Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 14
Elinor




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Elinor acordou como sempre acordou em todas as manhãs: em um pesadelo.

Desde que Margaery se fora, suas primas nunca mais saíram de seus quartos; ficavam sempre naquele quarto, trancadas, fechadas do resto do mundo. Apenas servos de Essos vinham para servi-las, provavelmente porque não tinham conhecimento da língua comum —pelo menos Elinor achava que não conheciam— e não facilmente comprados. Não que ela e suas duas primas tivessem meios, ou mesmo coragem, para comprar a lealdade daquelas pessoas.

As únicas vezes que vinham pessoas de Westeros era quando as meninas eram obrigadas a rezar com uma septã.

Elinor estendeu o braço no colchão, onde Margaery deveria estar dormindo. Ainda era difícil acreditar que ela havia partido; nem sequer tinha garantias de que ela estava viva. Ela podia estar morta, assim como o pai dela e seus irmãos…

Os pais e o irmão de Elinor estavam vivos, graças aos deuses; o pai e mãe de Alla também. Entretanto, o pai de Megga morreu nas mãos do golpe sujo dos Florent, malditos sejam. Pelo menos, se o que haviam informado ela fosse verdade, o chefe da casa Florent havia sido morto. Por sorte, os dois irmãos dela estavam vivos.

Todos se foram, pensou Elinor. Apenas eu, Megga e Alla. Estamos sozinhas. Com Margaery sumida, cabia a ela a tarefa de comandar suas primas mais novas, afinal, era a mais velha das moças. Precisava ser forte, não apenas por si mesmo, mas pelas suas primas também.

Suspirando, Elinor empurrou os lençóis e se levantou, suas duas primas fizeram o mesmo. Elinor retirou a coifa de dormir e deixou seu cabelo castanho cair.

—Como está, Megga? —Perguntou Elinor, indo até a arcada perto de sua cama para pegar um vestido. Ela e suas primas passaram a se arrumar sozinhas, assim como realizar algumas outras tarefas sem serviçais, pois estavam se sentindo cada vez mais entediadas.

Como penitência por terem tentado fugir, todos os vestidos caros e jóias que as jovens usavam foram retirados do quarto, apenas roupas de lã grossa e pinicante haviam sido deixadas. Era bom para se manterem aquecidas no inverno, mas era terrivelmente desconfortável.

—Um pouco dolorida, mas estou bem. —A jovem prima respondeu.

Megga passou as mãos nas costas e ficou um tempo sentada na cama. Ela sempre fazia isso ao acordar e em outros momentos, mas ainda era melhor do que antes, pois ela vivia gritando e chorando de dor e ficava o dia todo na cama. Apesar da melhoria constante na saúde, a roliça prima de Elinor havia emagrecido bastante desde o incidente, tinha momentos em que sofria dificuldade de respirar, e a dor dificultava seu sono à noite.

É culpa daquelas serpentes de Dorne, pensou Elinor, com raiva. Sua prima teve três costelas quebradas na queda da noite da falsa fuga. Para piorar, ela ainda ficou terrivelmente doente por ter pego frio; decidiram só avisa-lá da morte de seu pai após sua recuperação, quando ficou claro que Megga tinha boas chances de viver. Desde então, pobrezinha tinha um olhar vazio e abatido.

Elinor terminou de amarrar os cordões do vestido e puxou a corda que tocava o sino que chamava os empregados. Quando vieram, ela pediu comida. Outrora teria sido difícil que eles entendessem, mas parece que, ou alguns deles entendiam o que Elinor e suas primas diziam, ou eles tinham entendido os horários das jovens garotas. Caso Elinor não tivesse tocado o sino —como às vezes acontecia, caso elas não tivessem vontade de comer—, os servos estrangeiros logo iriam entregar a comida, algumas horas mais tarde.

Um dos serviçais de Essos, ao invés de ir com os outros buscar comida, foi até Megga e ajudou-a a se arrumar. A jovem claramente não gostava de ser tocada por mãos estrangeiras, mas, apesar de carrancuda, não disse nada.

