Santuário: Uma Jornada de Autodescoberta escrita por Pedroofthrones


Capítulo 1
Prólogo




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Samuel estava andando pelo bosque perto do trabalho dele; adorava caminhar por aquele lugar. Havia chovido poucas horas antes, o terreno estava molhado e o ar estava bem fresco. Andou por um pequeno caminho de terra batida, e tocou nas folhas e galhos do mato alto.

Os raios de sol desciam do céu conforme as nuvens cinzentas se afastavam. Samuel encostou as costas no tronco de uma árvore, relaxando e sentindo o toque quente e dourado do sol na sua pele. Fechou os olhos e sorriu com a boa sensação. Desfez o coque de seu cabelo e remexeu a cabeça, liberando o cabelo castanho e fazendo-o cair até seus ombros.

Logo ouviu passos e abriu um pouco as pestanas do olho direito, vendo se era seu namorado se aproximando. Ao ver que era mesmo Juan, Samuel fechou o olho e fingiu não ver nada.

Ouviu os sons dos passos aumentarem, e logo sentiu a mão de Juan o pegando pela cintura e o puxando para si. Os lábios dele fizeram uma trilha de beijos no pescoço de Samuel, que sentia sua barba rala de seu namorado pinicando em sua pele. Começou a rir, sentindo cócegas.

—Você demorou muito! –Brincou Samuel, abrindo os olhos e abraçando o namorado.

Seu namorado tinha a pele oliva, como a dele, cabelos pretos e um belo nariz adunco. Seus olhos eram de um azul-escuro intenso e profundo. Seus lábios eram grossos, e uma camada de pelos pretos grossos estavam acima deles. O queixo quadrado duplo, com uma fenda no meio, estava coberto por uma barba preta e emaranhada.

Juan o beijou nos lábios e empurrou a língua para dentro, Samuel abriu a boca de forma obediente e lambeu a língua do namorado com a sua. Sentia a mão de Juan afagar seu cabelo e empurrar sua cabeça para frente. O beijo foi tão longo que perdeu o fôlego e quase ficou tonto.

Antes que pudesse falar algo, Juan se agachou, retirando a cueca dele, deixando seu pau exposto, e a jogou para o lado. O rapaz se levantou, e o empurrou o namorado contra a árvore e subiu uma mão boba pela sua coxa, deslizando para dentro da sua saia e dando aperto na sua nádega.

Samuel fez seus dedos percorrerem pelo cabelo preto de Juan, enquanto ele passava a língua pelo seu pescoço. O namorado de Samuel passou uma perna por entre as dele e fez com que o jovem as afastasse; suas mãos grossas o pegaram pelas coxas, passando um braço por baixo das dobras da perna e o ergueu. Samuel de um riso, surpreso pelo movimento, enquanto era erguido, sentindo a madeira áspera.

Com mãos agitadas, o jovem de cabelos cacheados desabotoou a camisa do namorado e o ajudou a abrir o cinto. Sentiu Juan afastar mais as suas pernas para o lado, e se empurrar, duro, para dentro dele; fazendo-o soltar um gemido de prazer, enquanto sentia uma leve dor dentro dele, aumentando, conforme seu namorado o penetrava com seu falo, duro feito pedra. Quando pareceu que ele estava deslizando para fora, sentiu uma estocada forte, dentro de si, que o fez dar um grito agudo.

Samuel voltou a alisar os cabelos pretos e ondulados de Juan, gemendo baixinho enquanto sentia ele se empurrando com força dentro dele, tentando não soltar nenhum grito alto.

Quando terminaram, estavam caídos no chão da relva, com Juan dando beijos no pescoço de Samuel, que estava nu, deixando apenas a saia na cintura, sentia o semen morno do namorado escorrer entre as suas pernas. Também sentia uma leve dor nas nádegas e nos rins pela necessidade do amor do namorado, que foi demasiado bruto no ato, mas era porque eles estavam sem se ver há uma semana. Samuel gostava da sensação.

