Diana Barry não poderia estar mais feliz e realizada. Havia saído de Charlottetown há mais de dez anos para estudar música e agora trabalhava como pianista na maior orquestra de Toronto. Ela finalmente se sentia livre, se sentia leve! Aprendeu a dizer mais sim em vez de não e costumava matar seu tempo nas matinês de domingo, ainda que insistisse em dizer que os melhores filmes de todos os tempos nunca foram feitos!

No entanto, havia uma parte de si que estava incompleta, e era a parte amorosa. 

Obviamente oportunidades não lhe faltaram. Era atraente, chamava atenção por onde passava... inúmeras vezes fora cortejada por seus colegas de faculdade e posteriormente da orquestra. Chegou até mesmo a sair com um deles, mas não passou de um jantar a luz de velas que deu errado pois seu acompanhante era alérgico a camarão. Por fim, terminaram o encontro no hospital e ela prometeu a si mesma que nunca mais tentaria a sorte no amor novamente. 

Até porque, ela ainda pensava nele, no único rapaz que realmente a havia feito perder o controle de suas emoções. 

Conhecera Jerry Baynard aos 13 anos, quando ele se mudou com a família para Charlottetown. 

Diana se tornou amiga de Anne, -sua irmã-, e na primeira vez que fora á casa da amiga, Jerry estava lá. Desde então seu coração começou a bater forte por ele! Começaram a namorar aos 16 e viviam fazendo planos de se mudarem para a França juntos.

O namoro fora intenso, cheio de detalhes do qual Diana se lembrava muito bem. Ela se lembrava até mesmo da brisa que batia nas árvores em um velho parque perto de sua casa, aonde costumavam passar o tempo. Não podia dizer que estavam sempre conversando, porque o que faziam na verdade, era viver nos amassos dentro do carro do pai de Jerry. 

Uma de suas lembranças mais doces desse romance, era a de um final de semana que passaram juntos na chácara dos Blythe, -uma família amiga-.

Estavam sempre andando de mãos dadas, fazendo bagunça na cozinha enquanto tentavam cozinhar, nadando juntos. Até que em uma noite chuvosa... se tornaram um só! 

Mesmo no fundo sabendo que era um pouco errado, -considerando a confiança que havia sido depositada neles por seus pais quando os permitiram viajar juntos-, não tiveram tempo de sentirem culpa, pois fora um momento lindo, especial e único para eles. 

Ela também se lembrava de uma festa de aniversário de casamento dos pais de Jerry. Na ocasião, tinham 20 anos e haviam bebido um pouco demais, fazendo com que terminassem a noite como dois loucos jogando moedas na piscina, jurando que todos os desejos que ali o fizeram, seriam realizados! 

No entanto, tudo começou a desandar 1 mês depois

Em um feriado do qual Diana passara em Charlottetown, ela e Jerry tiveram sua primeira briga em 4 anos de namoro. 

O motivo era simples: Jerry queria algo mais do que tinham, ele queria que ela voltasse para Charlottetown depois da faculdade para se casarem. Diana disse que estava muito cedo para pensarem no assunto e que ela não se imaginava morando em Charlottetown depois que se formasse. Então, Jerry disse que isso não seria um problema, e que ele poderia muito bem se mudar para aonde Diana decidisse viver. 

E foi aí que a Barry perdeu a paciência com o namorado e gritou com ele, dizendo que ela queria mais do que uma cidade do interior e um marido caipira que iria passar o resto dos dias cuidando do celeiro e cortando lenha, enquanto ela queria realizar muito mais do que tudo que sua realidade do momento a oferecia. Finalizou seu discurso jogando nele o buquê de flores que o rapaz a havia presenteado quando fora visita-la em sua casa naquele dia. 

É claro que se arrependeu na mesma hora do que fez. No entanto já era tarde, Jerry havia sofrido uma decepção enorme e saído correndo da casa Barry. 