Foram trazidos carne de porco, pão, caquis e alguns figos; sua prima Megga recebeu mingau de aveia, pois ainda tinha certas dores ao engolir comida. Não foram servidos vinhos, de forma que Elinor e suas primas simplesmente beberam água.

As três jovens se sentaram em volta de uma mesa que havia no quarto, que fora trazida para perto da enorme lareira do quarto, quase do tamanho de um homem adulto, erguida por duas mulheres esculpidas em pedra branca. No centro da mesa, as rosas azuis de inverno que Margaery havia trazido estavam colocadas dentro de um vaso; o cheiro das flores exalava um cheiro doce no quarto. Alla pegou algumas ervas do chão e jogou no fogo, para aumentar o bom cheiro do quarto.

Enquanto mergulhava um pedaço do pão no molho e comia, a mente de Elinor, como sempre acontecia nesses momentos, viajou para o passado, quando Margaery ainda era rainha; estavam todas unidas, comendo castanhas cozidas na mata do rei.  Estavam bem, estavam felizes.

O prometido de Elinor, Alyn Ambrose, sempre estava lhe fazendo companhia. Ela tentava evitar lembrar dele, mas, de alguma forma, sua mente sempre voltava-se para ele. De como ele sempre estava ao seu lado, como eram calorosos os sorrisos que ele lhe dava, as juras de amor, como ele dizia que o amor dela lhe dava força no combate…

Mas Alyn se fora, morto quando Agon e Daenerys tomaram Porto Real. Ela lhe dera seu favor, para que ele o usasse em batalha, como ele fizera na Batalha de Água Negra, onde ele gritou o nome dela e matou um mercenário de Myr.

—Tome cuidado, Alyn. —Ela disse, após lhe dar sua liga. Ele era um simples escudeiro, nunca tendo sido ungido cavaleiro. —E volte para mim.

Ele lhe deu aquele seu velho sorriso confiante.

—Seu favor me torna destemido em batalha, milady. Me dá forças para vencer. — Alyn respondeu. — Quando eu matar nossos inimigos, serei finalmente seu cavaleiro, e poderemos finalmente ficar juntos.

Elinor ficou corada e deu um riso bobo e apaixonado em resposta a promessa de seu amado Alyn.

Mas não era para ser; seu favor não dera a vitória ao seu prometido e ele nunca foi condevorado cavaleiro. Nem a sua família. Da última vez que ela viu Alyn, ele era só mais um entre vários cadaveres mortos durante a tomada da fortaleza.

Elinor fez o que pode para não chorar, mas, ao sentir que as lágrimas logo iriam saltar de seus olhos, ela decidiu pegar um simples figo e ir para o banco da janela.

A janela onde haviam tentado escapar numa noite estava com barras ferro, para impedir que as jovens tentassem escapar novamente —ou algo pior. Ela se sentou no assento e tentou olhar através do vidro, mas o gelo embaçava sua visão, então ela resolveu abrir um pouco a janela. Uma forte brisa fria atingiu Elinor, fazendo-a tremer, castigando seu corpo e bagunçando o seu cabelo.

—Elinor! —Gritou Alla, zangada — Fecha essa droga! Quer que congele-mos?

Elinor fez o que a prima mais nova disse. Não era normal que suas primas mais novas lhe dessem alguma ordem, mas ela sabia que a Alla estava certa.

Alla parecia cada vez mais ranzinza, volta e meia parecia desgostosa e reclamona. Tudo lhe irritava; seus doces sorrisos haviam sumido, dando lugar a carrancas.

—Desculpem. —Disse Elinor, se sentindo sem graça, enquanto ainda tremia. Decidiu voltar à mesa com suas primas, estava mais calma, e precisava se aquecer. —Por quê não canta para nós, Alla? —Perguntou ao se sentar, tentando animar a prima. —Sempre teve a voz mais bonita…

Alla franziu o cenho e olhou para a Elinor como se ela tivesse dito algo estupido.

—Para quê? Não tem porquê cantar, e, além do mais, eu nem quero. Cante você, se quiser.

