Edição de Colecionador escrita por annaoneannatwo


Capítulo 1
Capítulo único




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Vendo seu reflexo na vitrine da loja, Ochako rapidamente ajusta sua máscara. Ela tem quase certeza que está irreconhecível com o cabelo coberto por um gorro e a máscara cobrindo metade de seu rosto, mas é sempre bom verificar, a última coisa que ela precisa é tumultuar um shopping já bastante cheio com sua mera presença ali.

Foi um grande ano para Uravity, ela participou de grandes missões em nível mundial, recebeu prêmios humanitários por todo seu trabalho e se tornou garota propaganda de uma grande marca de produtos esportivos. O dinheiro e o reconhecimento nunca foram tão abundantes, e ela é bastante grata por tudo que conquistou depois de alguns anos não tão positivos, mas o grande clichê relacionado a alguém que ganha muita fama muito rápido acabou por atingi-la, e tem sido praticamente impossível sair na rua sem ser reconhecida e rodeada por fãs. Gratificante? Claro. Mas é também um pouco sufocante às vezes.

Especialmente hoje, véspera de Natal. Ela acabou de sair da patrulha depois de um dia cheio de intercorrências não muito graves, mas que somadas a uma sessão de fotos e uma aparição pública em um centro comunitário para um evento de arrecadação de presentes e comida, acabou por deixá-la exausta. Seu plano original era ir pra casa direto do trabalho, mas aí ela se lembrou de que a Mina organizou uma pequena festinha de Natal para aqueles que não estariam trabalhando no turno da noite, e depois de quase dois meses sem ver alguns de seus amigos, Ochako se viu na necessidade de comparecer, nem que fosse só um pouquinho. Mas seria muita falta de educação chegar de mãos vazias, então lá foi ela até o shopping mais próximo da casa da amiga para comprar alguma lembrancinha e talvez alguma bebida elegante que deixaria todo mundo contente.

E é por isso que ela está aqui nesse shopping agora, Ochako só não sabe porque está acompanhada dele, a última pessoa que ela imaginaria estar interessada em ir à casa da Mina na véspera de Natal, depois de um dia igualmente atribulado.

— Ah, perdão! — um rapaz se desculpa ao esbarrar nele.

— Tudo bem. — o Bakugou resmunga, a voz dele quase irreconhecível debaixo da máscara. Talvez seja porque Ochako está muito acostumada em conviver com ele, mas pra ela é impossível não reconhecer os olhos vermelho sangue levemente estreitados em irritação, mas pelo jeito é só ela mesmo, o rapaz só se curva e se afasta

— Tá mais cheio do que eu imaginei. — ela observa — Quer ir pra outro lugar? Talvez a gente ache alguma loja com menos gente.

— Só vâmo rápido. Quanto antes a gente comprar, mais rápido a gente sai desse inferno. 

— Ok…

Eles caminham lado a lado, com Ochako ocasionalmente se aproximando mais dele para abrir espaço para as pessoas que passam por eles. Engraçado, o Natal normalmente é um evento para casais, mas ela não viu quase nenhum desde a hora em que entrou no shopping. Na verdade, ela mal viu mulheres, agora que para pra pensar melhor. Há muitos homens indo na direção contrária à deles, o que é um pouco estranho.

— Que porra tá acontecendo aqui? — Bakugou questiona, dizendo em voz alta o que ela estava pensando.

— Não sei, tá todo mundo indo pra lá. — ela olha pra trás — Será que tem algum evento especial de Natal?

— Sei lá, só sei que essa gente toda tá me dando nos nervos. — ele reclama quando leva outro esbarrão.

— A gente ainda tem um tempinho, quer seguir o fluxo e ver o que tá acontecendo?

— Tá, que seja. — ele dá meia volta, e Ochako o acompanha. 

Meio que por reflexo, ela pega no braço dele para não o perder na multidão. O Bakugou não parece se importar, até estica o antebraço um pouco mais para facilitar o contato entre eles, o que ela aprecia muito.

