Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 17
O encontro de Gelo e Fogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810920/chapter/17

 

Dois meses atrás.

Sansa foi até o pátio do castelo, se despedir de Rickon e Jon.

—Eu não quero ir! —Reclamou Rickon, emburrado, como sempre. —Quero ficar aqui e lutar!

O lobo escuro dele eriçou os pelos e mostrou os dentes.

Sansa tentou não se abalar.

—Você ainda é novo demais, Rickon. —Ela disse —E o herdeiro de Jon. Não pode se arriscar assim!

—Mas e a Arya? —O irmão emburrado indagou.

Sansa suspirou.

—O quê tem ela?

—Ela está cavalgando Nymeria e lutando na guerra!

—Não está! Pare de mentir, Rickon, isso é feio! —Ela disse, até onde sabia, Arya ainda estava no Vale com Myranda e Margaery.

Sansa havia mandado uma carta para a Campina, mas não havia recebido resposta alguma de Willas. Esperava que ter a irmã como refém o fizesse mudar de ideia e apoiar o Norte… mas tinha certeza que estava só se iludindo.

—Não está! —Insistiu Rickon. —Eu a vi no meu sonho!

—Chega, meu príncipe —Disse Sansa, não querendo prolongar aquela discussão. —Vá para a liteira.

Rickon a encarou e Felpudo se levantou e rosnou para ela.

Sansa tinha medo dele, mas já estava aprendendo a se acostumar e esconder.

—Agora, Rickon. —Ela o ordenou.

Rickon chutou o pé na neve e se virou para a liteira.

—Vem Felpudo! —Ele disse, e o lobo negro se virou, seguindo-o.

Suspirando, Sansa foi até seu meio-irmão Jon -agora seu rei, isso ainda lhe era estranho…

—Adeus, meu Rei —Disse Sansa, fazendo uma vénia profunda.

Jon colocou uma luva com pele de cordeiro na mão direita.

—Não precisa ser sempre tão polida, Sansa —Disse Jon, meio seco, mas parecia que era para ser uma brincadeira. —Recebeu alguma resposta da Campina?

Sansa abanou a cabeça.

—Nada.

Jon assentiu, desgostoso, mas não parecendo decepcionado. Ele se virou para ela. Jon tinha neve nos cabelos, assim como Robb quando ela o viu pela última vez.

—Você se parece muito com a sua mãe —Ele disse, com um sorriso meio triste.

Sansa ficou um pouco surpresa com o elogio, dada a relação que ele e a mãe dela tinham.

—Obrigada —Sansa disse, sorrindo. —E você se parece muito com o nosso pai.

Para sua surpresa, Jon a abraçou. Ele era frio, mas ela nem se importou.

Quando eles se afastaram, Jon subiu no cavalo.

—Fique forte, Sansa. —Ele disse, dando um beijo na testa dela. —Você terá que ser forte.

—Você também, irmão.

Jon se virou, um pouco surpreso com o uso da palavra. Mas ele era seu irmão, tanto quanto Arya, Bran, Rickon e Robb.

—Sabe —Disse Jon —Você também tem muito do nosso pai.

Conforme seu irmão fazia o cavalo trotar para perto do portão, Sansa ia para dentro do salão, até que um cavalo parou na sua frente. Montado na sela, estava Stannis Baratheon.

—Rainha Sansa —Ele disse.

—Rei Stannis…

—Eu achava que você seria só uma garota chorosa e mimada, cria daquela peste de Petyr Baelish… Por falar nisso, onde ele está?

Ela deu de ombros. Ele havia sumido havia um tempo. Talvez ele voltasse ou talvez não.

—Bem, de qualquer forma, você não é apenas uma jovem irritante e mimada; você também é a filha de seu pai. Nunca gostei dele, e vejo muito dele em você.

—Obrigada?

—Também creio que tenha a coragem de sua mãe.

—Você a conheceu?

Ele assentiu.

—Prometi dar a cabeça dos assassinos de Ned para ela. Também prometi matar o filho dela.

Sansa apertou os lábios.

—Ela não sabia seu lugar —Disse Stannis —Dando palpite em brigas de reis e era enviada de seu filho. Bem, posso respeitar isso, muitos diriam que eu também recebo conselhos de mulheres que não sabem o seu lugar.

—Lorde Stannis, eu…

—Você —Ele a interrompeu —Tem algo que poucos tem. Algo que apenas seu irmão parece ter, e talvez a minha mão, Davos.

Sansa estava ficando farta daquela conversa.

—E o que seria?

Stannis deu de ombros.

—Não sei, coragem talvez? —Ele disse —O que quero dizer é, que você tem os materiais para uma boa monarca. Você faria de tudo para salvar o reino; eu vejo isso em você, em cada gesto simples, vejo uma espécie de guerreira. —Ele acenou com a cabeça e bateu as esporas do cavalo, indo até o portão.

Que homem estranho, pensou Sansa. Queria saber o que Jon via nele.

Mas, apesar de tudo, Sansa não podia negar que ele parecia um dos poucos homens que pareceu dizer algo minimamente respeitoso com ela. Stannis podia ser o que fosse, mas era um homem justo e cumpridor de seu dever, isso era óbvio.



Pouco depois deles partirem, Sansa foi até a princesa Asha.

—Podem soltá-la —Disse Sansa aos guardas.

Os homens estranharam e se entreolharam, mas fizeram o que ela mandou.

As correntes que prendiam os calcanhares e pulsos de Asha fizeram um barulho alto ao cairem no chão, o som ecoou por um tempo até finalmente se dissipar de vez.

—Por que? —Asha perguntou, tocando no pulso marcado pela corrente.