Elinor abaixou a cabeça e mordeu o lábio, pegando uma laranja dornesa que haviam deixado ali. Descascou a fruta, silenciosamente. Queria que Margaery estivesse ali, ela saberia o que fazer. Elinor já havia comandado suas primas mais jovens antes, mas nunca naquelas circunstâncias. Nunca fora preparada para aquilo, era Margaery quem era a rainha e a mais confiante do grupo.

Enquanto comia um pedaço da fruta cítrica, Elinor se questionou se sua prima ainda estaria mesmo viva; teria algum motivo para matá-la e não lhe avisarem? Margaery havia ido contra os reis, e estes já haviam mostrado não ter misericórdia… Mas, se isso fosse verdade, por qual motivo não teriam lhe dito? Arianne em pessoa veio lhes dizer que a jovem estava presa em uma cela especial.

Claro, os dorneses eram seres traiçoeiros, e Arianne e sua família se provaram como indignos de qualquer mínimo traço de confiança, entretanto, caso Margaery estivesse morta, por que Elinor e suas primas não estavam? Elas podiam ser jovens, mas Elinor tinha a idade de Margaery, e, querendo ou não, aos olhos dos usurpadores, cometeram alta traição.

Depois veio a pergunta: teria ela se matado? Talvez com medo de uma morte cruel, e após perder vários do que amava, Margaery tivesse pensado que valeria a pena terminar com a própria vida, tal qual Helaena Targaryen fizera séculos antes.

De qualquer modo, ninguém iria responder a qualquer dúvida das jovens; por um punhado de dias Elinor e suas primas tentaram de tudo para saber o que havia ocorrido com Margaery, ou mesmo alguma notícia nova vinda da Campina, mas todos fizeram ouvidos moucos aos apelos das jovens. Estavam deixadas no escuro, sem qualquer tipo de luz para clarear o ambiente de medos e dúvidas.

Pouco depois, a septã Unella entrou nos aposentos, para cumprir as orações das jovens, como sempre. Desta vez, com ela, vieram dois filhos do guerreiro.

Ao ver os dois guarda-costas atrás da septã, Elinor se levantou da cadeira, sobressaltada. Lembrava-se de como aqueles ditos "salvadores" lhe agarram e a afastaram de Margaery. Um deles até machucara a pobre Alla.

—O quê é isso? —Exigiu saber.

A septã Unella não se mostrou abalada.

—Eles farão vigília em seus aposentos. —Respondeu Unella, rispidamente. —Durante sete dias, depois serão trocados por outros filhos do guerreiro, e assim por diante.

Alla também se levantou, irritada.

—Por qual motivo? Nós não fizemos nada para que ainda haja alguma suspeita de que nós vamos tramar algo! Além do mais, somos simples crianças, foi Margaery quem teve a ideia de tentar fugir, apenas a escutamos pois estávamos apavoradas! Pelos deuses, já não bastam os imaculados fazendo guarda na soleira de nossos aposentos?

Elinor e Megga encararam a jovem revoltada, chocadas pela total culpabilização de Margaery ser dita de forma tão abrupta por Alla.

Elinor se lembrava de ter agarrado o braço de Margaery naquela terrível noite,de perguntar se não deveriam apenas desistir e aceitar. Por que sua prima não a ouviu? Por qual motivos teve de ser estóica? Agora ela já poderia estar morta e seus restos ardendo no estômago de algum dos dragões dos usurpadores.

—Vocês são indignas de qualquer confiança. —Respondeu Unella. —E não cabe a mim ou mesmo a vocês questionar as ordens de nosso Alto Septão.

Alla teria algo a dizer, mas Elinor deu alguns passos para a frente, e fez um aceno com a cabeça.

—Certo, septã Unella, entendemos que pecamos e que devemos expiar nossos pecados perante a fé. Que a Velha nos ilumine com a sua luz e nos guie pelo caminho, e que o pai nos julgue com sabedoria.

Unella acenou de forma rápida e seca. Alla fez um som irritado, mas ficou calada. As três dobraram seus joelhos —Elinor ajudou Megga a se ajoelhar, pois a pobrezinha ainda tinha muitas dores— por longas horas e fizeram suas orações. Após isso, Unella lhes deu um longo sermão sobre falta de confiança e como Margaery se provou uma mulher cruel e sorrateira. A velha parecia terrivelmente irritada naquele dia.

