiro, você não faz meu tipo e segundo, acho que seu coração já tem dona. E só isso explica você está aqui fora com lata de cerveja quente, conversando comigo, enquanto poderia está lá, vivendo sua juventude.

 

E foi assim que Jacob conheceu a Leah. O que Jacob não sabia era que, sim Leah tinha uma espécie de intuição muito forte, ela sentia as coisas e mesmo depois de anos ele nunca conseguiu mentir para ela. Ele também não sabia que ficaria por quarenta minutos conversando com aquela garota e no final oferecia uma carona para ela. Não sabia que abriria seu coração e contaria tudo sobre seu amor não concretizado por Bella, pois achava que nunca voltaria a falar com Leah novamente. Ele não sabia que ela iria se tornar sua confidente de vida.

 

Jacob também não sabia que Leah estava com o coração partido naquela noite, ela tinha sido trocada pela melhor amiga. No final perdeu o namorado e a irmã do coração, Black tem certeza que essa perda afeta a amiga até nos dias atuais. Ele sabe também que ela reconheceu seu coração partido, e ela foi a única para quem ele abriu o coração, e até hoje, é para ela que ele corre para contar qualquer coisa. E por que estava relembrando-se disso?

 

Ah bem, porque naquele momento, os dois estavam fugindo de coquetel extremamente chato; Jacob estava curtindo muito, mas quando olhou para amiga percebeu que ela pedia socorro pelo o olhar, toda vez que Leah estava nervosa, desconfortável ou ansiosa, ela balançava os pés constantemente, colocava uma mecha invisível atrás da orelha e traçava uma pulseira imaginária nos pulsos; sem contar que escrevia no bloco de notas sem parar só para amenizar a vontade de ir embora. Então, quando ele olhou para a tela do celular de Leah e viu que ela estava escrevendo "tédio" sem parar, ele não pensou duas vezes. 

 

— Vamos sair daqui? — perguntou para a morena e Leah não questionou, pegou sua bolsa, despediu-se dos amigos e seguiu Jacob.

 

Agora eles estavam fazendo uma caminhada noturna, Leah falava sobre alguma coisa, mas Jacob não conseguia prestar atenção, sua cabeça resolveu fazer uma retrospectiva da amizade deles. Ele sentia que podia andar até o amanhecer, ela causava essa sensação nele, de liberdade, e talvez, por isso, e também pelo fato de o tempo passar rápido demais quando estão juntos, que Jacob estivesse sentindo-se muito grato por aquele laço que ambos possuíam.

 

Ele se deu conta que queria ir para casa, mas a medida que ia chegando perto do 102, algo dentro dele não queria afastar-se de Leah, mas tinha um motivo bem plausível para essa vontade desesperado: desde que a morena se mudou para o outro lado do mundo, ele sentia como se o tempo estivesse sempre correndo para eles, e Jacob não gostava desse sentimento, sentia falta de quando podia passar dias e dias ao lado da amiga sem se preocupar no dia de sua partida e na despedida. 

 

Ainda restava uma semana inteira com a Leah, entretanto ele queria aproveitar cada segundo. Matar a sede que sentia pela companhia dela. E isso significava que ele não permitiria ir embora para casa e deixar Leah na casa do Seth. Queria passar as noites com ela também, por isso teve uma brilhante ideia:

 

— Lee? Tenho uma proposta. — a morena soltou o braço dele por um momento para escutá-lo. — Tenho duas garrafas de Catena Zapata em casa, e sinceramente estou só esperando uma chance de secá-las.

 

— Sinceramente, estou cansada, meus planos para essa noite são cochilar e dormir.

 

— Você pode dormir melhor depois de uma garrafa de vinho, segundo alguns estudos. — como ele sentia falta daquela expressão no rosto dela. — Sério, sei  que sua idade já não permite esse tipo de apreciação, mas por uma noite não mata.

 

— Muito engraçado! Já pensou em investir stand up de comédia? Talvez obtenha mais sucesso que na vida amorosa, eu não acredito que você ignorou a Gianna durante o coquetel inteiro, ela não parava de olhar para você, e vocês ficaram juntos por três meses, não custava nada cumprimentá-la e me apresentar. Você precisa parar de afastar todas as mulheres por quem possa desenvolver sentimentos.