Se lembrava de que Anne a havia procurado para conversar e a conversa se tornado uma briga. Ficaram sem se falar durante muito tempo e só voltaram 1 ano depois, quando Diana fora ao lançamento do primeiro livro daquela que havia quase se tornado sua cunhada. Logo depois a velha amizade estava restaurada.

Por fim, Diana concluiu que apesar das coisas terem acontecido dessa forma, foi melhor assim. Afinal, se você nunca sangrar, nunca vai crescer! Pelo menos, era o que ela pensava. Até porque, ambos só cresceram na vida depois desse término. Diana se mudou de vez para Toronto e Jerry havia se formado em engenharia agronômica. 

Mas, teria sido divertido, se eles fossem o certo um do outro! 

No entanto, as vezes a morena sonhava com Jerry enquanto dormia. E o seu sonho mais recente fora engraçado, na opinião dela, tendo em vista que era um cenário onde ele vivia aventuras por conta própria e conhecido uma mulher na internet e a levado para a casa. 

Não podia negar que esses sonhos faziam com que ela não conseguisse controlar sua curiosidade, o que a fazia sempre correr para a internet, afim de verificar as mídias sociais do ex-namorado. 

E em várias dessas ocasiões, se encontrou de frente para a tela do computador com o chat aberto, tentando escrever uma mensagem, pelo menos para perguntar se estava tudo bem entre eles. 

Mas a verdade é que não conseguia escrever nada, simplesmente porque não sabia o que deveria dizer! Afinal, o que ela diria? "Oi Jerry como você está? Seu coração conseguiu se recuperar?" "Oi Jerry aqui é a Diana, a mulher que quebrou seu coração".

Não! Ela não iria dizer nada disso! 

Todavia, essa curiosidade e esse costume teve fim quando ela abriu o Instagram de Jerry três dias depois de seu último sonho com ele. E se assustou quando viu uma foto onde ele abraçava uma mulher loira, e pelo o que a legenda indicava, estavam namorando! 

Logo, saiu do aplicativo, colocou o celular em um canto qualquer da sala de jantar e não se segurou quando as lágrimas inundaram seus olhos. 

Toda a chance que ela tinha de um dia voltar a ter uma boa convivência com Jerry haviam se acabado, e agora ela sentia mais um arrependimento: o de não ter enviado as inúmeras mensagens das quais havia planejado! 

Por fim, terminou a noite escorregando os dedos nas teclas do piano enquanto afogava as mágoas em uma garrafa de vinho tinto. 

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Toronto, abril de 2022

Diana estava se preparando para um concerto havia dias, mas somente naquela tarde de quarta-feira havia tido um tempo para trabalhar na música que estava compondo. Era sua terceira música original a ser tocada na orquestra e ela estava nervosa. 

Talvez não tanto quanto nas vezes anteriores, por ter ganhado experiência em todos os seus mais de dez anos trabalhando com música. Mas ainda assim, nervosa! 

No entanto, seu trabalho fora interrompido pelo barulho da campainha. 

Se levantou e abriu a porta, arregalando os olhos por tamanha surpresa. 

—ANNE! -exclamou a pianista, abraçando a amiga. 

—Olá Di! 

—Que surpresa boa minha amiga! Estava com saudades! 

—Eu também estava! É tão bom te ver de novo... finalmente! Afinal, qual foi a última vez? Quatro anos atrás? 

Diana pensou um pouco na fala da amiga. Até que concluiu:

—Hum... acho que foram menos, você está sendo um pouco exagerada. Foi apenas um ano! 

Caíram em gargalhadas.

Entraram e foram até a cozinha, aonde Anne estava sentada na mesa enquanto Diana se ocupava em abrir um vinho. 

—Como vão as coisas na orquestra? -perguntou Anne.

—Vão bem! Estamos trabalhando em mais um concerto, onde tocarão uma música original composta por mim! 

Anne bateu palmas

—Que coisa maravilhosa! Depois você me mostra uma palinha? Fiquei curiosa agora! 

—É claro! -fez uma pausa- E então, como vão as crianças? -perguntou, após terminar de abrir o vinho e se sentar na mesa, colocando a garrafa em cima dela.