De todas as coisas excelentes que aconteceram esse ano, uma das mais improváveis foi se aproximar dele. Eles não trabalham na mesma agência, mas são representados pela mesma equipe de relações públicas, o que fez com que eles se encontrassem com frequência e até trabalhassem juntos em algumas campanhas. Ochako sempre simpatizou com o Bakugou, desde os tempos do colégio, o jeito irritado dele era engraçado, continua sendo, mesmo que ele tenha aprendido a se controlar um pouco — quase nada, na verdade — e a conduta profissional dele é admirável. Ela gosta do trabalho do Dynamight, por mais caótico que seja às vezes. E Ochako tem certeza que a recíproca é verdadeira, o Bakugou já havia provado anos atrás o quanto a respeita como heroína, ainda na U.A., quando eles nem eram heróis de fato, e hoje ela sabe que ele também a respeita como pessoa, confia nela para conversar sobre as partes menos empolgantes do trabalho e, imagine só, manda mensagem perguntando se ela vai à festa da Mina e se gostaria de ir junto com ele comprar alguma coisa no shopping. Eles tiveram a mesma ideia, fez total sentido para ela que viessem juntos.

Então, basicamente, eles se tornaram amigos em algum momento que ela não sabe apontar exatamente qual foi, mas é uma amizade suficientemente próxima para eles andarem quase de mãos dadas em um shopping lotado como se não fosse nada demais. Também acontece de ser a primeira vez que se veem pessoalmente depois de uma certa ocasião há uns dois meses, quando eles foram à festa de aniversário do Kirishima, e podem ter trocado um beijo quando ambos estavam bêbados e se despedindo antes de ela ir embora. Ele não tocou no assunto desde então, e ela não sabe nem se é um assunto a ser tocado.

É, é isso que ela diz a si mesma, tentando não pensar no quanto eles podem estar parecendo um casal, já basta toda a equipe de marketing sugerindo que eles têm uma “química” incrível e deveriam parar de negar os rumores sobre um possível namoro que pipocam de vez em quando. O Bakugou só ignora essas coisas, ela fica envergonhada e insiste em ser honesta quando os rumores aparecem, dizendo estar focada na carreira e somente nela.

Seja como for, estar aqui com ele é… bom. Ochako se sente bem na companhia dele.

E ela se sente especialmente grata por não estar sozinha nesse shopping nesse exato momento, pois não faz ideia de como reagir diante da cena que encontra quando eles chegam ao lugar para onde a multidão se encaminhava.

Um palco preto e rosa, um enorme banner com uma foto da Uravity exposto no fundo, e dois displays eletrônicos com letras vibrantes e chamativas que perguntam: “Você é mesmo fã da Uravity?”

— O que…?

Abaixo do palco, pessoas se enfileiram como se um show estivesse para começar, e é um grupo consideravelmente grande. Ochako observa tudo isso com perplexidade. Isso é… algum evento em que ela deveria fazer uma aparição? Não, não tinha nada agendado para a noite de véspera de Natal, ela tem certeza, mas então… o que é isso?

— É um evento do seu patrocinador. — o Bakugou informa, mostrando a tela do celular, na qual ela vê mensagens com uma hashtag do patrocinador, e seu nome surgirem mais e mais por segundo.

— Ah… não tava sabendo disso… estranho não terem marcado pra eu comparecer.

— Seria filha da putice te fazer trabalhar até essa hora na véspera de Natal.

— Não seria a primeira vez. — ela dá uma risada seca e pega o celular para mandar uma mensagem para sua agente e confirmar que esse é um evento oficial.

Uma moça vestida com roupas de tons similares ao seu traje de heroína surge no palco, chamando a atenção tanto dela quanto do Bakugou, que desviam o olhar de seus celulares.

— Boa noiteeee! Como vocês tão? Passando muito frio? —  ela pergunta animadamente para a plateia — Não tem como com essa nova linha de agasalhos esportivos da Uravity, não é mesmo? Um mais lindo que o outro, vocês não acham? — os displays começam a exibir fotos e vídeos da campanha para a qual Ochako posou algumas semanas atrás, e se ver assim a faz se sentir um pouco sem graça, ainda mais com o Bakugou ao seu lado vendo isso também.