O namorado de Samuel estava com as calças e a cueca abaixadas, expondo as pernas e o membro para fora, ainda melado de semên. A cintura era mais clara, com as nádegas e uma parte das coxas tendo um tom mais claro. A camisa estava aberta, mostrando o peitoral nu, peludo e bronzeado. Ele acendeu dois cigarros e deu um para Samuel.

Ele deu uma tragada e depois soltou uma fumaça. Não gostava muito de fumar, mas adorava fazer isso após o sexo.

—Tenho uma proposta pra você. –Disse Juan, com um sorriso relaxado. Ele tinha olhos azuis bem brilhantes.

Samuel, com os olhos pesados de sono, fez um esforço para abri-los e olhar o namorado.

—Qual? –Ele perguntou.

—Sabe aquela casa na praia? Aquela que te levei uma vez, no ano passado.

Samuel fez que sim com a cabeça. Lembrava-se de ter ficado uns três dias sentindo o sol e de ter que aguentar os olhares inquietos da mãe do namorado sempre que eles se beijavam. Juan tinha sempre a mania de tapar a boca dele quando eles transavam, para que os pais não os ouvissem.

—Então, que tal nós passarmos o verão lá? –Juan disse. –Antes da minha faculdade começar, aí poderemos ficar um tempo a sós. Seríamos só nós dois, que tal?

Jogou o cigarro fora. Ouviu “sshhh…” quando o objeto tocou na terra molhada.

—Hmm… Olha, a ideia não é ruim, mas, e meu trabalho?

Juan deu um trago no cigarro e soltou fumaça pelas narinas.

—Bom, eu acho que você nem deveria mais ficar nesse trabalho, pra ser sincero, Samuel –Seu namorado disse. –Você mesmo fala que a sua chefe é uma vaca.

Isso era verdade: a chefe da lanchonete de Samuel, Raquel, era uma vaca. Sempre com aqueles olhos inchados e enxeridos para cima dele, e sempre querendo descontar as merrecas que ele recebia como gorjeta. 

Entretanto, não podia apenas pular fora do seu serviço e ficar desempregado. Não era uma pessoa com grande renda como seu namorado.

—Olha, eu preciso de um trabalho, né —Respondeu Samuel, rindo —Nada me agradaria do que largar aquela lanchonete de merda, mas não vai dar. Não sem um outro emprego já garantido.

—Ah, eu tenho uma solução.

—Qual?

—Você e eu dividimos apartamento — Respondeu de forma simples. — Eu vou ficar um tempo na facul, mas passo um tempo com você quando eu chegar. Até lá, você procura algum emprego.

Samuel não sentiu firmeza na ideia.

— Eu não sei, Juan… Ficar assim, sem emprego algum? Não me parece uma boa ideia.

— Ah, vamos, amor! — ele insiste. — Você prefere ficar numa porcaria de emprego que não gosta?

— Bem, é melhor do que não ter emprego. — rebateu. — E sua faculdade é do outro lado da cidade. Muito longe…

— Ué, tinha entendido que você não queria mais morar com o seu pai.

Ao ouvir aquilo, Samuel parou para pensar. Sua relação com o seu pai não era das melhores; ele ainda tentava aceitar a sexualidade do filho, e já tinha outros dois filhos e uma esposa. Tinha uma vida nova, e Samuel não sentiu que era parte dela.

— Bem, talvez…

Juan sorriu e lhe deu um beijo na bochecha.

— Vai ser divertido, prometo. Vamos curtir a praia; andar na areia, nadar no mar, sentir o sol… — deu um sorriso zombeteiro. — E transar muito, é claro! — Deu-lhe um beijo na bochecha. — Você precisa descansar.

Samuel revirou os olhos, mas acabou rindo.

— Certo, certo… — Ele disse, fechando os olhos, querendo tirar um cochilo. — Acho que é uma boa ideia. Afinal, eu mereço um pouco de descanso, não é?

Juan deitou-se ao seu lado, tomando-o pelos braços e puxando-o para perto de si. Deu um beijo em sua testa e descansou o queixo por cima de seu couro cabeludo. Seu namorado tinha um cheiro azedo de suor. Samuel sentiu o calor e os pelos pretos do peitoral do namorado, sentindo o peito se mexer conforme ele respirava. Passou uma mão pela cintura dele, descansando-a nas costas dele, sentindo o calor e a respiração do corpo suado. Subiu uma mão, alisando a barba farpada dele.