—Seus companheiros estão soltos. —Sansa disse —Escondidos numa cabana da Vila de inverno, com um pouco de comida.

—Por que? —Asha indagou novamente, desconfiada.

—Você tem direito às ilhas de ferro. —Sansa disse —E Euron está na Campina até onde sei, provavelmente morrerá lá.

Asha riu.

—Não tenha tanta esperança.

—Você pode aproveitar o vácuo de poder —Disse Sansa, ignorando o que ela disse. Não fazia diferença, pois Euron ainda estava longe das ilhas. —E tomar o trono para si.

Asha sorriu.

—Stannis matou meu irmão. —Ela relembrou. —Por que deveria ajudá-los?

—Porque Dany é pior que ele —Sansa respondeu. —Ela é nossa inimiga agora… E, pelo que eu ouvi, a morte foi uma misericórdia para ele.

O sorriso de Asha morreu.

—Lady Blackwood me disse que você quer terras na Cauda do Dragão Marinho —Sansa disse — Isso pode ser possível. Você parece mais esperta que os seus tios.

Asha a olhou por um tempo, até assentir.

Sansa se virou para Nestor Royce.

—Leve-a. —Sansa disse. Infelizmente, ela teria de continuar a agir por baixo dos panos de seu irmão e Rei… Mas, disse a si mesma que valeria a pena, se ganhassem no final.

 

Sansa estava costurando, ouvindo o jovem Hoster Tully, filho de Lorde Brynden Blackwood, ler um poema para ela. O rapaz fora nomeado em homenagem ao falecido avô de Sansa, lorde Hoster Tully. Ele era bem alto e gentil, tendo uma boa voz para canções.

Antes de serví-la, Hoster era copeiro de Jon, a pedido do tio de Sansa, Edmure, querendo agradar o Lorde Blackwood.

—O pai o quer consagrado cavaleiro —Confidenciou seu tio, embora essa parte nãp fosse novidade. —Mas, principalmente, longe dos livros e com uma espada na mão.

—Acho que ao invés disso ele deveria esperar a guerra acabar e mandá-lo para cidadela. —Disse Sansa. —Afinal, eles nem seguem os sete deuses e Jon nem é um cavaleiro.

Edmure sorriu.

—Mas é um rei, pode consagrar quem quiser. — seu tio o lembrou. —E acho que Lorde Brynden não quer um meistre, e sim um guerreiro.

Sansa assentiu, embora achasse a ideia de levar um filho para a guerra ao invés de apoiar seus simples gostos por livros rídicula.

Jon assentiu o pedido de Lorde Blackwood, de qualquer forma.

—Claro, eu o aceito em meus serviços —Disse Jon. —As Terras do Tridente estão sob minha proteção tanto quanto as do Vale e Norte. É uma honra ter em minha companhia uma casa tão importante quanta a Blackwood.

Pouco depois, seu irmão falou com Sansa sobre deixar Hoster a serviço dela, em Winterfell:

—Ele não é um garoto para batalhas —Jon lhe disse, mas sem qualquer tom de reclamação na voz. —Ele é um jovem inteligente e deve ficar aqui, servindo você.

Sansa assentiu, sabendo que o jovem seria perfeito para ela.

—Mas por que você o mantém tão por perto?

Jon sorriu. Era um dos poucos sorrisos genuínos que ele deu desde que ela o reencontrara em Winterfell.

—Ele me lembra um velho amigo, Sammwell Tarly. Ele está na Cidadela agora. —Seu sorriso morreu. —Acho que nunca mais o verei de novo.

—Pode enviar uma carta para a Cidadela. —Sansa disse. —Talvez os Greyjoy não tenham lhe feito mal.

Jon deu de ombros em resposta e abaixou a cabeça.

—Não, dúvido que esteja vivo... E, mesmo que esteja, talvez seja melhor nunca nos revermos.

Sansa assentiu, percebendo que ele não queria falar daquilo. Seu irmão era muito recluso com ela sobre a vida dele antes de Winterfell.

—E quem vai serví-lo quando sair daqui? —Sansa perguntou.

Jon quase pareceu sorrir, e ela viu uma certa alegria brilhar em seus olhos quando ele lhe respondeu:

—Cetim. Um velho amigo da muralha. Acredite, ele me dará tudo que eu preciso em Castelo Negro.

Sansa assentiu.

—Eu espero que ele seja bom.

—Ah, sim, ele é... Muito bom no que faz.

Enquanto estava terminando seu trabalho de costura, o Meistre abriu a porta, abruptamente, assustando Sansa e quase a fazendo derrubar seu trabalho.

Sansa o olhou, surpresa, para o homem.

—Chegou um corvo de Porto Branco. É Daenerys. —Ele disse —Ela conquistou o Castelo.

Sansa respirou fundo. A ameaça estava próxima. Era cada vez mais real.



Algumas semanas atrás…

Dany pousou Drogon no solo congelado. A neve derretia e virava água borbulhante sob o calor corporal de seu filho, fumaça saía do liquido. Ela estava cansada, seu corpo doía por estar tanto tempo em voo. Nem o corpo de Drogon parecia protegê-la contra a neve e o vento cortante do Norte.

Os seus soldados a seguiam, cada vez em menor número, mas ainda eram centenas.

Dany poderia deixá-los para trás e voar, mas não queria abandoná-los no gelo. E, mesmo que estivesse segura de que iriam chegar em Winterfell, de nada adiantaria ela chegar lá primeiro. Ela não queria ter de derreter o castelo, mas sim conquistá-lo; entretanto, Drogon não era nenhuma garantia, apenas ele não poderia fazer guarda e prender qualquer servo e guarda, ou de qualquer ameaça quando ela estivesse dormindo no quarto. Conquistar não era governar. Para reinar, precisava do exército de leais servos e defensores com ela.