— Bom, vamos em-

— E olha só, a gente tem um presente de Natal muito especial da Uravity pra vocês, hein? 27% de desconto em todos os produtos da loja, mas é só pra quem escanear esse QRCode que tá na tela agora. Corre, gente! Que a promoção é por tempo limitado!

Bom, ela nem tava sabendo dessa campanha, então com certeza não é um presente de Natal dela propriamente dito, mas… é um bom desconto. O pessoal da marca esportiva lhe conhece bem o suficiente pra saber que isso é algo que ela aprovaria.

— Além disso, hoje a gente vai entregar vários brindes e produtos exclusivos da Uravity totalmente de graça, alguns até já saíram de linha, hein? E pra ganhar esses prêmios, é muito fácil! É só provar que você é o maior fã da Uravity! E aí? Quem topa o desafio? 

Várias mãos se erguem energicamente, algumas pessoas estão até pulando, e Ochako olha ao redor em surpresa.

Ela sabe que ganhou muitos fãs no último ano, mas é diferente vê-los assim quando eles não estão cientes de sua presença, e embora sua equipe de relações públicas tenha lhe informado que sua popularidade subiu entre rapazes jovens, ela ainda não sabe como se sentir em ouvir tantas vozes masculinas clamarem por ela. Uravity é uma heroína querida por meninas adolescentes e adultos de meia idade. Homens da idade… do Bakugou, por exemplo, ainda são um público novo que ela não sabe bem como lidar.

Mas eles estão empolgados, sem dúvida. A moça leva alguns segundos para escolher dois fãs, que sobem ao palco timidamente. Enquanto ela estava selecionando os participantes, mais estruturas são adicionadas ao palco: dois púlpitos com microfones acoplados e algo que parece uma sirene. 

E assim, o palco se torna um perfeito cenário de game show, e é tudo tão maluco e absurdo que Ochako não consegue parar de assistir.

— Então, é o seguinte: eu vou fazer perguntas sobre a vida e a carreira da Uravity, quem apertar o botão primeiro ganha o direito à resposta. Se acertar, ganha o ponto. Se errar, a pergunta é automaticamente repassada para o adversário, e se ele errar, não é ponto de ninguém. São 10 perguntas, mas a gente tem mais algumas preparadas caso haja empate. Preparados? Então, valendo esse kit de bolsa, boné e uma garrafinha squeeze… — ela olha pros dois participantes — Mão na orelha. — e volta sua atenção para o tablet que tem em mãos — Primeira pergunta: em que cidade a Uravity nasceu?

Ah, essa é fácil. E o fã da direita é o mais rápido em bater o botão, respondendo "Mie" com tranquilidade.

As perguntas são bem tranquilas, fatos que podem ser encontrados na sua página da Wikipédia. Porém, conforme os prêmios vão melhorando em valor e exclusividade, — tem até um vale-compras de até 10 mil ienes! Ela quase pensou em participar do jogo só para ganha-lo — as perguntas vão ficando mais difíceis, são fatos que ela mencionou em entrevistas ou em posts aleatórios nas redes sociais, coisas que apenas fãs muito antenados saberiam. 

Até ela própria fica em dúvida com algumas perguntas, mas essa nem é a parte mais chocante.

O mais chocante é que o Bakugou segue ali ao seu lado, assistindo a isso tudo com a mesma atenção e curiosidade dela. Ele tá achando isso divertido? O Dynamight também tem um patrocínio de uma marca esportiva famosa, mas ela duvida que a empresa sequer pensaria em fazer um evento desses usando o nome dele. Por mais que sejam representados pela mesma equipe de relações públicas, as estratégias de marketing que usam para os dois são bem diferentes. Um game show em um shopping na véspera de Natal onde fãs competem por itens gratuitos ou com desconto usando seus conhecimentos sobre os heróis é algo que combina com ela, com o Deku, mas jamais com o Dynamight. 