— Bem, e quanto tempo você vai ficar fora? — indagou o pai de Samuel, Henrique.

O rapaz pegou uma banana da fruteira em cima da mesa e começou a descascar.

— Bem, o plano é que eu passe a morar com ele depois.

Seu pai franziu o cenho, fazendo uma cara desconfiada.

— E o seu emprego? — ele indagou. — Vai pegar horas de ônibus para ir na lanchonete?

Samuel mordeu um pedaço da banana, e começou a comê-lo. Balançou a cabeça, negativamente. Engoliu o pedaço e disse:

— Na verdade — respondeu —, eu vou procurar outro emprego, quando me mudar para lá.

Seu pai arqueou uma sobrancelha.

— Vai simplesmente largar o emprego para namorar?

Samuel juntou as sobrancelhas, irritado. Seu pai realmente não tinha noção do que seu estava querendo lhe explicar; talvez achasse que o filho fosse um promíscuo qualquer. Tentou se acalmar e responder.

— Eu não vou largar o emprego para viver como um vagabundo. — explicou. — Apenas não quero mais trabalhar naquela merda de lanchonete. Além do mais, eu já tenho idade para ir morar com o meu namorado, pai.

Samuel mordeu outro pedaço da banana. Seu pai levantou-se da cadeira e se afastou da mesinha da cozinha, indo em direção a geladeira.

— E quando você vai? — seu pai perguntou, abrindo a porta da geladeira e se curvando um pouco, e esticou um braço para pegar uma garrafa d’água.

— Juan falou que vai me pegar amanhã, ainda pela manhã. — respondeu, mordendo um último naco da fruta.

Seu pai encheu um copo de vidro com água e depois acenou para o filho com a garrafa, oferecendo um copo em silêncio. Samuel negou com a cabeça, enquanto se levantava. Pegou a casca da banana e levou até a lixeira, onde despejou o conteúdo.

Ele e seu pai voltaram a se sentar na mesa. Henrique deixou o copo em cima do móvel.

— Então — disse o pai —, você vai ficar com ele na casa de praia primeiro? Onde é?

— Umas três horas de viagem de carro. — respondeu. — Já fui nela antes, lembra?

Henrique anuiu.

— Lembro. Lembro que você detestou.

O rapaz ficou corado, sem jeito.

— Eu desgostei dos sogros — corrigiu. — Na verdade — se corrigiu —, sogra. Ela é uma chata.

Seu pai balançou a cabeça, em desaprovação.

— Bem, faça o que você quiser — ele disse, pegando o copo d’água. — Não é mais uma criança. — antes de beber o líquido, ele apontou um dos dedos da mão que segurava o copo para o filho. — Mas lembre-se, depois não reclame se algo der errado.

O rapaz sentiu vontade de indagar se o pai queria dizer que não iria recebê-lo de volta caso tudo desse errado; entretanto, apenas abaixou os olhos e assentiu.

— Eu acho melhor já arrumar as minhas coisas — falou, colocando as mãos na mesa e se levantando da cadeira, a arrastando no chão. Seu pai fez uma cara irritada.

— Que inferno, Samuel! — exclamou. — Já disse: não arraste a mesa no chão!

Seu filho assentiu, colocando a cadeira para perto da mesa, com cuidado.

— Desculpe — respondeu, tentando não se importar com a bronca do pai.

— E vê se toma um banho — seu pai mandou. — Está fedendo a cigarro.

Samuel saiu da cozinha, passou pela sala, e foi até a escada, subindo os degraus. A madeira rangeu conforme seus pés batiam nela.

Andando pelo corredor, ele viu alguns retratos de seu pai com a esposa e os filhos dele. Tinha apenas um de Samuel, mas nenhum de sua falecida mãe. 

Vai ser melhor sem mim aquipensouafinal, eu só sei ocupar espaço.