Elinor odiava aquela velha. Teve que sentir os dedos dela em suas partes íntimas e ser chamada de fornicadora perante toda a corte e ouvi-lá testemunhar isso durante o seu julgamento. Também fora Unella uma das septãs que lhe acordava várias vezes durante sua prisão no septo.

Após as rezas, a septão partiu, mas os guardas ficaram. Uma serva de Essos entrou, mas não disse nada, apenas se sentou numa cadeira e às ficou observando.

Tem alguma coisa acontecendo, deduziu, nervosa, Se não, por qual motivo estavam dobrando a guarda?

Elinor tentou animar Megga para jogarem Cyvasse —Por sorte os usurpadores tinham trazido o jogo para elas, após Margaery reclamar com Daenerys que não tinham mais as peças—, mas as jovens estavam muito desanimadas. Então ela pegou uma linha de costura, pois já fazia um bom tempo que não fazia isso. Infelizmente, não conseguia se concentrar muito, seus pontos não conseguiam formar algum padrão. Suspirando, deixou a agulha e a linha de lado.

Passaram o dia olhando o fogo crepitar, como sempre faziam. Apenas olhavam para as labaredas da lareira e esperavam as ordens das septãs e irem para a cama dormir e esperar repetir tudo no mesmo dia.

Após as duras rezas do dia, as jovens foram lavadas por serviçais, comeram durante a noite, e foram para as suas camas. Os soldados da fé fizeram guarda, cada um em uma cama, e a serva de Essos dormiu em uma esteira ao lado da cama de Elinor.

A presença dos filhos do guerreiro não deixou de ser sentida em nenhum momento. Elinor fechou as cortinas de sua cama, para não ter de ver o homem que lhe observava. Apesar disso, ainda sentia-se sendo observada.



Dias depois —seriam algumas semanas ou um mês inteiro? —, enquanto as jovens comiam um pouco de peixe defumado com maçãs assadas, uma visita inusitada veio ter com as donzelas: o Lorde Mathis Rowan.

Elinor se levantou ao ouvir o arauto anunciá-lo. Esperava que suas primas fizessem o mesmo, mas as duas permaneceram em seus assentos —Megga talvez estivesse com dor, mas Alla parecia apenas aborrecida com a chegada do lorde traidor.

Quando Lorde Mathis entrou, Elinor fez uma reverência, mesmo que a contragosto. Não gostava dele, jamais esqueceria a traição que ele cometeu, mas precisava ignorar seus sentimentos e manter a mente limpa e ignorar a dor em seu coração. Margaery não estava ali para protegê-la, nem seu pai ou sua doce mãe, ou mesmo seu jovem irmão. Elinor teria de ser a defensora de suas jovens primas… E de si mesma.

Minha mente está paranóica; minha cortesia agora é minha única armadura, e meu coração se tornou um campo de guerra, cheio de dor e perda.

—Bom dia, Lorde Rowan. —Disse Elinor. —O que o traz para nossos aposentos? —Ela se segurou para não dizer cativeiro.

—Bom dia, jovens donzelas. —O lorde se senta em uma cadeira. —Vim para ver como estão.

A serva de Essos que fazia vigia todos os dias nos aposentos se aproximou da mesa, para servir o Lorde e as donzelas, mas Elinor a fez parar com um gesto. Ela mesma pegou a jarra de vinho dornês e serviu Mathis, suas primas e ela mesma.

—Estão sendo bem tratadas?

Alla o olhou de soslaio, com raiva, e franziu o cenho. Antes que ela falasse algo, Elinor o respondeu:

—Estamos bem, dentro do possível. — Sabia que seria ridículo dizer que estavam todas ótimas. —Mas a verdade é que estamos solitárias. Sentimos falta de nossa família, sor.

Mathis assentiu.

—Bem, eu vim para lhes avisar de que eu estou voltando para Highgarden ainda hoje.

As três jovens se entreolharam. Elinor perguntou:

—E por qual razão? A guerra acabou ou…?