 

— Ei, pode parar de bancar o Freud, minha vida amorosa é ótima, só tenho tempo para investir em meus relacionamentos, e sou muito claro quanto a isso, você sabe…

 

Leah gargalhou.

 

— Blá, blá, blá! Esse discurso justamente para mim, Jacob Black, você é tão limitado amorosamente quanto eu, por isso somos tão amigos, dois limitados no amor por um coração partido no passado. — ela voltou a pegar em seu antebraço, e achegar-se para perto dele, era a forma dela demonstrar confiança. — Tenho uma ideia melhor, vamos secar as duas garrafas enquanto analisamos nossas vidas amorosas, iguais fazíamos antigamente, sinto falta daquelas sessões gratuitas de terapia. Vamos, vamos, Jacob, por favor, quase nunca venho aqui, deixe-me ser feliz te analisando. 

 

— Tudo bem, mas não somente minha análise que será feita, a sua também. Quero saber tudo sobre esse Henry, e não, não adianta omitir nada, sempre descubro no final.

 

Chegaram na casa de Jacob em menos de quinze minutos, Leah se jogou na poltrona mais próxima, como fazia nas noites aleatórias no início da amizades, ele perderá as contas das madrugadas que os dois passavam jogando conversas fora e bebendo os vinhos mais baratos do mercado, naquela época a vida adulta parecia tão distante e tudo era tão novo. No final, a única coisa que permaneceu igual foi sua amizade com a garota que, agora ocupava-se em tirar os saltos e jogá-los em qualquer lugar da sala.



— Hum… e foi isso: por um momento, achei que o Henry seria, não minha alma gêmea, mas alguém ideal. Então eu percebi, ele sequer me escutava. Tinha uma necessidade patológica de participar de todas as festas existentes, amava o fato de contar para os colegas que eu era dona de uma franquia de restaurantes, mas se limitava a falar que  eu desisti da universidade para dedicar-me à cozinha. E só me elogiava nas frentes dos conhecidos. Ele vivia em um grande espetáculo, e você sabe, eu não sei fingir as coisas, isso o irritava. — Jacob sempre soube que Henry era um babaca, se viram apenas duas vezes e foi o bastante para ele saber, sua amiga merecia alguém que reconhecesse a mulher extraordinária que era de verdade, não só as partes boas, mas os defeitos também. Todavia, Henry só iluminava a parte empresária de Leah, ele não a enxergava como uma mulher, sem contar que parecia ter uma inveja velada da personalidade e escolhas da amiga, ele não tentou amá-la e sim competir com ela o tempo inteiro. — Logo, meu corpo e subconsciente fez algo incrível, começou a expulsar ele lentamente, o véu foi sendo retirado e eu o vi.

 

Jacob abriu a garrafa e serviu a si mesmo e à amiga, sentou ao seu lado, no chão mesmo. Observou quando Leah experimentou o vinho, e sorriu, sabia exatamente o que ela ia falar, sorriu mais ainda quando ela falou: “Que nenhum especialista em vinhos caros me escute, mas meu paladar e o momento pede somente o vinho mais barato, doce e de origem mais duvidosa encontrado.”

 

— Você não tem classe, Clearwater. — brincou, mas não esperava o empurrão que recebeu. — Continuando, e o que finalmente retirou o véu?

 

— Ah, ele gostava de flertar, de forma natural, e esse foi um dos motivos que fizeram-me notar-lo, mas ele não parava, mesmo depois de estarmos juntos. E um belo dia, lá estava ele em uma cafeteria com a nova colega de trabalho, falando com ela exatamente como falava comigo, e esse homem, não cansava de falar dela, pegou a obrigação de levá-la para casa depois do trabalho. Então percebi que eu estava atrapalhando aquele relacionamento. 

 

— Odeio falar isso, mas eu te avisei! O cara cheirava a idiota, e tinha aquele problema de querer se provar para todo mundo, essas pessoas são leais somente aos que as outras pessoas pensam sobre elas, não tem a capacidade de serem leais a ninguém. Você precisa parar de tentar pegar as pessoas quebradas e consertá-las, Lee.