—Quantos morreram? —perguntou Dany ao chefe imaculado.

—Hoje? Cinco, mas ontem foram dez.

Dany suspirou. Estavam há três dias de Winterfell durante quase uma quinzena. A neve atrapalhava seu caminho.

Três dias atrás, um grupo de selvagens atacou o exército dela, durante a noite, disfarçados de árvores. Os Gatos-da-Sombra surgiam de noite e atacavam alguns. Para piorar, existiam armadilhas na neve e alguns soldados caíam nelas, morrendo ou se ferindo gravemente. Às vezes alguém caiam em uma água congelada também, quando passavam por um rio congelado.

—Tem corpos? —Dany perguntou.

Ele assentiu.

—Doze. Mas a maioria foi parcialmente comida por alguns gatos-da-Sombra.

Desde que sejam mesmo os gatos…, Dany sabia que estavam quase sem comida. Dany deixava eles comerem cavalos e outros animais, para não passarem fome. Mas isso queria dizer que Drogon ficaria com os homens que morriam no caminho.

Uma pilha de corpos foi feita, de forma muito lenta, na frente de Drogon. Dany viu seu filho as encher de fogo e esticar o pescoço até ela, afundando o focinho na carne queimada e comendo-a com avidez.

Dany exprimiu os lábios e virou a cara, com nojo. Não gostava disso. Fazia-a lembrar-se da garota que Drogon matara em Meereen… E de outras pessoas. Os gritos dos homens e mulheres que queimara em Essos, os olhos explodindo, a queimando torrando…

Balançou a cabeça. Aquilo era o que seu filho era. Aquilo era o que a casa Targaryen era. Aquilo era o que ela precisava ser se queria conquistar o trono.

E tinha que se lembrar dos reais culpados: os Stark. Eles fizeram isso com ela e o seu filho. Machucaram Drogon, e se recusavam a respeitar o direito de Daenerys ao trono. Iriam responder por isso.

—Minha rainha —Marwyn se aproximou dela.

—Sim? —Ela perguntou.

—Se quer minha opinião, deveríamos sacrificar os feridos, assim como os animais. Não precisamos dá-los vivos ao seu filho, podemos lhe dar alguma misericórdia e depois dar os corpos.

Dany fez uma careta. Vendo sua reação, Marwyn se adiantou a falar algo para que ela não negasse.

—Por favor, majestade — Ele disse, com fumaça saindo da boca e das narinas. —Não tenho mais leite de Papoula, não tenho como aliviar as dores dos feridos. E, com todo o respeito, eles nos atrasam e nunca vão viver até Winterfell. Eles nos atrasam e sofrem todo o dia. Se não acredita, é só vê-los…

Dany já tinha visto muitos deles. Não só durante a viagem até Winterfell, mas em Essos. As pessoas sofrendo, cada passo sendo uma agonia, a dor em seus olhos…

—Tudo bem. —Ela disse. —Mas não os faça sofrer. —Ela se virou para Bosta de Escaravelho. —Mate os feridos, mas de forma rápida. Sem dor.

Ele assentiu e virou os calcanhares.

Marwyn permaneceu, se aquecendo nas chamas nojentas e negras de Drogon.

Dany foi até o filho, se recostando perto de seu filho. Ela viu os corpos carbonizados com nojo, mas sem desviar os olhos. Tinha que se lembrar do que ela tinha de fazer para conquistar o trono.




Sansa estava sentada no topo do trono de ferro. Acima de vários lordes e ladies da corte, que se ajoelhavam perante ela.

Estava usando um vestido branco prateado com renda de prata com sementes de pérola, uma corrente de prata com safiras azuis e pedras da lua em seus ombros. Seu cabelo acobreado estava brilhante e solto. Em sua cabeça, um diadema de prata polida com diamantes.

Ela sorriu, estava no topo de todos os homens e mulheres dos sete reinos. Estava segura e poderosa.

Ela sentiu alguém pegar sua mão e a levantar. Ao se virar, ela viu que era seu marido, Harry. Ele beijou as costas de sua mão e sorriu para ela, com as covinhas que ela amava.

—Minha rainha —Ele disse, com seu belo sorriso de dentes brancos perfeitos.

Sansa percebeu que ele usava uma coroa de bronze com espadas de ferro. A coroa do Norte. Seu trono era igual ao trono de ferro, mas um maior do que o de Sansa. Ele era o rei governante.

Harrold era tudo que qualquer Lady gostaria de ter: alto, loiro, de olhos azuis claros, musculoso e herdeiro de um  grande reino.

Mas ele não era o que Sansa queria.

Ela afastou a mão dela e olhou para baixo, para todas as pessoas no salão, de cabeças abaixadas para ela. Não viu seus pais, irmãos ou tios. Nem qualquer lorde ou lady nortenho. Lady também não estava com ela.

Aquele trono não era a cadeira de pedra dos Stark, e aquele grande salão não era o de Winterfell. Ela se voltou para Harry, que ainda sorria para ela.

—Não —Ela disse. —Não é isso que eu quero.

De repente, Harry se desfez, e todo o resto com ele. Ela se viu sozinha, no salão de Winterfell, com as cabeças de lobo esculpidas na cadeira de pedra a observando. A coroa dos reis de inverno estava deixada na mesa em frente ao cadeirão.

Sansa se aproximou e pegou a coroa, observando as espadas…

Ela acordou num sobressalto, com batidas severas na porta.

Lady Wylla, a filha de Lorde Manderly, acordou com ela e foi até a porta, abrindo-a.