—Pelo contrário, filha —Ele a respondeu, antes que ela terminasse a pergunta—, a guerra irá acontecer na Campina. Lá, o Rei Aegon irá derrotar os Homens de Ferro e, após isso, irá para Highgarden, se resolver com o irmão de Margaery. Ele deve se render.

Alla, tomada pela raiva, disse, de forma abrupta:

—Willas nunca irá entregar Highgarden! —A jovem disse, com cólera. —Vamos lutar até o fim!

—Quieta, Alla! —Elinor a repreendeu, depois se voltou a encarar sor Mathis, com um singelo sorriso de desculpas. —Perdoe-a, milorde, ela não sabe o que fala. Desde que Margaery foi tirada…—Mordeu o lábio. — foi levada de nós, têm sido tempos difíceis. 

Sor Mathis assentiu e depois olhou para Alla, com um olhar sério e duro.

—Pelo bem de Lorde Willas, e de todas vocês, é bom que ele perceba a loucura que seria não se ajoelhar; os homens de ferro estão saqueando tudo a longo do Vago, e, se o que eu ouvi estiver certo, a donzela louca de Hightower enlouqueceu de vez e abriu seus portões para ele.

—Malora? — perguntou Elinor, confusa; Malora era irmã da mãe de Margaery, por qual motivo faria algo assim?

Mathis assentiu —Ela é mesmo louca. Não sei porque Lorde Leyton permite que a filha tome tais decisões e nada faz. De qualquer forma —continuou Mathis—, o nosso rei vai livrar a campina dessa corja assim que chegar lá. Willas é um jovem inteligente, ele sabe que não tem apoio de toda a Campina. E conhece a história de Harrenhal e dos feitos dos dragões de Daenerys em Essos; se nem aquele enorme castelo e as muralhas negras de Volantis resistiram ao fogo de dragões, Highgarden nunca teria chance.

Alla fez um som irritado, fazendo Elinor se virar para ela com um olhar de censura. Infelizmente, isso de nada adiantou e, antes que pudesse fazer algo, sua prima pegou sua taça e se levantou da cadeira.

A serva de Essos se dirigiu até a mesa, mas Mathis a fez parar após balançar a cabeça.

—Que os Outros levem seus reis usurpadores e seus dragões! —Ela despejou todo o líquido da taça na cara de Lorde Mathis, que pareceu não se abalar perante o ataque de fúria da jovem.

Elinor se levantou, irritada.

—Já chega, Alla! Como se atreve a fazer algo assim?

A prima lhe dirigiu um olhar fulminante.

—Como você se atreve a fazer as pazes com essas pessoas? Elas mataram nossos amigos! E claramente já mataram Margaery! Agora vão tomar a Campina e casar Willas com aquela vagabunda dornesa, e eu devo sorrir e acenar? Aposto que vão matar todos os Tyrell assim que Willas tiver um filho com aquela falsa! Se você não consegue ver isso, então é uma idiota!

Sem conseguir se controlar, tomada pela raiva, Elinor ergueu um braço e deu um tapa na bochecha da prima. Foi mais forte do que imaginava, pois sua mão ardeu ao entrar em contato com a pele da prima, fazendo um som parecido com um estalar. A cabeça de Alla virou para o lado, tamanho a força do golpe; uma marca vermelha surgiu em toda a superfície pálida da área atingida.

Alla ficou de boca aberta e olhou para Elimor, chocada pelo tapa. Levou a mão que não segurava a taça até a região vermelha, que crescia a cada instante. Elinor olhou para a palma de sua mão. Estava vermelha, e ela podia sentir sua mão arder. Um silêncio pairou no quarto.

—Alla… —Elinor tentou falar e esticou o braço para tentar tocar no ombro da prima, mas ela jogou a taça com a parede, estilhaçando-a em vários cacos de vidro, e deu-lhe as costas, indo até a cama e fechando as cortinas das colunas de madeira para não ter de ver mais ninguém no aposento.

Elinor suspirou e se virou para encarar Lorde Mathis, que secava o rosto com um lenço rendado.

—Desculpe, meu lorde, estes têm sido… tempos difíceis para minha prima. Na verdade, para todas nós.

O lorde apenas assentiu.

