The Dream escrita por Nappy girl


Capítulo 2
Capítulo 2




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O corpo de Viktor ficou totalmente imóvel. Olhos ainda arregalados e vermelhos. O corpo a abanar suavemente como se fosse movimentado pelo vento, enquanto rodopia no mesmo lugar.

Esperava ter pesadelos com a morte dele. Sentimentos de culpa e remorsos na minha mente e no meu coração. Que me trouxesse tantas insónias que seria incapaz de funcionar bem durante o dia. Contudo, ao colocar a mão sobre o meu peito, apercebi-me de que não tinha mudado nada. De que tinha a mente fixa no que queria e o coração gélido.

Já tinha a ideia na mente há imenso tempo e necessitava de algo que me fizesse avançar. Alguma situação que me levasse a tornar os meus pensamentos realidade e tudo tinha começado há duas semanas atrás. Toda a família Stirling foi convocada para a sala de refeições. Fui a última dos irmãos a chegar. Logo de manhã, já estávamos a presenciar o cenário habitual entre os irmãos mais velhos.

Viktor caiu no chão, levando consigo a cadeira que estava em volta da mesa. Tem a mão sobre a bochecha quente, acabada de ser alvo de violência por parte de irmão Edward. Edward era o segundo irmão mais velho. Ao contrário de Viktor, era corpulento, mais alto, cabelo preto forte escovado para trás e a face coberta de barba. Não era um bêbado que trazia vergonha à família, mas sim um cavaleiro honroso que fazia parte de um dos esquadrões do exército de Seren, o reino em que vivíamos no momento.

— Tu não passas de um vagabundo! – grita irmão Edward, segurando-o pela gola da sua camisa para arrastar o irmão para cima, levando os botões a saltarem para o chão.

— V-Vocês… – murmura irmã Theresa, estremecendo com a voz grave de Edward a berrar com o irmão.

Ela cruza o olhar comigo. Parece aliviada por me ver. Pega nas suas saias, segurando-me pelo braço. Tem a pele branca, pálida, os olhos azuis-claros cheios de esperança de que eu resolva alguma coisa relativamente a esta situação. Do outro lado da sala, encontra-se William, o irmão mais novo, incapaz de fazer o que quer que seja, apenas recolhido atrás de uma das cadeiras.

— Não percebo como é que o Pai lhe nomeou como herdeiro! – Levantou a mão e eu intervim, segurando no pulso de Edward antes que continuasse.

— Já não chega? – questionei com um ar desafiante.

Edward pausa tudo. Fica imóvel e para de falar por breves momentos. Move o rosto lentamente na minha direção sem pestanejar. Fica de maxilar cerrado e solta-se bruscamente do meu aperto. Até estremeço e baixo o braço. Os olhos castanhos-escuros não deixam os meus, largando pobre Viktor, enquanto cerra os punhos, movendo o corpo na minha direção.

— O que quer de mim, bastarda? – Ele dá alguns passos na minha direção e eu recuo, ficando com o maxilar tenso. – Existe alguma coisa que me queira dizer? – Eu engulo o seco, vendo os olhos que se recusavam a pestanejar e sentindo-me intimidada pelo tamanho da figura robusta.

— Daqui a pouco teremos visitas. Temos de estar apresentáveis. A cara cheia de marcas à frente de visitas demonstra fragilidade dentro do núcleo familiar. – Ergo a cabeça, tentando parecer desafiante. – O Pai não ficará contente se souber disto num dia tão especial como o de hoje. Por favor, tenha em atenção a forma como age, irmão Edward.

— Irmão… – diz com ar de desgosto, quase que cospe a palavra para cima de mim. – O que fará você se não me apetecer comportar, bastarda?.

Todas as noites Viktor desaparecia, indo para a cidade beber potes e potes de cerveja e vinho em bares de plebeus. Só voltava na manhã seguinte. Não tinha responsabilidades. Tinha dinheiro que ganhava das danças a cantorias que realizava nas ruas enquanto envergonhava o nome de Stirling e despendia em mais álcool. Todos os dias eram iguais para Viktor. Mas isso não significava que devesse ser tratado de qualquer maneira.

Ainda assim, não disse nada. Não sabia quais eram as palavras ideais e sentia que qualquer coisa resultaria em Edward a despejar a sua raiva para cima de mim.

— Ficou muda? – questiona e eu cerro o maxilar. – Diga alguma coisa! – Elevou a voz, olhando para mim de cima abaixo com ar de desprezo. O peito erguia e baixava com raiva. Deu um passo na minha direção, agora erguendo a mão.