Não que ele seja inacessível, mas esse tipo de proximidade parece ser algo que nem ele nem seus fãs querem. A demografia dele é bem mais variada que a dela, mas é em geral composta por mulheres e homens mais jovens, e essas pessoas estão normalmente online, que é onde a equipe de marketing dele se concentra. O mais engraçado disso tudo é que os fãs dele adoram esse jeito estressado, ela se lembra de ter lido um comentário de uma fã numa foto do Instagram dele uma vez dizendo que, se caso o encontrasse na rua por acaso, odiaria se ele a tratasse com simpatia. Ochako quase curtiu o comentário, entendendo exatamente o que a fã queria dizer. O Bakugou é assim mesmo, ranzinza e boca suja, mas é também ultra profissional e dedicado ao trabalho, generoso e carismático, e seus fãs de verdade não iriam querer nada diferente.

E talvez por ser algo que nunca seria realizado com seu nome que ele está tão investido nessa maluquice, tanto quanto ela.

— Agora, vamos para o último prêmio da noite. Se vocês querem mesmo um item exclusivíssimo… — a moça faz uma cara de suspense quando as luzes se apagam e uma leve cortina de fumaça sobe de maneira dramática enquanto um cubo de vidro desliza lentamente até o centro do palco. 

As luzes se concentram nele e exibem um moletom cor de rosa com capuz preto e o logo de “Uravity” enfeitado por órbitas e planetas. Ochako logo reconhece o logo como sendo o antigo que ela costumava usar no começo da parceria com a marca, antes de ter sido repaginado para um conceito menos fofo e mais esportivo nas coleções que vieram depois. 

Pessoalmente, ela adora o modelo atual, mas preferia bem mais esse antigo. E esse agasalho é lindo! Ela se recorda de como se sentiu ao vê-lo pela primeira vez, como se tivessem pinçado um pedaço da personalidade dela e usado como linha para costurarem essas roupas. Foi um dos momentos em que ela se percebeu heroína profissional, junto com seu primeiro salário — que foi mandado para os pais — e seu primeiro salvamento, ali ela se sentiu parte de algo grande e especial.

Não foi só ela que adorou o agasalho, muita gente comprou e acabou esgotando rapidinho. A Mina e o Deku se lamentam até hoje por não terem conseguido comprar, nem ela mesma tem esse, tendo aceitado leiloar o seu em prol de uma campanha beneficente há alguns meses depois de autografá-lo. Foi arrematado por um valor ridiculamente exorbitante, e ela nem sabe quem comprou, só aprecia que o dinheiro tenha sido revertido em uma causa nobre.

— É isso mesmo, lembram desse moletom que subiu meteoricamente nas vendas? Hoje a gente traz o último modelo disponível dele, e quem vai levar essa lindeza pra casa não vai ser qualquer um, não! Vai ser você, maior fã da Uravity! — ela aponta genericamente para a plateia — E aí? Quem quer arriscar?

De novo, ela cogita se voluntariar, essa jaqueta tem um certo peso sentimental. E se as perguntas são sobre ela… Ochako com certeza venceria. Mas não, isso seria praticamente trapaça, e não demoraria para que todos a reconhecessem, ela acabaria estragando o evento, então… sua mão permanece abaixada.

— Ah, você aí, de gorro! Pode vir! — o quê? Ela? A moça está… olhando em sua direção, não tá? Mas ela nem levantou a mão! 

Bom, ela não, mas o grandalhão ao seu lado sim. Ochako arregala os olhos ao ver o Bakugou com o braço erguido. Ele lança um rápido olhar para ela antes de avançar pela multidão em direção ao palco, e ela balança a cabeça, implorando para que ele não vá. As pessoas vão reconhecê-lo, ele é garoto propaganda de uma marca concorrente! Isso vai acabar em um desastre, e ela não pode nem gritar ou tentar segurá-lo, pois vai acabar se expondo também! O que o Bakugou acha que tá fazendo? Ele ficou doido?