—Não tem motivos para se preocupar. —Ele lhe dirigiu um pequeno sorriso, se levantando. —Eu acho que piorei muito isso. Eu apenas queria acalmar-lhes e falar de Margaery.

Aquilo fez Megga levantar a cabeça, que até então ela deixava abaixada e fingindo não ouvir nada. Elinor respirou fundo, sentindo seu coração apertar. Ignorou a ardência na mão direita, fechando ela e a esquerda, formando dois punhos.

—Margaery está bem. —Ele diz, acalmando o coração de Elinor, que respirou aliviada, sentindo o peso da dúvida e do medo deixando seu corpo. —Ela está sendo bem tratada, mas ainda não pode sair e nem receber visitas.

—Graças aos deuses. —Elinor disse, aliviada. —Podemos vê-la?

Ele faz que não com a cabeça.

—Infelizmente, não —Ele disse—Ela… está trancada numa torre, mas não se preocupem, tem linha, septãs, bons pratos para comer.

Assim como nós, pensou, isso não muda que ainda é uma prisão.

—Ela tem… se comportado? —perguntou Elinor.

Ao ouvir aquilo, Mathis desviou o olhar e mordeu o lábio. Foi assim que ela soube que ele lhe escondia algo.

—Bem, ela tem sido um pouco… —Ele parou de falar, pensando em uma boa resposta. —Relutante, em aceitar sua atual condição.

Elinor assentiu. Estava claro que ele não lhe diria nada, pelo menos nada em que ela pudesse acreditar totalmente.

—Obrigada, Milorde. Foi de grande ajuda.

Mathis assentiu e foi dar um beijo em Elinor; ela estranhou, mas se controlou quando sentiu o lábio dele em sua bochecha. Mas se surpreendeu quando ele lhe sussurrou:

—Talvez Willas não tenha que se casar com aquela princesa. Quanto a isso, acho que pode ficar tranquila.

Elinor o olhou, chocada com aquela abrupta informação, mas ele apenas sorriu, assentiu, e foi-se embora do aposento das três donzelas. Pouco depois, elas puderam ver alguma movimentação através da janela embaçada que dava para o pátio. O som de cavalos foi ouvido pouco depois, mostrando que Mathis e outros lordes haviam ido para a Campina.

O que ele quis dizer?, Ela se viu perguntando enquanto se ajoelhava ao lado da septã naquele dia. Com quem mais Arianne se casaria?

Ela tentou pensar em alguém com um título grande o bastante que se comparasse ou superasse seu primo. Teria de ser o herdeiro de um grande reino de Westeros, mas Sansa havia se casado com o belo herdeiro do Vale; e o irmão dela, Jon, apesar de solteiro, era inimigo da Coroa e não parecia querer paz —a menos que ele fosse morto e quisessem casá-la com o irmão mais novo dele, mas ele era apenas um garoto; Tyrion seria o atual lorde do Oeste, e sua riqueza poderia superar a da Campina, e tinha a idade próxima a de Arianne; entretanto, pelo que Elinor sabia, ele e a fé ainda queriam manter o casamento dele com Sansa.

Poderia ser alguém de Essos?, Era comum entre os dorneses casar com pessoas de Essos, mas Daenerys simplesmente se tornara odiada por toda a elite de Essos após sua passagem pelo continente —Considerando os que ela mesma já não havia matado.

Não. Apenas alguém de Westeros serviria para Arianne, mas a maioria já estava casada ou era inimiga da coroa.

Estou ficando paranóica, disse a si mesma, esse assunto em nada me interessa, devo apenas ignorá-lo. Era bem possível que Lorde Mathis apenas quisesse lhe acalmar… Ou fazê-la tentar algo perigoso, assim como Margaery.



Quando a noite chegou, Elinor desamarrou seu vestido e pôs uma camisola de linho. Quando estava para se deitar, sua prima Megga lhe tocou no ombro.

—Posso dormir com você? —Ela perguntou numa voz baixa, quase um sussurro.

Elinor olhou para a cama onde Alla iria dormir. A prima apenas fingiu não ouvir o que Megga havia perguntado e subiu no colchão, fechando as cortinas da cama e se enfiando nos lençóis.