—O que é? —Ela perguntou, irritada. —A rainha está a descansar!

O homem entrou sem falar nada, empurrando a porta. Estava sem fôlego, devia ter subido as escadas correndo.

—O que significa isto!? —indagou Sansa, já temendo a resposta.

—A rainha… —o homem lutava para respirar e falar— A usurpadora… Ela… Ela está…

Sansa sabia o que ele iria dizer.

—Daenerys está vindo. —Ela disse. Ele assentiu.

—Saia —Ela disse —avise aos lordes que vou vê-los assim que me vestir. —Ela se virou para Wylla — Me ajude, Wylla.

Ela afastou os lençóis de pele e Wylla foi ajudar, após empurrar apressadamente o homem sem folêgo.

A jovem tinha um cabelo loiro com uma única trança, tingida de verde. A jovem dama de companhia foi até uma arca e pegou um vestido de lã branca para Sansa.

—Vai dar tudo certo, minha rainha —Disse Wylla, enquanto amarrava as costas do vestido de Sansa. — Essa tirana não vai conseguir nada!

Queria ainda ter toda essa esperança, pensou Sansa, um pouco ressentida sobre como aquela jovem moça tinha uma inocência e coragem que ela tanto ansiava para si.

—Que os deuses lhe escutem —Respondeu Sansa.

O pai de Myranda, Lorde Nestor Royce, estava no Grande Salão, sentado na mesa principal. Junto dele estava o meistre do castelo, a Lady Dustin, Lady Anya Waynwood, Lady Maege Mormont, lorde Tallhart e o pai de Wylla, Wylis. Edmure Blackwood estava lá também, como copeiro.

Petyr Baelish não se encontrava em nenhum lugar.

Sansa se sentou na enorme cadeira de pedra dos Stark.

—Podemos começar —Ela disse.

Wylis se voltou para encarar sua filha.

—Este não é lugar para…

—Pode nos servir, Wylla —Disse Sansa, sabendo que a garota queria participar do conselho. E ela já tinha idade para ser copeira. Desde que não lhes atrapalhasse, Sansa não viu problemas.

Wylla sorriu e assentiu, pegando uma jarra de vinho e servindo a todos no salão. Depois, ela se afastou, ainda segurando a jarra de vinho, pronta para servir assim que necessário.

—Quanto tempo? —Sansa perguntou.

—Nossos batedores tiveram que ser cuidadosos —Disse lorde Nestor, ao invés de só responder a pergunta —Cuidaram para que o dragão não os visse, a neve os protegeu e…

Lady Dustin revirou os olhos.

—Quanto tempo? —Perguntou Sansa, novamente.

—Um dia, talvez menos. —Ele respondeu. —Mas a neve os atrapalha demais, com sorte, podemos ter dois dias.

—Terá de servir. —Disse Sansa, ela se voltou para Edmure Blackwood —Quero que diga aos servos que devem dar as comidas do castelo para os plebeus que permaneceram na vila de inverno, diga-lhes que eles terão abrigo aqui, se quiserem. Quero que verifiquem as armadilhas deixadas na neve, se possível, faça novos buracos. E abatam qualquer animal que encontrarem; podem dar para os plebeus, mas eu prefiro que queimem.

O jovem de pernas longas assentiu e girou os calcanhares, indo fazer o que ela lhe ordenou.

—Milady! —Disse Lorde Tallhart, de olhos arregalados —Não temos como aguentar um cerco sem…

—E não vamos —Ela disse —Não tem como Winterfell aguentar um cerco nas condições atuais, ainda mais com um dragão à espreita. Nenhum castelo pode sobreviver contra um dragã. —Ela balançou a cabeça. —comeremos pouco, mas os dela também. O Lorde Manderly tratou de não deixar comida, e o caminho está totalmente coberto de neve, sem nada para comer além dos alimentos que trouxeram. Considerando a demora que andam tendo, graças às tempestades de neve, acredito que Daenerys esteja demorando mais do que gostaria.

—Vamos torcer para que ela não tenha trazido muita comida para uma situação dessas. —Disse Lady Dustin.

Sansa assentiu.

—Alguém tem mais algum plano?

—Acha que temos condição de aguentar algum tempo? —Perguntou Lady Maege Mormont.

Sansa deu de ombros.

—Podemos tentar, mas não creio que dure nem um dia.

A velha assentiu, não parecendo abalada.

—Bem, Lorde Royce e Lorde Tallhart, quero que verifiquem a guarda do castelo —Ela disse, depois se virou para o meistre. —Quero que escreva cartas para nossa forças em Monte Caillin, eles devem saber que terão ameaças vindas da direção norte do castelo, e isso não é comum para eles aguentarem. Mande também uma carta para as ilhas de ferro, Asha pode fazer algum uso disso, se ela acreditar que tem algum.

O meistre assentiu e foi fazer o que ela ordenou.

Ela se virou para os outros lordes.

—Alguma outra ideia? —Ela perguntou. O silêncio foi a única resposta.

—Acho que nos basta esperar, minha rainha —Disse Lady Dustin.

Sansa assentiu. Não tinham muito o que fazer além de esperar. Era horrível, pois a fazia se sentir impotente, como se tivesse voltado à corte Porto Real. Sansa agora podia usar coroa, mas não parecia estar mudando muita coisa.

Lady Barbrey era uma mulher estranha; Sansa tinha ouvido que ela detestava seu pai e sua mãe, e ela parecia ter ajudado os Bolton… Mas então se voltou contra eles. Ao invés de ter apoiado Rickon ou Jon, ela apoiara Sansa na sucessão do Norte. Sansa não sabia o porquê, mas achou que a mulher deveria querer alguém que ela achasse frágil para controlar.

