Dias em brancos escrita por elda


Capítulo 1
único




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Era um final de tarde chuvosa. Zoro me chamou para acompanhá-lo e eu achei engraçado de ter sido ele que havia trazido um guarda-chuva, quando costumava ser o cabeça de vento e eu o comedido.

Algo errado estava acontecendo naquele dia, além dessa troca de papéis e da chuva, era o que sentia. Um frio intenso que não tinha nada a ver com o clima, me envolvia.

Enquanto voltávamos juntos da escola sob um guarda-chuva, eu observava além e notava os pingos da tempestade ricocheteando do asfalto como se fossem granizos. Zoro me puxou, dizendo que estava fora da proteção. Mas era que estar perto de Zoro naquele dia parecia estranho.

Saber que a única coisa quente ali era o ar de sua respiração batendo na minha bochecha, fazia-me sair da minha órbita e, quando recuperava minha sanidade, ele estava mais uma vez me puxando para perto, me perguntando o que tinha hoje.

O que tinha? Eu dizia que tinha nada. Só estava distraído, ocupado em esconder todas as evidências como se estivesse preso num filme policial.

A sorte minha era que o policial que me perseguia era Zoro, o perdido. Era tão sonso por não perceber nada.

Por não perceber em como estava vermelho, em como evitava que me tocasse e o impedisse de dormir na minha cama. Da minha insistência em falar de garotas e de querer privacidade.

Era um cretino por não me deixar em paz e ainda me ver como aquele garotinho inocente e chorão.

Éramos homens. Ouvi dos outros que dois homens juntos era estranho.

— Tá tudo bem, sobrancelha enrolada?

Ele me perguntou assim que chegamos na estação, por sorte era subterrânea e a chuva não chegava mais ali. No entanto, os trens se moviam e traziam o frio do solo, o calor ainda se encontrava só nos lábios de Zoro, como senti no momento em que me dirigiu essa pergunta.

— Falei pra você ficar perto de mim, agora tá todo ensopado, vai pegar uma gripe.

Ele jogou o seu casaco sobre meus ombros depois de me ver alisando os braços.

— Você não é assim... além do guarda-chuva, esqueceu do casaco. Não viu a previsão do tempo antes de partir de casa?

Eu me enrolei no seu casaco, Zoro era mais alto e mais forte, então ficou grande para o meu corpo. Mas me sentia aquecido.

— Mais uma vez quieto... me pergunto se um dia irá me dizer o que está havendo.

Zoro se afastou, indo pra fila do trem, mas peguei em sua mão. Não sei o que aconteceu, acho que saí de órbita mais uma vez, só sei que proferi aquelas três palavras. No entanto, acordei e me dei de cara com o olhar assustado do marimo.

— Me desculpa...

Eu passei a fitar o chão tremelicando, pensando na besteira que havia feito. Com certeza a amizade, que fiz com aquele garotinho de cabelos verdes e que eu passaria a crescer ao lado dele, havia acabado.

Não conseguia entender o meu corpo, a minha boca e o que ela disse. Um branco tomava minha mente e se eu pensasse em algo era nas gotas ricocheteando do asfalto como granizos. Mais aleatório que isso, impossível.

— Não... não precisa pedir desculpas.

Zoro finalmente disse algo e eu levantei o olhar muito surpreso, mas confuso.

 — Porque eu também curto você.

Pelo visto não era só o meu dia que estava sendo estranho.


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