Rita acordou de sobressalto, ainda estava escuro, ela virou-se na cama e olhou para o criado mudo onde estava o relógio, era pouco mais das quatro da madrugada, acendeu a luz do pequeno abajur e uma luz tênue iluminou o quarto. Sabia que não iria conseguir dormir novamente. O mesmo sonho vinha se repetindo há alguns dias. 

No sonho ela estava de volta a seu planeta natal contemplando os dois anéis brilhantes que circulam o planeta azul assim como a Terra e as duas luas que ornamentavam o céu de Gailar. Se viu passeando entre os verdes gramados e as árvores coloridas, o céu azul, os rios com águas transparentes e peixes multicoloridos nadando tranquilamente. Chegou ao topo de uma colina onde pode ver ao longe a cidade branca em forma de anel banhada pelo mar límpido com seus edifícios, espelhos d’água, muitas plantas e  no centro uma majestosa e brilhante torre, parecia tão real.

Inquieta virou-se para o lado agora fitando a parede, piscou tentando segurar uma lágrima de saudade que ameaçava cair, mas o sonho continuava a passar como um filme, fechou os olhos novamente e o lindo cenário começou a se afastar rapidamente e ela se sentiu sendo sugada, viajando pelo espaço e em questão de segundos estava  sendo jogada na Terra em meio a muita destruição e corpos. 

Ruínas e morte estavam por todos os lados, via pessoas mortas e feridas que a olhavam com olhares acusadores como se fosse a responsável por tanta dor e sofrimento. Ela queria sair dali, fugir, mas para onde? Em desespero, no sonho, ela fecha os olhos tentando apagar aquelas terríveis imagens e quando os abre vê uma enorme sombra surgindo no céu cobrindo-a e a figura do imperador Geldon gritando.

 “Rita, sua traidora, eu vou matá-la. Hahaha”

A gargalhada era horripilante e Rita começou a correr tentando fugir da sombra que a perseguia, quanto mais corria aquela gargalhada medonha chegava mais perto. Ela tropeça, cai e ao se voltar, vê novamente a imagem do imperador se aproximando, só que desta vez a imagem se dissipa e aparece Joe a sua frente com um leve sorriso e estendendo-lhe a mão.

“Está tudo bem. Não deixarei que nada lhe aconteça.” 

Ela segura a mão dele que a ajuda a levantar e sem dizer uma palavra, Joe a abraça ternamente e ela se deixa aconchegar naqueles braços fortes que envolviam seu delicado e esguio corpo. Nunca se sentiu tão segura e reconfortada como estava agora nos braços de seu amado. Tudo à sua volta mudou, o cenário de destruição desapareceu e ela se vê abraçada a Joe em um lindo jardim.

“Vê. Eu vou cuidar de você. Vai ficar tudo bem e poderemos ser felizes” 

Disse ele ao seu ouvido. Ela levanta os olhos e encontra aqueles olhos negros que a fitavam intensamente, devagar os dois foram se aproximando e seus lábios quase se tocam. 

Exatamente nessa hora Rita acordava. Inquieta e com a respiração descompassada ela pode quase sentir o gosto dos lábios de Joe junto aos seus. Mas sabia que era impossível, não podia acalentar esse sentimento que guardava tão escondido em seu coração. Sabia que os dois não teriam um futuro, eram de mundos muito diferentes e distantes. 

Sabendo que não conseguiria mais dormir, levantou e se dirigiu à janela abrindo as cortinas. Da janela de seu quarto da base Akane ela tinha uma vista privilegiada da pista de decolagem que terminava em um penhasco à beira mar e os primeiros raios de sol começaram a surgir no horizonte na linha do oceano.

Seu coração estava angustiado, sentia saudade de casa, de seu povo, mas também aprendera a amar aquele lugar e as pessoas que a acolheram como uma igual principalmente Joe, seu amigo e ao mesmo tempo seu grande amor. 

Debruçada na janela e contemplando os primeiros raios de sol que anunciavam um novo dia que começava, Rita pode renovar a esperança de que com o raiar de um novo dia poderia trazer o fim da guerra com o Império Gailar, assim todos poderiam viver em paz e harmonia e, quem sabe, se entregar ao seu grande amor e ser amada. Quase como um lamento ela murmura “Joe”, seu coração ao mesmo tempo que se enchia de esperança, também vivia a angústia de saber se seu amor era correspondido. Talvez só o futuro poderia dar essa resposta, por enquanto ela renovou seu propósito de lutar pela paz em uma terra estranha e contra a sua própria pátria, mas não a verdadeira pátria a qual pertencia e que estava a muitos anos luz da Terra, a verdadeira pátria que a fizera trair aqueles que se afastaram da verdade e da bondade que eram as virtudes reais de Gailar. Ela era uma alienígena que estava cada vez mais se tornando humana e se sentindo uma terráquea de verdade. Lutaria não só pelo Japão e a Terra, lutaria por Joe.