— Eu sei, porém é difícil admitir, e olha que jurei que depois do Sam, nunca eu me permitiria passar por certas situações, mas a vida adora me contrariar. Sem contar que eu tenho uma queda por caras com um passado sombrio.

 

— Ah, Clearwater, esses filmes de romances que você gosta estão te estragando.

 

— Falou o bem resolvido, por favor, não faça shows para mim, tire a máscara e admita, você e eu somos iguais, querido. — ela agora estava ao seu lado, metade da garrafa vazia. Jacob estava morrendo de saudade daquilo, encheu a taça de Leah novamente, e aproveitou para sentir a pele macia da amiga. 

 

— Em reprimir sentimentos e fingir que eles não existem? Se for isso, eu concordo. 

 

— Seu comportamento me cansa na maioria das vezes. Tia Sarah me ligou esses dias para eu que eu fizesse uma intervenção na sua vida, disse que você estava abrindo mão da futura mãe dos netos dela, ela disse as seguintes palavras: Minha filha, aquele menino está louco! Destruindo a vida dele e a minha, preciso de netinhos! — Outra curiosidade sobre Leah: ela amava se divertir à custa dele, sempre gostou, pensou Jacob. E às vezes, ele se pegava falando e fazendo coisas idiotas para ver aquele olhar de divertimento e pura malícia. — Preciso ir ao banheiro, pegue a outra garrafa, quando eu voltar você me explicará o motivo da sua loucura repentina.

 

De fato, algumas coisa não mudavam, uma garrafa e Leah já se encontrava alegrinha, dali para frente ela faria inúmeras análises sobre ele, depois falaria sobre seu filme favorito: Antes do amanhecer, ela sempre tinha uma nova percepção sobre o filme a cada ano; no início, Jacob não aguentava assistir ou ouvir as teorias, mas com o passar do tempo, ele mal podia esperar para escutá-la falar qualquer novidade sobre Celine e Jesse. E logo depois, ela ficava vulnerável e contava alguns segredos como: eu gosto mais de How I Met Your Mother do que Friends; ou, o Capitão América é superestimado. E pior que ele ouviu: odeio chocolate, mas socialmente preciso gostar. Aliás, foi em algum desses estados de vulnerabilidade que ela contou que queria ir embora para longe.

 

— Jacob! — Leah gritou do banheiro. —  Não te contei! Sabe quem eu vi ontem no chá de bebe da Claire? Bella Swan! Lembra que você era louco por ela até recentemente? 

 

— Ah, Leah, pelo amor de Deus! Esquece isso…

 

— Não me interrompa, seu mal educado! Ei, vou colocar minha playlist novas, minhas músicas francesas prediletas, são achados da minha viagem no ano passado. — sua casa agora seria absorvida por ela.  — E outra coisa, sabe que dia é hoje? 

 

— 07 de dezembro? — arriscou Jacob.

 

— Isso! — Leah voltou para o lugar de antes, agora observava Jacob de maneira curiosa. — E o que você estava fazendo no dia 07 de dezembro de 2008? 

 

Foi o dia em que se conheceram, não, não, pensou Jacob, eles já se conheciam. Foi o dia que viraram amigos, o dia que, ele relembrou enquanto observava Leah no coquetel, precisava conferir, e sim. Sim, há treze anos ele ofereceu uma carona para uma Leah de coração partido, que até então era só a irmã de um amigo, mas depois daquele dia, Leah se tornou uma parte importante da sua vida. Ele se perguntou o porquê ficou e conversou com ela, sendo que ele tinha acabado de ver a mulher que amou durante anos aos beijos com outro.

 

— Nosso aniversário de amizade, eu me esqueci completamente, me perdoe, Leah. — ele realmente não se lembrava, mas eles nunca comemoram aquela data…

 

— É algo imperdoável, Black! Achei que fosse importante, mas… — disse ela séria, mas logo caiu na risada, e só assim, ele voltou a respirar. — Brincadeira! Nem eu lembrava mais, porém quando conversei com Bella ontem e ela me perguntou por você, automaticamente lembrei daquela noite, Jacob Black, o conquistador, o jogador prodígio, filho excelente e aspirante a motocross, estava desabafando comigo sobre como tomou seu primeiro pé na bunda, era algo inacreditável na época.

