O inverno iniciou-se e Adam se viu diante de uma pilha de luvas de segunda mão em uma loja de roupas usadas. Ele estava procurando o par da luva de couro que encontrara perdida, mas a única que achou parecida era um número menor que a sua mão. Ele testou, tentando se acostumar com o tamanho da luva, mas sabia que seria um sério problemas se adaptar, já que as duas eram de mãos esquerda.

Suspirou, cansado, fazendo alguns cálculos mentais sobre quanto teria que gastar com um par de luvas novas que encontrara na loja de departamentos. Eram vinte e sete dólares a mais, e esse dinheiro ele estava guardando para outros acessórios como cachecol e touca, já que eles foram destruídos em uma aventura num sonho de Ronan. Longa história, agora Adam estava precisando se manter aquecido, caso contrário, iria se tornar um picolé entre uma aula e outra.

Faltava pouco para se formar no ensino médio, e menos ainda para ele se ver longe daquela cidade. Henrietta não fora tão ruim para ele, mas queria que se tornasse parte de seu passado tão logo quanto pudesse.

Suas expectativas para o futuro eram muitas, afinal de contas, Adam Parrish era o tipo de pessoa que programava as coisas. Ele queria saber onde seus passos o levariam e quantos passos teria que dar para isso acontecer.

Naquele momento, ele precisava de cento e vinte passos até a loja ao lado para gastar mais dinheiro do que podia em um par de luvas.

Comprou-as e retornou para a oficina mecânica, onde trabalhou até tarde.

As horas passavam com lentidão quando Adam queria que voasse, por exemplo, ele não via a hora de chegar em seu pequeno apartamento alugado e esquentasse água para tomar um banho, comer e dormir. Até acordar no outro dia e começar tudo de novo.

Mas, dessa vez, alguma coisa mudou a sua rotina. E como era de se esperar, Ronan Lynch tinha toda a culpa.

Ele chegou na oficina quando Adam estava de saída, com seus olhos fundos e cabeça raspada, vestindo um moletom molhado devido a, ele não sabia por que o namorado estava molhado. Ronan disse que explicaria depois, o carro, no entanto, estava parado e sem funcionar.

Adam deu uma olhada rápida, não foi difícil fazer funcionar, mas achou estranho porque Ronan saberia resolver isso.

De repente eles não estavam mais na estrada e sim na loja de luvas, novamente. Adam gastando o dinheiro em um novo par e Ronan chegando molhado.

Adam piscou lentamente, sentindo aquela sensação de algo já ter acontecido antes e então acordou mais uma vez. Estava comprando luvas, e Ronan chegou molhado.

Isso se repetiu tantas outras vezes que Adam já não se movia mais, apenas via as coisas acontecerem ao seu redor.

Cansado, ele tentou se concentrar em Ronan.

Lynch chegou molhado, e dessa vez Adam notou que ele estava com uma luva faltado na mão esquerda. Adam olhou a luva de mão esquerda em sua mão, combinava com a dele. Estendeu o braço e colocou na mão de Ronan.

Assim que piscou, o sonho recomeçou. Ele estava comprando luvas e dessa vez havia duas luvas, uma de mão esquerda e a outra de mão direita. Mas as cores eram diferentes. Talvez ele tenha entendido o que estava acontecendo, respirou fundo, mas notou que não respirava. Aquilo era um sonho, ou pesadelo?

Fechou os olhos, e ao abrir novamente, viu luvas das mesmas cores em suas mãos, mas com tamanhos diferentes. Uma grande e outra para bebê.

Um pequeno sorriso fez Adam mudar sua expressão. Ele viu Lynch entrando na loja e não usava nenhum par de luvas, mas ainda estava molhando.

“Você está querendo me dar um par de luvas?”

“Eu?” Ronan apontou para si mesmo, mas o sonho recomeçou.

Adam olhou para suas mãos, um par de luvas do mesmo tamanho, da mesma cor, em perfeito estado. Ele olhou para a porta da loja e viu Ronan entrando todo molhado com as mãos nos bolsos do casaco.

Adam sorriu um pouco mais, era um sonho confuso, assim como tudo o que dizia a respeito de Ronan Lynch.

“Pare de me dar coisas” ele pediu, mas Ronan respondeu que não havia dado nada para ele.

Adam apontou as luvas em sua direção e Ronan continuou fazendo cara de quem não entendia.

Quando abriu os olhos, chovia forte do lado de fora. Eles estavam no quarto de Ronan, na fazenda. Havia uma goteira bem perto da cama, que respingava neles cada vez que caía. Começou a fazer sentido Ronan aparecer molhado no sonho.

Adam sentiu as mãos quentinhas, estava usando um par de luvas, como as do sonho. Ele olhou para o olhado e viu Ronan paralisado. Não dava nem para fingir que ele não foi responsável por aquilo.

Adam não questionou, apenas o beijou no rosto e esperou que a paralisia do namorado terminasse, para agradecer apropriadamente o presente de inverno.