Elinor apenas assentiu e deixou Megga dormir com ela. Seria bom ter uma companhia para dormir depois de tanto tempo.

Ao se enfiar nos lençóis da cama, Elinor fechou as cortinas na cama. Sentiu Megga a abraçar e devolveu o abraço com outro.

 

Quando sentiu que estava quase caindo no sono, ouviu a sua prima soluçando. Por um instante, Elinor sentiu que também iria chorar.

—Dorme. —sussurrou —Dorme, Megga.

A jovem fungou e assentiu.

—Vou dormir —Disse Megga— Mas juro por todos os sete, que prefiro nunca mais acordar novamente neste pesadelo.

 

Quando acordaram no dia seguinte, Alla havia sumido, levada durante a noite, sem que elas sequer percebessem.

 

Nem Elinor e nem Megga comentaram o sumiço de Alla; não era seguro, a prima sumiu pois disse o que não devia, falar contra a decisão dos usurpadores poderia ser ainda pior.

Será que a mataram?, perguntou-se Elinor, apreensiva. A prima poderia ser comida de dragão até onde sabia.

Depois se perguntou se isso traria questionamentos sobre ela e Megga; e se perguntassem o que elas achavam sobre o sumiço de Alla? E se perguntassem se concordavam com a prima?

Se questionassem Elinor sobre o'que achava dos reis, teria de dizer que eles eram os reis legítimos, que sua prima era uma traidora, tal qual a família dela, e que não concordava com nada que eles diziam… Seu estômago doía só de pensar em algo assim, mas era isso ou morrer pelo fogo de dragões. Ou até pior, ela nem sequer era capaz de imaginar as atrocidades das quais Daenerys era capaz; ouviu dizer que ela se banhava no sangue de jovens donzelas, para tomar sua beleza, tal qual Shiera Seastar. Só o pensamento era capaz de fazer Elinor tremer de medo.

E se me questionarem como questionaram o bardo de Margaery?, ao lembrar do estado em que vira o antigo cantor azul de Margaery, sem um olho, repleto de cicatrizes, e completamente insano, Elinor sentiu um arrepio percorrendo seu corpo, levantando todos os seus pelos, até os da nuca. Um fio passou por toda a sua espinha.

Por sorte, ninguém nunca veio "questionar severamente" as duas jovens, mas nem por isso a situação estava sendo fácil para elas. O silêncio total, com execeção das rezas, de algumas ordens para alguns servos, e poucas palavras trocadas entre as duas, era quase uma espécie de tortura; nunca falando o que queriam de fato, nunca podendo se sentirem seguras e poderem se abrir uma com a outra… Para piorar, os Filhos do Guerreiro nunca as deixavam, sempre fazendo vigia. Por algum motivo, eles param de trocar de vigias, e eles só saiam do quarto para tomar banho na antêcamara. As septãs também pararam de ir e vir, tendo apenas uma idosa septã para as rezas.

Vou ficar louca, pensou, vou finalmente acordar um dia, insana como a rainha Helaena.

Pelo menos a antiga rainha conseguiu colocar um fim à sua dor, Elinor nem isso conseguiria fazer; deixaram de trazer facas e a janela continuava selada.

Durante todas as refeições que se seguiram desde a partida de Alla, Elinor e Megga quase não trocavam palavras, mas sempre dormiam juntas e davam as mãos durante as refeições.

 

As coisas vieram a piorar algum tempo após a sumida de Alla —Elinor nunca saberia dizer quanto tempo se passara, mas foi quando tudo piorou de vez.

Ao acordar, Elinor percebeu que sua prima se abraçava e tremia.

—Está tudo bem, Megga? Teve um pesadelo? Ou é a dor nas costas?

—Dor de barriga… E-está muito frio a-aqui… — A jovem gaguejou, de forma tão baixa que parecia um sussurro. Um rubor vermelho parecia florescer em sua pálida pele.

Elinor franziu o cenho.

—Frio? —Perguntou. De fato, estavam no inverno, mas o aposento e a cama pareciam aconchegantes e quentes o suficiente.