Pouco depois de sair, o meistre de Winterfell voltou, com uma carta.

—Acabou de chegar, majestade —Ele disse, lhe entregando a mensagem. —Veio da muralha.

Asas escuras, palavras escuras.

—Jon? —Ela perguntou, pegando o papel e lendo.

Ao ler a mensagem, Sansa chorou, com um misto de felicidade e tristeza. Queria poder estar feliz ao ler as palavras de seu irmão, mas não podia. Amaçou o papel, com uma dor no peito.



No dia seguinte, de manhã, enquanto rezava no bosque sagrado, tentando distrair a mente, e escutava Hoster ler um belo poema, o meistre a avisou que o dragão de Daenerys havia sido visto e que ela havia chegado.

Wylla soltou um som de horror e Hoster empalideceu.

—O que faremos? —Perguntou Wylla, assustada.

—É o nosso fim! —Berrou Wynafryd, irmã mais velha de Wylla, apavorada com a ideia da conquistadora finalmente ter chegado.

—Silêncio. —Sansa disse, sentindo-se estranhamente calma. Ela olhou uma última vez para o rosto sangrento esculpido na madeira pálida. Quase que em um apelo silencioso.

Ela se levantou, bateu apressadamente na saia para retirar a neve, e foi até o castelo.

Olhando pela janela do solar de Winterfell, Sansa conseguiu ver: a enorme sombra alada que rodeava seu castelo, as asas eram vermelhas como brasas. Era possível ter um pequeno vislumbre da montadora em alguns ângulos, mas ela era minúscula demais.

Sansa ficou olhando a fera alada, seguindo-a com os olhos. Era a mesma fera que queimou milhares em Essos, descendente das feras que conquistaram Westeros. Montada pela filha do homem que matou o avô e o tio de Sansa, o mesmo homem que seu pai depôs. Era como se o passado de seu pai estivesse voltando em busca de vingança.

Sansa se perguntou o que seu pai faria… ou sua mãe? Que estratégia Robb teria? Ou mesmo Jon? Queria que eles estivessem ali para lhe ajudar. Se Lady estivesse ali, Sansa não teria medo algum.

Mas os pais se foram, assim como Lady; e os irmãos não estavam mais ali para lhe ajudar. Parte dela queria apenas voltar a ser Alayne, uma jovem despreocupada, com a coragem dos bastardos…

Mas ela não era Alayne. Ela era Sansa da Casa Stark, a era a Stark em Winterfell. Ela tinha que ser brava, como um lobo. Não podia escapar de sua própria história.

A cortesia de uma senhora é sua armadura, lembrou-se. Ela não era uma grande estrategista como os irmãos, nem uma lutadora como sua irmã… Mas sua cortesia tinha lhe mantido viva todo esse tempo. Ela deveria enverga-la, sem medo.

Cersei e Joffrey sempre zombaram dela por ser cortês, bateram nela por gostar de canções e ser quem era; e, por um tempo, Sansa achou que eles estavam certos…

Mas as coisas mudaram; Joffrey estava morto, e Cersei perdera tudo que tinha. Eles estavam derrotados, Sansa não. Ela se sentia mais viva do que nunca.

Não poderia deixar o medo passar pela sua armadura. Não deixaria que tomasse sua mente.

—Majestade! —Disse o meistre, nervoso. —Ela está vindo! Se ela já está aqui, seu exército…

—Ela está vindo, não importa o que façamos —Disse Sansa, se mantendo calma. Virou-se para encará-lo. —Mas podemos atrasar o inevitável. 

—C-como?

—Temos nossos aliados —Ela lembrou. —Envie corvos para eles. —Era inútil, mas não custava nada.

Ele assentiu, mas antes dele ir, Sansa perguntou.

—Nossos guardas?

—Estão preparados para lutar, majestade.

Sansa assentiu.

 

E assim foi, quando as forças de Daenerys chegaram, adentrando na cidade, os arqueiros escondidos em algumas casas acertaram-lhe algumas flechas. Alguns soldados jogaram óleo fervente, outros, pedras. Alguns imaculados caíram em armadilhas na neve, caindo em espinhos em buracos escondidos. Alguns poucos pegaram espadas, mas estes quase não obtiveram sucesso.

Alguns estavam montados em cabras com chifres de Skagos, poucas, mas eram grandes e ferozes. O chifre no centro da testa atravessava a carne mole dos soldados que usavam couro. Ou os pisoteavam com seus cascos. Nenhum deles jamais vira coisas assim, e nenhuma dos poucos cavalos ou Zebralos eram capaz de enfrentá-los, pois já estavam fracos pela viagem, sendo facilmente abatidos.

Sansa teve medo por aqueles que não quiseram entrar nas muralhas de Winterfell, mas, para seu alívio, Daenerys não queimou a cidade.

Alguns plebeus ajudaram os soldados, pegando pedras e inchadas contra os inimigos, mas a maioria morreu.

As forças das muralhas conseguiram segurar o quanto puderam, lançando flechas. A força terrestre acabou por fazer uma barreira de espadas, lutando contra os imaculados e outros estrangeiros.

Muitos morreram, mas conseguiram levar alguns consigo. Graças a viagem de quase dois três meses na neve, o exército de Dany estava fraco. Mesmo os imaculados não estavam totalmente bem, pois nunca foram obrigados a aguentar o frio. Eles também não tinham as botas especiais para andar em tal terreno.

Uma parte do exército de Dany morreu pela doença da égua pálida; outra, caindo em armadilhas escondidas no chão. Muitos cavalos tiveram que ser sacrificados ao se machucarem, e suas carnes foram queimadas e comidas, pois a maior parte da comida havia se esgotado. Apesar disso, muitos morreram de fome. O frio também fez alguns sucumbirem. 