A heroína assiste, imóvel, a seu colega se posicionar atrás do púlpito e levar a mão à orelha. Usando a máscara, e ostentando seu típico olhar ameaçador, Ochako acharia hilário vê-lo assim se não estivesse tão aflita com a catástrofe iminente.

— Muito bem, primeira pergunta: segundo a própria Uravity, qual foi o objeto mais pesado que el-

O Bakugou praticamente esmurra o botão, nem esperando a moça terminar a pergunta.

— Um helicóptero Bell 429 tripulado por quatro pessoas.

— Resposta correta! Nossa, ele sabe até o modelo do helicóptero! —  a moça se admira enquanto pede palmas da plateia — Ok, próxima pergunta: quantas versões oficiais existem do uniforme de he-

Ele agride o botão novamente.

— Três. O modelo que saiu ano passado não conta porque ela só usou uma vez em comemoração aos 10 anos da agência da Ryukyu.

— Correto! — a moça parece um pouco assustada, mas não abandona o sorriso, e segue se espantando com o amplo conhecimento do grandalhão de cara amarrada a cada pergunta.

Ochako também está chocada, não tendo a menor ideia de como o Bakugou sabe de todas essas coisas, isso a faz lembrar… do Deku sendo capaz de elencar os detalhes mais aleatórios e mínimos da vida do All Might como se fosse uma enciclopédia. Isso é… um tiquinho assustador, mas também meio engraçado. Ou pelo menos ela pensa que está achando graça ao sentir seu rosto se esquentando e seu coração se acelerando a cada resposta correta dele. 

Será que é normal saber essas coisas sobre colegas de profissão? Ela deveria estar mais informada sobre quantas pessoas seus amigos já salvaram e outros detalhes do tipo? Ou será que o Bakugou se especializou em aprender o máximo sobre seus colegas para estudá-los tanto como potenciais aliados como rivais? Não parece muito o feitio dele, muito embora ele já não seja mais o garoto arrogante que alegava não saber nem o nome dos colegas de sala. O Bakugou conhece seus aliados, os pontos fortes e fracos, aprendeu a trabalhar em equipe e extrair o melhor dela baseado nesse conhecimento, mas… daí pra saber qual o sabor favorito de rosquinha da Uravity é… bom, ele sabe porque ela mesma lhe disse isso uma vez, Ochako só não sabe porque ele se lembra disso, ou porque essa informação seria minimamente relevante para alguém como ele.

— Sexta pergunta. E se você acertar, a gente pode finalizar, pois não tem mais chances de ser alcançado. — a moça explica para o Bakugou enquanto lança um breve olhar de piedade para o pobre concorrente, cuja voz nem pôde ser ouvida — Qual foi o primeiro super movimento criado pela Urav-?

Bakugou aperta o botão. Não tem como ele saber essa, isso foi no primeiro ano durante o Teste de Batalha da aula do All Might. Ela usou o Comet Home Run contra o Iida enquanto o Bakugou tava ocupado demais enfrentando o Deku na-

— Comet Home Run. Ela usou de improviso contra o Qua- o Ingenium quando eles ainda tavam no primeiro ano da U.A., no Teste de Batalha da aula do All Might.

— Correto! E o grandão leva o moletom da Uravity Edição de Colecionador! — a moça diz efusivamente enquanto o Bakugou recebe o prêmio, seus olhos vermelhos não apresentando nenhuma expressão que lhe permita entender o que foi essa maluquice toda —  E aí? Alguma coisa a dizer pra Uravity? Vai que ela tá te ouvindo!

Mesmo que ele não tenha sido reconhecido pela voz em nenhum momento, o que ainda é bem chocante pra ela, Ochako ainda teme que agora isso acontecerá. Ou será que é só ela que conhece a voz do Bakugou tão bem, mesmo quando ele não está falando no tom resmungão de sempre? 

— Eu só sou o fã número 1 dela, não preciso falar mais nada. —  ele declara com sua típica certeza e, mesmo que esteja longe, a morena  sabe que ele está olhando diretamente pra ela. 