Deve ser a dor nas costelas, só falta ter pego alguma infecção.

Elinor afastou as cortinas da cama e levantou, indo ordenar que a serva de Essos acendesse a lareira para aquecer a prima, antes de ir chamar um meistre.

Mas, ao se levantar, percebeu que a lareira já estava acesa, e a serva aumentava o fogo com lenha e ervas perfumadas. A septã estava ocupada com um trabalho de costura, sentada em um banquinho no canto do quarto.

Elinor percebeu que um rubor vermelho também afetava a pele oliva da mulher na lareira, escurecendo sua pele de âmbar. Enquanto usava o atiçador com uma mão, a mulher parecia curvada de dor, fazendo uma careta, com a outra mão na barriga.

—Elinor! —Gritou sua prima na cama, num tom lamurioso, parecendo se abraçando—Minha barriga está doendo!

A mulher de Essos falou algo em sua língua natal que Elinor não era capaz de compreender e correu de forma desajeitada para fora dos aposentos, largando o atícador e deixando-o cair no chão, com um andar desajeitado e com as pernas afastadas. Um mau cheiro passou pelo quarto, e ela entendeu que a mulher deve ter corrido atrás de uma latrina.

—O que deu nela? —Perguntou um dos filhos do guerreiro, mas Elinor não sabia se se referia a serva ou a sua prima.

A septã, que até então estava calada, pareceu ficar nervosa e se levantou do banco de forma abrupta, e saiu correndo até a porta, como a estranheira havia feito antes dela.

Sua prima soltou um grunhido e afundou a cara avermelhada e sua no colchão.

—Que a Mãe tenha misericórdia… —Disse Elinor, com a voz fraca e falha.

Apavorada, Elinor foi até um dos filhos do guerreiro. Seu elmo era encimado por plumas coloridas e sua armadura era cravejada de cristais brilhantes.

—Chame um meistre! —Ela berrou, atemorizada. Ela não sabia se seu corpo tremia por medo, ou se era por estar com os mesmos sintomas de sua prima. —Chame um Grande Meistre! Imediatamente!

—Nossas ordens são para ficar e vigiar…

—Se nós ficarmos aqui vamos todos morrer! —Elinor o interrompeu —Será que não entende!?

O outro Filho do Guerreiro falou em sua defesa.

—Ela tem razão, Sor. —Ele disse, com o elmo prateado abafando a sua voz —Temos que tirar a jovem donzela daqui, imediatamente e chamar algum meistre. —Ele deu alguns passos e puxou Elinor pelo o braço, segurando-a com uma mão revestida de cota de malha, e a levando até a porta. —Deuses nos protejam, essas pessoas estão com fluxo sangrento. —O homem disse, levando-a até a antecâmara.

—Tenho que ficar com Megga! —Ela disse, quando o guarda a tirou do cômodo, o outro filho do guerreiro fechou a porta atrás deles. —Ela precisa de mim, não pode ficar sozinha!

—Você não vai a lugar nenhum —O soldado a avisou, se colocando entre ela e a porta. —Fluxo Sangrento é extremamente mortal e contagioso, não sabemos se estamos infectados; por isso, você ficará na antecâmara, assim como eu e meu colega. —Ele se voltou para o companheiro. —Avise o meistre que também tivemos um caso da doença aqui. O isolamento foi comprometido. Quando o avisar, se tranque em algum local.

O cavaleiro assentiu e saiu correndo até a porta, fechando a atrás de si.

Quando ele se foi, Elinor se virou para o guerreiro que ficou com ela no aposento.

—Teve outros casos? —Ela perguntou, assustada.

O homem assentiu.

—Vários, já tem um mês ou dois, tentamos controlar, mas… —Ele balançou a cabeça —É culpa da corja de Essos, os deuses estão nos castigando por trazê-los para suas terras com seus deuses pagãos.

Elinor empalideceu de horror, sentindo as pernas bambas. Ela foi até uma simples cadeira e se sentou; ainda estava com a roupa de dormir, sentindo o frio adentrando em seu corpo, cravando até em seus ossos.

—Está tão frio aqui… —Ela disse, tremendo.





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