—Elas estão bem! James agora inventou de querer morar na casa da árvore e Walter está o acompanhando. Passam o dia inteiro lá, só voltam para a casa para dormir! 

Anne Baynard era professora universitária de história e inglês na Universidade Queens em Charlottetown e havia se casado com seu namorado de adolescência, Gilbert Blythe, dois anos depois de terem se formado. Agora, ela se aventurava na vida de mãe de gêmeos de cinco anos. 

—Esses meninos são mesmo uma figura! 

Anne assentiu, concordando, enquanto se servia de vinho em uma taça.

Um silêncio pairou no ar enquanto Diana pensava no que deveria perguntar agora. Talvez como estão as coisas na universidade? Ou, se ela e Gilbert pretendem ter mais filhos? Por fim, decidiu se arriscar:

—E a sua família, como estão? -perguntou, tomando um gole do vinho logo em seguida 

Anne arqueou uma das sobrancelhas 

—Você quer saber como está o Jerry. Certo? 

Diana se sentiu aliviada por já ter tomado o vinho, pois sentia que se ainda o estivesse tomando, ela cuspiria o líquido para fora, tamanho o susto! 

—Nã-não, quer dizer, sim... eu não sei... -fez uma pausa- mas, já que você tocou no assunto... como ele está? 

Se serviu de mais vinho logo em seguida, e se surpreendeu com o fato de ter conseguido colocar o líquido na taça sem derrubar nenhuma gota, porque suas mãos estavam tremendo!

Anne ficou um silêncio por alguns instantes, sem saber exatamente o que falaria para a amiga. 

Ela sabia que Diana havia se arrependido do que fizera, e que essa curiosidade provavelmente seria culpa e remorso. Porque afinal, nunca soube se estava perdoada, já que o assunto raramente vinha a tona em suas conversas. 

—Ele, ele está bem! O papai passou a fazenda da família em Avonlea para ele, então agora é o novo administrador de Green Gables! -tomou um gole do vinho.

—Então ele voltou para Avonlea? -perguntou Diana, sorrindo.- Eu me lembro que um dos grandes sonhos dele era voltar para lá... ele sempre gostou da fazenda! 

 –Voltou sim! E se você quer saber, ele já te perdoou. Agora ele entende o que aconteceu naquele dia, e que vocês eram muito jovens... -deu uma risadinha- a verdade é que éramos todos muito jovens! -fez uma pausa- E uma das maiores provas de que ele seguiu em frente e que está tudo bem, além do novo ofício, é que ele está namorando! 

Diana empalideceu, ainda que já soubesse da novidade há alguns meses. 

—O nome dela é Ruby Gillis, uma amiga que ele fez durante a faculdade. Ela é formada em economia e o ajuda nas finanças de Green Gables, mas seu emprego na verdade é em uma editora de livros de Avonlea. 

—Que bom, fico feliz por ele! -disse Diana, forçando um sorriso. 

E foi aí que Diana começou a se questionar. Será que se uma coisa tivesse sido diferente no relacionamento deles, tudo seria diferente hoje? 

E se fosse ela no lugar de Ruby? E se fosse Jerry no lugar de todos os caras que se interessaram por ela? Seria diferente? 

Foi despertada de seu pequeno devaneio por Anne, que estava novamente se servindo de vinho, enquanto Diana não havia tomado nem um gole do seu. 

—E você também precisa seguir em frente! -segurou as mãos da amiga- Pare de se martirizar! Arranque essa culpa que te corrói a alma, se não ela pode te afetar negativamente! Está na hora de você encontrar um novo amor! Nunca conheceu ninguém durante esses anos todos? 

—Sim, conheci vários depois de Jerry. Mas nenhum que valesse realmente a pena, entende?

Anne assentiu. 

Então Diana voltou seus olhos para o vinho rosé fluindo em sua taça, concluindo que teria sido doce e divertido se ele fosse o certo para ela, e ela o certo para ele! 

Em suma, Diana sabia que se seus sonhos tivessem se realizado, eles seriam Jerry!