O Bakugou sai do palco logo depois, recusando-se a tirar foto, só agora ele parece entender o risco que correu se expondo desse jeito.

Ochako ainda fica ali parada por alguns segundos, um misto de surpresa por ele não ter sido mesmo reconhecido e… alguma outra emoção que ele não entende bem, mas que dá uma sensação estranha em seu peito.

— Bora, a gente ainda precisa achar um presente pra Rosinha. — ele surge ao seu lado depois que a multidão se dissipa, puxando a frente de seu gorro para cobrir os olhos dela por um segundo de maneira brincalhona. Quando Ochako ajeita o chapéu, ele já está se afastando.

— Ei, peraí!

 

***

 

Eles caminham silenciosamente em direção ao apartamento da Mina. Esfriou bastante desde a hora em que saíram do shopping, ou vai ver lá só tinha muito calor humano e por isso não deu pra perceber como tá frio, de fato. 

Talvez seja melhor assim, se ela ficar se preocupando com o clima, não vai pensar na afirmação confiante do Bakugou sobre ser seu fã número 1. 

É claro que isso a deixa feliz, não é a primeira vez que um grande herói se declara seu fã, o Deku fala isso pra ela praticamente sempre que a vê. Mas tem algo de diferente em ouvir isso do Bakugou, nesse tom dele de quem tem muita certeza de tudo, e quem quer que ouse discordar é burro. Por mais sem filtro que ele seja, o loiro não costuma dizer coisas tão… positivas de uma maneira tão direta. "Essa não é uma merda completa." é como ele normalmente definiria alguma coisa que gosta, Ochako já está fluente o suficiente na linguagem dele para entender isso, mas ouvi-lo dizer em alto e bom som que é fã número 1 dela a faz se sentir tão… esquisita.

E normalmente ela só riria da situação e o provocaria, perguntando se ele quer um autógrafo no moletom que ganhou com tanta dedicação e sabedoria no assunto Uravity, é o que ela está considerando fazer para quebrar o silêncio estranho que ficou entre eles depois que se viram sozinhos na rua da casa da Mina, mas então eles chegam, e Ochako decide que talvez seja melhor não falar nada.

Antes que ela possa entrar no prédio, o Bakugou a segura pelo braço, assim como ela fez com ele no shopping lotado, e faz com que ela pare e o olhe.

— Toma. — ele estende a sacola na qual o moletom está guardado.

— Hã?

— Você não tem esse, tem? Eu lembro da sua agente falando que você leiloou o seu.

— Ah, é… Nossa, sua memória é incrível, Bakugou! Você lembra até disso! — ela ri nervosamente.

— Hã? Não é nada demais, Cara de Lua. Agora pega logo pra gente entrar, tá um frio do caralho! — ele balança a sacola energicamente, e Ochako cruza os braços — Que foi, porra? Não quer? Foda-se, vou dar pra Rosinha ou pro Izuku, o bobão ficou de mimimi uma semana por não ter conseguido comprar esse aqui, idiota!

— Como é que você sabia todas aquelas coisas sobre mim? — ela pergunta.

— Hã?

— Você me ouviu. Como é que você sabe o nome do projeto social que eu montei lá em Mie, o modelo do helicóptero que eu ergui, o Comet Home Run? Você nem me conhecia direito naquela época!

— Agora eu conheço, e daí? — ele dá de ombros.

— Daí que… você podia ter se metido num problemão se tivessem te reconhecido, e você… sabia de todas aquelas coisas sobre mim, e… eu não entendo, você disse que é meu fã número 1! Por que você disse aquilo? 

— Porque é verdade, porra! — ela arregala os olhos — Eu que não tô entendendo, Uraraka! Você tá puta por que eu sou seu fã?

— Eu não tô puta! Só tô confusa! Você… você nunca diz as coisas de um jeito tão assim, e eu… fui pega desprevenida, ok?

— Não é normal saber essas coisas? O Izuku sabe até a marca favorita de desodorante do All Might, e eu não te vejo brigando com ele por isso!

