À beira do lago de lava fervente, as almas encharcadas em sofrimento tentavam desesperadamente lutar contra a força implacável que as puxava para as profundezas. Entre elas, um demônio amórfico, conhecido apenas como Asper, se deliciava com a agonia dos condenados.  

Seu nome ecoava pelas profundezas do Inferno, transmitia tanto temor quanto respeito entre os habitantes do submundo.  

Sua forma indefinida dançava ao redor do lago, alterando entre sombras grotescas e borrões de escuridão, sem nunca assumir uma figura concreta. Os lamentos angustiados ecoavam em meio ao calor escaldante, enquanto Asper observava com uma indiferença inquietante, uma presença tão vazia quanto a própria escuridão.  

Sem rosto, sem genitais, sem qualquer traço distintivo, Asper era como um esboço inacabado, um rascunho indistinto que raramente assumia uma forma tangível. Como um membro da classe Metamorphoe, ele poderia adquirir uma identidade somente ao possuir um ser vivo. 

Enquanto Asper se regozijava na miséria alheia, uma sensação estranha começou a se apoderar dele. De repente, um redemoinho de poder infernal surgiu, arrastando-o para longe do lago de lava. Um portal incandescente se abriu, e Asper, sem forma definida, foi atraído irresistivelmente para seu interior.  

Quando emergiu do portal, encontrou-se dentro do corpo de uma menina chamada Isa. Seus olhos, que antes eram vazios, agora refletiam vida e emoção. Asper sorriu com a súbita encarnação no mundo humano. Era mais que uma simples possessão; ele havia se fundido com Isa, compartilhando sua carne e essência.  

O demônio metamorfo, agora no corpo de Isa, começou a entender as complexidades da existência humana. As emoções, antes desconhecidas para ele, fluíam por sua mente como um turbilhão. Isa, enquanto estava momentaneamente adormecida em sua própria mente, sentia uma mudança profunda, uma inexplicável sensação de escuridão que se esgueirava por suas lembranças. Uma sensação de impotência, seu corpo não lhe pertencia mais. 

Até que Isa sentiu a dor lhe rasgando de dentro para fora, a garota passava por uma metamorfose, desabrochando um demônio de suas vísceras. Em uma explosão sangrenta, a cópia de Isa ganhou forma, matando o modelo original. Agora Asper possuía um corpo, digitais, DNA e até mesmo memórias. O que uma vez fora uma garota inocente, estava agora corrompido por algo infernal. 

Ele percebeu que, ao contrário de sua existência anterior no Inferno, ele experimentava o mundo dos humanos de uma forma visceral. Os cheiros, os sabores, os toques eram todos intensos e avassaladores. Cada emoção que Isa sentiu reverberava em sua consciência de maneira inédita. Até mesmo o ar que enchia seus pulmões provocava arrepios em sua recém-descoberta sensibilidade humana. 

Assim, Asper não apenas vagava pelo mundo dos homens em uma aura invisível, mas agora caminhava entre eles em carne e osso. Era uma experiência completamente nova e intrigante, e Asper estava determinado a explorar o mundo humano e desencadear sua própria forma de caos. E assim o fez naquela noite.  

Poucos segundos após encarnar e identificar quem era o outro demônio infiltrado no grupo de humanos, atacou um por um de maneira brutal e violenta. Queria entender qual era a sensação de torturar seres vivos enquanto, bem, ainda vivos. 

Então, na última alma amaldiçoada que lhe restava infligir dor, Asper decidiu entregá-la de bom grado àquela que o libertara do Inferno.  

— Estou satisfeito, por ora — disse ele, atirando a garota ao demônio.  

— Chega de brincadeira — ela respondeu.  

Nesse momento, Asper testemunhou o poder macabro à medida que a adolescente sofria, sangrando de todos os orifícios. O líquido escarlate e viscoso borbulhava, como se estivessem cozinhando-a de dentro para fora, como se a tivessem jogado em um micro-ondas e a deixado lá, presa, com ele ligado.  

Um espetáculo horrendo que revelava o terror e o sofrimento que ele havia desencadeado. Um sorriso sádico deslizou por seus lábios enquanto imaginava o potencial caótico daquela parceria.  

Sem olhar para trás, se afastaram da cena do crime, mergulhando na escuridão da noite e camuflados pelas sombras, deixavam para trás um rastro de destruição e desespero, além da promessa de mais estragos.