Seu quarto era o segundo menor, pois dois de seus meio-irmãos mais novo dividiam um quarto. O mais velho deles já tinha o próprio quarto — seria injusto ele desistir do próprio cômodo por causa do meio-irmão que chegou depois. Samuel quase não saia do seu cubículo; tinha espaço o suficiente para ele, com cama, armário e banheiro completo. Preferia sair apenas para trabalho ou quando seu namorado falava que queria ver ele — nunca o levou para dormirem juntos, ali, pois seu pai não gostaria disso.

Ao entrar em seu quarto, fechou a porta, e retirou a roupa suja, ficando totalmente nu — havia deixado a cueca na mata. Pegou um maço de cigarros e um isqueiro na bolsa. Após acender um cigarro, se dirigiu até o guarda-roupa. Um tanto nervoso, tirou as roupas pelos cabides e colocou numa mochila. Pegou apenas as que achava serem de melhor qualidade e colocou numa mochila desbotada — as que ficassem seu pai e a esposa poderiam doar, guardar para quando o filho mais novo crescesse ou jogar fora, não se importava.

Pegou um porta-retrato que estava em cima do pequeno armário, ao lado de sua cama, de quando era mais jovem e estava com a mãe. Ele em nada parecia com ela: sua mãe era loira, de olhos escuros; enquanto ele tinha um cabelo castanho encaracolado — que todos diziam parecer o de uma menina — e olhos de avelã, ora castanhos, ora verdes.

Guardou o porta-retratos na bolsa que tinha consigo. Guardou as três calças numa outra mochila, de tamanho menor que a outra onde guardou as camisas.

Ao terminar, ele colocou as duas mochilas e a bolsa num cabideiro e foi até o banheiro, abriu a tampa da privada e jogou o cigarro nela, ouvindo “ssshhh…”. Pegou no próprio pau, duro, e urinou na água onde o cigarro e cinzas boiavam, fazendo o líquido ficar amarelo. Quando terminou, balançou um pouco, fazendo os últimos pingos caírem. Fechou a tampa e apertou a descarga.

Saindo do banheiro, deitou-se de costas na cama. Olhou para a parede, onde a cama estava colada, e viu o quadro que havia ali, com a imagem da Santa Maria, usando um véu azul, olhando para ele. Seu rosto era triste e desbotado. Era uma das poucas coisas que havia da sua mãe.

Fechou os olhos pesados. Estava cansado, e precisava de um banho, pois sua pele tinha manchas escuras de terra e estava fedendo a suor e cinzas. Entretanto, queria só dormir…

Deve ter realmente dormido, pois logo ouviu batidas na porta, fazendo-o abrir os olhos, sobressaltado.

— A janta tá na mesa, Samuel! — Disse seu meio-irmão, Henrique Jr.

Suspirando, ele disse:

— Obrigado, já vou!

Vestiu uma roupa um tanto apertada para descer para o jantar — não quis retirar uma das roupas que guardou na mochila. Infelizmente, acabou por não tomar banho, e desceu com cheiro de fumaça.

Quando entrou na cozinha, viu que Júlia, sua madrasta, havia feito um prato de macarrão picante para ele. Ele puxou a cadeira para se sentar — o barulho irritou o seu pai, mas este ficou calado, girando o macarrão no garfo.

— Obrigado, Júlia — ele disse, com um leve sorriso.

A madrasta acenou.

— Não tem de quê.

Seu pai deu uma fungada, estranhando o ar do ambiente. Samuel fingiu não reparar, abaixando a cabeça e enroscando o garfo no macarrão. Estava faminto, sua boca se encheu de baba só de sentir o aroma quente da comida.

Entretanto, antes de seu pai lhe dar uma boa bronca pelo seu cheiro de cinzeiro, seu meio-irmão mais novo disse:

— O Samuel fede!

— Quieto, João! — Censurou a mãe do menino.

O rapaz soltou o garfo e olhou para o menino, irritado.

— Que merda, Samuel — reclamou seu pai —, andou fumando dentro de casa? Ou não tomou banho?

O rapaz corou.

— Desculpe, eu…

— “Desculpe”, “desculpe”... Só fala isso, parece que ainda é criança! Tem que tomar conta da sua vida, por Deus!