Eu baixo a cabeça, mas brevemente vejo Isaac ao meu lado. Ele puxa-me para ficar por trás dele, mas eu não o fiz.

— O que é isto? Estão todos a desafiar-me agora?

— Senhor Edward Stirling. – Isaac fez uma vénia. – Não quero desrespeitá-lo, contudo, tenho de me manter ao lado de senhorita Eleanor Stirling.

Eu encarei os olhos intensos negros de Edward. Não sabia se iria dar um passo atrás. Viktor permaneceu no chão, o corpo estava demasiado fraco. Theresa trocava olhares entre nós os três, ficando parada com a mão perto da boca, pois não sabia o que deveria fazer.

— Bom dia! – Ouvimos a voz masculina elevada. Olhamos todos para a entrada e nunca me tinha sentido tão aliviada como agora. Era o Pai, Marquês Harry Stirling. É um homem bastante idoso, curvado, cabelo branco fino e olhos negros.  Avança para dentro da sala com a ajuda de uma bengala.

— Bom dia, Pai! – dissemos todos, cada um à sua vez com uma vénia.

— Que rebaldaria é esta? – pergunta, olhando ao redor até terminar o contato visual em Viktor. – Claro, tinha de ser. Tresandas a merda. – Abana a cabeça negativamente. – Alfred, tira esta vergonha da minha frente e dá-lhe um banho antes das visitas. Não quero que o vejam nesse estado. Vergonhoso…

Viktor foi levado com o mordomo, quase arrastado com a ajuda de outro empregado.

Marquês Stirling sentou-se na mesa, escolhendo o seu lugar por trás da janela cuja altura ia desde o teto até ao chão. A Marquesa de Stirling entrou. Claramente mais nova do que o marido, imensas semelhanças a Theresa, mas tem o cabelo loiro escovado num coque na nuca da cabeça.

— Agradeço imenso a vossa presença nesta manhã. – inicia Marquês Stirling e depois de recuperar o fôlego, diz: – Como sabem, eu estou a ficar demasiado idoso. Ainda me recordo dos tempos em que viajava o mundo de navio para fazer as negociações… Passei por vários continentes, conheci diversas pessoas. Mas hoje em dia… Só consigo fazer tudo dentro do meu escritório. Não tenho a energia que tinha quando era mais novo Mas hoje em dia estou demasiado fraco. Fraco para gerir os negócios, fraco para gerir a família, fraco para ser o Marquês que representa a casa de Stirling…

Pausa, bebendo o seu copo de água e eu respiro fundo.

— Precisei de pensar sobre como poderia fazer para dar continuidade da honra da nossa família. Precisamos de conexões fortes e por isso, hoje teremos a visita de Duque Granville. Iremos entrar em negociações, mas como já acordado antes, dar-lhe-ei a sua mão em casamento, filha Theresa. – Olha para ela que fica de maxilar tenso e baixa o olhar, apenas respondendo com pouca convicção:

— Sim, Pai.

— E quem será a nova cabeça da casa Stirling? Irá mesmo nomear Viktor? – pergunta irmão Edward com ar de desprezo ao falar do irmão.

— A tradição dita que o filho mais velho assume a posição central na família. Quero seguir as regras, mas efetivamente ele não tem o que é preciso para assumir o papel. Ainda será um tema a ser discutido. – Encerra esse assunto e Edward suspira de alívio. Pensa que ainda tem uma hipótese. – Neste momento, iremos focar-nos no casamento de Theresa, uma vez que já temos o Duque a caminho.

Continuaram a falar dos seus planos, mas eu não quis saber, portanto deixei de ouvi-los a todos. Viktor ou Edward seriam os novos chefes da Casa Stirling, independentemente do estado de Viktor, Pai não lhe deixaria sem nada. Mesmo que Edward não conseguisse, com o estatuto que tem dentro do exército real, já tem a sua vida orientada. Theresa iria casar com Duque Granville, que elevaria ainda mais o estatuto da família Stirling. William era demasiado novo para se pensar num plano para ele. Eu neste caso… Era a única pessoa em quem ele não tinha colocado nenhum pensamento. Não me surpreendia.

Sabia que eventualmente aparecia uma conversa sobre o meu casamento, mas tinha noção de que o valor dado a esse evento não seria tão grandioso como de Theresa. Não herdaria negócio algum, pois não cumpria com os requisitos. Eu não era cem por cento nobre. Ficaria com nada ou perto de nada.

Que frustração.


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