Daenerys tentava acalmar Drogon. Ela sabia que ele estava faminto, e o sangue e barulho o atraíam. Mas ela não podia arriscar, em Essos ela manchou suas mãos, mas o Norte não era uma ameaça grande o bastante para ela matar plebeus. Ela só precisava derrubar os usurpadores e tudo estava acabado —E os castelo parecia mais desprotegido do que ela imaginava.

Em condições normais, Dany teria entrado no pátio, ou perto das muralhas. Mas Drogon estava agitado demais, ele poderia queimar o castelo.

A culpa era dos que ali governavam, aquela situação toda era culpa dos Stark.

 

Após quase oito horas de luta. Sansa viu que resistir era inútil. Estava na hora de entregar a Daenerys sua vitória nada gloriosa.

Mas ela ainda tinha uma última tentativa, por mais que não acreditasse que aquilo daria certo.

—Mande abrir os portões —Disse Sansa, ainda mantendo-se calma. —Mande reúna meus protetores. Está na hora de nos render.

O meistre assentiu, ainda nervoso, e bateu os pés.

Sansa se virou para Lady Dustin, que manteve um rosto de pedra durante todo o ataque. Bem, aquele podia ser seu fim, então ela não tinha mais porque se manter na curiosidade.

—Eu tenho uma pergunta —Sansa Disse.

Barbrey fez um gesto com a cabeça.

—Sim, majestade?

—Por que me apoiou? —indagou. —Você tinha Jon, Rickon… Por que eu?

Ela deu de ombros.

—Seu irmão Rickon é uma coisa selvagem —Dustin respondeu, sem medo. —Iria precisar de um regente e duvido que tenha salvação. E Jon, nosso rei amado e blá-blá-blá, era apoiado por Stannis. O Norte deve ser governado pelos seus habitantes; não fantoches.

Sansa assentiu.

—Prossiga.

—Você tem o olhar da sua mãe, mas também é filha de seu pai. —Ela continuou. —Você trouxe um exército, comida, passou pela corte inimiga e, mesmo assim, estava aqui.

—Eu não entendo…

—No passado, eu quis ser uma Stark —Barbrey revelou. —Quando eu não pude, eu os odiei… mas, depois de tudo, eu percebi que os Stark são o que mantém o norte unido. Você, Sansa, diferente de mim, é uma Stark. Você pode não parecer como seu pai, mas você tem a honra dele. O senso. Você é a Stark em Winterfell.

Quando Sansa ia lhe responder, a porta do Solar se abriu.

—Estamos prontos, majestade —Disse o meistre, com os guardas alados do Vale atrás dele.

Sansa assentiu. Estava na hora de enfrentar a temível rainha dragão.

 

Sansa foi até a porta levadiça. Junto dela, estavam o meistre, Lady Maege, Lady Dustin, e Lorde Wylis. O Lorde Nestor e Tallhart estavam liderando a luta contra a invasora.

Wylla, Wynafredy, e Hoster estavam com ela.

—Vocês não precisam se arriscar — Sansa havia lhes dito.

—Nosso dever é com você. — respondeu Wylla. —Nós a serviremos até o final.

Os portões foram abertos, e a porta levadiça foi descida. Uma fileira de imaculados estava do lado de fora.

Daenerys desceu do céu, pousando em frente a abertura. Sansa deu a ordem e todos saíram do castelo.

Sansa olhou para o imenso dragão negro; não devia ser nem metade do que Balerion era antes de morrer, mas ainda era enorme e assustador.

E então, após alguns passos, elas haviam finalmente se encontrado; Sansa, a filha do homem que ajudou a derrubar a casa Targaryen, e Daenerys, a mulher que estava disposta a queimar todos aqueles fossem contra ela. Sansa Stark e Daenerys Targaryen, as grandes mulheres de suas respectivas casas, finalmente iriam encarar-se após tantas mortes e perdas. Todas as perdas, desilusões e tragédias em suas jornadas as levaram para aquele momento. O encontro de fogo e gelo.

Enquanto Daenerys usava uma armadura negra com um dragão feito de rubis, Sansa usava um simples vestido de lã branca com renda de prata.

Ela é linda, pensou Sansa, como a Rainha Naerys deve ter sido. Mas já havia passado da época em que Sansa se deixaria levar por isso.

Sansa se aproximou de Daenerys.

Ela é tão nova, pensou Dany ao ver a jovem ruiva na sua frente, perdeu tantos tão nova…

Mas aquela jovem também era cúmplice pelas perdas de Dany. Ela havia ignorado os pedidos de paz e foi sua frota quem feriu Drogon. Já haviam passado os dias em Dany mostrava-se misericordioso.

Dany a olhou de forma dura.

—E então? —Ela perguntou, rispidamente, esperando a ruiva falar. Ao pensar em como ela também era culpada pelos ferimentos de seu filho e na morte de Verme Cinzento, Dany sentia-se como se tivesse um dragão vingativo dentro dela, pronto para queimar a jovem Stark e seu castelo.

Dany achou que a jovem iria se render, mas ao invés disso, o que ouviu foi:

—Vamos reunir um Grande Conselho. — Sansa disse, tentando manter-se calma, mas com esperança na voz. —Tão Grande quanto o do Velho Rei Jaehaerys. Deixemos que os lordes escolham quem lhes governa, como o maior dos reis queria.

Ela ousa usar meu antepassado contra mim?, Dany ficou incrédula.

Daenerys franziu o cenho e torceu a boca, segurando a fúria. Aquela garota quase matara seu filho e deixou os aliados de Dany morrerem em um deserto de neve, e agora queria falar sobre tentar a paz?