Ele se encolheu pelas palavras do pai. Conseguiu encontrar um pouco de força dentro de si para respondê-lo.

— Minha nossa, pai, relaxa… — pediu. — Eu apenas dormi após arrumar as coisas, só isso!

Seu pai bateu um punho na mesa.

— Me pergunto quanto tempo o seu namorado vai aguentar um cabeça de vento como você!

Um silêncio pairou pela cozinha. Pai e filho se olharam com ódio.

— Henrique! — censurou Júlia. — Peça desculpas ao seu filho!

As narinas de seu pai dilataram, mas, antes que ele pudesse falar algo, seu filho disse:

— A culpa é minha, desculpe. — pegou o prato e se levantou da cadeira. — É melhor assim.

Seu pai, ainda irritado, acenou com a cabeça, carrancudo.

Sim se fazer demorar, Samuel saiu dali, apressado, sem olhar para o rosto da madrasta e dos meio-irmãos.

Enquanto subia os degraus, ouviu sua madrasta dizer:

— Você não devia ser tão duro com o seu filho, Henrique.

— Eu não seria tão duro com ele se ele não fosse um relaxado como a mãe — rebateu, implacável. — Você vai ver, ele vai voltar da casa do namorado arrependido por ter ido. Isto é, caso ele sequer tenha coragem para ir. 



Acordou com um zumbido do celular. Irritado, ergueu a cabeça, com os cabelos desgrenhados, caindo sobre seu rosto. Seu travesseiro estava com um pouco de baba nele, onde sua boca estava encostada. Passou um antebraço pelos lábios rosados e lustrosos, tirando o líquido gosmento deles.

Esticou a mão para o celular que vibrava e emitia uma luz, descansando na mesinha ao lado da cama, com o prato sujo de comida perto dele. Pegou o objeto vibrante e apertou um botão verde, levando-o até a orelha.

— Alô? — perguntou, mesmo já sabendo quem era e porque estava ligando, sonolento, enquanto coçava o olho direito, onde parecia ter areia.

— Oi, sou eu — respondeu Juan. — Já pode descer? Ou ainda vai se arrumar.

— Não, não… — bocejou, abrindo bem a boca. — Já vou descer.

— Tá bem.

Desligou o celular e se levantou.

Andando nu pelo quarto escuro — ainda sujo, pois não havia tomado banho —, ele piscou pesadamente os olhos, sentindo-os pesarem e ter areia na vista. Suas roupas estavam caídas no chão, e ele as deixou lá, pegando apenas a velha cueca que estava caída entre elas. Passou uma perna por um dos buracos da perna e depois passou a outra pelo outro buraco. 

Andou até o armário e pegou o velho conjunto de pijama. Era confortável, assim poderia dormir no banco de trás, caso seu namorado o deixasse fazer isso. Colocou uma tiara na cabeça, prendendo o cabelo.

Pegou a alça da mochila no cabideiro e passou ela pelo ombro. Fez o mesmo com a outra. Pegou a bolsa de couro e passou a alça dela pelo outro ombro.

Antes de ir embora, ele foi até a pequena mesinha ao lado da cama, onde antes estava o porta-retratos da mãe. Agora, havia apenas o simples colar dourado com uma cruz de cristais falsos. Apesar de não ser do tipo religioso, ele pegou o colar e o passou pela cabeça, ajeitando a cruz quando esta ficou bagunça ao cair em seu peito. Pegou o travesseiro da cama, junto de sua coberta. Era velha, desbotada, e tinha um leve cheiro de mofo, mas estava com ele desde que sua mãe ainda estava viva.

Antes de sair pela porta, ele olhou para o quadro da Virgem Maria. Estava quase todo desbotado, em um tom de amarelo-escuro, quase marrom. Apenas o longo e belo véu azul-escuro ainda mantinha a cor viva. Seus olhos eram tristes e benevolentes. Gostaria de levar o quadro consigo, mas, infelizmente, não podia.

Samuel se dirigiu até a porta. Ao abrir e passar pela soleira, ele a fechou e passou a chave pela fechadura e girando. Trancou a porta.