 

— Você se aproveitou de mim em um momento delicado, sua aproveitadora de corações partidos. Você usou da minha paixão platônica para tentar curar a sua, que baixo, Clearwater. 

 

— Ei, eu superei o Sam bem antes daquele, ali eu só não queria dividir o mesmo ambiente que ele e minha prima, são situações diferentes. Não era algo platônico!

 

— E quem disse que estou falando do Sam? Estou falando da minha pessoa, sei que você tinha uma quedinha de quase oito andares por mim.

 

Jacob já esperava quando Leah gargalhou alto, dessa vez com vontade, a luz noturna iluminava aquela pele macia, os lábios cheios e vermelhos, agora curvados em um grande sorriso, o corpo da morena indo para frente e para trás, devido ao riso constante. Jacob sentiu vontade de chegar mais perto. Até hoje ele não entende como o Sam pode ter a coragem de deixar aquela garota.

 

— Coitado de você, Black! Nem em seus maiores sonhos, nem agora que você está um pedaço de mal caminho, te olharia dessa forma. Você sempre será, para sempre Jacob de Bella. — Ele sorriu e negou com a cabeça. — Mas agora é sério, mudamos muito, acho que não reconheço mais aquela Leah.

 

— Agradeça que mudamos, você agora vive seus sonhos, mora onde sempre quis; e eu, bem, agora sou um pedaço de mal caminho, como a senhorita mesmo pontuou. Apesar que, segundo todos que me conhecem, sempre fui.

 

— Mas você também está vivendo seus sonhos, não? Daqui a um ano se aposenta como um dos melhores jogadores de futebol americano, ganhou seis Super Bowls, é famoso, tem uma família sensacional, já conheceu e viajou para os quatro cantos do mundo. Você zerou essa parada de sonhos. E não se sinta constrangido por isso, se alguém merece esse reconhecimento, esse alguém é você.

 

Não tinha jeito, ele ficaria velhinho, e ainda ficaria constrangido todas as vezes que recebessem um elogio dela. Sabia lidar com as implicâncias, mas com aquilo…

 

— Mas sou um fracasso no quesito manter um relacionamento, isso anula um pouco a posição que acabou de me colocar, não acha?

 

— Não se faça de coitado não, você se encontra nessa posição porque quer. Porque morre de medo de amar, de se entregar e ter seu coração partido. Mas tia Sarah está certa, um dia alguém chegará e mudará essa visão limitado que você possui, por isso jurei que a santa seria a Gianna, mas não foi… e você não me contou o motivo até agora.

 

Porque, droga, ela não era você Clearwater. Ela não era você! Jacob queria gritar para ela, e para si mesmo.

 

— Ela era incrível, de verdade, mas eu me sentia sufocado com ela. Sentia que estava ocupando um lugar que não era meu, entende?

 

Leah fez algo completamente inesperado, deitou no ombro do amigo, ficou em silêncio e respirou um pouco.

 

— Jacob? — Chamou baixinho — Você parou com a terapia? Sabe que preocupo.

 

— Parei, mas não me olhe assim, prometo que voltarei. 

 

— Promete mesmo?

 

— Prometo, de verdade verdadeira.

 

Ficaram em silêncio, o peito de Jacob subindo e descendo, à medida que Leah fazia pequenos círculos com as pontas dos dedos no dorso da mão de Jacob. Os dois gostariam de engarrafar aqueles momentos que, a cada ano, se tornavam mais raros. Tinham medo de serem extintos para sempre.

 

— Sua companhia foi um dos melhores acontecimentos daquele ano, não se sinta importante por isso, mas não saberia atravessar aquele ano sem você, obrigado! — Leah quebrou o silêncio. — Até hoje gostaria de saber o porquê nos tornamos amigos, não possuíamos nada em comum, além de amarmos as pessoas erradas. Mas não sei porque pegamos tanta intimidade em período tão pequeno de tempo.