Como se sentisse sua fúria, Drogon sibilou, furioso, em direção a Sansa. Olhando-a com ódio. A jovem tentou se conter e não olhar para a fera.

—Acha que sou alguma idiota, garota? —Disse Daenerys, sem segurar a raiva dentro de si. —Nós duas sabemos o que este conselho iria decidir. Agora, escolha: rendição ou morte.

Sansa abaixou a cabeça, derrotada. Ela ordenou que os soldados abaixassem as armas e entregou as chaves do castelo para Daenerys. Após isso, ela olhou Daenerys, olhou bem fundo em seus olhos púrpuras.

—Pode ter tomado Winterfell por hora, Rainha de Meereen, mas essa vitória não vai durar —Ela disse, se recusando a chamá-la pelo título de Rainha dos Sete Reinos. —Seus dragões fizeram a farra ao Sul do Gargalo, mas estamos no Norte agora, e a minha alcateia está reunida. Você e as suas feras não são bem vindas aqui. 

Daenerys não se abalou.

—Acredite nisso se quiser, Lady Sansa — rebateu Dany, irritada com a arrogância daquela jovem. —Harren, o negro, tinha a mesma soberba e um castelo maior, e isso não o salvou de ter a sua linhagem virando cinzas. Assim como as muralhas de Meereen, Qarth e Volantis não puderam me deter, as muralhas de neve de seu velho castelo destruído também não irão.

Sansa nada disse, apenas ouviu, tentando não dar vazão às ameaças daquela estrangeira tirana.

Quando Dany estava preste a dar a ordem para entrarem no castelo, ela se virou, após ouvir o barulho da multidão. Eram os habitantes plebeus da vila de inverno, aqueles que ficaram escondidos e não se atreveram a lutar. Eles eram um pouco mais de cem, mas rapidamente triplicaram de tamanho. E eles estavam bravos.

Os imaculados de Dany logo se viraram e fizeram uma barreira de escudos. Drogon se virou para encarar a turba, mas isso não pareceu abalar as pessoas.

—Deixe a rainha Sansa em paz! — um deles gritou.

—Não queremos criaturas do incesto por aqui! Saia daqui, cria do Rei Louco! —Disse uma mulher, jogando uma pedra, que foi barrada pelo escudo do imaculado. 

—Essas terras não são suas, rainha puta!

Eles a respeitam tanto que enfrentam o medo, percebeu Dany. Havia uma época que muitos fariam o mesmo por ela. Morreriam por ela.

Mas isso era em Essos, agora estava em Westeros, e ela já não era a rainha amada de antes. Ela agora era uma conquistadora, não uma libertadora.

A turba se irritou mais, tentando bater de frente com os imaculados, mas não conseguiam passar pela barreira de escudos, não importa o quanto tentasse.

Um garoto jogou um pedaço de bosta que atingiu a cabeça de um imaculado, mas este não se deixou abalar.

De repente, Drogon pareceu se enfurecer e rugiu, um rugido tão potente que assustou grande parte das pessoas revoltosas, que largaram suas pedras e paus e saíram correndo, de volta para suas casas. Alguns permaneceram, entretanto.

Drogon os olhou com ódio sibilante.

—Chega, Drogon! —Disse Dany, irritada por não ter mais o berrante consigo.

—Controle seu dragão! —Disse Sansa, consternada. —Não o deixe…

—Quieta! — Dany a censurou. —Isso não aconteceria se você e os seus irmãos soubessem o seu lugar!

—Minha iluminada —Bosta de Escaravelho se aproximou dela —Devemos matar os revoltosos.

—Matá-los? — indagou Dany, desgostosa. Ela se virou e encarou as pessoas revoltosas; a maioria parecia mais calma, preferindo pedir misericórdia.

Infelizmente, Dany havia dito a palavra na língua comum, e Sansa compreendeu.

—Você não vai matá-los, não é? —Sansa perguntou, apavorada com a ideia. Dany pode ouvir o medo em sua voz e o ver em seus olhos azuis. —Eles são só a plebe, só estão defendendo a sua rainha, não pode castigá-los por isso! Eu te imploro, Daenerys, não machuque meu povo!

Daenerys olhou para Sansa, surpresa pela mudança de atitude. Ela não parecia mais uma jovem adulta rebelde, e sim… uma criança assustada. E Dany não gostava de machucar crianças.

Dany assentiu para ela e se virou para o chefe dos imaculados.

—Não machuque ninguém, apenas escolte Lady Sansa e os companheiros para dentro, e mande os outros soldados trazerem as carroças, principalmente a que tem as correntes de Drogon.

Dany montou Drogon e o levou para o pátio, não queria ele causando problemas. Seu filho estava irritado com a neve, e estava arredio após meses voando no Norte e quase sem comer.

Dany detestava isso, mas teve de acorrentá-lo. Jurou nunca mais fazer isso, mas não sentia que devia ser tão leviana naquele lugar. Queria terminar tudo aquilo o mais rápido possível, sem que seu filho criasse problemas.

Drogon se remexeu quando um grupo de estrangeiros tentou colocar-lhe na corrente, e queimou um homem de Essos no meio tempo.

—Já chega, Drogon! —Disse Dany, batendo-lhe com o chicote. Era perigoso, mas não tinha o berrante, e Drogon só respeitava o perigo e a força. —Pare, agora!

No fim, após darem dois cavalos para ele comer, Drogon ficou mais calmo, e conseguiram pôr-lhe as correntes. Mas Dany sabia que ele logo iria se irritar e quebrá-las.