Andou com as mãos e braços afobados pelo tapete velho do corredor de madeira, tomando cuidado para não acordar ninguém.

Enquanto andava, viu a porta do quarto do pai entreaberta. Sem se aguentar, ele foi até o cômodo e a abriu um pouco. Seu pai estava roncando pesadamente, abraçando a sua esposa. Samuel se viu perguntando se ele era assim como a primeira esposa.

Samuel fechou a porta. Aquele lugar não era para ele. Seu pai já tinha uma nova vida, sem ele. Era melhor seguir um rumo distante do dele, sem atrapalhá-lo.

Com cuidado, desceu os degraus. A madeira rangeu, mas ninguém pareceu ouvir. Abriu a porta, vendo seu namorado esperá-lo, em pé, ao lado do carro prateado. A névoa densa da manhã cobria o mundo, tapando um pouco a visão do caminho.

Samuel deu um sorriso cansado ao vê-lo e Juan foi até ele, de braços estendidos, e o abraçou, dando um beijo em sua testa. Seu companheiro pegou uma mochila, e a jogou pelo ombro, indo até o porta-malas. Abriu o bagageiro apertando um botão. Esticou a porta para abrir mais e jogou a mochila lá. Samuel foi até perto dele e jogou a outra, junto da bolsa com os documentos.

Quando seu namorado fechou o porta-malas, Samuel indagou:

— Posso dormir no sofá, mô? — sua voz transparecia seu cansaço. O cobertor estava sob seus ombros, como um manto, e o travesseiro estava sob seu braço.

Juan riu e tomou seu rosto nas mãos e o beijou nos lábios.

— Claro que pode, Samuel. — Ele soltou o seu rosto e passou os braços pelas suas costas, depois desceu, as levando até suas nádegas, que ele apertou com ambas as mãos. O homem afundou o nariz adunco nos cachos escuros do namorado, sentindo o cheiro de fumaça e terra que devia estar neles, ao invés do perfume habitual.

— Ah, não chegue tão perto — disse Samuel, sentindo o falo de seu namorado endurecer dentro das calças e cutucar seu corpo. Viu seus olhos terem um lampejo de excitação. — Eu estou fedendo.

— Pra mim — respondeu Juan —, continua cheiroso.

Seu namorado deu alguns tapas nas suas nádegas e beijou o pescoço do rapaz, dando um chupão na região.

Samuel sabia que seu namorado devia estar louco para transar, entretanto, não tinha o mesmo sentimento. Sentia-se cansado, querendo dormir.

Por sorte, seu namorado pareceu entender o cansaço nele e se virou, ficando ao lado do namorado, passando um braço pelas costas dele e o segurando pela cintura. Levou-o até a porta do quarto e a abriu para ele.

Samuel colocou o travesseiro para dentro e, após sentir um tapinha em sua bunda, ele entrou e se deitou no banco traseiro. Se enrolou no cobertor mofado, sentindo o cheiro quentinho da infância, quase chorando.

Seu namorado fechou a porta e andou até a outra, abrindo e se sentando no banco do motorista.

— Descanse, querido — disse Juan, passando o cinto e prendendo. —  Logo, logo chegamos lá.

Samuel sorriu, mas não disse nada, deixando-se levar pelo cansaço e o sono. Ouviu o motor do carro ligar e o assento onde estava deitado vibrou. Balançou um pouco quando o carro entrou em movimento.

Quando caiu no sono, sonhou com a figura de Santa Maria, mas não como a que estava no quadro — o véu azul estava púrpura, os olhos eram duas bolas de ametistas brilhantes, e ela tinha uma lua na testa. Sua pele era como mármore. Tinha a aparência de sua mãe.

De forma maternal e carinhosa, a mulher alinhou Samuel em seus braços, o olhando com tristeza e compaixão, e empurrou levemente a sua cabeça até o seu seio quente, como se ela amamentasse um bebê. Ele chupou o seio, avidamente, sentindo o sabor quente e doce do grosso leite materno, sentindo o calor de seu corpo branco-prateado.

 


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