— M-mas é diferente! E eu… eu não tô brigando, Bakugou! Eu… eu também me considero sua fã, mas… não sei coisas sobre você nesse nível.

— Ué, problema seu.

— Ugh, você…! Você é impossível às vezes! —  ela reclama em frustração.

— Ah, eu sou impossível? E você me enchendo por causa de uma bobeira dessas é o quê, Uraraka?

— Eu só não entendo porque você fala uma coisa tão doce como aquela na frente de todo mundo quando… — ela hesita, e abaixa o tom de voz — quando não fala comigo sobre o que aconteceu na festa do Kirishima.

— Tsk, então é isso. Não tem nada a ver com o que rolou no shopping.

— Tem sim, um pouco. — ela protesta — Eu… eu sei que a gente tava bêbado, que… que talvez seja algo pra gente esquecer.

— Eu não esqueci. — ele garante — Só não falei nada porque achei que você ia… você é a que entende dessas coisas de sentimento, Bochecha! Eu não sei de porra nenhuma além de qual seu filme favorito do estúdio Ghibli e essas coisas.

Ela ri diante disso.

— Mas você… podia ter me falado sobre esse negócio de fã antes.

— Eu tenho que ficar anunciando toda hora  que sou seu fã, é isso? 

— Não! Mas… eu sou sua fã também, esqueceu? Fora que a gente é amigo também, né? — ela busca seu olhar, levando a mão à bochecha dele — Eu… queria que você falasse essas coisas só pra mim… antes de sair anunciando por aí. Só isso.

— Hum. — ele parece analisar — E se… eu tiver outras coisas pra te falar? — e se aproxima dela, baixando o tom de voz — Sobre essa história de a gente ser "só" amigo?

— Eu… eu vou ouvir. — ela o encara, seu coração parece flutuar igual aos flocos de neve que caem nessa noite gelada — Eu sempre vou ouvir o que quer que você queira me dizer, Bakugou.

— Ok. Então amanhã a gente conversa. Não vâmo fazer isso aqui na frente da casa da futriqueira da Rosinha, cê sabe como ela é. — ele se afasta — E pega logo seu presente de Natal, porra! — e estende a sacola pra ela mais uma vez.

— Ah… você só participou do jogo porque queria me dar como presente de Natal? Então eu… preciso aceitar, né? — ela ri e pega a sacola, ainda meio em transe com o jeito que ele estava olhando-a — Mas tem certeza que você não quer? Esse moletom já saiu de linha! É Edição de Colecionador, digno de um legítimo Fã Número 1! — ela provoca.

— Tsk, e eu não sei? Pode ficar, eu tenho o meu. — ele abre a porta do prédio da Mina e dá espaço para que ela entre primeiro — Tá até autografado.

E com isso, o coração dela falha mais uma batida.

Uma vez, Uravity foi questionada em uma entrevista se namoraria um fã. Ela desconversou e não respondeu, evitando perguntas sobre sua vida pessoal. Na verdade, nem ela mesma sabia a resposta na época.

Agora ela sabe.


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Notas finais do capítulo

Oioi! Aqui estou com uma one de Natal porque já faz alguns anos que eu só fico relembrando minhas outras ones de Natal ao invés de fazer uma nova, esse ano consegui huahauhs
E sim, é mais uma fic kacchako minha em que basicamente nada acontece huahuahus, se você tá aqui me lendo há muito tempo, já sabe como funciona, eu pessoalmente gosto de explorar a relação deles pra além de demonstrações físicas de romance, então é... muito enredo, muito diálogo e nenhum beijo huhauhash, e assim pretendo seguir.
A ideia do Bakugou muito fã da Ocha anda me fascinando, e eu gostaria de retomar esse mesmo conceito com uma outra pegada no ano que vem, veremos se sai.
Antes do ano acabar, acho que quero fazer mais umas duas repostagens, então não vou fazer textão de fim de ano ainda.
Obrigada por ler! Espero que tenha curtido! Ah! E claro... FELIZ NATAL! Huahaushus



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