—Traga todos os corpos dos homens mortos em luta para Drogon. —Ordenou Dany, apesar de achar a ideia mórbida. Entretanto, seu filho precisava de carne para se recuperar. E ele era mais calmo de estômago cheio.

Mas teria que deixar os problemas de Drogon para depois. Agora, tinha que tomar Winterfell.

Os estandartes Stark foram derrubados, e o símbolo Targaryen foi posto no lugar. Os plebeus escondidos nas criptas foram levados para fora do castelo e deixados na vila. O meistre foi preso, junto com todos os empregados do Castelo. Dany resolveu deixar os corvos vivos, ao contrário do que fizera em Porto Branco, onde matara todos.

E, quanto a Lady Sansa, ela foi presa pelos calcanhares, tornozelos e pescoço por correntes douradas, dignas de sua alta posição como refém.

—É uma refém valiosa —Disse Dany —E considere esta a minha misericórdia por ter se rendido.

Sansa não agradeceu ou sequer desviou o olhar.

—Vou usá-las com orgulho, Rainha de Meereen —Disse Sansa — É bom saber que ainda resta alguma misericórdia na filha de Aerys II.

Dany fechou as duas mãos, formando dois punhos.

—É bom agradecer mesmo, Lady Stark. —Disse Dany —Ou vou lhe mostrar a misericórdia do dragão, a mesma que dei aos meus inimigos em Essos.

Sansa ficou calada.

Dany foi até o Salão do castelo, e se sentou no trono de pedra cinza dos Stark. Podia ver que Sansa e os nortenhos não tinham gostado disso, mas que se dane, ela já estava farta deles.

Os lordes e ladies apoiadores foram trazidos até elas, acorrentados por correntes mais simples —com exceção de Royce e Tallhart, pois estavam mortos.

Dany se virou para Marwyn e Bosta de Escaravelho.

—E então? —Ela perguntou.

—Os servos já estão presos, minha salvadora —Ele disse —, e os lordes reféns estão todos aqui.

Dany suspirou.

—Nenhum sinal de Jon, Stannis ou mesmo Rickon, eu imagino?

Ele fez que não com a cabeça.

—Imaginei… —Disse Dany, vendo os olhos de Sansa brilharem de satisfação e Maege Mormont deu uma risada alta. Mas ela ignorou.

Eu tento dar paz, mas essa loba miserável zomba de mim.

—E o meistre queimou qualquer carta trazida pelos corvos — disse Marwyn —Não tenho dúvidas de que ele enviou vários corvos para longe, mas não acho que fará diferença. Nós já ganhamos, vossa graça.

Dany assentiu.

—Sim, mas só Winterfell. —Ela retrucou —Temos que achar os irmãos rebeldes de Sansa e o usurpador Lorde Stannis. —Ela se virou para Sansa. —Diga-me…

—Boa sorte —Disse Sansa —Nem eu fui informada —Ela mentiu, mas teria sido melhor não ser informada. Tinha medo de ser torturada e acabar revelando algo.

Dany bufou e se virou para os lordes diante dela.

—Vamos resolver isso primeiro; dou-lhes a mesma escolha que dei a Lady Sansa: Rendição ou morte. —Ela disse. —Ou vocês se ajoelham, ou vocês viraram comida para os meus filhos. —Ela olhou para eles, mas nenhum fez qualquer movimento para se ajoelhar. Dany fechou a mão num punho. —Que seja então.

 

Todos os lordes e Ladies foram levados para o pátio, onde um executor de Essos os decapitou. O homem era um antigo açougueiro e alguns tiveram que levar mais de duas ou três machadadas para morrer.

Dany não queria matar as mulheres, mas Lady Maege e Dustin foram categóricas:

—Somos mulheres do Norte — Disse Mormont —E, se acha que deve nos poupar por isso, está enganada, criança. Nós nunca vamos desistir até te derrotar.

Maege foi a primeira executada. Seguida por Manderly e Dustin. Alguns soldados também foram, junto de outros lordes menores.

Wylla e Wynafryd choraram ao ver o pai ser decapitado. Dany ordenou colocarem as cabeças nas estacas da muralha e darem os corpos para Drogon.

Os corpos dos mortos em batalha formaram três nojentas montanhas de cadáveres. Nelas, não existia diferença entre quem era de Westeros ou de Essos, era tudo carne para Drogon.

Sansa viu cada um de seus apoiadores ser morto, queimado e comido. Sentiu o cheiro da carne sendo incendiada pelo bafo quente da fera de Daenerys. Sentia o calor escaldante e o cheiro de podre que vinha da boca do dragão. Ela não se deixou abalar… mas uma lágrima caiu de seu rosto.

—Onde está Petyr Baelish, Sansa? —Perguntou o jovem Hoster, tentando não olhar para as chamas.

—Eu não sei… —Disse Sansa, enquanto via o corpo decapitado de Lady Dustin ser jogado na pilha de corpos. Dessa vez ela realmente não sabia onde Mindinho estava.

De repente, Marwyn foi até o pátio e foi falar com Dany.

—O que foi? —Dany perguntou, um pouco aliviada por poder desviar os olhos de Drogon, enquanto este estava comendo um cadáver.

—É uma carta da Capital. —Marwyn lhe disse.

—Aegon conquistou a Campina? —Ela indagou, embora não entendesse porque essa notícia chegaria agora. Aegon já devia ter terminado tudo por lá há muito tempo.

Marwyn assentiu, mas parecia receoso.

—Também dizia isso…

Dany lhe dirigiu um sorriso seco.

—Bem, pelo menos temos alguma boa notícia, não é? —Ela brincou.

Marwyn balançou a cabeça.

—Receio que estas são as piores notícias que você poderia ter, Vossa Graça.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.