 

— Porque sou muito charmoso, Lee. Tornei a situação fácil.

 

— Talvez. — O sono tinha chegado, mas Jacob não queria acabar aquele momento. E sentiu que, de alguma forma, Leah também lutava contra o sono para preservar aquilo, pois aqueles lindos olhos solitários encarava-o e, sabia que não sabia dizer não para ela, não com ela o olhando daquele jeito.

 

Jacob queria responder Leah corretamente, sobre os motivos deles terem se tornado amigos. Talvez era aquele motivo dele ter pensado tanto sobre o dia que a conheceu de verdade. Queria dizer que o os olhos dela deixaram-o fascinado. Então voltou novamente para dezembro de 2008: 

 

Ela tinha dezenove anos quando teve seu coração partido pela primeira vez, e agora ela estava no quintal de uma casa afogando as mágoas e se escondendo do homem que amava, e também da prima e melhor amiga que perdeu. Jacob nunca falava com Leah porque ela era muito reservada, sempre ficava quieta, e quando abria a boca estava constantemente na defensiva. Leah estudava Direito, frequentava lugares caros e um grupo de amigos que se sentiam melhor que qualquer mortal. Ela lia livros cultos, e se recusava a assistir televisão.

 

Entretanto, naquela noite não foi isso que Jacob enxergou: A garota que observava a lua tinha algo de diferente, algo que ele ainda não tinha notado, mas agora tudo fazia sentido. Ele não queria ser rude ou um maluco, porém tinha coisas nela que ele via em si mesmo e quando ela o encarou, ele descobriu: os olhos solitários. Ela tinha aqueles grandes olhos castanhos solitários. E ele sabia porque os possuía também.

 

E quando ele a deixou na porta de casa, ele sentiu vontade de dizer: “não precisa se esconder, o que você sente aí dentro, eu também sinto, eu sou solitário igual a você, Clearwater!” Mas ele não disse, apenas a convidou para ir à praia no dia seguinte, e ela aceitou e depois daquele dia foram solitários juntos.

 

— Jacob? — foi tirado de seus devaneios. — Preciso voltar, meu irmão deve estar preocupado, e não falei com ele que estaria aqui e meu celular está sem bateria. 

 

Fique aqui. Fique a noite, a semana. Quando você vai, tudo fica muito estranho., pensou. Sua terapeuta diria que aquilo era medo, medo de ser feliz, medo de se entregar. E ela tinha razão. Mas ele não teria coragem de vê-la rejeitá-la ou, na pior das hipóteses, romper com a relação deles. Ele não suportaria aquilo. Porém a vontade de tê-la ali era muito forte, e aquele cheiro não o ajudava, então ela se aconchegou mais a ele, parecia tão leve e confortável que sua boca agiu mais rápido que seu cérebro.

 

— Está tarde. Durma aqui, Leah. Fique! Amanhã prepararei as melhores panquecas de aveia que você já comeu. Fique, Leah! — Sua voz saiu como um sussurro, um segredo que só a madrugada permitia compartilhar. — Vou ligar para o Seth e avisá-lo que passará a noite aqui.

 

— Não vai te incomodar?

 

— Você nunca incomoda, só quando está faminta, mas sei como resolver.

 

— Jacob? Posso te contar um segredo? Promete que não vai rir? 

 

— Prometo, de verdade verdadeira! — seu pescoço doía, mas ele estava tão feliz que nem parecia perceber

 

— Mês passado eu chorei assistindo Antes da Meia-Noite, especificamente quando a Celine disse: "Acho que, quando você é jovem, acredita que conhecerá muitas pessoas com quem se conectará, mas, mais tarde, perceberá que isso acontece apenas algumas vezes.” Então me lembrei de você, e chorei… — o sussurro foi ficando cada vez mais fraco, e Jacob soube que ela dormiu.

 

Ele não conseguia imaginar uma vida sem a excêntrica Leah. Talvez a lua não tenha o ignorado, talvez ele que não enxergou o que ela trouxe para a vida dele.  









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